Novamente as armas, por João Marcos Buch

A política armamentista não só pretende insuflar a busca por armas de fogo como invocar seu uso indiscriminado, agora contra o direito e a lei.

Novamente as armas

por João Marcos Buch

Na sexta-feira do dia 22 de maio de 2020, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, franqueou o acesso público ao vídeo da reunião ministerial realizada um mês antes no Palácio do Planalto. Conforme os meios de comunicação veicularam repetitivamente, em determinado momento, o Presidente disse: “Por isso que eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme! Que é a garantia que não vai um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui! Que é fácil impor uma ditadura! Facílimo! Um bosta de um prefeito faz uma bosta de um decreto, algema, e deixa todo mundo dentro de casa. Se estivesse armado, ia para a rua” (SIC).

Não é difícil, portanto, confirmar que a política armamentista não só pretende insuflar a busca por armas de fogo como invocar seu uso indiscriminado, agora contra o direito e a lei. Querem alguns sustentar esse movimento, mirando nos Estados Unidos e na segunda emenda das Bill of Rights. Na luta pela independência das colônias americanas no final do século 18, a posse de armas pelas milícias era defendida como forma dos cidadãos daquele país, recentemente independente, defenderem seu território. Distante no tempo, no espaço e no contexto dos fatos, a situação por aqui é absolutamente oposta, a defesa armamentista visa neutralizar a democracia. Há pouco foi noticiado que Celso de Mello emitiu mensagem aos seus pares do STF, em que alerta para o fato de que “o ovo da serpente, à semelhança do que ocorreu na República de Weimar (1919-1933), parece estar prestes a eclodir no Brasil”. Ressaltou o Ministro que “é preciso resistir à destruição da ordem”. Concordo, essa chamada belicista colocará em maior risco não só a vida dos cidadãos comuns como também dos policiais e colocará em risco a própria democracia. Começaremos a encontrar sujeitos portando armas ilicitamente e justificando suas ações ofensivas às instituições públicas sob o prisma da legítima defesa de suas ideologias sectaristas, sob o prisma da intolerância.

O respeito à Constituição é a linha que fará com que a barbárie não avance sobre a civilidade. Se o que passamos no Brasil de 2020 será superado ou não, apenas a história dirá, nela a responsabilidade por esse estado de coisas será bem delienada. Dívidas conseguem ser amortizadas, já a culpa, essa permanece, os anos não a tornam menor.

Redação

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