O rebate e o eleitor, por Maria Cristina Fernandes

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Valor

O rebate e o eleitor

Por Maria Cristina Fernandes

Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef são réus confessos que se comprometeram a contar o que sabem à justiça para diminuir suas penas. Se mentirem ou imputarem culpa a inocentes, terão penas agravadas.

As revelações dos alcaguetes moldarão em grande parte o governo a ser eleito. Se for o de Aécio Neves, servirá de parceria para o ajuste. Para ‘tirar o país do buraco’ o presidente terá que tomar medidas duras mas, em contrapartida, terá cabeças a exibir em espetáculo de praça pública. Choverão aliados em busca de proteção.

Se for o de Dilma Rousseff o escândalo poderá ter consequências importantes para o previsível embate entre a reeleita e o antecessor. Em pé de guerra com a presidente, o mercado confia numa maior ascendência de Luiz Inácio Lula da Silva para conter os ímpetos da sucessora em eventual segundo mandato. O ex-presidente só estará apto a este papel se os alcaguetes não o puserem nas cordas.

As revelações da Lava-Jato moldarão o governo a ser eleito

Se reeleita por um país dividido, Dilma pode usar o caso para reeditar a estreia de seu primeiro mandato em que alcançou popularidade recorde faxinando o governo. Como parece cada vez mais segura de que se ganhar é menos devedora do partido e do padrinho, pode sobrar poeira e faltar tapete.

Nas seis horas do interrogatório Lula só aparece uma única vez, pela voz Alberto Youssef. O relato de quem parecia estar do outro lado do cabo de guerra descreve um ex-presidente indignado com a pauta trancada na Câmara como pressão pela nomeação de Paulo Roberto Costa.

Houve quem enxergasse um recado a Lula no figurino mimetizado com o qual o ex-diretor apareceu em público. Costa não o menciona diretamente mas lhe faz uma referência que minimiza danos ao contar que do dia em que entrou na Petrobras em 1977, até tornar-se diretor 27 anos depois, sempre soube que as diretorias, em todos os governos, eram ocupadas por indicação política. Na segunda gestão Lula, diz, as diretorias passaram a ter orçamentos mais polpuldos, antes restritos à de exploração, aquela que Severino Cavalcanti chamava de fura-poço.

A Petrobras liderou os investimentos que alavancaram o PIB e a eleição de Dilma em 2010. A presidente é filha da fartura que fez a felicidade das grandes empreiteiras. Em seu mandato abespinhou-se com muitas delas enquanto o ex-presidente continuou a viajar para promover os negócios dessas companhias, muitas vezes nos jatos destas, na América Latina e na África.

Num encontro recente, o ex-presidente de uma das empresas agora acossadas pela Lava-Jato, citou o estreitamento das relações nesses continentes como um dos motivos que mais o aproximava das gestões petistas.

Entre os três candidatos do PT aos governos estaduais aos quais Lula mais se dedicou nessas eleições dois tiveram seus nomes tangenciados pela Lava Jato e um terceiro foi diretor da Petrobras.

O interrogatório conduzido pelo juiz Sérgio Moro é o único capítulo público deste processo. As páginas com maiores implicações políticas do que falaram têm sua íntegra resguardada pelo ministro Teori Zavascki, juiz que só se manifesta pelos autos. Só virá à luz em 2015, junto com os cortes do orçamento.

As seis horas do interrogatório colocadas na internet, no entanto, não servem apenas como aperitivo do próximo governo. São relatos de grande utilidade para o eleitor sobre os arranjos entre corporações que os petistas um dia chamaram de campeões nacionais. Nas contas de um grande conhecedor do processo com franco acesso aos envolvidos, a tese do domínio do fato, consagrada no mensalão, ameaça colocar atrás das grades pelo menos 20 dirigentes empresariais.

Nos relatos dos dois réus as companhias brasileiras ainda aparecem como um parque de diversões para prêmio Nobel de Economia, Jean Tirole.

A real academia sueca assim resumiu seu trabalho: “Muitos setores industriais são dominados por um pequeno número de grandes empresas ou por um monopólio. Sem regulação, esses mercados produzem resultados sociais indesejáveis”.

No relato que deliciaria Tirole, um punhado de empresas se reúne para dividir as maiores obras do país e fixar o preço. Uma das siglas que mais se ouve nos depoimentos é BDI, que resume os benefícios e despesas indiretas de uma obra. Nela estão incluídos desde o lucro da empresa até despesas com advogados, consultores e contas de energia. É no meio dessas três letras que se esconde a propinagem.

Como operador do esquema, Youssef fazia os pagamentos, que diz terem sido sempre em espécie. “Mandava para Brasília o que era de Brasília e para o Rio o que era de Paulo Roberto”, contou. O restante distribuía em seu escritório em São Paulo, frequentado pelo vice-presidente estatutário de uma das maiores construtoras do país.

O executivo recebia uma comissão pelas compras da empresa. Ao ouvir a história o procurador pediu que Youssef a detalhasse. A construtora tinha feito uma compra de R$ 150 milhões a uma fornecedora de tubos e conexões e o executivo da empresa compradora foi comissionado por esta compra.

As comissões são praxe na remuneração dos departamentos de venda das empresas. Para o comprador, conseguir o melhor preço é o que lhe garante o emprego. “Ele lesava a empresa?”, insiste o procurador. O doleiro responde como quem não parece acreditar que seu interrogador desconheça: é assim que as coisas funcionam. Na praça, é conhecido por rebate.

Parece claro que se uma empresa formou um cartel para fixar o preço de uma obra pública e nele embute o custo de propina, o erário, além da empresa, também é lesado. Mas se a transação for estritamente privada não há dano no comissionamento de compradores?

Há médicos, arquitetos, gestores e jornalistas cujas relações com laboratórios farmacêuticos, lojas de decoração, fundos de investimento e assessorias de imprensa levam em consideração outros interesses que não os dos pacientes, clientes, investidores e leitores. De pouco adianta mudar o governante se as regras da vida privada continuarem a ser praticadas como se não fossem lesivas à coletividade.

Uma criança que recebe R$ 50 para comprar uma bola, descobre uma liquidação, paga R$ 40 e embolsa o troco, é saudada em algumas famílias como um adulto que vai longe. Seus pais poderão ir às urnas no dia 26 movidos por muitos interesses legítimos, só não vale dizer que votam por mudanças.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

18 Comentários

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  1. as denúncias ainda não

    as denúncias ainda não comprovadas e não julgadas

    pela justiça são o ninho preferido dos canalhas como carlos lacerda,

    que praticamente acabou com os governos de getúlio e jango….

  2. Hummm…  E porque a Maria

    Hummm…  E porque a Maria Cristina quer tanto penalizar o PT e enfiar o Lula, a Dilma e a Petrobrás no “saco”? Se eu entendi as empresas fizeram cartel. E fazer cartel não é ilegal como bem mostra o trensalão de São Paulo, tão amenizado pela imprensona que a autora representa.

  3. O efeito sobre Lula

    O texto reforça minha percepção de que são dois pesos duas medidas.  A articulista parece dizer que a delação pode colocar Lula nas cordas, no entanto parece que tantas coisas comprovadas contra Aécio, apenas o deixa com pedras no caminho. O que vimos nas denuncias contra Aecio, vão de censura a imprensa a locupletação de dinheiro publico, favorecimento de familiares e o apoio de um partido cujo presidente  fez lobby para empreiteiras.  Como sempre parece a velha história de Maluf, todos sabem, mas não tem importância. Um certo número de partidos e candidatos parecem, para a grande imprensa que jamais são afetados por terem em seus quadros, corruptos, basta dizer que somos favoráveis a apuração dos fatos. 

    1. A jornalista é do Valor

      A jornalista é do Valor Econômico!!  O que podemos esperar dela?  Dizer o que grande imprensa pensa. Mídia golpista.

    2. efeito sobre Lula.

      olha, se tivesse alguma coisa que comprometesse Lula, irremediavelmente, você não acha que já estariam fazendo um estardalhaço, um bombardear no PIG. Acho que esse PRC quer é livrar a dele.

  4. nassif
    Como Dilma será

    nassif

    Como Dilma será reeleita, já começaram a ferrar com a eleição de 2018…….

    Quero ver quem sobrará……….

  5. Eu votava por convicção, hoje por eliminação.

    Eu votava por convicção, hoje por eliminação.  Voto em Dilma não para que ela seja a presidenta do Brasil, mas porque sinto que Aécio,  se for vencedor,  que  seja com uma margem mínima de votos.  Que entre sentindo na pele a força do trabalhador brasileiro, para que saiba que seu governo será vigiado noite dia e que como presidente vai ter que viver em Brasilia e nao no RJ.  E se ele empregar Azeredo, Pimenta da Veiga e Marina Silva no mais remotos dos cargos, a sua governabiliade e do seu vice ficará por um fio.

  6. a farsa

    “Temporibus illus”, o jornalista Paulo Francis denunciava que a Petrobras depositava o “devido” aos diretores da empresa como gorda propina para repasse ao mais famoso ACM aquele que nos governos “milicos” nomeava diretores das comunicações e Petrobras, na Vale do Rio Doce não pois era o feudo do Sarney.

    O presidente da Petrobras era sempre um Baiano, desculpem não lembro o nome deste sinistro coiso, e Francis sempre bem informado e infelizmente sem provas factuais, apenas com o “domínio do fato”, ousou denunciar em NY, o coitado sifu, passou os últimos anos da vida apavorado e acuado.

    Uma leve limpeza desta corja empreendida pelo Lula e Dilma está criando a catarse e o aviso: não mecha naquilo que nos pertence, nós somos o Brasil você Dilma é transitória. Todo o sistema tem impunidade e o nosso representante em “primis” o chefe dos capangas Gilmar Dantas não permite que os nossos sejam incomodados… olha o Collor!!!

    Tava eu hoje numa cervejinha num boteco infecto com pessoal remediado, acho eu direita morta(n)dela, manifestando opinião e em campanha para mudança de governo, no Paraná não é necessário!!! E os argumentos: precisa mudar! Atrevi-me e perguntei sobre o motivo: somos conta o PT.

    Pensei com os meus botões, tal qual cabeça de bacalhau nunca vi um eleitor do Collor se declarar como tal. Estamos toc toc toc toc toc regredindo naqueles tempos?

  7. Um artigo que só merece uma

    Um artigo que só merece uma nota: Z E R O! E bem redondo.

    Recheado de arrodeios, de indiretas, de ilações forçadas, capciosidades e projeções na base do chutasso. Uma droga de texto que presta informações tem que dar as fontes. Por exemplo: o nome das empreiteiras que segundo a articulista Lula propagandeou, as datas das viagens e os itinerários, e tudo o mais que sirva para firmar convicções. Isso é jornalismo lixo, 

    Fiquei até com dor de cabeça. 

    1. O artigo é SÓRDIDO!

      Cheio de ilaçoes baixas. Nao sei por que o Nassif publica esse lixo. 

      Reparem, eu nao estaria dizendo isso se o artigo contivesse argumentos, fontes. Mas nada, só “livre especulaçao”, e sórdida. 

      1. É isso, anarquista. Tu já

        É isso, anarquista. Tu já notaste que ao especular acerca de uma possível vitória do PT é sempre arguida esse “argumento” de divisão do país? Se for a oposição, não. A nação ficará bem unidazinha, né? 

        Reitero: oh artigo droga. 

    2. Ações que são normais em outros páises

      Caro JB costa, ações tais, como articular com dirigentes de outros paises para a exportação de bens e serviços de empresas nacionais, feitas por ex presidentes e por ex ministros ou outros altos funcionários do governos  (como são EX), em qualquer outros país capitalista do mundo, é absolutamente normal.    Inclusive serem remunerados por estes serviços tambEm é normal.

      Ex presidentes americanos e ex primeiros ministros europeus fazem isto a miúde e são considerados como promotores de exportação por seus paises, e ganham por esta ação. 

      O QUE ESTÃO QUERENDO É TRANSFORMAR  UMA AÇÃO NORMAL DE NEGÓCIOS, COMO´”SERIA FEITA POR AGUEM DO PT”, EM CORRUPÇÃO!

  8. Eu ouvi os dois “depoimentos”

    Eu ouvi os dois “depoimentos” que estão disponíveis na web , que perfazem menos de 6 hs. Acho bom colocarem em notas taquigráficas os dois, pois estou vendo na matéria ditos que não foram ditos e manipulação do que foi dito.

  9. Que porcaria

    Este texto é uma porcaria travestida por palavras em português mais esmerado. É um lixo de interpretação e de tendenciosidade porquê desconsidera toda corrupção tucana e não aponta provas nem de um lado nem de outro. Este juiz de Curitiba está fazendo proselitismo com o PSDB para depois cobrar a fatura em uma indicação para o STF.Nassif, você ãs vêzes peca querendo ser imparcial, mas ser imparcial não é divulgar qualquer texto e sim dar espaço para textos imparciais e este está longe de ser.

     

  10. É agora ou nunca !

    É agora ou nunca !
    Acordei com um pensamento;
    Acho que estamos sendo vítimas de um gigantesco trabalho de direcionamento da opinião pública.
    Uma grande jogada de convencimento, um trabalho de “marketing” de âmbito nacional.
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    O alvo desse trabalho seria MANTER AS COISAS COMO SEMPRE ESTIVERAM
    Eles estão com medo !
    Estão pressentindo perigo à vista.
    A mídia está com medo 1
    Sabem que, se Dilma tiver um segundo mandato, vai mexer com o monopólio da mídia.
    Sabem que, se Dilma tiver um segundo mandato, assuntos como reforma politica e financiamento de campanhas poderão crescer.
    Isso sem falar em outros temas.
    ——————————————————————————–
    Essa é a QUESTÃO BASE de tudo o que estamos vendo, lendo e ouvindo atualmente.
    A quebra do monópólio da mídia seria o “fim do mundo”, para eles.
    Esses assuntos parecem ser A BASE DE TODO O PODER DOS GRUPOS “DONOS DO BRASIL”
    ——————————————————————————–
    Essa coisa de “fora PT”, “fora Dilma”, “PT nunca mais”, denúncias seletivas na Petrobrás, mensalão, etc, parecem organizadas demais para serem espontânea.
    Não estou inocentando ninguém, apenas dizendo da maneira como divulgam.
    ——————————————————————————–
    Sem essas reformas nada muda no Brasil.
    Esses assuntos são a ESPINHA DORSAL de qualquer tentativa de real democracia no país.
    Caso o PSDB volte ao poder, podem esquecer esses temas.
    Por muitos anos não teremos chance de cuidar desses temas, ou pior, farão essas coisas do jeito deles.
    Se perdermos essa chance, enquanto temos um governo popular, podemos dar adeus
    ——————————————————————————–
    Temos de reeleger Dilma ! Temos de reeleger o PT de ponta a ponta.
    O povo brasileiro não deve esquecer a luta que Vargas e Brizola tiveram com esses grupos
    Convoco, a todos que lerem esse texto, que reflitam sobre isso e passem adiante.
    É agora ou nunca !
     

  11. Está parecendo o Villa dando

    Está parecendo o Villa dando o endereço do Lula no Jornal da Cultura porque ele seria o maior ladrão do país, culpado por tudo de ruim que vivemos.

    Estão querendo dar um jeito de pegá-lo, jamais o engoliram, e é o que nosso STF fará, se o Aécio ganhar as eleições.

    O mote é o domínio do fato.

  12. Final do artigo é triste

    A autora tenta legitimar a corrupção do lado privado ao final do artigo, dizendo que é meio de ganhar eficiência, mas ao longo do artigo aventa um acordão, por causa do sério risco sistêmico, porque 20 grandes empreiteiras e seus dirigentes podem ser penalizados. Neste diapasão, para mim começa a fazer sentido abrir o mercado às concorrentes internacionais (sem parceria nacional), pois estão abarcadas pelas respectivas leis anticorrupção de seus países de origem…

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