Qual destino para o Brasil: recolonização ou projeto próprio? Por Leonardo Boff

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Leonardo Boff

Sugerido por Basílio

Do Jornal do Brasil

Há uma indagação que se realiza no Brasil mas também no exterior que se expressa por esta pergunta: qual o destino da sétima economia mundial e qual o futuro de sua incomensurável riqueza de bens naturais?

Analistas dos cenários mundiais do talante de Noam Chomsky ou de Jacques Attali nos advertem: a potência imperial  norte-americana segue esse moto,  elaborado nos salões dos estrategistas do Pentágono:”um só mundo e um só império”. Não se toleram países, em qualquer parte do planeta, que possam pôr em xeque seus interesses globais e sua hegemonia universal. Curiosamente, o Papa Francisco em sua encíclicla “sobre o cuidado da Casa Comum”, como que revidando o Pentágono propõe:”um só mundo e um só projeto coletivo”.

No Brasil esse debate se dá principalmente no campo da macroeconomia: o Brasil se alinhará às estratégias político-sociais-econômico-ideológicas impostas pelo Império e com isso terá vantagens significativas em todos os campos, mas aceitando ser sócio menor e agregado (opção dos neoliberais  e dos conservadores) ou o Brasil procurará um caminho próprio, consciente de suas vantagens ecológicas, do peso de seu mercado interno com uma população de mais de duzentos milhões de pessoas e da criatividade de seu povo. Aprende a resistir às pressões que vêm de cima, a lidar inteligentemente  com as tensões, a praticar uma política do ganha-ganha (o que supõe fazer concessões) e assim manter o caminho aberto para um projeto nacional próprio que contará para o devenir da nossa e da futura civilização (opção das esquerdas e dos movimentos sociais).

Isso deve ficar claro: há um propósito dos países centrais que dispõem de várias formas de poder, especialmente, a militar (podem matar a todos) de recolonizar toda a América Latina para ser um reserva de bens e serviços naturais (água potável, milhões de hectares férteis, grãos de todo tipo, imensa biodiversidade, grandes florestas úmidas, reservas minerais incomensuráveis etc). Ela deve servir principalmente os países ricos, já que em seus territórios quase se esgotaram tais “bondades da natureza” como dizem os povos originários. E vão precisar delas para manterem seu nível de vida.

Estimamos que dentro de um futuro não muito distante, a economia mundial será de base ecológica. Finalmente não nos alimentamos de computadores e de máquimas, mas de água, de grãos e de tudo o que a vida humana e a comunidade de vida demandam. Daí a importância de manter a América Latina, especialmente, o Brasil no estágio o mais natural possível, não favorecendo a industrializção nem algum valor agregado a suas commodities.

Seu lugar deve ser aquele que foi pensado desde o início da colonização: uma grande empresa colonial que sustenta o projeto dos povos opulentos do Norte para continurem sua dominação que vem desde o século XVI quando se iniciaram as grandes navegações de conquista de territórios pelo mundo afora. Analiticamente, esse processo foi denunciado por Caio Prado Jr, por Darcy Ribeiro e, ultimamente, com grande força teórica, por Luiz Gonzaga de Souza Lima com seu livro ainda não devidamente acolhido A refundação do Brasil: rumo à sociedade biocentrada (RiMa, São Bernardo 2011).

Em razão desta estratégia global, as políticas ambientais dominantes reduzem o sentido da biodiversidade e da natureza a um valor econômico. A tão propalada “economia verdade” serve a este propósito econômico e menos à preservação e ao resgate de áreas devastadas. Mesmo quando isso ocorre, se destina à macroeconomia  de acumulação e não à busca de um outro tipo de relação para com a natureza.

O que cabe constatar é o fato de que o Brasil não está só. As experiências recentes dos movimentos populares socioambientais se recusam a assumir simplesmente a dominação da razão econômica, instrumental e utilitarista que tudo uniformiza. Por todas as partes estão irrompendo outras modalidades de habitar a Casa Comum a partir de identidades culturais diferentes. Os conhecimentos tradicionais, oprimidos e marginalizados pelo pensamento único técnico-científico, estão ganhando força na medida em que mostram que podemos nos relacionar com a natureza e cuidar da Mãe Terra de uma forma mais benevolente e cuidadosa. Exemplo disso é o “bien vivier y convivir” dos andinos, paradigma de um modo de produção de vida em harmonia com o Todo, com os seres humanos entre si e com a natureza circundante. 

Aqui funciona a racionalidade cordial e sensível que enriquece e, ao mesmo tempo, impõe limites à voracidade da fria razão instrumental-analítica que, deixada em seu livre curso, pode pôr em risco nosso projeto civilizatório.  Trata-se de uma nova compreensão do mundo e da missão do ser humano dentro dele, como seu guardador e cuidador. Oxalá este seja o caminho a ser trilhado pela humanidade e pelo Brasil. 

* Leonardo Boff é colunista do JB on line, filósofo e escritor

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

15 Comentários

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      1. Ozzy, ozzy, os excessos dos

        Ozzy, ozzy, os excessos dos tempos do BSabbat estão cobrando a fatura agora. Quanto ao cesário, é preciso dar a ele o que é dele: ingenuidade em estado bruto. Leonardo Boff está certíssimo, não importa se em 1500, 1980 ou agora. 

  1. Choque de Conceitos e a Jornada nas Estrelas

    Realmente é um choque de conceitos onde ou o Rico é aquele que acumula incessantemente e além de suas necessidades ou Rico é aquele que possui tudo o suficiente para as suas necessidades.

    Talvez um dia cheguemos a um ponto utópico como na nave Enterprise onde todos os tripulantes executam trabalhos conforme sua melhor aptidão, sem salário e recebem tudo o que é necessário para sua sobrevivência e conforto.

    Certamente se todas as pessoas enxergassem o vizinho como um igual, e não como um concorrente ou mesmo serviçal, aí o mundo começaria a se modificar e empregar todos os recursos possíveis para o benefício da humanidade, ao invés de guerras, desperdício de recursos produtivos empregados em concorrências, lucros desenfreados, corrupções que são normais no mundo inteiro.

    Haveria de haver um controle, mas este controle tem que ser exercido e fiscalizado pela própria sociedade, não por poucos eleitos. É muita utopia, e talvez a natureza humana não comporte tal comportamento para o seu semelhante.

    Talvez possa se iniciar pelo Brasil, mas será um choque cultural bem difícil, vide os comportamentos dos motoristas em SP contra os novos ciclistas…..

  2. Cruzando informações dos mais

    Cruzando informações dos mais diferentes tipos descobri que Leonardo Boff está certo: a escolha dos brasileiros é entre ser um país soberano ou uma eterna colônia. Tem até uma prova bem simples para isto: o discurso do tucanato num congresso realizado alguns dias atrás mostra como eles estão decididos em atender os interesses norte-americanos.

    1. Comentário sem vergonha

      “Seria pior do que estamos hoje?”.  Como é que um sujeito tem a pachorra de fazer um comentário sem vergonha desses!?  Deve ser mais um que chora de barriguinha cheia. Qual é o seu problema? Não vai poder trocar de carro na virada do ano? As férias para a europa precisarão ser suspensas? Pergunte a um morador da periferia do distrito do méxico o que ele acha da sua proposta.

    2. Por favor, Mario Mesquita,

      Por favor, Mario Mesquita, responda-me se a sua afirmação, de que “ser colonia dos EUA soa como algo interessante”, trata-se de uma gozação ou de uma vontade real.

      Espero ansiosamente a  sua resposta.

      Muitos brasileiros desejariam que isso ocorresse, mas foi a primeira vez que encontrei alguem com coragem para fazer tal declaração publicamente.

      Responda-me, por favor.

  3. para mim nenhuma das duas

    para mim nenhuma das duas opções. a saida é a de entregarmos tudo a quem primeiro habitou aqui, ou seja, para os indigenas. eles cuidam muito mais… dependentes sempre seremos… ninguem tem coragem de fazer o que precisa. vamos na marolinha.. até hoje não nos descobrimos como nação. então… nao sei mais o que resta.. agora truculencia tem aos montes! servidos??

  4. Pode soar anacrônico para

    Pode soar anacrônico para alguns,contudo, a persistência americana é conhecida desde o século XIX.Ou alguém  esqueceu  do “destino manifesto”,pilar ideológico no qual  a  grande nação do norte  está  calcada?

    Para os distraídos, a recente denúncia,comprovada, da  espionagem americana `a presidência da república, Petrobrás e diversos  estamentos,confirmam  as históricas  suspeitas sobre  nosso aliado continental.

  5. e …………………………….

    Tema interessante, e mais interessane ainda se torna quando os coxinhas, americanistas, venham postar sem acrescentarem absolutamente nada, começam distorcendo o artigo.

    Idiotas !!!!!

    Quan to às colocações de Boff sobre a sanha saqueadora do império do norte, não resta a menor dúvida, pois esgotaram suas reservas e agoram farão tudo para saquearem os paises que as tiverem.

    Isto sem falar nos engtreguistas de plantão, que, tal qual judas, não medem esforços para trairem e entregarem a Pátria a estes saqueadores !!!!!!!!!!!!

    Idiotas é pouco !!!!! O termo exato é traidores da Nação !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  6. A Europa explorou e saqueou

    A Europa explorou e saqueou boa parte do mundo por séculos, inclusive através da captura e venda de seres humanos  durante a escravidão. A Europa tem um filho bem sucedido, os EUA, que agora tocam em frente os negócios da família.

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