Xadrez dos alertas que antecipavam a guerra final dos Bolsonaro, por Luis Nassif

Estimulado pelos filhos e por Olavo de Carvalho, Bolsonaro abriu mão de todas suas “âncoras” e decidiu partir para a guerra individual.

Vamos a um histórico dos vários Xadrez publicados no GGN, antecipando desfecho da crise Bolsonaro.

Xadrez do golpe de Bolsonaro a caminho (08/05/2019)

Peça 1 – O fator Olavo de Carvalho

Depois das últimas escaramuças, não resta dúvida de que a alma do governo Jair Bolsonaro são seus filhos Carlos e Eduardo. E, por trás de ambos, Olavo de Carvalho. Conforme foi possível conferir ao longo desses meses iniciais, todas as loucuras ditas por Olavo e pelos filhos de Bolsonaro têm consequências políticas. Não são meramente bazófias e grosserias. Têm que ser interpretadas ao pé da letra.

Três opiniões relevantes para compor essa primeira peça

A opinião de Olavo sobre os militares

É evidente que, para Olavo, os generais representam o maior empecilho para a guerra final contra o marxismo cultural.

A hora do enfrentamento, segundo Olavo

De todos os tuites de Olavo, o que mais chamou a atenção foi o que ele avisa para deixar para mais tarde a briga com o general Villas-Boas. Quem o avisou foi “o anjo da guarda”. Não é necessário muito tirocínio para intuir quem é o tal de anjo da guarda.

Xadrez dos preparativos para a luta final (16/06/2019)

Estimulado pelos filhos e por Olavo de Carvalho, Bolsonaro abriu mão de todas suas “âncoras” e decidiu partir para a guerra individual. Ampliou o discurso ideológico e, em Santa Maria expos a estratégia do armamento da população: armar o povo para resistir a golpes. Daqui para frente, será um crescendo, diretamente proporcional à incapacidade política do grupo Bolsonaro de se colocar no jogo institucional

(…) Não há a menor possibilidade de Bolsonaro baixar a poeira, e definir uma estratégia sutil de destruição nacional. Cada vez mais acelerará a retórica do confronto, da guerra ideológica, do foco único no fundamentalismo mais tacanho.

Sua insistência em armar as milícias, mais cedo ou mais tarde exigirá providências das Forças Armadas.

A tortura chinesa do The Intercept sobre Moro, pingando dia a dia parafina quente na sua testa, tornará sua permanência um fator adicional de desgaste.

A cada dia que passa, mais aumentará o desalento com Paulo Guedes e sua incapacidade de reverter a crise.

 Xadrez na natureza do governo Bolsonaro (24/07/2019)

Peça 1 – elite, povo e lumpem

Uma das peças centrais do governo Bolsonaro é o desmonte de qualquer forma de proteção social e de regulação capitalista da economia. Embrulha tudo isso na embalagem do empreendedorismo e da liberdade de atuação das empresas.

Mas não se trata nem de um representante da elite, nem do proletariado, nem do empreendedorismo. A divisão é outra: é entre a economia formal e a economia da zona cinza, ou irregular ou criminosa. Peça 1 – elite, povo e lumpem

Uma das peças centrais do governo Bolsonaro é o desmonte de qualquer forma de proteção social e de regulação capitalista da economia. Embrulha tudo isso na embalagem do empreendedorismo e da liberdade de atuação das empresas.

Mas não se trata nem de um representante da elite, nem do proletariado, nem do empreendedorismo. A divisão é outra: é entre a economia formal e a economia da zona cinza, ou irregular ou criminosa.

Peça 2 – desregulação e economia do crime

Sua última decisão, de proibir que as Juntas  Comerciais comuniquem suspeitas de crimes na constituição de empresas, somado ao apoio às restrições do COAF, visam justamente abrir espaço para a ocupação da economia pelas organizações clandestinas, algumas nitidamente criminosas.

Vão na mesma direção o desmonte da Funai, da ICMBio, a flexibilização dos agrotóxicos pela Agência Nacional de Saude,  a abertura para importação de armas, e a liberação de armas para a população, até temas menores, como a proposta dos Bolsonaro de anular as multas das vans que trafegam em faixa de ônibus no Rio de Janeiro.  Sua última decisão foi permitir a distribuição de gás em botijão semi-cheio e sem  menção  à distribuidora.

Peça 3 – desmonte de toda forma de organização

Assim como em outros movimentos fascistas, Bolsonaro não admite o contraditório ou qualquer forma de organização, seja social seja de corporações públicas.

É o que explica o fim dos conselhos, os ataques às organizações sociais, o fato de colocar Supremo, Procuradoria Geral da República e Lava Jato de joelhos. E também a iniciativa de acabar com as contribuições ao sistema S, ou o processo descontrolado de abertura da economia.

Incluem-se aí as disputas com as corporações públicas, com o Judiciário, especialmente com a elite do funcionalismo público, possível próxima etapa do desmonte bolsonarismo. O golpe final será sobre as Forças Armadas.

Peça 4 – a apropriação dos serviços públicos pelo lumpem empresariado

Uso o termo lumpem empresariado para diferenciar dos setores empresariais modernos e dos tradicionais. São os que exploram nichos como bingo, manicômios, clínicas psiquiátricas, escolas para deficientes e, no caso das milícias, transporte público, construções irregulares em áreas de preservação, venda de gatos e de gás, venda de proteção privada.

A última decisão do governo foi retirar médicos, psiquiatras especialistas e conselhos das decisões sobre saúde mental.

Peça 5 – o preconceito contra os miseráveis e contra a elite

Uma característica da classe média baixa, em seu processo de ascensão econômica, é a ampla ojeriza a qualquer forma de miséria que possa lembrar suas origens, e a revolta contra qualquer grau de hierarquia social, como expressão da revolta pelas humilhações sofridas.

A negação de qualquer forma de solidariedade aos mais pobres é um instrumento de afirmação da sua condição social, de quem saiu da pobreza, mas não chegou a elite.

O resultado é um tipo com profundo preconceito em relação aos mais pobres, é uma repulsa contra os salões da elite, aos quais nunca teve acesso.

A família Bolsonaro enquadra-se perfeitamente nesse perfil. O pai sempre demonstrou uma raiva descontrolada em relação à memória do ex-deputado Rubens Paiva, cujo pai era grande fazendeiro na cidade em que Bolsonaro foi criado.

Por isso, é tolice considera Bolsonaro como aliado das elites. Ele é um representante típico do lumpem.

Peça 6 – o horror a qualquer tipo de divergência

O horror à divergência é consequência automática do complexo de inferioridade que os acompanha a vida toda, seja pelas vulnerabilidades de origem, seja pela fraqueza intelectual.

Só confiam nos seus. Dai a exigência de obediência absoluta, que faz os espíritos mais fracos se comportarem de forma vergonhosamente subserviente. Como bem anotou Jânio de Freitas, Bolsonaro tem a compulsão da morte.

5 Comentários

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  1. A vaza jato produziu zero desgaste em Moro, sinto muito.

    Quanto ao resto da analise, se a elite do PiG, da FIESP, do PSDB, sao burros, a de Doria, Wietzel, Bolsonaro, Veio da Havan, sao tacanhos. É como se tivessem implantado o velho oeste selvagem norte americano sem os 8 magnificos para enfrentar os bandidos.

    1. Exato.
      Digo até mais, a vaza-jato alavancou o Moro em todos os grupos não-esquerda e o fixou entre os admiradores.
      Só a esquerda se preocupa com os abusos do marreco e essa, independentemente de vaza-jato, não o apoiaria mesmo.
      Para todo o restante, saiu reforçada a ideia de alguém que faz o que é permitido e também o que não é para “limpar o país”. Admiram o “justiceiro”.
      Estratégia muito eficiente propagandear parecendo criticar.

  2. Podemos concluir então que o autogolpe exige 2 requisitos básicos:

    1 – o consentimento incondicional do alto escalão das forças armadas; se necessário, haverá um golpe dentro das FFAA para tornar isso possível

    2 – o lançamento de um estopim dentro do governo: pode ser lançado pelo resultado das eleições de 2022, pela mídia, pelo congresso, por um ator isolado da oposição, enfim, qualquer coisa que ameace tirar os bolsominions do poder. Enquanto isso não acontecer eles vão ficando, ficando…

    Hitler fez parecido. Assustador

  3. (21/2/2020)

    Amig@s,
    Quero ME QUEIXAR do formato do blog. Não pude ler tudo agora, pois é muito texto… e muito REPETITIVO!!!!
    O problema tem sido o excesso de REPETIÇÕES.
    Depois do sempre atraente título, lemos um interessante texto.
    Aí… vemos que é apenas uma apresentação…
    O texto vai começar é agora… e repetir tudo!!!

    Aí… depois de ler de novo algumas coisas, o texto é INTERROMPIDO!!!!
    E temos que clicar em algum lugar para… PARA CONTINUAR A LER!!!

    E aí… aparece DE NOVO o que já lemos!!!!

    COMPLICADÍSSIMO E INSUPORTÁVEL!!!!

    O problema já começa pelo excesso de informações que recebemos.
    Não é o tamanho da matéria, mas se elas não têm um FORMATO AMIGÁVEL, acabamos deixando para depois. E nunca mais…

    Por favor, Nassif e equipe!
    Caprichem na CONTINUIDADE do texto!
    (Pensem inclusive no excesso de balões paralelos.)

    Saudações Democráticas!

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