Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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O tempo certo é o desafio nas decisões, por Francisco Celso Calmon

Discutir os nomes dos diretores do BC, entender os vieses das atas do COPOM, estão se tornando parte da pauta da sociedade.

Rafa Neddermeyer – Agência Brasil

O tempo certo é o desafio nas decisões

por Francisco Celso Calmon

Antecipar o substituto do Bob Neto no Banco Central é favorecer ao mercado, porque com antecedência pode fazer terrorismo caso o substituo não o agrade, e, se for o Gabriel Galípolo, é indicar o candidato já abençoado pelo mercado, portanto, de um jeito ou outro só haverá liberdade e responsabilidade de escolha do Lula, se for por um candidato que desagrade o mercado e agregue à política desenvolvimentista do governo.

A antecipação significa cravar o nome de Galípolo. Por suas últimas declarações, acho um certo risco, dar mais tempo para novas manifestações e ações, creio ser o mais prudente pelo presidente Lula.

Os interesses do mercado financeiro são opostos ao crescimento econômico, afinal, os juros só coadunam com o desenvolvimento quando estão baixos, favorecendo ao consumo e ao investimento, quando favorece ao rentismo, estimula a especulação e à esterilidade econômica.

Caso o futuro presidente não esteja sintonizado com o governo, Lula estará desmoralizado. Não só, mas a Gleisi, presidente do PT, também, vez que defendem vigorosamente a redução da SELIC.

Estamos assistindo que as forças rentistas têm o financista Campos Neto no bolso, e depois que os quatro indicados pelo Lula votaram pela queda dos juros, cujo resultado foi de 5 x 4 pela manutenção da SELIC, foram orientados a mudarem de postura para o mercado não fazer marola.

Daí em diante temos assistido declarações fracamente favoráveis à equivocada e tradicional política monetária do BC.

É uma questão tática, porque mesmo com a saída do atual presidente do Banco e a não indicação imediata, é o secretário-executivo, Galípolo, que responderá interinamente.

O BC foi criado durante a ditadura militar, em dezembro de 1964, a lei que lhe deu autonomia é de fevereiro de 2021, era bolsonarista.  Sintomática coincidência.

O calendário da substituição dos diretores é um acinte à razoabilidade organizacional, é admissível deduzir que foi um cronograma preventivo para o caso de uma derrota do Bolsonaro.

E deu certo: a diretoria bolsonarista está operando contra a política do governo atual por dois anos.

É um aleijão no exercício do governo, visto que retira, por um período, a competência do governo eleito, que pode ficar, como tem ocorrido, debilitado para cumprir seus compromissos eleitorais.

A título de ilustração: imaginemos uma lei que impedisse por um ano o presidente eleito de nomear novos ministros da área econômica, do BB, da CEF, do BNDES, com a justificativa de não ter solução de continuidade.   

Mais intrigante é o papel do COPOM e a sua composição, deixemos para uma outra ocasião uma reflexão a respeito.

Lula não tem histórico de independência nas escolhas dos presidentes do BC, mesmo quando não havia a lei de autonomia, indicou o banqueiro Meireles.

Na época não havia na sociedade a consciência de como a política monetária interfere na macro e microeconomia. 

Na atualidade, por obra dele mesmo e da presidenta do PT, a militância começou a compreender que os juros não devem ser fator de freio ao consumo e ao investimento.

Discutir os nomes dos diretores do BC, entender os vieses das atas do COPOM, estão se tornando parte da pauta da sociedade.

No presente, o povo sabe que a despesa com os juros é maior do que com o orçamento da educação, saúde e assistência social.

E isso é indigno, revoltante, despesas sociais com tetos e sem limites para os juros.

O Banco Central é um poder autônomo sem legitimidade, sem outorga da soberania popular, ou mesmo da meritocracia do concurso público, é o braço institucional do capital financeiro; por tudo, é espúrio, e a lei que estabeleceu a sua autonomia precisa ser revista e a PEC 65, frontalmente inconstitucional, rechaçada amplamente pelas lideranças deste nosso país.

A economia política deve ser una, com um sentido só, a política cambial e de juros não deve estar apartada, sob pena dos gestores praticarem remadas diferentes e o barco fazer água e correr o risco de ir à pique.  

O golpe de 2016 trouxe em seu ventre um projeto contrarrevolucionário ao Estado democrático brasileiro, e temos assistido a sua implementação desde então pelos golpistas Temer, Bolsonaro e o Congresso.     

Em tempos de olimpíadas, que os próximos diretores do BC acalentem o espírito olímpico de brasilidade.  

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

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2 Comentários

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  1. O Brasil aplica pouca importância a si mesmo, por essa razão participa também pouco das discussões relevantes sobre o País. Há que se aceitar a ideia de que o País foi “forçado” a tomar uma atitude para a alta inflação suportada pelo País. O processo de integração internacional da economia levou a isso. E praticamente parou nisso. Aumentar o volume da economia brasileira não tem relevância. É praticado muito mais manter certas regalias que custam ao Brasil e sua sociedade a procurar formas de desenvolvimento e crescimento que modifiquem a dimensão do País. Essa relação desencontrada com relação ao tempo dos mandatos da presidência e diretorias do BCB é um caso típico da desimportância dada ao Brasil. Considerando a citação feita a respeito de Henrique Meirelles no BCB , sua presença foi entendida como autônoma em relação ao governo, não ao País. Saiu quando quiz. Esse rolo criado misturando indicações, ou o tempo delas em face do Chefe de Governo e seu tempo de mandato é coisa de quem deseja inviabilizar o País. A questão dos juros é relacionada com a capacidade e interesse do Brasil em resolver isso. Esse controle que o “mercado” exerce sobre o assunto está diretamente relacionado com a falta de objetivos de um País que oferece taxa real de juros que desestimula que investidores corram riscos em negócios chamados produtivos e transformem a realidade do Brasil e obtenham os ganhos disso.

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