O tempo certo é o desafio nas decisões
por Francisco Celso Calmon
Antecipar o substituto do Bob Neto no Banco Central é favorecer ao mercado, porque com antecedência pode fazer terrorismo caso o substituo não o agrade, e, se for o Gabriel Galípolo, é indicar o candidato já abençoado pelo mercado, portanto, de um jeito ou outro só haverá liberdade e responsabilidade de escolha do Lula, se for por um candidato que desagrade o mercado e agregue à política desenvolvimentista do governo.
A antecipação significa cravar o nome de Galípolo. Por suas últimas declarações, acho um certo risco, dar mais tempo para novas manifestações e ações, creio ser o mais prudente pelo presidente Lula.
Os interesses do mercado financeiro são opostos ao crescimento econômico, afinal, os juros só coadunam com o desenvolvimento quando estão baixos, favorecendo ao consumo e ao investimento, quando favorece ao rentismo, estimula a especulação e à esterilidade econômica.
Caso o futuro presidente não esteja sintonizado com o governo, Lula estará desmoralizado. Não só, mas a Gleisi, presidente do PT, também, vez que defendem vigorosamente a redução da SELIC.
Estamos assistindo que as forças rentistas têm o financista Campos Neto no bolso, e depois que os quatro indicados pelo Lula votaram pela queda dos juros, cujo resultado foi de 5 x 4 pela manutenção da SELIC, foram orientados a mudarem de postura para o mercado não fazer marola.
Daí em diante temos assistido declarações fracamente favoráveis à equivocada e tradicional política monetária do BC.
É uma questão tática, porque mesmo com a saída do atual presidente do Banco e a não indicação imediata, é o secretário-executivo, Galípolo, que responderá interinamente.
O BC foi criado durante a ditadura militar, em dezembro de 1964, a lei que lhe deu autonomia é de fevereiro de 2021, era bolsonarista. Sintomática coincidência.
O calendário da substituição dos diretores é um acinte à razoabilidade organizacional, é admissível deduzir que foi um cronograma preventivo para o caso de uma derrota do Bolsonaro.
E deu certo: a diretoria bolsonarista está operando contra a política do governo atual por dois anos.
É um aleijão no exercício do governo, visto que retira, por um período, a competência do governo eleito, que pode ficar, como tem ocorrido, debilitado para cumprir seus compromissos eleitorais.
A título de ilustração: imaginemos uma lei que impedisse por um ano o presidente eleito de nomear novos ministros da área econômica, do BB, da CEF, do BNDES, com a justificativa de não ter solução de continuidade.
Mais intrigante é o papel do COPOM e a sua composição, deixemos para uma outra ocasião uma reflexão a respeito.
Lula não tem histórico de independência nas escolhas dos presidentes do BC, mesmo quando não havia a lei de autonomia, indicou o banqueiro Meireles.
Na época não havia na sociedade a consciência de como a política monetária interfere na macro e microeconomia.
Na atualidade, por obra dele mesmo e da presidenta do PT, a militância começou a compreender que os juros não devem ser fator de freio ao consumo e ao investimento.
Discutir os nomes dos diretores do BC, entender os vieses das atas do COPOM, estão se tornando parte da pauta da sociedade.
No presente, o povo sabe que a despesa com os juros é maior do que com o orçamento da educação, saúde e assistência social.
E isso é indigno, revoltante, despesas sociais com tetos e sem limites para os juros.
O Banco Central é um poder autônomo sem legitimidade, sem outorga da soberania popular, ou mesmo da meritocracia do concurso público, é o braço institucional do capital financeiro; por tudo, é espúrio, e a lei que estabeleceu a sua autonomia precisa ser revista e a PEC 65, frontalmente inconstitucional, rechaçada amplamente pelas lideranças deste nosso país.
A economia política deve ser una, com um sentido só, a política cambial e de juros não deve estar apartada, sob pena dos gestores praticarem remadas diferentes e o barco fazer água e correr o risco de ir à pique.
O golpe de 2016 trouxe em seu ventre um projeto contrarrevolucionário ao Estado democrático brasileiro, e temos assistido a sua implementação desde então pelos golpistas Temer, Bolsonaro e o Congresso.
Em tempos de olimpíadas, que os próximos diretores do BC acalentem o espírito olímpico de brasilidade.
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.
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O Brasil aplica pouca importância a si mesmo, por essa razão participa também pouco das discussões relevantes sobre o País. Há que se aceitar a ideia de que o País foi “forçado” a tomar uma atitude para a alta inflação suportada pelo País. O processo de integração internacional da economia levou a isso. E praticamente parou nisso. Aumentar o volume da economia brasileira não tem relevância. É praticado muito mais manter certas regalias que custam ao Brasil e sua sociedade a procurar formas de desenvolvimento e crescimento que modifiquem a dimensão do País. Essa relação desencontrada com relação ao tempo dos mandatos da presidência e diretorias do BCB é um caso típico da desimportância dada ao Brasil. Considerando a citação feita a respeito de Henrique Meirelles no BCB , sua presença foi entendida como autônoma em relação ao governo, não ao País. Saiu quando quiz. Esse rolo criado misturando indicações, ou o tempo delas em face do Chefe de Governo e seu tempo de mandato é coisa de quem deseja inviabilizar o País. A questão dos juros é relacionada com a capacidade e interesse do Brasil em resolver isso. Esse controle que o “mercado” exerce sobre o assunto está diretamente relacionado com a falta de objetivos de um País que oferece taxa real de juros que desestimula que investidores corram riscos em negócios chamados produtivos e transformem a realidade do Brasil e obtenham os ganhos disso.
Muito bom o artigo. Concordo com o texto.