Qual o significado real do indulto de Bolsonaro a Daniel Silveira?, por Eduardo Ramos

Bolsonaro, na verdade, JAMAIS abandonou o tom eleitoreiro de todas as suas falas e ações. Já perceberam isso?

Agência Brasil

Qual o significado real do indulto de Bolsonaro a Daniel Silveira?

por Eduardo Ramos

Estava pensando nas muitas formas de abordar esse tema para que esse texto tivesse algum proveito para mim e para quem o lesse. É um gesto tão carregado de símbolos – a provocação, a ousadia, o confronto com o STF, a ração de ódio e fanatismo que alimentará seu rebanho por algumas semanas, etc. etc – que podemos, qualquer um de nós, enxergá-lo sob vários prismas.

A melhor forma de tentar descrever o que penso e sinto de forma resumida é exatamente através da pergunta-título do artigo: Qual o REAL significado desse gesto? É o que tentarei responder – a mim mesmo antes de tudo, diga-se! – em breves tópicos.

1 – o significado real de ser um gesto de quem está em campanha eleitoral.

Bolsonaro, na verdade, JAMAIS abandonou o tom eleitoreiro de todas as suas falas e ações. Já perceberam isso? Janeiro de 2019 não foi apenas o início de seu “governo”: foi a distensão, a continuação natural – tratando-se de quem é… – do Bolsonaro dos palanques virulentos, selvagens, ordinários… do Bolsonaro do ódio, da vitimização, que segue levando “facadas” de seus inimigos. Líderes populistas que não têm nada, absolutamente nada a oferecer de um discurso ou ações racionais, construtivos, conciliadores de uma nação, na verdade, nem têm outra escolha! Ou seguem num palanque eterno ou perdem a continuidade perversa, desumana, desse tipo de hipnose que causam em seus rebanhos enfermos. Nesse aspecto, me lembra muito o que a grande mídia, Moro e os procuradores da Lava Jato fizeram com nossa classe média: um discurso de ódio, a escolha de um “satanás” a ser odiado e legitimamente massacrado, a coisa do “eu sou o bem”, o “outro lado é o mal” – tanto é assim que até hoje tenho amigos e familiares que sentem sobre Lula o mesmo nojo e desprezo que sentiam, e mesmo decepcionados com Moro, – alguns… – seguem achando que “ele se perdeu, coitado, mas tentou fazer o bem combatendo a corrupção” (sic…) – e até hoje, chegam ao cúmulo da distopia mais radical, afirmando que “Bolsonaro é consequência do erro de Lula, o egoísta miserável, que insistiu em sua candidatura…” (sic 2…). O fanatismo, as doenças sociais, aquilo que é inoculado “nas veias” das pessoas num processo social manipulador e perverso, pode durar por décadas, e até mesmo pela vida toda das pessoas enfermas por esse fanatismo cegante.

Enfim, o significado primeiro do gesto é esse: algo eminentemente eleitoreiro, feito para agradar sua matilha e manter o alto nível de tensão no ar.

2 – O significado real de ser um gesto de quem NECESSITA do confronto mais radical possível para dar um golpe de Estado.

Não se dá um golpe sem briga, confronto, ódios, fraturas sociais. Ora, se as instituições estiverem pacificadas e num convívio democrático e civilizado, como se criar o CLIMA social, emocional, para que ele se estabeleça? Um Bolsonaro obediente às normas civilizatórias seria ENGOLIDO pelo braço da Lei em poucas semanas. Para ele isso é, de certo modo, uma questão de “vida ou morte”, pior, ele sabe que é assim para seus filhos igualmente. Sejamos honestos em relação às “coisas”: o que tem protegido Bolsonaro, seus filhos, ministros e apoiadores mais radicais da ação das polícias, dos MPs, do Judiciário em geral? O MEDO QUE TODOS TÊM DE ESTICAR DEMAIS A CORDA E SER ISSO O ESTOPIM DE UMA GUERRA CIVIL NO BRASIL!

Bolsonaro SABE desse medo, conta com ele para seu projeto de poder e de proteção a si e sua família. Imaginemos só por um segundo um Brasil diferente do que é, as instituições todas funcionando normalmente, cada uma em seu espaço, militares de volta à caserna, sem se meterem em política ou nos atos dos outros poderes, a mídia livre, suas milícias calmas, quantos meses levaria para que ele e sua família respondessem, junto com auxiliares diretos, por seus crimes cometidos antes e depois da Presidência? O golpe é sua salvação, mesmo que o país incendeie, mesmo que morram pessoas, mesmo que o mundo nos olhe com mais espanto e desprezo, se e caso vier o golpe militar.

O segundo significado, portanto, é essa necessidade de seguir provocando confrontos paroxísticos, graves, que levem a uma crise que “permita” o vislumbre de um álibi para o golpe, já armado, eu não tenho dúvidas.

3 – O real significado de sufocar qualquer pensamento em seus apoiadores diretos, de que ele vai abandoná-los nessa reta final.

Bolsonaro certamente está com a lição “Weintraub” na cabeça. Não é hora de ter mais desiludidos o atacando e minando sua credibilidade. Imaginemos um Daniel Silveira furioso, sentindo-se traído, largado à própria sorte, esbravejando contra ele? Fim de governo se aproxima, é um momento sensível para qualquer governante. Ao arriscar tanto para salvar o pescoço de Silveira, também passa um recado a todos os outros: “sigam fiéis e eu vou até as últimas consequências para salvá-los das garras dos nossos inimigos”.

O terceiro significado, portanto, é um recado direto aos seus apoiadores.

4 – O real significado de, literalmente, – e isso independia da vontade discricionária de Bolsonaro… – atirar o país num dilema sério e histórico: “que país queremos ver imergir desse pântano civilizatório em que nos enfiamos?”

E é com esse quarto significado que encerro o artigo, deixando muito claro o que acredito: o governo Bolsonaro está em seus “estertores da morte”, e ele sabe disso. Lula avança nas pesquisas, se a campanha for minimamente bem conduzida, nada lhe rouba a vitória. Se a sociedade civil se acovardar, se ajoelhar diante do capitão-demente-genocida, é o fim do Brasil, por décadas, enquanto país digno, nação civilizada, Estado de Direito. Sem falar no quanto disso tudo já não foi dilapidado, jogado no esgoto, tornando-nos motivo de escárnio e desprezo aos olhos do mundo civilizado, por conta da Lava Jato de Globo-Moro-Dallagnol, dos nossos militares cúmplices do assassinato covarde, perverso e hediondo do músico Evaldo, dos nossos militares toscos e corruptos, como o general Heleno, o general Villas Boas, o general Braga Neto, e tantos como eles, saídos das catacumbas do inferno para ressuscitar os jeitos de ser mais doentios dos tempos da ditadura. Mais semelhantes a Bolsonaro e seus filhos, impossível. Mais aconchegados a tudo de pior que nossa nação produziu, impossível. E ainda temos que ser esbofeteados, todos nós, por um outro ser pérfido e covarde, fortalecido pelo poder das armas, o general da reserva Eduardo José Barbosa, presidente da Casa Militar do Rio de Janeiro, que afirmou no Twítter: “Lamentável termos, no Brasil, Ministros cujas togas não serviriam nem para ser usadas como pano de chão, pelo cheiro de podre que exalam.”

Não tenho dúvidas que a bravata do general se deve ao fato do poder a que pertence. Pobre país, que generais afrontam aos poderes instituídos unicamente pela retaguarda de se saberem invencíveis pelo poder das armas que possuem. Seria mais digno, darem o golpe de uma vez, assumirem-se como corruptos e corrompidos, e voltarem a torturar e matar como fizeram por mais de uma década a partir de 1964. Preferem intimidar pelo medo, pelas ameaças, pelas ofensas imperdoáveis, criminosas, que atentam contra a liberdade, a democracia, o Estado de Direito.

O quarto e real significado, é essa pergunta, que cabe a todos nós responder: QUE RESPOSTA DAREMOS AO GENOCIDA E AOS SEUS GENERAIS, DOIDOS PELO GOLPE QUE OS MANTERÁ NO PODER E NAS MAMATAS CONQUISTADAS?

Mas todo esse horror é filho direto da omissão do STF durante a Lava Jato, de nossa grande mídia, vil e torpe, de nossas elites e classes médias, rasas, toscas, narcísicas e enfermas, enfim, a tragédia do Brasil que não merecia esse odor pútrido, pagando pelos erros de nossa nação tão doente.

O Brasil colhendo exatamente o que plantou.

Chegou o momento de escolhermos a cura ou a morte definitiva.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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Redação

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