Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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58 anos de impunidade, por Francisco Celso Calmon

A partir do golpe nasceu uma árvore do mal, cujas raízes de sementes venenosas foram adubadas pela traição à Carta Magna, à democracia e ao Brasil.

58 anos de impunidade

por Francisco Celso Calmon

O golpe de estado, que alguns adjetivam como militar, civil e eclesiástico, foi não o primeiro, mas o que implantou uma ditadura militar, cruel, sanguinária, covarde e terrorista por 21 anos.

O golpe ocorreu em 1º de abril de 1964, ainda com o presidente João Goulart em território brasileiro até o dia 02 de abril, quando o Congresso Nacional e o STF chancelaram institucionalmente a quartelada.

A partir do golpe nasceu uma árvore do mal, cujas raízes de sementes venenosas foram adubadas pela traição à Carta Magna, à democracia e ao Brasil.

Os jornais da época registraram o golpe como sendo no dia primeiro de abril e quando perceberam que neste dia é comemorado o dia da mentira e dos tolos, instaram a imprensa a modificar para o dia 31 de março. Ocorre que as tropas do gal. Olímpio Mourão Filho só saíram de Juiz de Fora na madrugada de 01 de abril, sem encontrar resistência, e a homologação do STF ocorreu na madrugada do dia 02 de abril.

Não foi uma mentira para o Brasil, foi uma verdade cruel e trágica.

Nesses 21 anos, sequestraram, torturaram, homens, mulheres, adultos, crianças e adolescentes, estupraram, assassinaram, cortaram cabeças, fizeram butim de nossos pertences, enfim, foi uma época de barbárie praticada pelos militares, com assessoria das agências dos EUA e da operação Condor.

O AI-5 colocou o Brasil num imenso pau de arara!

Os agentes das graves violações dos DHs e criminosos de lesa-humanidade não foram punidos, sequer processados criminalmente, enquanto isso as sequelas de seus atos permanecem física e espiritualmente em nosso ser.

Muito pouco avançamos na necessária Justiça de Transição, sem a qual a democracia carregará continuamente em seu ventre os entulhos das épocas ditatoriais, a impunidade prevalecerá e vai-se constituindo em DNA da história do Brasil.

Muitas manifestações, discursos, livros, faixas e cartazes estampam o lema LEMBRAR PARA NÃO REPETIR, malgrado as lembranças, a repetição permanece.

O Estado policial bolsonarista é a encarnação da barbárie estatal e miliciana, sob os olhares apoiadores ou inertes dos militares, a quem caberia a autocrítica histórica, devida por tudo que fizeram à sociedade e à nação, manchando a honra da instituição e envergonhando o Brasil no exterior.

Quando a memória viva não existir mais, nossos filhos, netos, historiadores, conhecedores da nossa memória, falarão por nós, mas até lá, a memória viva não deve ser substituída por esses que serão memória histórica, não viva. 

É desafiador e da mais alta importância ser memória viva e memorialista, porque é preciso que estejamos presentes com aqueles que falam em teoria o que nós vivemos na vida.

Os remanescentes da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça não olvidarão esforços para que o próximo governo Lula faça o que não fez no anterior, e que, iniciado no governo Dilma, não foi adiante, e ocorreu o descumprimento pelo Estado das Recomendações da Comissão Nacional da Verdade.

O debate da pauta memória, verdade e justiça não pode ficar alienada do debate eleitoral.

Não devemos mais aceitar, sem contraditar, o revisionismo descarado dos militares bolsonaristas, como o gal. Braga Neto, que, sem pudor, solta uma nota falseando o legado da ditadura.

Segundo pesquisadores, o verdadeiro legado é este: a ditadura colocou meio milhão de brasileiros sob suspeição, 200 mil investigados, 20 mil torturados, entre eles 95 crianças/adolescentes; além dessas, 19 crianças foram sequestradas e adotadas ilegalmente por militares; 7,5 mil membros das Forças Armadas e bombeiros foram presos, muitos torturados e expulsos de suas corporações; em torno de  9.540 indígenas e camponeses mortos; ainda desaparecidos 210 brasileiros, entre os 434 mortos/desaparecidos registrados pela Comissão Nacional da Verdade; 536 intervenções em sindicatos; extinção e colocação na ilegalidade entidades estudantis, UNE, UBES e demais; violação de correspondências de toda ordem, quebraram sigilos bancários e grampearam telefones; fomentaram o ódio e à delação até entre familiares.

Cassaram 4.862 mandatos de parlamentares, 245 estudantes expulsos das Universidades pelo Decreto 477; o Congresso Nacional foi fechado três vezes.

Essa foi a herança que a ditadura legou ao país. São 58 anos de impunidade desse barbarismo.

Cala-te Bolsonaro e demais ministros herdeiros e responsáveis desse maldito legado.

Queremos a implantação da Justiça de Transição!

Assista e participe dessa live, no canal pororoca, youtube e feice, na qual traremos a memória do passado (mortos e desaparecidos, as empresas colaboracionistas, a operação condor); o presente bolsonarista e o retrocesso; e a Justiça de Transição no governo Lula.

Francisco Celso Calmon, coordenador do canal pororoca e ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça

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Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

1 Comentário

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  1. Incrível como a impunidade perdura por todos esses anos. Aproveito aqui para fazer um convite a todos para acompanharem no YouTube o Canal Pororoca, onde o grade escritor Xico Calmon trata desse e de outros assuntos. Excelente publicação.

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