Sindicalismo Zumbi dos Palmares, por Carolina Maria Ruy

Sindicalismo Zumbi dos Palmares

por Carolina Maria Ruy

Atacar o sindicalismo é a regra número um do mercado. Quero dizer, da economia de mercado. Poderia falar, do capitalismo, mas isso soaria fora de moda. Até isso, ditar a moda, a economia de mercado faz para se proteger. O que a ameaça é antiquado, o que a alimenta, é moderno.

Moderno que, neste caso, se limita apenas à forma. Uma forma cada vez mais mirabolante para perpetuar um conteúdo arcaico e que deveria estar superado.

Na história do Brasil, todos os avanços da direita, com sua economia de mercado, tiveram os trabalhadores e os sindicatos como alvo primordial.

Foi assim com a UDN, que perseguiu Getúlio Vargas por ele ter desmontado o poder oligárquico, criado a legislação trabalhista e o Ministério do Trabalho, apelidado de Ministério da Revolução.

Foi assim na ditadura militar, que invadiu sindicatos e perseguiu sindicalistas. Foi assim com Michel Temer e sua deforma trabalhista e também com Jair Bolsonaro, para quem “patrão sofre no Brasil”.

Atualmente o governo de Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta grande resistência para governar para o povo que precisa do Estado. Mesmo que o metalúrgico Lula seja o presidente, a direita ainda avança por outros lados, pelo Congresso Nacional e pela imprensa colonizada.

E tirar dos trabalhadores todo e qualquer direito e capacidade de organização política é a meta.

Jornalistas do mercado são ensinados a difundir ódio e nojo aos sindicatos. E assim o fazem sem nenhum compromisso com a verdade e sem nenhuma responsabilidade social.

No dia 19/07, por exemplo, o membro do conselho editorial da Folha, Hélio Schwartsman, que escreve num daqueles editoriaizinhos da página 2 do jornal impresso, emitiu, sem mais nem menos, opiniões sobre a estrutura sindical levianas e que não correspondem à realidade.

A coluna tem um título debochado: “Imposto Zumbi”. Ora, para pessoas mais politizadas, Zumbi remete ao grande guerreiro, líder quilombola, Zumbi dos Palmares, principal ícone da resistência negra contra a escravidão. Mas como esperar que um elitista como Hélio Schwartsman lembre-se de que ele também está evocando um líder popular em sua coluna e não apenas a série americana The Walking Dead?

Segue-se então o texto falacioso: “Brasil tem um problema com instituições zumbi, aquelas que, mesmo depois de eliminadas, continuam circulando em versões degeneradas. O imposto sindical é uma delas, agora com o nome de contribuição assistencial”. Segundo ele o imposto sindical, assim como um morto ambulante, segue mesmo depois de eliminado.

Isso é uma grande mentira. O imposto sindical foi extinto na famigerada reforma trabalhista de 2017, o que é lamentável. Mas o fato é que contribuição assistencial não tem nada a ver com o extinto imposto.

Não cabe explicar pela milésima vez a diferença entre contribuição assistencial e imposto sindical. Basta fazer uma busca rápida na internet para encontrar material farto e didático sobre o assunto. A questão aqui é outra. Schwartsman sabe qual é a diferença. A Folha também sabe. Mesmo assim eles publicam essa desinformação já que o objetivo é atacar os sindicatos e deixar a boiada da exploração ao trabalhador passar.

O jornal faz isso, assim como outros órgãos da imprensa também propagam obstinadamente a ideologia antissindical da economia de mercado. Eles insistem em defender que moderno é o trabalhador sem direitos, como era nos primórdios da revolução industrial quando trabalhava-se dez, doze, quatorze horas por dia sem férias, sem descanso semanal, sem 13º, sem salário mínimo. O que são os chamados trabalhadores por app, na grande maioria entregadores e motoristas, senão uma nova versão do povo semi-escravizado do advento das indústrias? Esse é o mundo moderno do mercado. E da Folha.

Em seu texto, o jornalista defende o PL que pretende banalizar o processo de contestação dos trabalhadores quanto ao pagamento da taxa assistencial definida nas Convenções Coletivas, criado pelo senador Rogério Marinho, aquele que foi eleito com patrocínio de grandes empresas para tirar direitos dos trabalhadores. Segundo Schwartsman, qualquer simplificação da burocracia é bem vinda e “não tem como ficar contra” este novo ataque do senador.

Discordo duplamente. O que ele chama de simplificação da burocracia consiste em um incentivo para que empresas implementem práticas antissindicais, algo que muitas já fazem mesmo com o trabalhador tendo que apresentar as cartas nos sindicatos. É dar ainda mais força para o lado mais forte e desproteger ainda mais o lado dos trabalhadores. Por isto, sim, tem como ficar contra. Não se trata apenas de promover a liberdade individual, trata-se de resguardar a força de uma classe social como um contrapeso ao avanço do capitalismo selvagem.

Ele conclui dizendo que a reforma trabalhista – aquela que foi o maior desmonte da CLT já visto em nossa história, deveria ter sido ainda maior. Para ele “ficou pela metade”. “Faltou acabar com a unicidade”, disse. A unicidade, para quem não sabe, é a existência de um sindicato por categoria na base municipal, enquanto a pluralidade, que é o que o mercado quer para liquidar de vez o sindicalismo, é a possibilidade de existir diversos sindicados de uma mesma categoria na base.

Parece democrático, mas não é. Os sindicatos não são empresas, nem clubes, nem escritórios de serviços. São organizações políticas criadas pelos trabalhadores nos locais de trabalho. A democracia está no poder do trabalhador em ingressar no sindicato, constituí-lo, quando necessário, disputar internamente, unir-se com os demais para defender suas pautas. Não em colocar um sindicato contra o outro enfraquecendo ambos. Isso eles também sabem, e não querem dizer.

O que o establishment e sua imprensa fazem com o povo com relação à luta sindical é demagogia e enganação. A relação entre a contribuição assistencial paga pelos trabalhadores e o benefício que eles conquistam em forma de convenção coletiva e negociação salarial é mais do que justa. É emancipadora e civilizadora. É um caminho para maior justiça e igualdade social que deve ser ampliado, não restringido.

Mas a luta sempre foi dura e desequilibrada. E, neste sentido, o movimento sindical deve se orgulhar de evocar a figura de Zumbi. Não o Zumbi de Hélio Schwartsman, que é um defunto ambulante, mas o guerreiro Zumbi dos Palmares, aquele que lutou pela libertação de um povo oprimido e explorado.

Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical

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2 Comentários

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Rita de Cássia Vianna disse:

22 de junho de 2024 às 9:34 am

Toda instituição tem que melhorar rever critérios. Isso é normal. Mas quando inviabiliza uma instituição necessária para interesse de poucos, é retrocesso civilizatorio

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GARRU JOÃO LUIZ GARRUCINO disse:

22 de junho de 2024 às 10:31 am

Comentando matéria do GGN criticando Folha por criticar sindicalismo zumbi dos palmares a gosto dos patrões, da jornalista Carolina Maria Ruy.

Ótimo texto. E aproveitei para reflexão de vida neste sábado cedo após voltar da padaria pensando na vida…

De fato no Brasil esta gente do chamado mercado continua com mentalidade dos senhores do engenho ou fazendeiros do gado e café desde o golpe militar da suposta república…

Querem democracia desde que controlem tudo como vem acontecendo com este regime de suposta democracia após ditadura militar mas com os mesmos de sempre e apenas trocaram os tanques pela Globo e mídias financiada pela CIA inclusive com lavagem de dinheiro caso da Record do bispo…

Tudo é guerra híbrida americana no quintal…Caixa dois é ilegal e todos sabem mas deixam rolar pois forma do mercado comprar legislativos e executivos todos….Tem que acabar com horário eleitoral e candidatos serem conhecidos nos distritos e não mais se elegerem de longe pela televisão prometendo uma coisa antes e depois fazendo outra para quem pagar mais dando bananas ao povo…Tem que acabar com grana pública e privada e cada distrito eleger seus representantes diretamente sem sacanagem alguma…

Este regime acabou no centrão da quadrilha vendendo-se para quem pagar mais….

Não sei como funciona na Inglaterra mas parece contrapesos funcionam melhor…

Aqui embutiram cláusula do parlamentarismo meia boca onde apenas Congresso pode fatiar, fritar e derrubar presidentes eleitos com milhões de votos acima do Congresso inteiro mas sem a contrapartida do parlamentarismo do presidente poder também dissolver parlamentos e convocar eleições antecipadas em caso de crise institucional que claramente ocorre desde o golpe dos corruptos ou das quadrilhas contra Dilma ou PT….E povo nada percebeu até agora devido lavagem cerebral da grande imprensa em geral contra a nação e democracia sempre e preocupados apenas com lucros nas bolsas…Agora controlam até Banco Central…

Mas agora não tem como STF ou Lula intervirem ou fecharem o Congresso e convocar novas eleições…

No Brasil somente sobrou os militares puxa saco dos patrões ou coronéis do mercado e dos americanos como cães amestrados e contra a nação e democracia ou contra os interesses da maioria na sociedade.

Tudo sempre foi inverso no Brasil…

E sempre foi fácil manipular povo devido lavagem cerebral de suas mídias no rádio, jornais e televisão e agora redes sociais…

Maioria não percebe tais manobras devido lavagem cerebral e religiosos conservadores e todas as religiões sempre foram fabricadas e usadas como guerra híbrida pelos poderosos desde os imperadores, o templo judaico, Maomé, Papas e Reis protestantes…

Lutei pela democracia na ditadura inclusive disputando eleições sindicais pela oposição no interior e fui locutor do velho MDB e sonhava com a vendida democracia…

Na verdade aquilo tudo foi vendido pelo mercado querendo afastar os militares da fachada do trono apenas devido terem quebrado a economia com inflação de 200 % ao mês e viviam pendurados no FMI mas deram um jeito de controlar todo o processo desde a constituinte…

O PT pagou FMI a caminho de soberania mas o mercado não se preocupa com isto mas com seus ganhos indiferentes com nação ou maioria na sociedade tratados como gados ou escravos…

Sempre notei desde o começo desde processo de suposta democracia como começaram primeiro as rotatividades da mão de obra mesmo ilegais depois as terceirizações, e privatizações selvagens até afundar de vez após golpe com Temer e Bozo detonando CLT de mais de 60 anos e voltando ao faroeste feudal ou medieval…

E plataformas digitais acabaram de enfiar a faca nos cidadãos trabalhadores ou mais pobres ou excluídos por esta economia de mercado somente dos barões, reis ou nobres ou patrões acima da nação e democracia e controlam o Estado sempre….

E maioria não percebe ainda…E tem elegido estes canalhas e corruptos da direita e pior ainda da extrema direita legislando para os ricos ou elites ou mercado…

Velho coronelismo controla bolsa, fiesp, Faria Lima, militares, religiões, rádios, jornais e televisões….

Depois na grande SP ao perceber como na suposta democracia violavam mais ainda os direitos trabalhistas fui locutor de greves e de eleição da oposição sindical da CUT e da eleição do Lula em 89 que estava ganha uma semana antes mas Globo manipulou o debate como saiu até em documentário da BBC, e fabricaram o sequestro do empresário Abílio Denis de ùltima hora com grupo da América Latina que caiu de paraqueda ou do nada aqui se nunca tinham agido aqui, deixando se prenderem na véspera da eleição e usando camisetas do PT…

Algo claramente fabricado pela inteligência militar e da CIA tanto que nem ficaram presos aqui e sumiram e nunca mais se ouvir falar deles após trabalho sujo e certamente pago….

Hoje noto que praticamente já acabaram com categoria bancária e enfraqueceram cada vez mais sindicatos…

Graças a maioria do povo alienado devido lavagem cerebral.

É triste isto…Vou voltar na próxima vida e tudo vai estar mais ou menos na mesma pois é livre arbítrio da maioria gerando os males todos ou falta de consciência política e democrática…

Aprofundamos mais tudo isto nos textos das pesquisas afixado no topo de página do face mas ainda falta alguém para nos ajudar a reler e reescrever e sintetizar tudo numa linguagem mais adequada ao meio acadêmico e com consciência gramatical.

Jamais esperava ao final da vida ver tudo isto rolando no Brasil ou afundando ou esfarelando como civilização e nação agora pior ainda que na ditadura militar que ao menos respeitou mais CLT, pois misturado com fundamentalismo religioso querendo repetir idade média, cruzadas, inquisição, fogueiras e caças as bruxas ou oriente médio que nunca saiu disto chegando na renascença, iluminismo e revolução francesa degolando cabeças e separando a igreja do Estado e começando democracias burguesas do ocidente no maior salto até hoje da humanidade graças as ciências e sem a presença das igrejas no Estado mas….

Maioria no Brasil também continuam na idade média ai fica fácil para o velho coronelismo manipular, enganar, iludir e dominar ou reinarem…

Povo aqui nunca lutou por nada e tudo sempre foram arranjos das elites…

Povo apenas assiste de camarote lembrando o personagem do Mario de Andrade na Semana de Arte Moderna, o “Macunaíma…Um horror…

E o Paulo Guirardelli explica origens da classe média no Brasil citando trabalho acadêmico e isto explica bem realidade do Brasil onde classe média continua puxando o saco dos patrões garantindo apenas suas tetas e o resto da nação que se lasque…

E o Paulo explica ainda o identitarismo fabricando pelo capitalismo para dividir, confundir e jogar todos contra todos e mascarar a visão da luta de classes e noto que de fato conseguiram com plataformas digitais e algorítimos deste semiocapitalismo como explica o Paulo com maioria já virando zumbis como já eram das religiões todas dos poderosos ou dos picaretas…

Preciso ler os dois livros do Paulo que explicariam toda a transição do capitalismo que nos afeta, os livros “Semiocapitalismo” e “Subjetividade Maquínica”….

O Paulo fala que até agora esquerdas no mundo não apresentaram projeto para substituir este capitalismo neoliberal Global e canibal como explica agora a americana Nancy Frazer em entrevista ao site Outras Palavras.

Esquerdas apenas mitigam efeitos da ditadura global do capitalismo rolando nos impérios todos como EUA, China e Rússia e os penduricalhos pelo mundo afora a tremenda e violenta guerra híbrida de sempre entre impérios enquanto as massas continuam fora dos castelos…

Agora os reis são ocultos, temendo novas degolações, como acionistas majoritários das corporações transnacionais acima dos Estados e nações…

O Hélio Couto fala que bíblia deste capitalismo desde o livro de Adam Smity, A Riqueza das Nações, é furada pois nunca houve de fato economia de mercado, competição, livre iniciativa, etc., e tudo é controlado por cartéis ou oligopólios ou monopólios acima das democracias e das nações…

Entendo que economia de mercado de fato deveria ser regulada pelo Estado no interesse da maioria dos cidadãos na sociedade e não como acontece ainda com estes senhores barões feudais acima das nações e democracias repetindo o feudalismo…

Na Islândia vejo que estão mais próximos de uma democracia efetiva com povo pressionando Estado por auditar dívidas públicas internas e externas e começarem a colocar banqueiros na cadeia e com o resto fugindo da ilha para felicidade geral da nação de fato controlando o Estado e a economia mercado sem subverterem valores como fazem no resto do planeta inteiro e pior ainda no Brasil e terceiro mundo….

Mas quando massas vão acordarem e degolarem novas cabeças? Brincadeira…kkkkkkkkkkk

Mas no Brasil isto parece longe sendo mais provável como sempre acontecer na Europa e até nos EUA a caminho de nova guerra civil pois lá tudo acaba na bala ou faroeste…

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