Uma das grandes promessas de campanha de Donald Trump – trazer a produção das empresas norte-americanas para os EUA – dificilmente será cumprida.
Em 2022, a China exportou US$ 551 bilhões para os Estados Unidos. Mas a maior parte era de empresas norte-americanas trazendo os insumos de volta. Outros 20% foram produtos OEM – produzidos na China para fabricantes norte-americanos.
Um imposto de 60%, como proposto por Trump, incidirá diretamente sobre os lucros das corporações norte-americanas ou sobre os consumidores. Além de produzir terremotos nas cadeias produtivas globais.
Estudos do JP Morgan Chase calculam que as tarifas custarão US$ 1.000 por ano às famílias, com redução da demanda que impactará diretamente os preços das ações do setor varejista, como aconteceu em 2019, quando Trump impôs sanções à China.
A única consequência para a China será a redução da demanda, mas com o inconveniente de reduzir a demanda agregada mundial, produzindo uma recessão que afetaria também os Estados Unidos.
Segundo estudos de Murray Hunter – professor especializado na economia asiática – entre 1990 e 2017, corporações norte-americanas investiram US$ 250 bilhões na China. Os chineses facilitaram o processo criando zonas econômicas especiais e abrindo parcialmente o mercado. Atraíram enorme quantidade de corporações norte-americanas, atrás da mão-de-obra barata, menores custos operacionais, regimes regulatórios menos rigorosos.
Em contrapartida, esse movimento congelou os empregos na indústria norte-americana, deixando espaço apenas para empregos braçais de baixa remuneração. A classe média começou a encolher, assim como o poder de compra e a base tributária.
Aumentou exponencialmente o lucro das corporações. Mas uma geração inteira de habilidades na fabricação foi descartada. Muitas das fábricas foram transformadas em armazéns e condomínios, adquiridos por chineses e inflando o mercado imobiliário norte-americano.
Nesse período, a manufatura dos EUA caiu para 11,5% do PIB, contra 40% após a Segunda Guerra Mundial. E gerou uma profunda descrença na democracia norte-americana – que poderá aumentar com a imposição de tarifas de importação muito elevadas.
E agora, como “tornar a América grande novamente”, como prometeu Trump na campanha? O país não pode oferecer às corporações os níveis de rentabilidade garantidos pela produção chinesa. Forçá-las a trazer a produção para o país é politicamente insustentável. Além disso, teriam que reconstruir instalações de fábricas e recriar redes de fornecimento, já que provavelmente os fornecedores locais desapareceram.
Seria necessário um amplo replanejamento das cidades, com nova infraestrutura, com a reconstrução das comunidades de trabalho. Para tanto, o governo teria que conceder incentivos similares aos dos governos do Sudeste Asiático e cobrar impostos diferenciados da produção local, para equiparar com o custo menor dos importados, uma política inédita para o país.
A conclusão é óbvia: ou se implanta o caos ou se reconhece a interdependência econômica entre ambos os países e se busca a alternativa de negociar concessões comerciais que equilibrem parcialmente o jogo.
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Tirando o aumento da possibilidade de uma guerra nuclear, a eleição de Trump pode ser positiva para o mundo,pois se a plutocracia deixar e ele cumprir as promessas de campanha, vão contribuir para celerar a decadência do ocidente, principalmente a gang dos sete.
O Trump não tem nenhuma novidade para os Ianques. Ele quer reproduzir o passado, fazer a América grande novamente, em vez de refletir sobre ele. Os tempos são outros. As corporações ianques não vão abandonar a China, celeiro de mão-de-obra baratíssima, para empregar ianques, reduzindo seus lucros.
O problema dos EUA não é a China, mas sim a desindustrialização e a dependência do setor financeiro. Colocar tarifas só aumentaria o custo para consumidores e empresas americanas e não traria de volta as indústrias. Além disso, isso pode até incentivar a China a fortalecer sua própria economia e buscar novos parceiros comerciais, saindo ainda mais forte. Sem uma mudança interna para incentivar a produção local, essa guerra de tarifas só será um “band-aid” temporário para os problemas econômicos dos EUA