A hora de se pensar em definir a Selic por algoritmo, por Luís Nassif

BC se baseia na pesquisa Focus que se presta a contas de chegada e à manipulação de expectativas

Nunca a tradição escravocrata brasileira fica tão nítida quanto nos grandes momentos que exigem solidariedade nacional. Os jornalões passaram a disparar contra.

Dívida Pública – em 2024, cada ponto percentual da Selic custou R$38 bilhões em juros da dívida pública. Desde o início de 2021 a 2023, os gastos com juros chegaram a R$1,26 trilhão.

Ajuda ao Rio Grande do Sul: até setembro de 2024 custou R$62,5 bilhões. Ou seja, o equivalente a 1,6 pontos  de uma taxa Selic que está em 13,5%.

A ofensiva, agora, é para que não se abram novos fundos para amparar as vítimas das secas e queimadas do Norte e Centro-Oeste.

Só a seca no Amazonas está afetando severamente 600 mil pessoas, incluindo grande quantidade de ribeirinhos. Falta água potável, alimentos, houve a destruição de suas principais fontes de sustento, como a caça e a pesca. Os incêndios no Centro-Oeste afetam uma população de aproximadamente 15,4 milhões de pessoas.

O que tragédias dessa proporção provocaram em países desenvolvidos? Um enorme movimento de solidariedade.

Em resposta à pandemia da Covid-19, o duríssimo Banco Central Europeu lançou o Programa de Compras de Emergência Pandêmica, desembolsando inicialmente 750 bilhões de euros; ofereceu condições mais favoráveis para as operações de refinanciamento de longo prazo direcionadas.

Um algoritmo para a Selic

A loucura dessa história é que, agora, mercado-mídia passam a defender a tese de que, como a dívida pública aumentou, para financiá-la será necessário aumentar a taxa Selic – principal fator de aumento da dívida pública.

O grande tema nacional deveria ser como escapar desse gargalo de utilizar recursos do Tesouro para controlar a liquidez da economia, havendo instrumentos muito mais baratos – como aumento do compulsório dos bancos, controle dos prazos de crédito direto, definição de valor mínimo de entrada.

Vamos voltar a esse tema. Por enquanto fico na questão da definição da Selic. O BC define a Selic a partir da análise de cenário econômico que leva em conta os seguintes fatores:

Indicadores de atividade econômica: Produto Interno Bruto (PIB), produção industrial, consumo das famílias e investimentos, que podem influenciar a demanda agregada e, consequentemente, a pressão sobre os preços.

Mercado de trabalho: A taxa de desemprego, a renda média e as negociações coletivas de trabalho.

Setor externo: A evolução das exportações e importações, a taxa de câmbio e o preço das commodities.

Expectativas de inflação: As expectativas de inflação dos agentes econômicos (empresas, consumidores e investidores).

Grande parte de suas convicções são alimentadas por expectativas. O BC trabalha esses dados com uma série de modelos econométricos, como VAR (Vector Autoregression), Modelos SVAR (Structural Vector Autoregression), Modelos DSGE (Dynamic Stochastic General Equilibrium).

Mais um conjunto de métodos de previsão, como ARIMA (AutoRegressive Integrated Moving Average), Modelos de suavização exponencial: Utilizados para fazer previsões com base em uma média ponderada dos dados passados, atribuindo pesos maiores aos dados mais recentes e Métodos de aprendizado de máquina: Algoritmos como redes neurais e árvores de decisão.

Na hora de definir as expectativas, o BC se baseia na pesquisa Focus que – como já foi denunciado – se presta a contas de chegada e à manipulação de expectativas. O carnaval atual, em torno dos fundos extraordinários, faz parte desse jogo da neurose da gastança. Criam o clima, para uma opinião pública tão desinformada sobre o tema quanto os seguidores de Pablo Marçal, e prepara-se o terrenos para a alta da Selic.

Vem daí a insistência do nosso colaborador, Luiz Alberto Melchert, da Selic passar a ser definida por algoritmos, sem espaço para a manipulação comum do relatório Focus.

9 Comentários

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  1. O BC olha os indicadores econômicos apenas para entender o comportamento da demanda. Toma medidas para reduzir a demanda como única forma de controlar a inflação. Mas a inflação é efeito do aumento dos preços. Preços são definidos por volume de equilíbrio entre oferta e demanda. Está muito claro que o BC só considera aumentos de produção como indutores de maior demanda, já que maior produção aumenta a renda dos fatores produtivos, como trabalho, porém despreza o fato de o crescimento da produção reequilibras o jogo. O BC se lixa para a oferta agregada. Está claro que usa modelos sofisticados, porém enviesados. O BC deveria fixar taxas referenciais distintas para poupança e para ampliação da oferta. Nos períodos de excesso de demanda acabaria subsidiando a produção, com menores taxas para investimento e capital de giro. Nos períodos de excesso de oferta, subsidiaria a poupança. Mas aparentemente isto exigiria que nossos mercadores financeiros estudassem mais economia e menos ganhos especulativos com movimento de preços de ativos.

    1. Na verdade, precisamos de que a taxa de juros controle o efeito acelerador keynesiano, pois é ele que eleva a demanda por capital, como exposto nos modelos kalekianos. Se você leu cuidadosamente o capítulo V da minha séria citada nesta matéria, notou que a persistência da alta taxa de juros enviesa a oferta de crédito. O que acontece é que o dinheiro desviado dos tributos pelo o carregamento dadívida pública abastece o mercado de crédito, incentivando o consumo degenerado coo é o caso do parcelamento de comida de cachorro ou escova progressiva nos salões de beleza. Eu, que estou aposentado, recebo dezessete ligações em média por dia, oferecendo crédito consignado. Outras tantas ligações, SMS e e-mails oferecem cartões de crédito. É uma conjunção de coisas, por um lado, o mercado financeiro recebe uma tsunami de recursos via juros e, por outro, tem o etratosférico preço do dinheiro como motor do aumento da quantidade ofertada. O resultado é o endividamento crescente da população, ao mesmo tempo em que os bens de consumo imediato, bem como a prestação de serviços, põe pressão sobre o índice de preços, ensejando novas altas na taxa básica de juros.

  2. Muito bom, embora precisemos considerar que a Economia, principalmente em seu lado financeiro é muito mais uma “ciência” humana do que exata, onde a matemática é mais uma régua de medida do que um engenho de determinação.
    A discussão está sempre focada apenas no movimento de alta ou baixa x inflação e não no nível em que está, excedendo pelo menos uns 3 a 5 pontos além de qualquer necessidade.
    Usando os 38 Bi do post, teríamos 114 a 190 Bi anuais a mais para as necessidades da economia real e das pessoas que a movimentam produtivamente.
    O grande mistério do momento é entender por que a presença de Galipolo e alguns diretores votantes indicados pelo governo constituem unanimidade com os demais bobistas/guedistas.
    Só se for, assumindo que vão perder, para não estressar os croupiers da Faria Lima.

    1. Na vewrdade, são os operadores do mercado que põe pressão para a “matematização” quando usam modelos estocásticos para o “day trading”, que não passa de um jogo, assim como, no extremo oposto, fazia a subjetividade dos métodos gráficos, acrediando que determinados formatos de curvatrariam resultados consistentes com a ciência.

  3. Simples! Não é RACIONALIDADE que querem…? Algoritmos neles. O problema é que a tênue réstia de governança, acaba. QUALQUER GOVERNO existe para controlar sua economia, valendo-se dos costumes, do apareço da Lei e da força militar. Se perde, especialmente o controle sobre a moeda, que é o principal instrumento de administração da economia… não tem mais governo. É espaço para bandos ensandecidos se digladiarem. Por isso que tem que controlar a agiotagem a qualquer custo. Não pode perder o controle do dinheiro que, afinal, é de responsabilidade total de quem comanda o Estado.

  4. Em comentário neste jornal, sugerí a wxtinção do COPOM, por um software de IA, pelo menos o estado não precisava pagar os salários polpudos dos 9 prepostos do mercado finaceiro. Eu desconfio que nas reuniões do copom, os diretores já começam a reunião com a taxa definida pelo mercado, a discussão de se dá em torno da desculpa que eles fornecer às vítimas da patranha. Assim caminha a nossa pseudo democracia ou melhor, nossa USUROCRACIA.

  5. Um algoritmo desses precisaria ser auditável e aberto (open source). Fora isso, vivemos uma sina com essa burguesia entreguista que temos em nossa pátria mãe. Falta ambição, falta aquele discurso de esperança para uma nação que pode ser bem maior mas que tá entregue ao crime organizado, às milícias, ao jogo do tigrinho e à precarização do trabalho (“empreendedorismo”).

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