
Na minha infância li “A onda verde e o presidente negro”, de Monteiro Lobato. Nele, Lobato definia uma forma de prever o futuro: bastaria somar o passado com o presente e projetar o futuro.
De uma maneira geral, a economia e as ciências sociais se baseiam na visão de continuidade. O futuro é a sequência do passado com o presente.
Duas tragédias econômicas comprovaram a dificuldade dos analistas econômicos de entender movimentos de ruptura.
Uma, foi o choque monetário-fiscal do início de 1995, pós-Real, que promoveu a maior inadimplência circular da história até então. O outro, foi o pacote Joaquim Levy, em cima da mesma lógica desastrosa.
Em ambos os casos, vinham-se de uma economia aquecida, com previsão de desaquecimento. Empresas e consumidores haviam se endividado no período anterior. A passagem para o novo período deveria ser gradativa:
- uma política creditícia suficientemente flexível para permitir a volta ao nível anterior de endividamento;
- evitar qualquer tipo de choque que pudesse agravar a situação, como correção cambial e tarifária.
Em ambos os casos, recorreu-se ao choque: de juros, de câmbio, de tarifas. E, em ambos os casos, produziram desastres homéricos.
Mas o histórico de desastres nas previsões econômicas é mais amplo. Às vésperas do grande crack de 1929, Irving Fischer, um dos grandes teóricos sobre o papel dos juros na teoria neoclássica, previu um novo patamar para Wall Street
O mesmo aconteceu com o choque de petróleo em 1973. A maioria dos economistas subestimou a importância da energia na economia e desconhecia a influência da OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo).
Acima disso, havia os “trinta anos gloriosos” da economia mundial no pós-guerra, um período inédito de estabilidade econômica. E havia ainda uma fé nas políticas econômicas keynesianas, que enfatizavam a demanda agregada, ignorando problemas do lado da oferta.
De lá para cá ocorreram várias bolhas, e, com a consolidação da nova política monetária, as previsões econômicas ganharam uma dimensão inédita.
Coube a Robert Lucas questionar modelos macroeconômicos dominantes até então. Segundo eles, os agentes econômicos formam expectativas sobre o futuro de forma racional. Políticas econômicas previsíveis não terão impacto duradouro, pois os agentes ajustam seu comportamento antecipadamente.
Uma das vacas sagradas dos economistas é a Curva de Phillips, que define relações estatísticas entre nível de emprego e inflação. Lucas demonstrou que as variáveis econômicas mudam quando as políticas econômicas mudam. E modelos baseados em relações históricas não são confiáveis para prever o impacto de novas políticas, pois os agentes adaptam suas expectativas.
Acabou se perdendo por excesso de confiança na sua caixa de ferramentas, ao duvidar da eficácia dos grandes pacotes de estímulo fiscal e monetário em 2008.
Recentemente, Ben Bernanke – o grande herói da terapia de 2008, que salvou os bancos e jogou a conta para os mutuários – liderou um grupo visando mudar o sistema de previsão no Banco da Inglaterra.
Deixou 12 recomendações:
- melhorar e manter a infraestrutura de previsão do banco, incluindo gerenciamento de dados, software e modelos econômicos;
- equipar o Comitê de Política Monetária e a equipe do Banco para que eles possam aprender com erros de previsão passados, possam identificar e quantificar riscos para a perspectiva e lidar com incertezas e mudanças estruturais na economia.
- Ajudar o CPM a comunicar sua visão da economia, os riscos e incertezas que cercam suas perspectivas e sua justificativa política ao público.
A receita de Bernanke foi questionada por Nicholas Gruen, um dos principais intelectuais da Austrália e professor visitante do King´s College de Londres.
Indaga ele: dentro da estrutura dos bancos centrais, como separar os analistas consistentes dos oportunistas ou meramente inteligentes?
O que ele sugere são torneios de previsão, baseados nos estudos do psicólogo Phillip Tetlock, na década de 1980. Em vez de dizer que alguma guerra, golpe ou recessão era “muito provável”, Tetlock exigia que os competidores definissem as chances percentuais das hipóteses.
Segundo Gruen, o que caracteriza os super-previsores é a cautela, a humildade, a autocrítica, a curiosidade e a abertura a visões alternativas – algo que falta à maioria absoluta dos “cabeças de planilha” do mercado. Tais virtudes não são ensinadas nos cursos de economia,.
Os torneios de previsão, segundo ele, podem gerar previsões melhores, porque recompensam tudo o que os previsores fazem para se tornar mais precisos e menos confiantes. Os torneios fornecem a infraestrutura institucional para gerenciar previsões, geram informações sobre quem está tendo um bom desempenho, permitindo a experimentação com novas abordagens, incluindo a montagem de equipes com habilidades diversas.
Esse exercício ajudaria a detectar pontos de virada, fornecendo melhor visibilidade para eventos raros, mas altamente consequentes, como recessões e crises. “Eles importam mais para a tomada de decisões econômicas do que se o crescimento do próximo ano será de 1,75 ou 2 por cento”, diz ele.
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