Volto ao tema PMEs (Pequenas e Médias Empresas), que reapareceu vestida de empreendedorismo, como se fosse novidade.
Os anos 90 marcaram o início dos estudos sobre o papel das PMEs, a partir das lições trazidas pela Nova Itália – a região da Itália que marcou o renascimento da economia italiana, depois do desastre provocado pela Operação Mãos Limpas. Pequenas empresas uniam-se em arranjos locais, buscando a parceria das prefeituras para suprir carências na cadeia produtiva.
Em 1997, com a coluna “Os 30 de Birigui” contei a extraordinária história do polo calçadista de Birigui, em contraposição ao de Franca. Ambas enfrentaram a tragédia das taxas de juros e o câmbio do Plano Real. Enquanto Franca afundava, uma liderança moderna, de Birigui, juntou os fabricantes, viajaram pela América Latina, prospectando mercado, conseguiram apoio da prefeitura, do Sebrae e de outras instituições e saíram maiores da crise.
Não apenas isso. No período, surgiam APLs (Arranjos Produtivos Locais) por todo o país e houve uma parceria entre institutos de pesquisa e pequenas empresas, visando ganhos incrementais de produtividade.
Ao mesmo tempo, o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade avançava, propondo monitorias de grandes empresas para suas cadeias produtivas.
A inovação tornou-se uma das ferramentas de melhoria, através da criação de Parques Tecnológicos. Ao mesmo tempo, levantaram-se exemplos de outras economias – como a da Alemanha – na qual as PMEs foram fatores fundamentais de inovação e de dinamismo econômico.
Aliás, é interessante analisar o livro “Poder e Progresso: uma luta de mil anos entre a tecnologia e a prosperidade”, de Daron Acemoglu e Simon Johnson. Em uma análise histórica desde o início da agricultura, os autores demonstram que os únicos períodos em que avanços tecnológicos resultaram em melhoria da condição de vida dos trabalhadores foram aqueles nos quais a inovação foi conduzida por pequenas e médias empresas, fora do controle secular das grandes famílias.
Seria importante recuperar a história recente do país, para não cair na falácia de que nunca se valorizou o empreendedorismo. A Petrobras montou projetos fantásticos para suas plataformas, nos quais identificava pequenas e médias empresas com ideias criativas, associava-se a elas para desenvolver tecnologia nacional para as plataformas. Eram startups no sentido clássico, trazendo tecnologia.
Não apenas isso. O Banco do Nordeste deu início a um trabalho exemplar, atuando em cima do artesanato, da produção de frutas para exportação, sempre focando o artesão individual ou o pequeno produtor.
Além disso houve experiências estaduais inovadoras, como as de Minas Gerais estimulando um polo de informática com pequenas empresas.
Um grande manto obscureceu o país dos governos Michel Temer e Bolsonaro para cá. Esqueceu-se o quanto o país tinha avançado em períodos anteriores, os avanços da Finep (Financiadora de Estudos e Pesquisas), das fundações de amparo à pesquisa.
Tudo isso tem que ser recuperado para que o país volte a respirar modernidade.
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Breve Linha de Tempo da República braZileira:
Fase 1, 1889-1930: Concentração de riqueza “quatrocentona” das commodities com a oligarquia do café com leite e o golpe manso de um militar, onde os barões tinham mais intimidade e interesses com seus clientes estrangeiros do que com o povo brasileiro, uma mistura de descendentes europeus remediados com ex e semi escravos importados. A tonica era “O povo que se f#d@!”
F2, 1930-1945, Ditadura Vargas: Desenvolvimentista sócio-econômica, um golpe anti-oligárquico refocando na sociedade em geral como nação e na sua industrialização, com resultados melhores para o país do que a “democracia” oligárquica. “O povo que fique agradecido ao ‘pai’”.
F3, 1945-1964, Pós-guerra: Após mais golpes e tentativas desnecessários (para o país, não para seus interessados), um período que resultou em notável desenvolvimento econômico (“50 anos em 5”) e efervescência sócio-cultural e questionadora no país. “O povo que aprenda a se cuidar”.
F4, 1964-1985, Ditadura militar: Mais um golpe da “intimidade” da elite nacional-estrangeira, mantendo por impulso inercial (decrescente) o desenvolvimento econômico, mas aleijando o sócio-político-cultural e as liberdades democráticas, preservando a plutocracia. “O povo que se cale”.
F5, 1985, 1990, A redemocratização civil “consentida” da (auto)anistia e a lenta e gradual “abertura” para uma sociedade agora parcialmente adestrada. Passada para um experiente político, eleito indiretamente, falecido e substituido por um vice oriundo de UDN’s, Arena’s e PDS’s, embora um tanto leal a premissas do substituído. “O povo que se manifeste”.
F6, 1990-2003, A redemocratização direta: O povo, feliz da vida, recomeçou elegendo os Fernandos, que iniciaram o desmonte do Estado (como nem os militares!) e da indústria nacional em prol do financismo nacional e internacional, alavancados por um plano que domou a inflação estratosférica mas atrasou e quebrou o país mais de uma vez e adoeceu sua indústria e soberania. “O povo que se vire”.
F7, 2003-2016, O Trabalhismo Lulo-Petista: Pela primeira vez após 5 séculos, um governo considerado efetivamente de esquerda (cento-esquerda) assumiu democraticamente o poder (de direito, mas nem tanto de fato) no país. Sem incomodar diretamente a plutocracia, consegiu resultados factuais socio-econômicos inéditos (a lista é longa*) e sua reeleição para 4 mandatos seguidos. “O povo que se alegre, ainda que pouco dure”.
F8, 2016-2023, A “ponte para o abismo” e o obscurantismo negacionista: um golpe político miRdiático sem causa (com uma pitada militar velada) levou o país ao atraso de “65 anos em 6,5”, como o temer-bolsonarismo, este último eleito por uma sociedade intoxicada com o prolongado uso de maconha estragada (mensalões, petrolões, etc.) das míRdias e seus patrões financistas (inter)nacionais do neoliberalsimo selvagem, das oligarquias rurais e agora reforçados por empresários da fé e suas multidões de fiéis e pela mais terraplanista multidão de alucinados de ultradireita, que sufocou a própria direita (mas NÃO seus interesses!), com a destruição (além das riquezas ambientais e climáticas) de décadas de conquistas civilizatórias e até a volta do golpismo militar, cada vez mais afastados de suas reais missões. “O povo que dê meia volta, volver!”
F9, 2023-20??, O retorno à (quase) sanidade: Contra quase tudo e todos (míRdia, 1%, 300-400 bilhões para reeleição, redes, desinformação, etc.), o povo voltou a eleger o trabalhismo que, se longe do perfeito, é o melhor que temos, mas agora se depara com um cenário muito pior (vide “reforços” acima) e um “1%” desesperado como nunca em não permitir que avanços prosperem, somando ao negacionismo dos alucinados o seu próprio e interessado negacionismo econômico e socio-político. “O povo não pode dar certo!”.
F10, 20??- 2???, O “sei lá, pô!”: Podemos continuar (a) Nesta longa agonia do atraso de um país no pódio dos mais promissores do mundo (espaço, população, riquezas com diversidade, clima, etc.) e, exatamente por todo esse potencial não realizado, com uma das piores e mais submedíocres “zelites” do mundo; (b) Iniciarmos (mais uma vez) um salto, como o da China, que há ~30 anos tinha um PIB menor que o do braZil; ou (c) Continuarmos, com leves pausas, neste atraso que nos remete, em pleno século 21 à uma situação econômica não muito diferente das de 5 séculos atrás: a sequência pau-braZil >> cana >> café >> borracha >> minerais >> soja (em grãos!!!). Oh, tem também fumo, algodão, laranja, milho! … e com eles, a exportação de água… e em geral, importando tudo o mais, de agrotóxicos e fertilizantes a TV’s, celulares e … moto-serras. É isso que queremos? É o que conseguimos? 500 (+24) anos de atraso vai-e-vem? “O povo precisa assumir!”
Ou então sei lá, némêZ? …
Num “brevíssimo resumo” e concordando diria que o Brasil é pato manco sob o comando de oligarquias que se revezam no controle do governo.
Tudo dentro da realidade maior de “quintal de uns colônia de outros” .
Sem educação básica aos excluídos nada avança.
Eu me lembro de como a Gurgel “ganhou” apoio. Nem preciso dizer que teve a idéia do carro elétrico.
É muito difícil conseguir escapar dos tentáculos gananciosos das gdes famílias. Tem mais de século que usama frase falácia…”o que é bom para o gde empresário brasileiro é bom para o Brasil”…com a vitória do Trump nos EUA ficará ainda pior para nós.