Como seria a Sinfonia das Contas Públicas pela Faria Lima, se o autor fosse Dmitri Shostakovich e suas sinfonias pessimistas e pesadas?
Acompanhe a parte do bom conteúdo da reportagem “Economistas falam em ‘matemágica fiscal’, ‘gosto amargo’ e ‘baixa sensibilidade’ do governo em revisão das contas públicas”, do Valor Econômico, com o subtítulo “Atualização para baixo no contingenciamento surpreendeu negativamente e pode piorar reação do mercado”
Primeiro movimento – Allegro (rápido)
(Perdão, incluí uma orquestra venezuelana)
Chama-se Allegro porque é apenas rápido. Mas, para a Faria Lima, é aberta com tragédia, como uma 8a Sinfonia de Beethoven, porque é o que vai ficar na memória dos leitores que lêem jornais com a profundidade com que leem gibis: absorvem a manchete, e olhe lá.
Aliás, se submetidos ao teste das palavras (fala uma palavra, diga o que lhe vem à cabeça) o resultado geral seria o mesmo, na alegria e na tristeza, na chuva ou no sol.
Palavra– Militares.
Resposta – Mal-estar
Palavra– mercado
Resposta – Desconforto;
Prossegue o texto:
Argumento fatalista 1 – “Economistas falam em ‘matemágica fiscal’, ‘gosto amargo’ e ‘baixa sensibilidade’ do governo em revisão das contas públicas”
Argumento fatalista 2 – A revisão bimestral do orçamento para 2024 apresentada ontem pelo governo surpreendeu negativamente economistas e deve pressionar os ativos domésticos no início da próxima semana.
Fim do primeiro ato, detalhando o rabo e os chifres do diabo:
“Houve avanços na estimação de algumas receitas e certas despesas e o cumprimento da meta de resultado primário deste ano ainda está “ao alcance da mão”.
Mas…
“mas o governo perdeu a oportunidade de realizar um bloqueio maior de despesas que tornasse a projeção de gastos mais crível, o que deixou uma impressão de piora entre analistas e deve exigir um bloqueio mais forte no último relatório do ano, previsto para 22 de novembro.
Fim do primeiro ato.
Segundo ato – Andante
A sinfonia prossegue apresentando, agora em segundo plano, pontos positivos do pacote (fale baixo que alguém pode ouvir).
Ruim ma non troppo – vai exigir um bloqueio mais forte no último relatório, apenas isso. Como são analistas estáticos, que vivem intensamente o hoje, mas apanham para entender as consequências de hoje sobre amanhã, admitem que o PIB virá melhor mas não ousam projeções sobre os efeitos do PIB mas sobre as receitas. Afinal, já fizeram suas previsões e não será um PIB qualquer que irá atrapalhá-lo. Quando for divulgado o PIB maior, todos corrigirão suas estimativas ao mesmo tempo, e o erro será diluído.
Se deixo o ajuste maior para o fim, significa que o ajuste menor agora terá um efeito maior sobre o PIB. Logo o ajuste no fim será menor. Mas significaria complicar a mensagem a ser passada ao jornalismo-sela – o que se deixa cavalgar.
Minueto ou Scherzo
Aí resolve botar um pouco de números para a discussão ficar menos vaga e o minueto permitir mais pessoas entrarem na dança. E descobre-se que todo o escarcéu (o desconforto) foi provocado porque o contingenciamento fiscal para 2024 foi afrouxado para R$ 1,7 bilhão, contra uma expectativa de US$ 5 a US$ 10 bilhões do mercado.
Como o mercado ficou frustrado, para melhorar seu ânimo o Copom aumentou a Selic em 0,25 ponto a Selic. Esse 0,25 ponto representa um aumento de R$ 9,5 bilhões na dívida pública. Mas o aumento vai para o bolso da Faria Lima, aumentando a dívida pública mas reduzindo o desconforto
Ou seja, para punir um afrouxamento de R$ 1,7 bilhão nos gatos públicos, aumenta-se a dívida pública em R$ 9,5 bilhões. Por enquanto, se não vierem mais aumentos.
É o chamado princípio de Sísifo – o gigante condenado eternamente a empurrar uma pedra em uma montanha para a pedra cair e ele iniciar novamente seu trabalho.
Aí, esse país de patos ouve a trombeta de Josué: se a relação dívida/PIB aumentou, tem que aumentar os juros.
Depois de desenhar o Brasil liquidado, a reportagem coloca alguns contrapontos otimistas, para evitar que ocorra um suicídio coletivo de leitores:
Daí o grande pensadora Andrea Damico, CEO da Buydebrazil, sentencia: “Tem alguns pontos mais construtivos, mas, no geral, liquidamente, a surpresa foi um pouco pior”. De véspera de fim de mundo chegou-se a um quadro em que os pontos negativos foram apenas um pouco pior do que os otimistas,
Contenção orçamentária – A contenção orçamentária total (bloqueio e contingenciamento) caiu de R$ 15 bilhões anunciados em julho para R$ 13,3 bilhões agora. O fiscal aumentou as contas em U$ 1,7 bilhão. 0,25% de aumento da Selic pressionou a dívida em US$ 9,5 bilhão.
No entanto, com a sensibilidade de um general israelense, a economista Debora Nogueira, da Tenax Capital, mostra as virtudes do bombardeio para contar a guerra: “Reverter o contingenciamento em um momento em que as despesas ainda não estão devidamente ajustadas e a economia se mostra forte, enquanto o ciclo de ajuste de juros está apenas começando, revela uma baixa sensibilidade do planejador diante de uma economia desequilibrada. O fiscal continua expansionista, enquanto a política monetária tenta contrair”.
Itali França, do Santander, explicando que, apesar de todas as 7 pragas do Egito da Faria Lima, o tal do mundo não vai se acabar:
“No geral, foi uma surpresa negativa no resultado [do relatório bimestral de setembro]. Embora ainda vejamos uma chance considerável de atingir a meta neste ano, temos mais despesas não sujeitas ao limite de gastos, menor espaço para surpresas negativas e dependência de receitas extraordinárias”.
Ou seja, vê uma chance considerável de atingir a meta este ano. Entenderam alguma coisa? Nem os jornalistas-papagaios. O que vale é o tom de fim de mundo.
Finale
Aí a Damico, depois de prever o fim do mundo, colocou uma “pequena” ressalva salvadora:
“A receita, de fato, tem um crescimento endógeno, justificado pela atividade econômica mais resiliente. A projeção de PIB para 2024 chegou a ser de 2% e já está em 3% em pouquíssimo tempo. A arrecadação precisa refletir isso, isso é uma melhora genuína”.
O PIB maior amortece a queda de R$ 26 bilhões nas receitas administradas esperadas, nota Leal de Barros, da ARX. “O imposto inflacionário também ajuda a amortecer o recuo, via maior IPCA”, diz, em referência à projeção de inflação do governo, que foi de 3,9% para 4,25%.
A estimativa de arrecadação com o Carf, por sua vez, foi cortada de R$ 37 bilhões para apenas R$ 800 milhões, o que economistas consideraram que é uma projeção bem mais realista.
Chicoli, da Citrino, reconhece uma melhora na composição dos números. “Na parte de receita, praticamente zeraram o Carf, mas a parte de concessões ainda me parece alta, apesar de terem reduzido também”, afirma. “Entraram algumas receitas da compensação da folha, que tenho dúvida do potencial arrecadatório, mas que, de qualquer forma, são mais factíveis do que o Carf.”
Do outro lado, a despesa total aumentou em R$ 11,8 bilhões, com os gastos previdenciários subindo em R$ 8,3 bilhões. “Ainda me parece insuficiente, mas houve uma melhora nessa conta”, diz Chicoli.
“Ao final, me parece que ainda temos receitas superestimadas, mas houve uma melhora na composição, e as despesas obrigatórias também continuam subestimadas, mas também houve um avanço”, conclui Chicoli.
Conclusão
O título é a parte mais importante da matéria, mostra a grande conclusão, o que receberá maior leitura e ajudará a formar a opinião dos gados de jornais– que existem e são muitos.
A Sinfonia no 5 de Beethoven é considerada apenas pelo 1o Movimento.
Suponha que o Valor se baseasse na última parte para manchetar:
“Mercado elogia a melhora na composição das despesas obrigatórias”.
“Mercado estima que previsão de contas públicas melhoraram”.
“O crescimento do PIB trará uma melhora genuina na arrecadação, estima mercado”.
Grande encerramento
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Nassif, me recuso a chamar os analistas do setor financeiro de economistas. O Corecon devia protestar quando mal usam tal título. Não passam de atores encenando uma pantomina manjada.
Mas dá para entender o que pensam, mesmo que falem fora de ordem. Sabem muito bem que a receita está crescendo na faixa de 9% reais. Se a carga tributária é maior que 30% e o limite de crescimento do gasto é de 2,5%, estará criado um superávit de de 2% do PIB ( 9% – 2,5% = 6,5% x 30% = 2% do PIB). Isto partindo duma situação em que a arrecadação fosse igual ao gasto, ou seja equilíbrio em 2023. Não foi assim apenas em função da recomposição de receitas só ter sido atingida em 2024. Este efeito deverá acontecer em 2025, pois terá base de 2024 equilibrada e a recomposição de receitas tem muito ainda por avançar.
Todo o descontentamento está no fato do governo não contingenciar mais já, de forma que não haveria tempo no resto no ano para conseguir crescer 2,5% no gasto. Tornando a base para os anos seguintes sempre um pouco menor e criando superávit primário por inércia.
Seria muito bom se os analistas fossem economistas mesmo e mostrassem as contas que embasam suas conclusões. Mas como devem usar inteligência artificial para buscar respostas, jamais teremos clareza.
Sempre que aumenta a taxa de juros o Banco Central joga mais dinheiro público nas bolsas dos banqueiros e especuladores. Mas o BC nunca jogou uma moeda furada no meu cofre vazio. Estou sendo discriminado. Todos são iguais perante a Lei, mas a desigualdade de renda tem sido reforçada pelo BC.
Nassif a questão atual da inflação × selic × meta de inflação é relativamente simples. Quem define a meta é o governo, via CMN. A meta de inflação ESTÁ ERRADA.
Não tem sentido buscar uma meta de 3%. Primeiro que historicamente para o Brasil, é um valor muito baixo. Segundo, por ex, o governo propõe um aumento 8% no salário mínimo, é excelente, porém como isso conversar com uma inflação de 3% ? Não tem como, teria que deprimir o resto da economia.
Ou seja, o BC pode ter errado. Talvez sim. Mas o Governo, via CMN , é certeza que ERROU e vem errando ao manter essa meta.
Uma meta factível seria algo como 4,5% mais ou menos 2% ou mesmo 5% mais ou menos 2%.
É claro que se o governo mudar a meta tbm haverá chiadeira e é por isso que já deveria ter sido feito há muito tempo, desde o início do governo.
Ou, “alegria do ‘palhaço’ é ver o circo…”
O mercado é mercenário, é um ladrão querendo trabalhar de vigia
em uma loja de jóias. Pior, controlando a maior torneira de despesa
do governo, que poucas pessoas conhecem, sem precisar da aprovação dos
parlamentares, nem do presidente. E com o pláscido silêncio de olhares
para cima da imprensa. Uma coisa de costume, parecem que tem direitos sobre
isso.
“A receita, de fato, tem um crescimento endógeno, justificado pela atividade econômica mais resiliente. A projeção de PIB para 2024 chegou a ser de 2% e já está em 3% em pouquíssimo tempo. A arrecadação precisa refletir isso, isso é uma melhora genuína”.
Primeiro, a vontade de analistas de parecerem cultos puxando palavras que nada tem com o que acontece para concluir o obvio, mas com pinta de Harvard e muito grande. Parece que arde a fogueira das vaidades cada um querendo ditar e advinhar o que vai rolar na frente. Nenhuma das analises leva em conta os problemas reais do Brasil, tipo emchente no RS e queimada no Brasil. E seus efeitos.E como ajudar o Pais a enfrentar os problemas.
Segundo dá vergonha o fiscalismo das analises. O grande negocio e ganhar dinheiro fácil com Juros. Gerar emprego pra quê?
Terceiro, sobe o morro bate numa porta e pergunta se a moradora com 3 filhos prefere, 1% de aumento da inflação , mas que ela possa comer, educar os filhos e, quem sabe, trabalhar ou a inflação na mme(r)ta e a panela vazia? Pode parecer um exagero. Mas é mesmo. Já dizia o Bentinho “quem tem fome , tem pressa”.
Nassif, em tempos ignaros temos uma realidade atroz. O jornalismo econômico é tudo, menos jornalismo e economia. Depois, jornais de baixa audiência num pais de iletrados, leitores que nada entendem depois de dez linhas de texto e economistas tipo adivinhos estamos sem perspectivas.
Quem sabe, voltando o xis tenhamos aqueles debate de bares pés sujos com cadeirada, muro na cara e pouca vergonha. Pobre país…
Os Economistas deveriam ser proibidos de fazer previsões/análises ou chutes (o que nesse caso dá no mesmo), sem o acompanhamento obrigatório da memória de cálculo que justifica suas “opiniões”. O Engenheiro calculista tem que apresentar sua memória de cálculo em cada projeto, o Médico tem dar um laudo e receita baseados em exames em cada procedimento, só os Pais de Santo, os Terapeutas e os Economistas podem sair chutando o que mais agrada ao seu cliente, ou consulente, sem que os resultados de suas análises técnicas possam ser questionadas em caso de falha.No Brasil não existe responsabilização profissional para Economistas e Políticos. Seja lá o que façam ou digam, estarão protegidos pela unção do foro social privilegiado de suas atividades. Economistas, calem a boca ou apresentem as contas!
Para aumentar os lucros toda desculpa é usada pelos bandiqueiros. Desde o peido da China, um arroto dos EUA a um espirro em Pindamonhangaba.
Blog do Briguilino
Esses citados analistas fizeram curso para Sofismas ou para Enrolations?
Será que essas análises são feitas apenas para tentar recuperar o dinheiro que eles perderam no jogo do Tigrinho?
O Consenso de Whashington é consenso nos meios de comuniçação do Brasil. Não há nenhum questionamento sobre suas verdades absolutas. As pessoas “bem informadas” estão completamente convencidas de que o certo é fazer o que a mídia comercial e seus comentaristas e analistas dizem que é o certo a ser feito.
Existe alguma coisa que possa ser feita pra quebrar essas correntes? Acho que nem a mãe dos dragões da série GOT conseguiria mudar isso. Tá tudo dominado. Quem não é a favor, é contra, se é contra é inimigo e precisa ser combatido.
Os formadores de opinião que tem acesso ao meio estão todos alinhados com sentido de unidade, eles nunca divergem entre si, eles se defendem e atacam quem ousar questionar os fundamentos da teoria. Tá tudo dominado !