
Na visita de Lula ao Japão, o primeiro-ministro saudou seu discurso com palmas prolongadas, mesmo após terem cessado as palmas do auditório. A imprensa proclamou-o como a liderança no Sul Global.
Na China, o Brasil ganhou dimensão geopolítica não apenas perante o governo, mas de setores influentes da população.
O que significa isso?
Há uma desordem global ampla, precipitada pelo presidente norte-americano Donald Trump, que resultará ou em uma guerra mundial ou em uma nova ordem.
As características desse terremoto são nítidas:
- Guerra comercial, na qual alianças históricas estão sendo exterminadas pelo estilo Trump. Hoje em dia, vê-se a aproximação da Rússia e da China. Em março de 2025, os ministros das Relações Exteriores do Japão, China e Coreia do Sul reuniram-se em Tóquio para discutir a ampliação da cooperação trilateral. As conversas abordaram desafios comuns, como o envelhecimento populacional, taxas de natalidade em declínio, desastres naturais e a promoção de uma economia verde. Além disso, enfatizou-se a importância de aumentar o entendimento mútuo e a confiança entre as nações.
- A questão ambiental, impactada pelo estilo Trump. No primeiro governo ele retirou os EUA do Acordo de Paris, enfraqueceu o Plano de Energia Limpa do governo Obama e flexibilizou as leis de qualidade da água e do ar. Suas decisões foram marcadas pelo desmonte de regulamentações climáticas, incentivo a combustíveis fósseis e ceticismo em relação às mudanças climáticas.
- A tentativa de tomada do poder nacional pelas big techs.
Nesse cenário turbulento, o Brasil entra com enormes trunfos.
Na diplomacia global, a posição histórica do Itamarati, de equidistância e bom senso, e a envergadura internacional de Lula. O trabalho sistemático da mídia, em tentar desconstruí-lo, sequer arranha seu prestígio internacional
Na questão do meio ambiente, o Brasil entra no jogo como o país com maior capacidade de produzir energia limpa.
Finalmente, na questão do comércio, tem o trunfo de ser o maior produtor mundial de alimentos e de dispor de um mercado de consumo potencialmente poderoso.
Como aproveitar
O grande desafio é como se organizar para aproveitar esse desafio.
Até a Segunda Guerra, a Argentina era a grande economia da América Latina. Durante o conflito, apesar da intensa atividade de Raul Prebisch, pró-EUA, a Argentina apostou na Alemanha, além de uma convivência histórica com a Inglaterra.
O Brasil apostou na nova potência, conseguiu contrapartidas – dentre as quais, a fundamental construção da Companhia Siderúrgica Nacional – e ultrapassou a economia argentina.
Agora, vive-se um dilema semelhante – mesmo sem clima de guerra bélica. Tem-se duas potências disputando o mundo: EUA e China. Uma delas, os EUA, começou a praticar uma política imperial, de isolacionismo e demolição do seu grande trunfo, seu soft power: o modelo de democracia ocidental.
A China, por outro lado, funda-se no princípio de desenvolver seus parceiros comerciais, visando conseguir benefícios recíprocos.
Essa mesma política de boa vizinhança foi desenhada na América Latina por Nelson Rockefeller – sem dúvida, o maior estadista do capitalismo americano. Dizia ele que o segundo New Deal ocorreria com o deslanche econômico da América Latina, dentro do modelo proposto por ele.
Manobrando instituições de fomento dos EUA, Rockefeller ajudou a desenvolver a agricultura brasileira, lançou as bases do sistema financeiro, implantou o rodoviarismo – através da Lei do Imposto Único sobre Combustíveis, Lubrificantes, Energia Elétrica e Minerais do País, que foi instituída no Brasil em 1957.
O objetivo era financiar investimentos na infraestrutura de transporte, especialmente a construção de rodovias, como parte do Plano de Metas do governo Kubitschek.
A lei permitiu o direcionamento de verbas para o rodoviarismo, praticamente selando o destino das ferrovias. O autor intelectual da lei foi Assis Figueiredo, o homem colocado por Getúlio Vargas no DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) para ser a contrapartida brasileira no programa de aproximação com os EUA, conduzido justamente por Rockefeller, o herdeiro de companhias de petróleo.
Do mesmo modo, ofereceu ao prefeito de São Paulo, Prestes Maia, um plano urbanístico que acabou com os bondes e transformou a cidade em um amontoado de automóveis.
Finalmente, foi quem acordou o Departamento de Estado para a necessidade de substituir a Teologia da Libertação por religiões que estimulassem o empreendedorismo e os valores do capitalismo norte-americano.
Essa capacidade geopolítica, refinada, com visão de longo prazo, gradativamente foi substituída por bombardeiros e canhoneiras e, agora, chega ao final com Trump.
Relações com a China
Agora, essa sabedoria foi encampada pela China. Estrategicamente, seu parceiro mais relevante é o Brasil. O Itamaraty, cauteloso, mantém uma equidistância entre os dois pólos. O estilo Trump, em breve, exigirá uma definição.
Ponto central: o que o país está exigindo da China (ou, agora, do Japão) como contrapartida para essa aproximação? Nos anos 50, o país teve inteligência estratégica para exigir participação de capital nacional nas montadoras que se instalavam, e uma indústria de autopeças nacional.
No início do pré-sal, antes da destruição perpetrada pela Lava Jato, a Petrobras conseguiu a instalação na Ilha do Fundão de grandes laboratórios de várias multinacionais, trocando informações e experiências com técnicos brasileiros.
O governo Lula deve ao país uma estratégia clara em relação aos negócios com a China.
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Me alembrei do Sublime Poeta Caetano:
‘(…)
Parece pôr tudo à prova
Parece fogo, parece
Parece paz, parece paz
Pletora de alegria
Um show de Jorge Benjor
Dentro de nós
É muito, é grande
É total
Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da nova ordem
Mundial”.
E acredite, ao contrário do Caetano:
(…)
Eu não espero pelo dia
Em que todos
Os homens concordem
Apenas sei de diversas
Harmonias bonitas
Possíveis sem juízo final
Alguma coisa
Está fora da ordem
Fora da nova ordem
Mundial”.
A pergunta é: que tipo de contrapartida se pode exigir, hoje?
O mundo não é mais aquele em que JK se movia.
A Guerra Fria, salvo a ocorrência de um incidente de Tonkin reboot, é uma movimentação virtual, uma edição revista, ampliada, e melhorada, das sempiternas guerras por procuração; acontece sem acontecer, e acaba sem acabar, para o gládio da indústria bélica e cadeia, e, hoje, das big techs.
E creio que o mais empedernido dos desenvolvimentistas e progressistas em geral, já sabem que o subdesenvolvimento (leia-se, economias fornecedoras de matérias-primas e commodities) é condição sine qua non para a existência (ia dizer sobrevivência; fica o registro) dos países desenvolvidos. A pleno vapor ou aos trancos e barrancos, se nós não existíssemos eles não seriam o que são.
Qual a contrapartida a exigir-se, então?
Transferência de tecnologia? Como demonstrou o Cesar Antonio Ferreira (https://jornalggn.com.br/coluna-economica/brasil-vai-perder-o-bonde-da-corrida-armamentista-por-luis-nassif/), até mesmo os suecos – tão éticos, corretos, simpáticos e justos – nos passaram a perna com essa conversa.
Acesso a novos mercados? Nossos gigantes da construção civil que o digam. Bastou uma operaçãozinha judiciária capenga, mal-ajambrada, conduzida por um juizinho pós-graduado em mediocridade, para demolir o que se construiu durante anos. Com o auxílio luxuoso de uma certa potência estrangeira.
Potência que, como se sabe, e como todas as outras, não quer sócios, mas serviçais. O destino de toda potência, já ativa ou em desenvolvimento, não pode ser outro: manter-se como tal. E só se mantém o próprio poder diminuindo ou esmagando as possibilidades dos outros que tenham, ou julguem ter, o mesmo projeto. Fornecer, sim; produzir, não – deixa isso com a gente.
É uma questão cronológica; eles já começaram, e nós não. Os gigantes da mídia cujo poder chegou ao auge com a televisão, agora patinam, tentando entrar em um novo modelo para o qual não tem qualquer expertise, salvo a cópia – que não se sustenta sobre uma estrutura ultrapassada e carcomida.
Queremos ser uma potência no século XXI, o século do algoritmo, das redes sociais, das big techs? Estamos no porão da Divisão Internacional do Trabalho.
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/universidade-francesa-cria-abrigo-cientifico-para-talentos-dos-eua-e-escancara-fuga-de-cerebros/
E pra nós, nada?
Antônio, a Odebrecht caiu não só porque estava levando a melhor nos contratos de infraestrutura nos EUA.
Caiu, principalmente, porque seu setor de tecnologia de controle de armamentos estava de vento em popa.
Qualquer país, em qualquer área, que tente se desenvolver, usando os métodos consagrados por eles, e deixar de ser fornecedor para dominar a indústria de transformação, sofrerá as agruras da rebordosa vinda de fora, seja através de assassinos econômicos, seja através de lawfare.
Ou os dois juntos, como foi o caso.
O golpe de 2016 começou com o furto do laptop do analista de geofísica da Petrobrás, no norte fluminense em 2006 ou 2007.
Depois veio um vazamento de um campo de uma das 4 irmãs petroleiras, quando tentavam sugar o óleo “por tabela”, compraram um poço quase seco e barato, ao lado do mar do pré sal, que eles já conheciam a localização e potencial.
O resto, é história.
Bem, já que é musical o comentário, vai a contribuição de outro baiano ilustre:
Aluga-se
Raul Seixas
A solução pro nosso povo eu vou dá
Negócio bom assim ninguém nunca viu
Tá tudo pronto aqui, é só vim pegar
A solução é alugar o Brasil!
Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
É tudo free!
Tá na hora, agora é free
Vamo embora dá lugar pros gringo entrar
Esse imóvel tá pra alugar
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Os estrangeiros, eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico, tem vista pro mar
A Amazônia é o jardim do quintal
E o dólar deles paga o nosso mingau
Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
É tudo free!
Tá na hora agora é free
Vamo embora dá lugar pros gringo entrar
Pois esse imóvel está pra alugar
Alugar! Ei!
Grande solução!
Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
Agora é free!
Tá na hora, é tudo free
Vamo embora dá lugar pros outro entrar
Pois esse imóvel tá pra alugar
Ah! Ah! Ah! Ah!
Nós não vamo paga nada
Nós não vamo paga nada
Agora é free!
Tá na hora é tudo free
Vamo embora dá lugar pros gringo entrar
Pois esse imóvel
Está pra alugar
Está pra alugar, meu Deus!
Nós não vamo paga nada!
Nós não vamo paga nada!
É tudo free!
Vamo embora!
Essa conversa de que nossa diplomacia é isso ou aquilo, que o Brasil é o líder do sul global (o guia dos pobres), ou a “potência do soft power é de rolar de rir.
Não aproveitamos as duas grandes guerras, a guerra fría, a do Vietnã, nada.
O Brasil é o penico do mundo.
Aqui o pessoal vem para fazer o que nunca fariam em seus países.
Nem falo de turismo sexual, mas de pilantragem mesmo, como a Siemens e o caso do metrô de SP.
Ou tantas outras.
Depois, esses mesmos canalhas financiam as ONGs, tipo transparência ou direitos humanos.
Não seria bem melhor que essas ONGs cuidassem dos comportamentos de seus pares aí nas origens?
Então… já pensou a Rights Watch brigando pelo fechamento das fábricas de armas, que transformam esse sul global em um inferno?
Pois é, né?
A única coisa decente que poderíamos fazer é confiscar cada moeda de estrangeiros e seus investimentos aqui, prender a todos em um campo de concentração e exigir resgate.
Absurdo?
Como? Netanyahu vai ganhar uma bolada e um imóvel para fazer um país-resort …
Não adianta trocar a dependência, dependência é dependência.
Não devemos nem superistimar nem submestimar a tal liderença de Lula.
Mas a desarrumada que seu Donald deu no tabuleiro é uma boa oportunidade.
Queiram ou não será preciso investir em defesa.
Nassif no TIME BRASIL tem dois craques,um é atacante o outro goleiro e outros três jogadores medianos,os outros seis ficam parado em campo ou fazem gol contra,como ganhar o campeonato assim é a oergunta de um trilhão de dinheiros da China !!!
Se todos investem apenas em defesa, como se explicam as guerras?
Nossa@!! O presidente Lula esteve no Japão? No Vietna? Onde saiu isso? Segundo um dos maiores portais da net o sa família do rato,nada disso aconteceu. A única notícia que tem do presidente Lula é um comentário que ele fez, sobre uma viagem da Janja a Paris.
Será que o presidente Lula realmente viajou ao Japão e Vietna?
Foi vender carne (e a água que vai de graça na pastagem que o boi come).
Foi vender o cerrado, e todo o bioma destruido pela pecuária extensiva, o “boi verde”.
Foi vender carne que não recolhe uma moeda sequer de imposto na exortação.
Foi vender para quem patrocina o golpe.
Perdoa por me traíres.
Nem Nelson Rodrigues junto com Freud explicam esse presidente frouxo, mas vaidoso, inteligente, mas atolado em complexo de inferioridade.
Há dois lados na divisão internacional do trabalho [DIT]: um em que alguns países especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta. Passaram os séculos, e a América Latina aperfeiçoou suas funções. Este já não é o reino das maravilhas, onde a realidade derrotava a fábula e a imaginação era humilhada pelos troféus das conquistas, as jazidas de ouro e as montanhas de prata. Mas a região continua trabalhando como um serviçal. Continua existindo a serviço de necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, cobre e carne, frutas e café, matérias primas e alimentos, destinados aos países ricos que ganham, consumindo-os, muito mais do que a América Latina ganha produzindo-os.
Eduardo Galeano. As Veias Abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. Adaptado.
“Há dois lados na divisão internacional do trabalho [DIT]: um em que alguns países especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta. Passaram os séculos, e a América Latina aperfeiçoou suas funções. Este já não é o reino das maravilhas, onde a realidade derrotava a fábula e a imaginação era humilhada pelos troféus das conquistas, as jazidas de ouro e as montanhas de prata. Mas a região continua trabalhando como um serviçal. Continua existindo a serviço de necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, cobre e carne, frutas e café, matérias primas e alimentos, destinados aos países ricos que ganham, consumindo-os, muito mais do que a América Latina ganha produzindo-os”.
Eduardo Galeano. As Veias Abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. Adaptado.