O saque dos bárbaros, o Centrão do Congresso e o cartel do mercado, por Luís Nassif

Grandes investidores do mundo todo aparecem por aqui, literalmente tirando leite das crianças, educação dos jovens, saúde dos adultos.

O economista da consultoria conhecida dá entrevista a O Globo dizendo que nem aumento de Selic derrubará o dólar. Que o problema é o déficit fiscal.

Décadas atrás, essa mesma consultoria foi incumbida de questionar um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas). O reestudo mostrava que, com o aumento do salário mínimo, 55% dos lares que possuíam aposentados e pensionistas, passaram a ser arrimo de família.

O que significa isso?

Crianças entrando mais tarde no mercado de trabalho. Ou seja, passando mais tempo na escola, com ganhos para educação.

Redução da fome e, por consequência, das doenças, com ganhos para saúde.

Redução das crianças cooptadas pelo crime.

Em suma, uma série de vantagens terríveis, pois significa legitimar o aumento do salário mínimo sob a ótica do gasto público: mais salário mínimo, menos gastos em saúde e segurança e maior eficiência na educação.

Houve um pânico geral no mercado, que contratou a mesma consultoria para tentar provar que o aumento do salário mínimo aumentava a propensão dos jovens à vagabundagem. O autor dessa tentativa foi o economista João Batista Camargo.

Para dar algum verniz de seriedade a essa tese vagabunda, Camargo convidou o técnico do IPEA para co-autor. O trabalho entregue ao mercado, no entanto, confirmava todas as hipóteses do primeiro trabalho e deixava, como consolo, a possibilidade teórica – e não comprovada no trabalho – que poderia aumentar a propensão à vagabundagem.

Na época, foi o maior exemplo – dentre inúmeras – que o trabalho dessas consultorias, voltadas para o mercado financeiro, é apenas o de tentar dar legitimidade acadêmica a teses antissociais – geralmente falsas.

É o que acontece com essa inacreditável teoria das metas inflacionárias.

Sua única função é preservar o capital do rentista e tratar, cada vez mais, de se apossar do orçamento – tal qual fazem seus irmãos-gêmeos do Centrão.

Temos que fazer tudo para equilibrar o orçamento, pois ele produz inflação que prejudica especialmente os pobres.

Para tanto, nada de tributação sobre lucros e dividendos, nem alíquotas maiores para as camadas superiores de renda. Vamos reduzir o Bolsa Família, os Benefícios de Prestação Continuada, a geração de empregos (pois aumento de emprego provoca inflação), os investimentos em educação. Tudo em nome da proteção aos mais pobres.

Mais que isso, faz parte dessa lógica a total desregulamentação do mercado de câmbio e de seus derivativos. Permite-se a formação de cartéis – dos quais essas consultorias são os braços explícitos de montagem de movimentos de overshooting. E pretendem reescrever a Constituição a golpes de manipulação.

Não se pode aceitar uma taxa básica de juros de 6, 7, 8% acima da inflação. Não é natural. É humilhante para todo o país, diploma de subdesenvolvimento. São os grandes investidores do mundo todo que aparecem por aqui, literalmente tirando leite das crianças, educação dos jovens, saúde dos adultos.

A imensa dívida pública não foi criada com gastos em infraestrutura, em saúde, educação. É fruto exclusivamente dessa dependência colonial ao capital gafanhoto externo. Volta-se aos tempos do Encilhamento, da República Velha.

Não se exige atos heróicos de um governo acuado pelo Centrão do Congresso e pelo cartel do mercado. Mas tem que mostrar, ao menos, que está estudando alternativas para defender o país do saque dos bárbaros.

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20 Comentários

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  1. Pois é. Mas nos livros de história, e nos salões da alta roda, os bárbaros somos nós.
    Os bárbaros de lá usam ternos bem cortados, sapatos lustrosos, e cheiram tão bem que chega a enjoar.
    Poupo-vos da descrição dos bárbaros de cá?
    Não, porque são os mesmos de lá. Vejamos:
    Qual a diferença entre nosso passado colonial e nosso presente colonial?
    Há apenas uma diferença, e é de natureza cosmética. Pois somos um país independente desde 1822.
    E, desde 1822, servo dos bancos.
    E, desde 1500, somos fornecedores de matérias-primas, commodities, pelas quais, hoje, nos pagam uma miséria; melhor do que vê-las levadas daqui na cara dura, não?
    Nem tanto, porque tudo mudou para permanecer sendo a mesma coisa.
    Apenas, a ‘burguesia’ criolla ficou no lugar do colonizador, como um entreposto.
    Depois do ocaso do poder inglês, a situação é: custo de produção em reais, preço de venda em dólar. Não é a mesma coisa?
    O câmbio é o melhor amigo do agro, da burguesia industrial.
    O câmbio é o uísque engarrafado do rico (apud Vinícius de Moraes).
    Quase toda a produção exportada, e o que sobra, por escasso, é vendido aqui mesmo, com o preço nas alturas.
    É o melhor lugar do mundo, para essa gente.
    Os nossos bárbaros.
    Ninguém abdica de uma posição de privilégio por livre e espontânea vontade, e muito menos por força de sermões. Ou estudos acadêmicos.
    O sermão, há muito, passou para o lado de lá; e estudos acadêmicos, basta pagá-los bem – aos acadêmicos.
    Os bárbaros submetidos pelo europeu e pelo americano o foram na base da porretada. E da sífilis, a grande contribuição do europeu ao desenvolvimento do mercantilismo, do capitalismo.
    Parece ofensivo e descabido; mas, refutem, se foram capazes. Mas sem academicismos, por favor. Com vida real.
    Eles são os bárbaros. E educaram uma classe restrita e reduzida para serem seus capatazes, aqui, colocados ao serviço deles.
    E nós acreditamos que os nossos bárbaros colocarão a mão na consciência, pela força do voto, da democracia.
    Não serão, mas, ao que parece, faltam-nos os porretes.
    E muitos de nós, sequiosos de mobilidade social, se convencem que o melhor é ser, eles mesmos, bárbaros. Paulo Freire deixou claro como isso acaba.
    Mas falta-lhes o Capital para adquirir porretes.
    E começam a matar-se entre si.
    Educação, saúde, leite para as crianças?
    Isso não dá lucro, dá despesa.
    E, se dá despesa, que seja limitada a pagar estudos acadêmicos e jornalistas vendidos. Gente que não pede que se afastem deles certos cálices. Ao contrário, anseiam por eles.
    Nassif, Nassif, estás pregando no deserto. E, no deserto, ninguém te escuta.
    Sei que não aprovas minha palavra de ordem: Só a ruptura salva.
    Mas, enquanto houver espaço, tempo, corpo, e algum modo de dizer não, eu comento aqui no GGN.
    Vida longa ao GGN!
    Obs: Acabo de ver o post sobre o Trump, e sua anistia aos seus bárbaros amestrados. Quanta desgraça numa manhã só!

    1. Este é o cerne de minha visão do Brasil e seus problemas passados e atuais, aliás são os mesmos ontem, hoje e serão amanhã: o espírito colonial e escravagista da sociedade brasileira e, principalmente, dos sempre favorecidos e outros abusados. Entra e sai governo, regime administrativo mas nada muda – Lampedusa anteviu o Brasil em seu “Il gattopardo”.
      O uso do látego, para uns, e o peso da canga para a maioria faz do Brasil o cenário atual da obra. De outra forma – que nada muda – ainda somos o quintal de uns e a colônia de outros. Não tenho engano algum mas o príncipe da hora fez muito mas nada faz para mudar. Continuamos sendo leopardos, hienas e ovelhas . . .

      1. Eu não consigo entender como nos trabalhadores so podem gastar o salário que ganhamos mensalmente., e o governo gasta o dinheiro que não tem e põe a culpa nos outros.

  2. Nassif.

    Louvável seu esforço.

    Mas a gente sabe que essas dicotomías, tipo bom e mau, mocinhos e bandidos são úteis a folhetins e na educação infantil, nos primeiros anos, digamos.

    Crescemos e descobrimos muito cinza entre o preto e o branco.

    Nessa sua equação binária faltou a variável principal:

    O governo.

    Ou talvez você tenha acertado, sem querer.

    Falta governo, e antes de faltar governo, falta política e antes de faltar política, falta coragem para o necessário debate.

    A vitimização até dá um conforto na fé dos crentes do culto lulista.

    Mas é pouco, porque a realidade insiste em bater a porta.

    O governo Lula, se não é cúmplice por ação deletéria e prejudicial ao povo mais pobre, que diz querer proteger, é culpado por omissão.

    No entanto, o resultado é idêntico.

    Então sim, o cérbero precisa de três cabeças.

    Aí estão:

    O mercado, o centrão e o governo Lula.

    E Caronte aguarda por suas duas moedas.

    1. Começar pelo final. O Cerbero tá guardando a Selic e o Hades, chamado Roberto Campos, estáa lá pra infernizar o Brasil.
      Seguindo que cara -retencioso e vc. Quem te disse ue vc entende algo de politica? A familia? Teus colegas? Só pode.
      Ser cartesiano e positivista dá nisso. Pão-pão queijo-queijo. E o Governo tem um problema: voce e o congresso. Por isso que o mundo dos sonhos e melhor. A realidade é que o Pl tem 93 parlamentares que travam o que podem. A falta de projetos e o da refforma da tua casa. O Governo ta investindo a trazendo investimento produtivo pra infraestrutura. Para por aqui pois a lista e longa e meu tempo é curto.

      1. Eu não deveria perder tempo, mas às vezes, só as vezes, é divertido.

        Então a política só se exerce nos limites da institucionalidade?

        Certo.

        Então para que movimentos sociais, organizações, MST, e até os partidos mesmo, se é apenas o congresso que determina as chances de avançar (ou retroceder)?

        Eu sei que a lista é longa e o tempo é curto…

        Rerere…

        Eu imagino o esforço e o tempo gasto por seus dois neurônios para escrever isso aí em cima.

        Olha, quando eu falo em culto lulista, eu nem imaginava que a coisa está nesse nível de gravidade.

      2. PS:engraçado é ser chamado de cartesiano e positivista por um “jênio” que diz que a realidade é imutável…

        Rererere…

        Determinismo governista é isso aí.

        Ou seja, já que a realidade é fatal, o suicídio é o único problema filosoficamente sério…

        Camus tem razão.

        Mas afinal, porque os lulistas não se matam em um ritual coletivo?

        Seria muito mais produtivo.

  3. Tem é que explicar, didaticamente, o que está acontecendo. Em cadeia nacional, horário nobre, matéria em jornais, sites, blogs,..
    Sem medo. Explicar à populacao que o país está sendo atacado por parasitas.

    1. Haddad parece uma virgem indefesa entre uma quadrilha de assassinos sanguinários… enquanto agem com furor, o ministro fala manso e de forma acadêmica……só é valente com os mesmos, para tirar benefícios, direitos e taxar pesadamente os de sempre como essa remessa conforme que será cobrada dele na hora certa…

  4. Vamos combinar que parece que a área de Comunicação do Governo, definitivamente, não é do ramo. Esses problemas que o Nassif elencou podiam ser mastigados e passados pra população entender o porque as coisas tuins que acontecem com o Governo e com eles. E como a classe media tem ganho com o governo que rejeita. Tão guardando o material pra 2026?

    1. Bem, eu não sei que classe média
      Aquela que está com a tabela do IRPF congelada desde 2014 ou 2016?

      Aquela que sustenta os programas sociais?

      Ok, nada demais, eu aceito.

      Mas e os ricos?

      Vão entrar nessa conta quando?

      Ah, e antes que o “jênio” diga que o congresso isso ou o congresso aquilo, para alterar alíquotas de impostos que já existem não precisa lei, congresso, nem guardar princípio da anualidade contributiva.

      É só canetar e correr na boca do caixa.

      Mas para isso é preciso uma coisa que falta no governo.

      Vergonha na cara, e coragem.

    2. Essa política de juros estratosféricos está acabando com a economia do país. Quanto mais altos os juros maior impacto na dívida publica e maior a necessidade de corte de gastos pra garantir a sanha dos rentistas. Esse Campos Neto está a serviço do mercado financeiro e pior o tal do Gabriel Galipolo segue a mesma orientação. Pobre governo. E tome miséria pra sociedade. Não sobrarão pedras sobre pedras.

  5. Volto à carga.

    O Nassif não está incluindo o judiciário nesta lista. Não escondem que querem se locupletar às custas do Estado e o fazem às claras, legal e ilegamente (quando acontece são aposentados compulsoriamente). Basta ler as notícias.

  6. Ninguém pode dar o que não tem. O Brasil tem uma grande economia, capaz de se manter numa boa posição entre os maiores PIB do mundo. Como fornecedor de produtos primários é altamente competitivo. O que não possui é uma economia que do ponto de vista do seu conjunto, constitua uma dinâmica que dê a esse conjunto a competitividade que é consequente ao crescimento que traga desenvolvimento. Crescimento e desenvolvimento é um resultado, produto do bom esforço. O capital vai em busca de ganhos, os ganhos que cada local tem a oferecer. Como a economia brasileira vai sair dessa prisão provocada pelos juros praticados no País. Boa parte do conjunto econômico está engessado e com pouca possibilidade de se fazer melhor devido ao piso estabelecido por essa política de juros. Como pode melhorar a efetividade do Banco Central como “autoridade monetária” , sendo os juros uma trava para quase todas as atividades econômicas. Uma grande parte da economia vai sangrar novamente até que os juros coloquem a inflação dentro da meta ou bem pertinho por intervalo de tempo. Até que comece tudo outra vez.

  7. Exigem corte de 50, 60 bilhões. O governo acena com 30 bilhões. aumenta um por cento nos juros, em consequência aumento de 70 bilhões na dívida pública. agora precisaria de cortar que valor 120, 130 bilhões. São os cabeças de planilhas ao extremo.

    1. Em se falando de economia nacional, e cortes de gastos para se obter a meta fiscal, o que se pode pensar a respeito das intocáveis e variadas emendas parlamentares? 52 bilhões de reais retirados da economia, assim,sem pé nem cabeça, sem se quer ter uma assinatura de quem recebe essa verba? É muito confuso entender, porque o congresso lesgila em causa própria, obrigando o executivo a pagar emendas , que por sua vez, serão aplicadas junto ás prefeituras, ditas, bases eleitorais? Nesse caso tanto o congresso quanto o senado não estaria fazendo o papel do executivo? Fazer obras em prefeituras é ou não é obrigação do executivo? As vezes penso que emendas parlamentares serve apenas como moeda de troca,elas são mais importantes que a reforma fiscal. Alguém poderia comentar sobre esse assunto na mídia,tais emendas é dinheiro no ralo e contribuem para o rombo nas contas públicas. Opinem!

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