É hora de investigar o cartel que manipula o câmbio, por Luís Nassif

O cartel da Faria Lima é uma organização que pratica crime de cartel e de atentado aos direitos coletivos

Seria conveniente que a opinião pública brasileira – mídia, agência reguladora, Ministério Público e Polícia Federal – começassem a se preparar para o grande desafio contemporâneo da política e da economia brasileira: a investigação sobre o cartel da Faria Lima.

Vamos a algumas definições iniciais para não generalizar.

Não se trata da Faria Lima nem da indústria dos fundos como um todo. Aliás, para os enormes lucros do cartel houve prejuízos de todos os que estavam na ponta contrária, além de fundos multimercados e investimentos em ações.

O cartel é um grupo restrito de grandes operadores, com poder de influenciar o mercado.

Sua forma de atuação é conhecida. Primeiro, investem em algum ativo considerado barato ou caro.

No episódio da semana passada, investiram em contratos de compra de títulos públicos. O valor dos títulos públicos pré-fixados corresponde ao valor de resgate (já conhecido), dividido pela taxa de juros do dia. Quanto maior a taxa, menor o valor do papel, e vice-versa: quanto menor a taxa, maior o valor do papel.

No início do ano, o mercado apostava em estabilização ou queda da taxa Selic. Havia um obstáculo pela frente: o Ministério da Fazenda alcançar ou não as metas propostas no regime de arcabouço fiscal. Pequenas variações para cima ou para baixo não seriam motivo para temores maiores.

De repente, analistas, economistas de banco, operadores, começam a trabalhar o terrismo fiscal, ajudado por uma mídia cúmplice. Passa-se a taxar de “gastança” qualquer despesa social, a usar o catastrofismo como instrumento de discussão.

Em uma mídia parcial, sem espaço para vozes dissonantes, foi se formando o clima terrorista, adequado para o segundo tempo do jogo. 

O tiro de partida foi a declaração do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em abril, sinalizando para uma mudança de rumo na política monetária. A Selic vinha caindo 0,50 em cada reunião do Copom. No máximo, o mercado apostava em uma redução da queda para 0,25. Depois da virada de Campos, as expectativas começam a mudar.

O tiro final seria no dia do anúncio do pacote fiscal de Fernando Haddad. Na véspera deu-se o estouro da boiada, por motivo insignificante: a inclusão do pacote de isenção de Imposto de Renda para quem ganhasse até R$ 5 mil.

Não se entenda como o mercado como um todo. Parte expressiva do mercado pagou uma conta alta com as manipulações da semana passada. Fundos multimercados, investidores que venderam contratos de opções, foram vítimas do mesmo esquema do cartel.

O câmbio explodindo afetou todas as importações em curso, pressionou preços dos comercializáveis aumentando as apostas na elevação da inflação e num salto de até 0,75 pontos na Selic. Como não haverá superávit fiscal capaz de anular os impactos de tal salto da Selic na dívida pública, tem-se então governo, economia, investidores, economia real, consumidores, nas mãos de um cartel, que opera livremente, sem nenhuma expectativa de risco para inibir sua atuação.

O governo não conseguirá livrar-se dessa amarra, nem o Banco Central, mesmo sob a condução mais responsável de Gabriel Galipolo. 

É hora de caracterizar o cartel da Faria Lima pela qualificação correta: é uma organização que pratica crime de cartel e de atentado aos direitos coletivos.

Mais que isso, provoca desconfiança em relação ao mercado financeiro, impõe perdas extraordinárias aos agentes do mercado que tiveram prejuízos expressivos.

Na Inglaterra, jogada semelhante com a libor não passou em branco.

O cartel da libor

The New York Times mostrou assim a manobra do cartel.

Quadro 1 – a libor

Quadro 2 – o golpe

A Comissão Europeia aplicou multas no montante total de 1.700 milhões de euros a oito bancos, acusando-os de terem constituído um cartel que manipulou os mercados de derivados.

Quatro bancos formavam um cartel para manipularem as taxas dos derivados no mercado do euro; seis manipulavam conjuntamente as taxas dos derivados no mercado do yen. Volta a aplicar-se aqui a lógica da não condenação.

Em 6.07.2012, o colunista José Nocera, no The New York Times, sintetizava o grau do escândalo:

“Por que o escândalo criou indignação na Grã-Bretanha? Porque é realmente ultrajante”, disse Karen Petrou , sócia-gerente da Federal Financial Analytics. “Eles não deveriam estar fixando essa taxa — não importa qual seja o motivo.”

Ela continuou: “Se eu te der meu dinheiro, preciso poder confiar em você com ele. Se você só pode ser confiável por meio de regulamentação, então você pode muito bem ser um utilitário. E se os bancos não são confiáveis ​​para gerenciar suas mesas de negociação, então precisamos repensar todo o nosso modelo bancário.” Petrou não é uma defensora do retorno aos dias da Glass-Steagall, a lei da era da Depressão que separava o banco de investimento do banco comercial. Mas com o escândalo da Libor, ela disse, ela certamente poderia entender os crescentes pedidos por isso.

O Barclays, é claro, dificilmente é o único grande banco que manipulou a Libor por diversão e lucro. É simplesmente o primeiro a admitir seu erro e a se acertar com o governo. Dizem que quase todos os grandes bancos estão sob investigação por jogar com a Libor, incluindo JPMorgan Chase, Citigroup e outros gigantes financeiros americanos”.

O mesmo ocorreu no Brasil. Fundos e investidores em multimercado tiveram perdas recordes com o movimento especulativo. A operação que envolveu meia dúzia de instituições trouxe prejuízo e insegurança para o mercado e ameaças concretas para toda a economia no próximo ano, à medida que se tornaram elementos fortes para uma elevação da taxa Selic.

Como investigar

O primeiro passo é cercar-se de especialistas em mercados futuros, para identificar as manobras.

Hoje em dia, a atuação de cada operador é registrada digitalmente. Então, haverá muito mais possibilidades de identificar as manobras do cartel.

O primeiro passo é identificar as datas-chave, no qual há suspeitas de manipulação. Por exemplo, poderia pegar todos os movimentos e declarações de Campos Neto e checar as operações do Banco Santander – de onde ele saiu para o Banco Central.

Depois, conferir as comunicações entre agentes econômicos, sabendo que o primeiro que for identificado em práticas de manipulação tratará de apelar para o benefício da delação premiada.

Há sempre a carteira de ativos de Campos Neto – e de seu padrinho Paulo Guedes – para ser analisada. E haverá a necessidade de acordos operacionais com agentes do mercado norte-americano, para identificar operações casadas com ativos em reais existentes na Bolsa de Nova York.

Mesmo que a investigação não desvende totalmente a trama, pelo menos passará a noção e risco para os operadores do cartel. Hoje em dia, eles ameaçam, soltam notas no Radar da Veja desancando o governo, bancam pesquisas da Quaest para pressionar as autoridades, com uma desfaçatez sem tamanho.

Importante: abusaram tanto, com seu terrorismo em um quadro de melhoria de todos os indicadores da economia real, que perderam o apoio unânime da mídia corporativa. No máximo, conseguem ludibriar jornalistas financeiros e setoristas.

Leia também:

19 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Opa, já foi um avanço.

    Nassif já começou a ver o óbvio, a ponta pelo menos.

    Mas a insistência em dizer que há bons financistas, ou bons parasitas, é como se a gente dissesse que há um setor das BETS que é bom, porque eventualmente “perde”.

    Quem investiga esses setores sabe que eles não perdem nunca, pois diluem suas posições de perda para outras bancas, naquilo que, no jogo do bicho, se chamava “descarregar apostas”.

    Se antes faziam isso analogicamente, imagina agora, com os algoritmos?

    Então Nassif, vamos avançando, talvez mais dois ou três anos você enxergue o resto.

    O sistema de crédito e remuneração de empréstimos é uma coisa, amigo, o parasitismo do financismo do dinheiro emitindo dinheiro é outra.

    Veja em 2008, os caras entupiram o mundo de títulos podres (tranches), vendendo B- por A +++, e depois criaram um título “um seguro”(CDS) para remunerar se o castelo de cartas desmoronarse.

    Não, amigo, são várias quadrilhas agindo em sinergia e hoje me pergunto se Haddad já não foi cooptado.

    1. Em 2008, um banco menor salvou um grandão de quebrar por estar pesadíssimo em derivativos, e advinha quem negociou tudo? O missivista sabe dessa história, mas quem disse que ele pode expor! Esse balaio de gatos não é para ratos e muito menos amadores!

  2. Esqueça! Ninguém peita essa gente. Já fizeram um golpe em 2016 e só não embarcaram na aventura dos militares pq já haviam conseguido o que queriam e um governo militar personalista q passasse por cima dos outros poderes era tudo q o mercado não desejava. Militares são gestões compulsivos e tocam a economia de acordo com a Ordem do Dia e não com as regras do mercado. Há anos o mercado optou por golpes vindos pelo judiciário e legislativo por seu verniz de legalidade e por ser menos prejudicial à imagem dos golpistas e parece que os milicos brasileiros, anacrônicos, não perceberam as mudanças do tempo e dos golpes. Ora, Biden como vice de Obama estava por trás da espionagem e derrubada de Dilma e passou pelo Jaburu mantendo conversas secretas com Temer e isso é do conhecimento de todos, assim como todos também se lembram das fanfarronices de Alexandre de Moraes a frente da pasta da justiça do governo golpista de Temer. Agarrado a pes de maconha em Pernambuco e prendendo “terroristas de ocasião” ,Moraes construiu sua trajetória para o STF a base de muita mídia e pouca eficácia. Criou se essa falácia de ser o ministro um antisistema e defensor da democracia qdo ele foi figura chave na consecução do golpe de 2016 ao ser indicado por Temer ao STF. Alçado ao poder novamente pelos mesmos q o prenderam, Lula volta ao poder com as bênçãos do mercado e com a inglória missão de mudar aquilo que sabe não poder mudar.Veremos daqui pra frente um governo cada vez mais manco e parecido com os governos Sarney e Itamar, cuja função era apenas “passar a bola” para o próximo, sem mexer nas estruturas de poder. Todo essa questão do golpe q não houve e os entreveros entre Moraes e Musk são cortinas de fumaça para não lembrarmos que o golpe já fora dado há quase 10 anos, que foi vitorioso e que os militares chegaram tarde demais, pois a cadeira já estava ocupada. Simples assim.

    1. Boa mesmo, esqueceu de completar que a Faria Lima toda achou o máximo acabar com Bolsonaro e a Selic de 2% a.a. de um governo austero para um gastador,.rolando apenas Selic. O mercado de crédito sempre foi uma mentira neste país. É só ver a rentabilidade das mesas x crédito! Xupa Faria Lima!!

    2. Ciro Gomes vê PT quebrando o Brasil e prevê recessão em 2025. Câmbio a R$ 6,00 por causa dos R$ 4,65 TRILHÕES da dívida pública brasileira que vence todo dia

      Imagem removida

      1. Se R$ 4,65 TRILHÕES da dívida pública vence todo dia (vide item 2 abaixo) e se o país só tem R$ 7,273 BILHÕES, todo dia (vide item 3 abaixo), no caixa do Tesouro Nacional, para pagar sua dívida pública, significa que o Brasil está totalmente na dependência de financiamento externo para fechar suas contas e que se os investidores externos deixarem de comprar todos os dias R$ 4,65 TRILHÕES da dívida pública o Brasil quebra de fato, pois, financeiramente, de direito, já estamos quebrados, e a recessão virá forte, muito forte, e será de longo prazo essa recessão, considerando que o câmbio a R$ 6,00 ocorre por causa dos R$ 4,65 TRILHÕES da dívida pública brasileira que vence todo dia, problema estrutural que não será solucionado no curto prazo.

      Fonte – Link https://www.linkedin.com/pulse/ciro-gomes-v%25C3%25AA-pt-quebrando-o-brasil-e-prev%25C3%25AA-recess%25C3%25A3o-em-fran%25C3%25A7a-nhf7f

      1.1 Num cenário como esse não adianta o BACEN ficar aumentando a taxa de juros a cada reunião do COPOM, para incentivar os credores internacionais a continuarem comprando R$ 4,650 TRILHÕES da dívida pública, todos os dias, pois como o crescimento do risco de inadimplência do Tesouro Nacional é exponencial, os credores internacionais devem, no curto prazo, interromper a compra da dívida pública brasileira, cabendo a Vanguard e Blacrock, em conjunto com o Tesouro dos EUA, e os maiores bancos privados do mundo (JP Morgan, etc.), financiarem, ocultamente, o governo brasileiro, senão teremos uma quebradeira mundial, pois se deixarmos de pagar R$ 4,650 TRILHÕES da dívida pública brasileira, teríamos impacto de R$ 46,5 TRILHÕES (vide item 5 abaixo) no Sistema Financeiro Internacional, por meio do contágio dos derivativos emitidos com base na dívida interna brasileira, o que não interessa a ninguém, neste momento.

      2. Ciro Gomes diz no vídeo, aos 10 min e 13 s, que “Metade dos 9,3 trilhões de reais da dívida brasileira estão VENCENDO POR DIA”, o que é grave, muito grave):

      Imagem removida

      10:13 “Metade dos 9,3 trilhões de reais da dívida brasileira estão vencendo por dia. Isto vocês não vão ler nos jornais, a não ser no otimista né, que vai publicar aqui a minha declaração. Então R$ 9,3 trilhões de reais vence a metade praticamente. São R$ trilhões de reais que vencem hoje e não existe fluxo fiscal possível, fisicamente possível ou imaginável que faça honrar esse fluxo. Então o resultado é uma espécie de hot money que gira diariamente no mercado overnight com a mão quente e aí ciclicamente o risco incremental para os mais nervosos vira pulo pro câmbio. Então, nós temos um problema estratégico qual seja um desequilíbrio histórico nas nossas contas em dólar no estrangeiro”.

      Fonte – Link https://www.youtube.com/watch?v=apMtU5Ite40&t=634s

      3. No acumulado dos dez primeiros meses de 2024, a arrecadação federal somou R$ 2,182 TRILHÕES, o que nos gera R$ 218,2 BILHÕES em recursos, por mês ou R$ 7,273 BILHÕES por dia, depositados no caixa do Tesouro Nacional.

      Imagem removida

      3.1 Fonte: “Arrecadação de receitas federais alcança R$ 247,920 bilhões em outubro”, disponível no link https://www.gov.br/receitafederal/pt-br/assuntos/noticias/2024/novembro/arrecadacao-de-receitas-federais-alcanca-r-247-920-bilhoes-em-outubro,

      4. Se R$ 4,65 TRILHÕES da dívida pública vence todo dia (vide item 2 acima) e se o país só tem R$ 7,273 BILHÕES, todo dia (vide item 3 acima), no caixa do Tesouro Nacional, para pagar sua dívida pública, significa que o Brasil está totalmente na dependência de financiamento externo para fechar suas contas e que se os investidores externos deixarem de comprar todos os dias R$ 4,65 TRILHÕES da dívida pública o Brasil quebra de fato, pois, financeiramente, de direito, já estamos quebrados, e a recessão virá forte, muito forte, e será de longo prazo essa recessão, considerando que o câmbio a R$ 6,00 ocorre por causa dos R$ 4,65 TRILHÕES da dívida pública brasileira que vence todo dia, problema estrutural que não será solucionado no curto prazo.

      5. Apesar de o Brasil estar, tecnicamente, quebrado, não acreditamos que os credores internacionais permitirão a quebra, de fato, do Brasil, pois se deixarmos de pagar R$ 4,650 TRILHÕES da dívida pública brasileira, teríamos impacto de R$ 46,5 TRILHÕES de no Sistema Financeiro Internacional, por meio do contágio dos derivativos emitidos com base na dívida interna brasileira, cujo mecanismo descrevemos abaixo:

      Imagem removida

      Economia brasileira está à beira do abismo, diz FT

      Observações Importantes:

      A) Então, quando o Financial Times diz que a “Economia brasileira está à beira do abismo” (vide matéria transcrita no item 5 abaixo), tenham a exata noção senhores Jornalistas do Financial Times que “A Economia dos EUA e as demais economias de TODOS os países do mundo está a beira do abismo, junto com a economia Brasileira”, em função do processo financeiro de ALAVANCAGEM ((((((((((((R$ 27 TRILHÕES)))))))))))), que acabamos de descrever no item anterior, envolvendo a EMISSÃO DE DERIVATIVOS COM BASE NA DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA ((((((((((((R$ 2,7 TRILHÕES)))))))))))). O mesmo processo financeiro de ALAVANCAGEM levou ao ESTOURO DO SUB-PRIME NOS EUA. Se a economia brasileira cair no precipício, TODOS OS credores internacionais DETENTORES DE DERIVATIVOS EMITIDOS COM BASE NA DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA, sem exceção, vão perder dinheiro, vão perder muito, mas muito dinheiro;

      B) Então, senhores Jornalistas do Financial Times, torçam para que o Governo Brasileiro, em conjunto com o Congresso Nacional, não busquem resolver o problema do sustento de 60 milhões de cidadãos vulneráveis, que passaram a viver sem renda com o fim do pagamento do “CORONAVOUCHER”, em 12/2020, por meio do populismo econômico, AUMENTANDO, AINDA MAIS, OS GASTOS PÚBLICOS, senão TODOS, sem exceção, no Brasil e nos demais países do mundo, inclusive nos EUA, estarão UNIDOS PELA FRATERNIDADE DA MISÉRIA.

      Fonte – Link https://www.linkedin.com/pulse/economia-brasileira-est%C3%A1-%C3%A0-beira-do-abismo-diz-ft-rogerounielo-fran%C3%A7a/

      6. Ciro Gomes vê PT quebrando o Brasil e prevê recessão em 2025

      Imagem removida

      Fonte – Link https://www.youtube.com/watch?v=apMtU5Ite40&t=634s

      Fonte – Link https://www.linkedin.com/pulse/economia-brasileira-est%C3%A1-%C3%A0-beira-do-abismo-diz-ft-rogerounielo-fran%C3%A7a/

      Fim

  3. Em continuação ao comentário anterior:

    Tentar separar os parasitas do financismo entre “bons” e “maus”, me faz lembrar uma historinha comum em delegacias, que advirto, NÃO É VERDADEIRA.

    Cena 1:

    Advogado e cliente entram na unidade policial, munidos de petição, documentos, recibos, fotos, enfim, todas as informações necessárias às apurações de um golpe.

    Golpe: a “vítima” foi atraída para um negócio, um investimento, que prometia rentabilidade de 15, 20% mensais sobre o investido, desde que o tempo de “cautela” do investimento fosse (x) meses.

    Após o tempo de cautela, vem os primeiros dividendos, o “pato” se anima, e dobra a aposta.

    Igual àquele jogo comum em mercados e rodoviárias, com a forma de empada e a bolinha.

    Cena 2:

    Insatisfeitos com a demora no atendimento, “vítima” faz alguns telefonemas, e estes interlocutores ligam para a autoridade policial de plantão, que os atende, sem respeitar a “fila” de comunicantes que espera para o registro de outros crimes.

    “Vítima” e advogado entram no gabinete da autoridade.

    Cena 3:

    Após olhar a papelada com fingido cuidado e curiosidade, uma vez que conhece de cor e salteado o “crime”, o delegado “sentencia”:

    – Meu amigo, com todo respeito, mas entregar dinheiro a uma pessoa, esperando o retorno de 10, 15, 20% mensais, não o coloca como “vítima”.

    – Ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.

    – Ou o senhor tentou, sem sucesso, ser cúmplice do esquema, porque para alguém te remunerar nesses índices, muita gente deveria perder (ser enganada), ou o senhor foi mais um trouxa que achava que dinheiro dá em árvore.

    – Seja como for, o senhor escolhe, se for para levar adiante, é o senhor como cúmplice de pirâmide financeira…

    – Já fazer papel de imbecil não é conduta criminosa.

    (i) Moral da história:

    Nassif, uma coisa é uma senhora de 80 anos, que passou a vida toda na caderneta de poupança, e buscando uma melhoria de seu portfólio para deixar para os herdeiros, buscar o mercado de ações, ou pior, apostar em CDI ou letras do tesouro, e acabar frustrada em suas pretensões de rendimentos de 1 a 3% mensais por oscilações do mercado.

    Agora, quem aposta nessa BET financeira sabe exatamente o que está em jogo, e alimenta essa estrutura, mesmo arriscado perder algum, o que quase nunca é verdade, pois eles apostam do outro lado, com outras PJ ou CPF também.

    Ainda assim, como no caso lá em cima, quem entra em um “investimento” desses, a base de extorsão cambial de governos, sabendo que se tiver sucesso, milhões sofrerão, merecem exatamente o infortúnio que tiverem.

    PS: Já há a construção de um entendimento, provocado pelas defesas desses “golpistas”, que a pessoa que colocar dinheiro esperando 15, 20% de remuneração, não é vítima, mas sim cúmplice.

    Outros entendimentos argumentam que não há crime (crime impossível), mais ou menos como dizer que foi vítima de nota falsa ao receber uma nota de 3 reais, ou aceitar adquirir um terreno em Marte.

  4. O mais irônico nessa história toda é que a vagabundagem endinheirada, cheirosa que veste Prada vive na imprensa vomitando discursos sobre a moralidade intrínseca dos mercados livres privados enquanto manipulam a taxa de juros para enriquecer sugando o dinheiro público estatal com a mesma voracidade que o conde Drácula suga o sangue de suas vítimas. Não só isso, eles fazem tudo isso recorrendo à rotinas informatizadas, automatizadas, empoderadas por IAs, cujos parâmetros somente eles mesmos podem definir. Nem o Banco Central pode intervir em defesa do interesse público, nem o restante da população tem como se proteger da sanha gananciosa daqueles que acumulam capitais parasitários que se recusam a se transformar em investimentos de risco, em aumento da capacidade produtiva, do comércio, da massa salarial e do consumo.
    Gérard Lebrun fez uma defesa apaixonada de Haiek, mas não percebeu o absurdo ridículo da posição em que se colocou ao dizer:
    “A palavra sociedade não significa a mesma coisa para ele e para seus adversários. Hayek nos fala de uma ordem natural global, na qual cada elemento (de direito) é capaz de retificar a sua estratégia segundo as informações que lhe chegam. Nada a ver com um maquinário montado por um engenheiro todo-poderoso.” (A vingança do bom selvagem, Gérard Lebrun, editora Unesp, São Paulo, 2024, p. 74 – texto A loteria de Firdrich Hayek)
    No Brasil o mercado privado de capitais é um engenheiro todo-poderoso. Ele criou uma forma peculiar de assaltar os cofres públicos com ajuda do presidente do Banco Central sem que ninguém possa fazer o que quer que seja. O que esse “mercado” chama de sociedade é mais parecido com uma organização criminosa. Cada elemento em funcionamento (não de direito, por certo) reforça uma ordem artificial que contraria a natureza do próprio capitalismo. Nesse sistema segundo Hayek/Lebrun as informações chegam aos indivíduos livres para que eles tomem decisões baseadas nos seus interesses. Cá, todos os interesses legítimos (da população, do Estado nacional, etc) estão submetidos à ganância daqueles que são capazes de manipular informações econômicas para maximizar seus lucros aumentando a taxa de juros. Mas não se enganem. Esses vigaristas não filhos bastardos do neoliberalismo. Eles são a consequência inevitável de um sistema projetado para fortalecer as desigualdades, para esmagar os trabalhadores e para imbecilizar até mesmo os sociólogos que refletem sobre economia sem perceber as distorções que ela pode produzir… naturalmente e artificialmente também.

    1. Sim, nesse sistema as remunerações não obedecem a lógica de causalidade conhecida, ou aceita, mas a arbítrios pessoais e por isso, imprevisíveis, ou melhor, só previsível para quem os adota, e para aqueles que compartilham tais expectativas.

      No sistema financista, ao contrário dos mercados de crédito, a distribuição de recompensas (juros) é sempre uma decisão unilateral e autoritária, e nunca isonômica ou buscando qualquer equilíbrio ou forma “de justiça”.

      Ora, se o dinheiro não mais corresponde a nada mais que a sua própria replicação exponencial, só um sistema “lotérico” pode dar conta de sua representação, que é essa “loteria”.

      No entanto, eu só tenho um reparo a essa noção de “loteria”.

      Loteria parece indicar que há uma forma aleatória de distribuição dos resultados.

      Não.

      Acho que não há uma probabilidade numérica que pode remunerar as expectativas, mas como em toda a atividade de “apostas” predatórias, é a banca que controla também as probabilidades, e não só a distribuição dos resultados.

  5. NASSIFÂO O CARTEL TEM SÓCIOS E SÃO OS BILIONÁRIOS MIMADOS Q NÃO QUEREM TRABALHAR,NEM AO MENOS FAZEM A SUA FUNÇÃO Q É INFORMAR O POVO,OU FAZEM?DESINFORMAR O POVO !!!TIPO A MALÉFICA INTERNET Q TOMOU O LUGAR DELA ( tvs ) MAS COMO TUDO TEM EFEITO COLATERAL ESTÁ SE FORMANDO PESSOAS CRÍTICAS POIS O NIMENTO DEMANDA DE SABERMOS FILTRAR TUDO Q CHEGA !!! OBS.:Fiquei estupefato q nem ao menos o partido do governo convocou alguém para explicar a ESPECULAÇÃO DESCARADA da jpmorgan do dólar chantagista dos euaaa traíra denunciado EXCLUSIVAMENTE por vc aqui no ggn Nassifão nem ao menos teve um comentário nem o meu kkkk mas estou na UBICERVAÇÂO !!!

  6. Acabando o mandado do Little Bob Fields em 31/12, perdendo o poder da caneta, espero que logo receba uma visita da PF às seis da manhã. Que consigam fazer uma investigação competente como a da tentativa de golpe, para que não reste pedra sobre pedra do cartel da Faria Lima.

  7. É hora de investigar. O país tem que. Não podemos mais aceitar. Temos que. Confesso que sempre que uma matéria, do GGN, ou de qualquer outro jornal progressista, ou simplesmente lúcido, começa com esse tipo de alocução, eu já me sinto desanimado.
    Vamos investigar o cartel da Faria Lima. É hora. O país tem que investigar. Não podemos mais aceitar essa fraude, esse golpe. Temos que acabar com essa pornografia.
    Mas, temos quem? Quem vai fazer isso? Os revolucionários da Comuna de Paris tomaram tudo que podia ser tomado; quando chegaram no Banco da França, ficaram sem saber o que fazer. O resto é história.
    Como será que imaginamos essa ação contra o Mercado Financeiro? Creio que a maioria das pessoas ainda crê que, em um Banco, em seu cofre, estejam depositadas cédulas de dinheiro. Milhares, milhões de cédulas de papel. O que fariam, ao descobrir que a quantidade de dinheiro, nesses lugares, é irrisória? É só para o troco? O que fariam, olhando para títulos de dívida? O que fariam, ao descobrir que nem sequer esses papéis ainda existem, tendo sido largamente substituídos por sinais eletrônicos?
    O Banco da França, pródigo em conceder créditos e empréstimos àqueles que, futuramente, esmagariam a Comuna, para esta cediam valores em doses homeopáticas.
    E nem assim a Comuna ousou tomar o Banco da França.
    Não temos comunardos, aqui. Mas queremos investigar o Cartel da Faria Lima. Quando nossos comunardos adentrarem os sacrossantos recintos da turma da bufunfa, e lá não encontrarem nem uma notinha de dois reais, o que farão? Dinheiro é coisa de pobre. A moeda do rico são os juros.
    Não há fraude no sistema financeiro. O sistema financeiro é, em si, uma fraude. Evidentemente, há fraudes e fraudes. Mas a do pobre é facilmente descoberta e punida. E a do Rico? Quem vai investigar?

  8. A 30 anos a dívida pública tem sido o maior problema do país. Em 2028, 97% do PIB será de dívida bruta. O governo Lula anunciou um pacote de corte de gastos que, na prática, só corta 30 bilhões e se afasta do número fantasioso de 70bi. O país é extremamente dependente de commodites e emite títulos da dívida em moeda estrangeira. Isso é o básico sobre o país que a maioria dos brasileiros de Q.I 83 não sabem. Em vez disso, eles preferem se agarrar a narrativas fracas como essa de manipulação, narrativa na qual foi desmentida pelo próprio indicado ao Bc do Lula kskskskskskskks. Eii, Brasileiro médio, o país não tem a mesma capacidade de endividamento de países desenvolvidos como EUA e Japão. O mercado só está especulando o obvio: O governo Lula não tem responsabilidade nenhuma com a dívida pública

  9. É prazeroso e enriquecedor ler as colunas do Nassif e os comentaristas. O JornalGGN é jornalismo de ponta. Ao dedicar o dia de hoje para leitura integral dos artigos e seus respectivos comentários, ao final extrai algumas reflexões conclusivas sobre o Sistema Monetário brasileiro na perspectiva do pretendido Sistema Monetário BRICS. Abordar as reflexões em detalhes implicaria num escrito longo em forma de um volumoso livro, razão óbvia para justificar este curto comentário apelando aos leitores que façam ilações e conexões de temas e conceitos econômicos para compreenderem o pensamento que ora exponho. Iniciemos com algumas premissas. “Quem domina a emissão de dinheiro pouco se importa quem faz as leis”, isto é, se o governo não controla a economia, ele não governa; é governado. “Enquanto os sistemas monetários estiverem atrelados (indexados) ao dólar, o FED controla as economias nacionais”. A autonomia ou independência de um Banco Central para conduzir a política monetária (no mundo são 25 países mais os países da zona do euro – BCE: https://investnews.com.br/economia/veja-a-lista-dos-paises-que-possuem-bancos-centrais-autonomos-ou-independentes/), apenas permite ações diretas internas nas economias nacionais. Regra geral, enquanto o dólar reinar soberano como moeda internacional, as economias nacionais serão dependentes direta ou indiretamente da política econômica dos EUA. “O Brasil, com seu sistema monetário sob absoluto controle privado e exigindo imediata intervenção do Estado para garantir a governabilidade nos termos constitucionais estabelecidos e executar uma política desenvolvimentista com distribuição justa da produção de riquezas”, portanto, precisa encontrar mecanismos de controle do seu sistema monetário, é o país em condições de reiniciar seu sistema econômico desvinculado do dólar, aproveitando-se das oportunidades do BRICS. As ameaças de retaliações por parte dos EUA será sempre a espada de Dâmocles sobre os países que ousarem soberania. O plano de justiça monetária internacional, coordenado pelo NDB, começa pela criação de uma moeda forte lastreada em ativos. A presidente do NDB já deu as coordenadas. Falta apenas decisão coletiva.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador