Gilberto Maringoni
Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
[email protected]

A esquerda e o moralismo fácil: o caso do PSOL e a PEC-5, por Gilberto Maringoni

Chamar alguém de corrupto por motivos diversos é coisa simples, que não estabelece contraposição imediata a interesses de classe e acaba por suscitar ações de fácil compreeensão do grande público. Afinal, trata-se de pregação sem "outro lado".

A esquerda e o moralismo fácil: o caso do PSOL e a PEC-5, por Gilberto Maringoni

A posição espantosa da bancada federal do PSOL em negar votos decisivos para a aprovação da PEC-5, que estabelece algum tipo de controle externo do Ministério Público, tem longa história, que vai muito além do partido. A diretriz está fundeada na sobreposição da moral sobre a política e na concepção de que a Justiça é instituição independente e que não pode se submeter a “interesses políticos”. Como se o MP não fosse instituição profundamente política. Voltemos a fita.

O udenismo moralista é extremamente sedutor para quem faz as denúncias. Chamar alguém de corrupto por motivos diversos é coisa simples, que não estabelece contraposição imediata a interesses de classe e acaba por suscitar ações de fácil compreeensão do grande público. Afinal, trata-se de pregação sem “outro lado”. Nunca jamais houve um debate entre defensores e críticos de corrupção, de forma explícita.

O PT RESSUSCITOU O UDENISMO na campanha pelo impeachment de Fernando Collor, ao colocar a corrupção como problema número 1 do país. Deputados do partido se tornaram virtuais Eliot Ness dos novos tempos e pauteiros dos meios de comunicação, por disporem muitas vezes de informações de cocheira. Recebiam, em troca, generosos espaços em páginas e telas. Collor representou a primeira tentativa da implantação plena do modelo neoliberal no país. Ações contra essa característica quase não foram feitas pela esquerda de então.

Claro que tais debates rasos nunca entraram para valer nas promíscuas relações entre Estado e grandes corporações, nas nomeações de financiastas para a área econômica de governos de direita e esquerda, em trocas de favores pouco claros entre governantes e maganos da iniciativa privada. Nada. Roubo bom para ser denunciado é roubo de merenda, mesmo assim se não envolver complicadas operações financeiras. Esse dá ibope.

O MINISTÉRIO PÙBLICO ganhou superpoderes na Constituição de 1988, muito por iniciativa da esquerda. O viés moralista pseudo-republicano continuou na prática da famigerada lista tríplice para a escolha do procurador-geral. A prática resultava não na escolha do melhor, mas do mais popular entre seus pares.

A mesma tentativa de agradar os meios de comunicação e o moralismo de classe média esteve presente nas desastrosas escolhas do PT para o STF. À exceção de Ricardo Lewandovsky, sequer o centro político foi contemplado. O partido foi atrás de adular aliados, como Sérgio Cabral, ou de aplacar a direita explícita, como Aécio Neves, quando não de terceirizar as indicações para o ex-ministro da Justiça de Lula, Marcio Thomaz Bastos, grande advogado, mas inegavelmente homem de direita e ex-apoiador do golpe de 1964.

A LEI DA FICHA-LIMPA – que serviu para condenar Lula à cadeia, é fruto da mesma concepção torta da luta política. Como é sabido, foi festejada, quando sancionada pelo ex-presidente, em 2010.

Assim, a posição do PSOL em rejeitar uma PEC que estabelecia um mínimo minimíssimo de controle aos arroubos do MP tem pedigri respeitável. Pode-se debitá-lo ao irrefreável flerte com o liberalismo político anti-Estado ainda presente no DNA da esquerda. E, diga-se de passagem, o PSOL tem a melhor bancada federal entre todos os partidos, formada por gente inatacável em qualquer quesito, que demonstra invejável coragem e competência, tanto no Legislativo, como fora dele.

Nosso DNA liberal é sério e precisamos – nós da esquerda – fazer uma grande DR nacional sobre isso. Ou seguiremos dando força à antipolítica que tantos prejuízos já causou ao país.

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

Este texto não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

9 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. É sério que a militância petista recalcada tá dando piti e fazendo caça às bruxas contra os votos do PSOL no parlamento contra uma proposta TOSCA bancada por gângsters do naipe de Arthur Lira? Óbvio que o MP precisa ter controle externo. Daí a apoiar essa PEC ridícula são anos-luz de distância, qualquer ser humano racional chega nessa conclusão óbvia e evidente…. Menos a militância do PT (stalinismo…) que ainda acredita que só o que impede a “revolução” é a dissidência do PSOL (trotskysmo…) e não vê o próprio umbigo. Você é capaz de fazer melhor, Gilberto. Tenta de novo.

  2. Maringoni esta coberto de razao, até ao reconhecer que o efeito seria mínimo minimissimo.

    Carlos Matus, o autor chileno ex-ministro de Allende e criador do metodo PES de planejamento estrategico situacional, me ensinou que se voce nao conhece a causa de um problema, nao pode encontrar a solucao.

    O CNMP nao e uma das causas dos poderes e debilidades do MPF, talvez seja uma das consequencias. O congresso, por sua vez, tambem nao e melhor do que o Conselho, ainda que seus membros pelo menos tenham sido eleitos por meio do voto popular.

    Submeter o CNMP a qualquer pequena ingerencia das bancadas da bala e do boi, por exemplo, e uma emenda pior do que o soneto.

    Espero nao ter sido moralista.

  3. Maringoni, como bom psolista, atribui aos erros do PT a culpa pelos erros de seu partido. Não satisfeito, afirma que que a bancada do PSOL é formada por gente inatacável, mesmo tendo cometido essa enorme burrada.

  4. Comentário bem superficial e de pouca valia real, pois desconsidera todo o contexto e a história do país nos anos 90 para tentar passar pano para partido ao qual o autor é filiado (ou, foi, nem importa), justamente o PSOL, acusado de forma generalizada de apoiar o lavajatismo, ao recusar o projeto da PEC 5, mesmo depois de todas as provas dos crimes cometidos pela turma do Dallangnol e do Moro.
    E, como cereja do bolo de um texto sem…. bem, melhor calar minha opinião… como cereja do bolo, a conclusão óbvia de que a culpa é do Lula e do PT!

    Aplausos pra você, que está pronto pra votar no Ciro, ou no Bolsonaro. No Lula? Nunca!

  5. Está passando da hora da esquerda apresentar seu discurso, sua pauta!
    O que será que o grupo de Fidel/Che Guevara discursou em cada povoado – à medida que adentraram “la Sierra Maestra” no início da Revolução Cubana – para contarem c/ o apoio popular ?

    https://fb.watch/8O8qK95W29/

  6. Repito aqui o que escrevi no Grupo Fórum 21. O é um saco de gatos (desculpe aí Maringoni). Lembro da Luciana Genro dando vivas à Lava Jato (quem sabe Tarso ou Freud expliquem), lembro do Cabo Daciolo, que comandou uma greve de policiais e por isso foi recrutado pelo Psol, com quem conseguiu seu primeiro mandato de deputado, lembro de tanta coisa deles que não dá para engolir. Mas eles têm também muita gente boa e têm feito muitas críticas acertadas ao PT. E, claro, os gatos sempre brigam dentro do saco, o que é muito bom. Para terminar, um observação do Peron (pelo menos dizem na Argentina que é dele). Não coloco entre aspas porque não é nada textual: Nós, peronistas, parece que estamos sempre nos digladiando, brigando. Não é nada disso, quando eles acham que estamos brigando nós estamos é nos reproduzindo, somos como os gatos. Que bom seria se isso pudesse ser aplicado à esquerda brasileira.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador