Em defesa, Bolsonaro diz que ameaça de estupro à deputada foi “reflexo”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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“Esta Casa aqui merece respeito, mas está muito longe de ser um convento. Assim sendo, a provocação veio exatamente dela”, disse o deputado. Destino da representação contra o ex-militar na Câmara é incerto

Jornal GGN – O deputado federal Jair Bolsonaro (PP) decidiu fazer uma defesa prévia durante a sessão do Conselho de Ética desta terça-feira (16). O grupo apreciou a ação por quebra de decoro parlamentar que PT, PSOL, PSB e PCdoB apresentou contra o ex-militar, por ameaça de estupro à deputada federal Maria do Rosário (PT). Bolsonaro argumentou que a agressão verbal à deputada não era motivo de enquadrá-lo novamente ao Conselho, pois foi uma “resposta reflexa” a uma suposta acusação por parte da petista.

Na semana passada, Bolsonaro se irritou com um discurso de Maria do Rosário crítico às Forças Armadas, e relembrou, na tribuna da Câmara, uma discussão que teve com ela em 2003. Na ocasião, aparentemente, ambos discordavam sobre o papel dos movimentos de direitos humanos. Ele entendeu que a petista o acusou de estuprador, e revidou dizendo que só não a estuprava porque ela “não merece”. Bolsonaro ainda empurrou Maria do Rosário e ameaçou lhe devolver um tapa no rosto. Posteriormente, em entrevista sobre o episódio polêmico, ele acrescentou que a ex-ministra “não merece” ser estuprada porque é “feia” e não faz seu tipo.

Ao Conselho de Ética, Bolsonaro apresentou o vídeo de 2003. Nele, não fica claro se Maria do Rosário chamou Bolsonaro de estuprador. A deputada argumentava que ele, com seus famigerados discursos de ódio, fomenta crimes como estupro, racismo, machismo e discriminação por questões de gênero e orientação sexual.

https://www.youtube.com/watch?v=atKHN_irOsQ]

A partir do vídeo, Bolsonaro fez sua defesa.

“Não estou aqui [hoje porque quero, nem provoquei nada no meu entender. Gostaria de falar o por que daquele vídeo. No dia 1º de novembro de 2003, aconteceu um crime bárbaro. Um casal estava acampado, ele com 19, ela com 16. Foram surpreendidos por cinco marginais. No dia seguinte, ele foi executado com um tiro na nuca, e a menina, segundo a polícia, foi estuprada em esquema de rodízio até o dia 5 de novembro. Neste dia 5, um menor de idade resolveu executá-la por golpes de facão. No dia 11, a Rede TV! me convidou para falar sobre redução da maioridade penal. Eu fui, não sabia quem mais seria entrevistado ali. Eu estava dando meus argumentos quando fui surpreendido pela já deputada na época, Maria do Rosário, que passou a me acusar de atos de violência e estupro. Eu ainda pergunto: ‘eu estuprador?’. Minha resposta foi uma resposta reflexa. Nós homens somos muito mais tolerantes a ofensas – até porque jogamos futebol, vamos para o estádio, etc – mas foi uma resposta reflexa que ocasionou aquele problema. Foi uma palavra proferida por mim a ela em cima da acusação de estuprador”, sustentou o deputado.

E continuou: “A questão de possível empurrão, ela veio para cima de mim. Não vou discutir isso aqui. O carnaval que fizeram comigo nesse dia foi o mesmo de agora, só que durou apenas um dia. Quando a Rede TV! decidiu por a fita no ar, por unanimidade, os deputados decidiram arquivar o processo contra mim”, lembrou.

“Esta Casa aqui merece respeito, mas está muito longe de ser um convento. Assim sendo, a provocação veio exatamente dela”, acrescentou Bolsonaro, referindo-se ao discurso de Maria do Rosário sobre a atuação das Forças Armadas na ditadura militar. “Eu já fui acredito que não possa ser julgado duas vezes pelo mesmo caso. Assim sendo, encerro minha defesa prévia e aguardo que o relator escolhido caminhe para o encerramento do caso”, finalizou.

Futuro do processo na Câmara

Segundo informações da Agência Câmara de notícias, esta foi a última reunião deliberativa do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar este ano. Presidente do colegiado, o deputado Ricardo Izar (PSD) admitiu que ainda há muitas dúvidas em relação a sequência desse processo: ele poderá ser arquivado ao final desta legislatura e ser reaberto na próxima, mas a palavra final ainda depende de uma consulta feita à Mesa Diretora da Câmara.

Izar ainda vai sortear na tarde desta terça o relator do processo, a partir de uma lista tríplice composta pelos deputados Marcos Rogério (PDT), Ronaldo Benedet (PMDB) e Rosana Ferreira (PV). Rosana não fará parte da próxima legislatura. Uma vez definido, o relator terá 10 dias para apresentar sua visão do caso. Mas tudo está indefinido graças à chegada do recesso parlamentar de final de ano.

Supremo vai analisar o caso

Maria do Rosário prometeu protocolar no final desta terça-feira, no Supremo Tribunal Federal (STF), uma queixa crime por injúria e calúnia contra Bolsonaro.

Ontem, a vice-procuradora-geral da República Ela Wiecko apresentou denúncia ao STF contra o pepista, por incitação ao crime de estupro. A petição foi apresentada à PGR pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos.

Caberá agora ao ministro Luiz Fux analisar o caso e, junto com Primeira Turma do STF, decidir se será aberta ação penal contra o parlamentar. Caso condenado, Bolsonaro pode ser punido com opena de 3 a 6 meses de prisão, mais multa.

Com informações da Agência Câmara

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

40 Comentários

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  1. Temos uma média de 50 mil

    Temos uma média de 50 mil estupros por ano, mais que homícidos dolosos, isso por que existem milhares de casos que não são denunciados!!!

    E a mídia perdendo tempo com uma discussão entre um imbecil e uma idiota!!!

  2. O HITLER TUPINIQUIM!

    Com o Hitler foi assim, fazia as suas travessuras, todos achavam engraçado, e passavam a mão na cabeça dele “deixando pra lá”. Quando vimos, estava invadindo a França, e bombardeando a Inglaterra…

  3. Não há no Direito Penal
    Não há no Direito Penal excludente de punibilidade para o “reflexo” referido por Bolsonaro. Ele nem sequer foi ofendido ou ameaçado. A conduta dele é injustificada e, como disse a denúncia, criminosa.

  4. ONZE ANOS E NÃO ESQUECEU?

    A retorsão é sempre imediata.

    Não se deve guardá-la no armário da cozinha.

    Deixar para dizer em público o que disse depois de onze anos e agora falar em ato reflexo ( retorsão)?

    É injhustificável.

    Não tem limites e quem não os possui não pode ser legislador.

     

  5. Parece que a valentia do

    Parece que a valentia do deputado arrefeceu, todo covarde é assim quando sente que vai se dar mal muda o discurso. Bolsonaro é uma chaga do parlamento brasileiro que deve ser extirpada, não há outro remédio que não seja a cassação dessa aberração. 

  6. Uma reflexão sobre a CNV

      Este verme e seus assemelhados, que resolveram emergir de nosso passado sombrio, este “arggiornamento” do mais pusilanime extremismo de direita, não apenas com veleidades politicas, mas o pior, a exacerbar conceitos xenofobos, separatistas, racistas, homofóbicos, machistas e outras atitudes nefastas, inimigas da democracia, são um produto de nossa “complacência” e covardia ulterior ,o um medo atavico, que é culpa de nossos politicos desde 1985.

       Caso tivesse ocorrido uma verdadeira Comissão Da Verdade, como ocorreu em outros paises da América Latina, logo após o fim da ditadura civil – militar, com julgamentos, condenações – claro que respeitando o direito de defesa e o processo legal, estas manifestações hj. não ocorreriam – a Verdade é um prato que deve ser servido quente, não esperar mais de 25 anos.

        Bolsonaro, seus asseclas e apoiadores, são um produto de nossa leniência – alguns podem até chamar hipocritamente de “governabilidade”, “anistia irrestrita” ou “acerto/conchavo” – mas para mim não, foi covardia, pois serpente se mata no ninho.

         Detalhe: È do jogo democratico que existam varias correntes no espectro politico, desde as mais conservadoras até a os revolucionários sociais, mas extremistas que coloquem em risco, mesmo que infimo, as instituições democraticas  e mesmo a evolução moral da sociedade, devem ser combatidos, por todos, tanto de “direita” quanto de “esquerda”.

  7. A desculpa reflexa

    A desculpa tradicional dos estupradores é que estuprou a moça porque foi provocado por ela. A vítima é ele, não ela.

    1. espero que não, mas…

      é como acredito que a coisa vai se resolver

      antecedentes pouco importam, não vem ao caso, apesar do histórico

      é assim que ficam cada vez mais violentos;

      e quando acontece de alguém não suportar mais e reagir, entre a tal “compreensão” a seu favor

  8. Indesculpável

    Mesmo que tenha sido provocado, uma reação dessas não tem justificativa: ou é fruto de uma burrice sem par ou de uma completa falta de caráter (achar que alguém merece ser estuprado, um crime brutal, é coisa de celerados ou psicopatas).

    É mais provável a segunda hipótese, pois o “nobre” deputado já fez homenagem ao militar que torturou José Genoíno e chamou este de covarde, sendo que estava preso.

  9. o mais incompreensível disso tudo…

    é que Bolsonaro poderá contar com a compreensão de quem vier a julgá-lo

    compreensão por interpretação de cada um

    é por isso que não aprende, não se preocupa e vai continuar violentando os outros, como sempre fez

    pessoas assim são assim porque sabem que não estão sozinhas

  10. “Bolsonaro apresentou o vídeo

    “Bolsonaro apresentou o vídeo de 2003. Nele, não fica claro se Maria do Rosário chamou Bolsonaro de estuprador”:

    Como eh que eh?!?!?!

    ELE apresentou o video?!  Eu quero saber se ele ia apresentar algum video que provasse que ela NAO o chamou de estuprador…

    Nao vou ter paciencia pra assistir, nao eh meu tipo de coisa.  Ele mentiu em 2003 e continua mentindo hoje.

    O que voces dizem do corte inicial?  (Nao preciso assistir, ja sei que a parte que a inocentava esta cortada.)

  11. Sei não …
    Estou achando que

    Sei não …

    Estou achando que não é dessa fez que este safado será cassado.

    Ele está batendo de frente com uma petista.

    Se fosse com alguma mulher do PSDB o PIG já teria lhe cassado.

    Estou achando pouca pressão da imprensa nacional em cima desse reaça.

    Estou enganado ? Espero que sim !

    1. pois é…

      se considerarmos que já aprontaram coisas muito piores contra petistas e quase que com a “compreensão” de todos da elite dominante…

      só me resta acrescentar, pois é

    2. Enganado? está não.

      Infelizmente Gilson, penso igual e você não está enganado, vão botar panos quentes mesmo.

      A Sheherazade já deu o ar da graça e está explicitamente defendendo o “rapaz” (atração mútua?), de certa forma ela concorda com o nobre deputado na questão da escolha do tipo feminino ideal pra ser violentada; e não tenho visto também o inclito Magno Malta esbravejando sua fúria contra esse cidadão.

      Vai escapar dessa também.

  12. alguém sabe…

    se nossa imprensa pelo menos citou a repercussão internacial geral e negativa, condenando a atitude?

    e ainda chamam o traste de “fazedor de leis”…………………….rs

  13.  
    Perfeita a defesa.
    Dá pra

     

    Perfeita a defesa.

    Dá pra ver que existiu um bate-boca ou se quiser termos mais técnicos uma “desinteligência” entre os dois.

    Como as agressões foram múltiplas não há o que se punir.

    Ainda mais porque ele já foi julgado à época e ele não pode ser julgado duas vezes pela mesma ofensa.

    Caso encerrado.

     

     

  14. A defesa e explicação da ciência pela conduta do nobre deputado

    “Bolsonaro argumentou que a agressão verbal à deputada não era motivo de enquadrá-lo novamente ao Conselho, pois foi uma “resposta reflexa” a uma suposta acusação por parte da petista.”

    Creio que a resposta reflexa do coitado do nobre deputado evidencia que agiu ou reagiu sob domínio mental do que os neurocientistas apelidaram de cérebros reptiliano e mamífero.

    “São as áreas que os cientistas apelidaram de cérebros reptiliano e mamífero. O reptiliano é a parte mais profunda e antiga do cérebro humano, pouco modificada pela evolução. Para se ter uma ideia, ela é basicamente igual em todos os vertebrados – o elo perdido entre aquele bebê da propaganda de fraldas e uma lagartixa. Regula funções básicas relacionadas à sobrevivência, como fome, respiração e digestão. E reações instintivas de defesa e ataque, ligadas ao sentido de autopreservação da espécie e à defesa territorial. Já o cérebro mamífero é equipado com habilidades para a convivência e a construção de relações sociais. Também conhecido como cérebro emocional, inclui o sistema límbico, estrutura cerebral que desperta emoções fortes, como raiva, medo e estresse associado à separação. Enquanto a parte mais primitiva do cérebro já vem bem desenvolvida desde o nascimento, a parte superior – nosso cérebro racional, composto pelo neocórtex e em particular pelos lobos frontais, que comanda o pensamento racional, a capacidade de solucionar problemas, criatividade e imaginação – só atinge sua plena maturidade por volta dos 25 anos de idade. “É uma das últimas partes do cérebro a se desenvolver, e permanece em constante construção durante os primeiros anos da vida”, diz o pediatra e psiquiatra Daniel Siegel em seu livro The Whole Brain Child (algo como “O cérebro integral do bebê”), sem tradução no Brasil.” 

    Para os mais preocupados com o intempestivo comportamento animal emocional brutal do nobre deputado atuando da Tribuna do Congresso e que ainda estão mais preocupados em intentar compreender a gênese etológica e médico-patológica desse despautério primitivo do coitado do deputado em plena Casa do Povo posto, logo abaixo, o artigo científico completo que tem a explicação da ciência biológica e do comportamento animal para esses casos que são próprios do crescimento e desenvolvimento da criança saudável, mas que podem explicar também a fase adulta atípica do fator humano, demasiado humano…

    Obs. Pais e mães também podem aproveitar a leitura do artigo para cuidar e educar melhor seus amáveis queridos bebês e filhos bem pequenos.

    Boa leitura a todos!

    “A ciência contra a birra

    Entenda por que as crianças reagem de forma explosiva diante dos menores desagrados e aprenda a controlar esses ataques de fúria com a ajuda da neuropediatria.

    Não importa de onde você venha: se existem crianças lá, elas fazem birra. Pode ser o filho de um feirante brasileiro, de um lorde inglês ou um pequeno candidato ao posto de Dalai Lama, no Tibete – todos são capazes de se jogar no chão, berrando e esmurrando o piso, diante de fatos triviais como a recusa do pai em comprar um brinquedo ou a interrupção da diversão com os coleguinhas na hora de tomar banho. Se você se pergunta por que coisas tão corriqueiras têm o poder de tirar os pequenos do sério – e, eles, você -, saiba que a explicação está no desenvolvimento incompleto de nosso cérebro quando nascemos. A mesma razão pela qual os filhotes humanos dependem tanto dos pais durante a infância e a adolescência. Em formação, volta e meia os cérebros dos pequenos parecem entrar em curto-circuito. 

    Uma das áreas que não nascem prontas é a parte superior da massa cinzenta, composta pelo neocórtex. Essa região, que corresponde a 85% do cérebro, é responsável por capacidades como reflexão, planejamento, imaginação, pensamento analítico e solução de problemas. Mas nos primeiros anos de vida, faltam conexões suficientes entre os neurônios que existem lá. “As crianças nascem com muitas áreas sem a camada de gordura que reveste os axônios, responsáveis pela transmissão dos sinais cerebrais entre as células nervosas”, explica o neuropediatra Mauro Muszkat, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). É como se um lustre viesse da fábrica com todas as lâmpadas, mas, em parte delas, faltassem os fios que permitem que elas acendam (não se preocupe, mais tarde, por volta dos seis anos de idade, tudo se iluminará). Na ausência de conexões neuronais adequadas nos primeiros quatro anos, a atividade mais intensa acontece nas partes inferiores, mais primitivas. 

    São as áreas que os cientistas apelidaram de cérebros reptiliano e mamífero. O primeiro é a parte mais profunda e antiga do cérebro humano, pouco modificada pela evolução. Para se ter uma ideia, ela é basicamente igual em todos os vertebrados – o elo perdido entre aquele bebê da propaganda de fraldas e uma lagartixa. Regula funções básicas relacionadas à sobrevivência, como fome, respiração e digestão. E reações instintivas de defesa e ataque, ligadas ao sentido de autopreservação da espécie e à defesa territorial. Já o cérebro mamífero é equipado com habilidades para a convivência e a construção de relações sociais. Também conhecido como cérebro emocional, inclui o sistema límbico, estrutura cerebral que desperta emoções fortes, como raiva, medo e estresse associado à separação. Enquanto a parte mais primitiva do cérebro já vem bem desenvolvida desde o nascimento, a parte superior – nosso cérebro racional, composto pelo neocórtex e em particular pelos lobos frontais, que comanda o pensamento racional, a capacidade de solucionar problemas, criatividade e imaginação – só atinge sua plena maturidade por volta dos 25 anos de idade. “É uma das últimas partes do cérebro a se desenvolver, e permanece em constante construção durante os primeiros anos da vida”, diz o pediatra e psiquiatra Daniel Siegel em seu livro The Whole Brain Child (algo como “O cérebro integral do bebê”), sem tradução no Brasil. Por isso, alguns comportamentos que queremos que nossas crianças demonstrem são praticamente impossíveis para elas. “A habilidade de tomar decisões equilibradas, controle emocional, ética e capacidade de prever as consequências de seus atos dependem de uma parte do cérebro que ainda está em formação, e que não está disponível para elas todo o tempo”, afirma Siegel, que também é pesquisador na Universidade da Califórnia.

     Cérebros em fúria

     Uma crise de birra significa que um de três alarmes – raiva, medo ou temor da separação – foi acionado na parte inferior, mais primitiva, do cérebro infantil. Esses sistemas, que fazem, por exemplo, com que o bebê se sinta terrivelmente inseguro ao menor afastamento dos pais, ou se assuste e chore diante de um barulho, foram originalmente desenvolvidos para proteger os filhotes de situações perigosas, como ser devorados por um predador. “No mundo moderno, os estímulos para acionar os sistemas de medo ou raiva podem ser você saindo do quarto, uma porta batendo ou um coleguinha pegando um brinquedo dele”, diz a psicóloga Margot Sunderland, autora do livro The Science of Parenting (que poderia ser traduzido como “A Ciência da criação de filhos”), sem edição no Brasil. “Sem o auxílio da parte superior do cérebro para racionalizar e se acalmar, o resultado é que a criança fica superexcitada, com altos níveis de substâncias químicas associadas ao estresse percorrendo seu corpo e cérebro”, afirma Sunderland, diretora de educação e treinamento no Centre for Child Mental Health, em Londres. 

    Nessas situações, a amígdala, uma das regiões da parte inferior do cérebro, normalmente disparada em situações de perigo, bloqueia as conexões da parte racional com a parte mais instintiva. “É como se um portãozinho de segurança fosse colocado na base de uma escada, tornando o acesso ao cérebro superior inalcançável”, diz Daniel Siegel. Ou seja: não bastasse o cérebro ainda estar em construção, quando os pequenos estão sob forte estresse, algumas áreas dele ficam inacessíveis às crianças pequenas durante o momento da birra. E aí, mesmo sendo muito bem educada, fica difícil se controlar. 

    Trabalho em equipe

     Até os quatro anos, essa falta de sintonia na cabeça dos pequenos tem um agravante: nessa idade, os dois hemisférios cerebrais ainda não trabalham de forma totalmente integrada. Se você já conviveu com uma criança pequena – seja seu filho, sobrinho ou aquele menino barulhento do apartamento de cima -, deve ter percebido que até essa idade as crises de fúria parecem nunca ter fim. Nessa fase, ainda não há fibras mielinizadas suficientes no corpo caloso, que conecta os dois hemisférios cerebrais. Como Tico e Teco ainda não se conhecem muito bem, falta um trabalho em equipe que é crucial para um comportamento equilibrado. Enquanto o lado esquerdo é responsável pelo pensamento lógico, linear e pela linguagem, o direito é intuitivo, emocional e não-verbal. Quando esse último trabalha sozinho, somos dominados por sensações físicas e emoções. 

    É mais ou menos o que acontece com as crianças de menos de quatro anos, nas quais esse lado do cérebro é dominante. Elas ainda não têm a habilidade de recorrer à lógica e às palavras para expressar seus sentimentos e vivem completamente no presente. “Por isso são capazes de deixar tudo para se ajoelhar e observar com toda a atenção uma joaninha atravessar a calçada, sem se preocupar se estão atrasadas”, diz o pediatra. É essa inundação emocional também que explica a choradeira desproporcional do pequeno simplesmente porque você não deixou que ele mexesse num objeto na casa que vocês foram visitar.

    Driblando o choro

    Mas, se não dá para evitar as birras, é possível pelo menos contorná-las. O truque: tentar ajudar o bebê a integrar melhor as diferentes partes do cérebro, colocar as cabecinhas para trabalhar de forma coordenada, com a lógica do lado esquerdo do cérebro ajudando a controlar as emoções do lado direito, e a parte superior permitindo racionalizar e analisar as reações instintivas e viscerais da parte inferior. Como acontece com os adultos (pelo menos é o que esperamos). 

    Por isso, segundo o pediatra Daniel Siegel, no auge da crise da criança, quando o hemisfério direito está predominante, o melhor é abordá-la de forma emocional. Para isso, quando começar a birra, abrace-a, use expressões faciais empáticas e um tom de voz carinhoso. Traduza em palavras os sentimentos que ela própria não consegue descrever – já que seu hemisfério esquerdo, responsável pela linguagem, não está no comando. Diga frases como: “Eu entendo que você ficou muito chateado porque seu coleguinha teve de ir embora. É muito chato quando isso acontece”. Isso vai acalmá-la. Depois, ajude-a a retomar a conexão com o hemisfério esquerdo, pedindo que ela mesma recorra à linguagem para explicar por que ficou chateada e propondo alternativas para resolver o problema. Pode dizer algo como: “O que você acha que a gente pode fazer para ficar divertido de novo? Do que nós dois poderíamos brincar?”. 

    Como até os quatro anos de idade a atividade no hemisfério esquerdo – responsável pelo pensamento lógico – é limitada, não surtirá nenhum efeito argumentar com a criança. Nem gaste seu latim explicando por que você não pode comprar aquele brinquedo agora. Mesmo que você seja muito didático, as probabilidades de que ela entenda são pequenas. Como não existe uma percepção clara de linearidade e passagem do tempo, tampouco adiantará prometer para depois. O modo mais rápido de acabar com a birra, sugerem os especialistas, é atrair a atenção da criança para outra coisa, seja mostrando outro objeto interessante ou fazendo algo inusitado para distrair a criança do motivo da crise. Vale mostrar o elevador do shopping ou convidá-la para um passeio na escada rolante. 

    Outra estratégia para evitar os acessos de manha é tentar ajudar a criança a acessar a parte superior do cérebro, em vez de atiçar a parte inferior, mais reativa e instintiva. Para isso, ao vê-la tentar pegar um enfeite de vidro na sala, em vez de gritar “não” e impedi-la – o que pode provocar uma reação furiosa -, proponha algo que a obrigará a considerar um plano e fazer uma escolha, atividades relacionadas à parte superior do cérebro. “Vamos brincar lá fora? O que você acha que poderíamos fazer?”. 

    E se nada disso funcionar, você ainda tem uma opção: colocar a criança para correr. É sério. A atividade física pode alterar a química cerebral. Para evitar que os hormônios ligados ao estresse assumam o comando, convide-a para correr no jardim ou brincar de não deixar o balão cair – e veja como ela muda de astral. 

    Paz e amor em família

    Outra dica valiosa para evitar birras e diminuir a quantidade delas a longo prazo: controle-se você também. O neuropediatra Mauro Muzkat, da Unifesp, alerta que o estado emocional dos pais tem grande impacto sobre o comportamento dos filhos e o nível de excitação da criança. “Graças aos neurônios-espelho, as crianças reproduzem desde as expressões até as sensações dos pais”, diz ele. “Se a criança está tensa, os pais não devem entrar no mesmo circuito reativo. Isso só vai pôr mais lenha na fogueira”, afirma. 

    Se, ao contrário, você conseguir manter uma boa atitude cada vez que um novo acesso de fúria da criança acontecer, terá boas chances de ajudá-la a programar seu cérebro para ficar mais calma também a longo prazo. Afinal, pesquisas revelaram que o cérebro é plástico, moldável. Ou seja: as dicas aqui valem para os momentos de birra, mas poderão surtir efeitos positivos durante todo o resto da vida da criança.

    Sobrevivendo ao shopping

     Distrair a atenção é melhor do que prometer para depois

     Eu quero agora

     As compras mal começaram e a cada novo corredor a criança pede algo que você não está disposto a comprar. Começa então um berreiro de enormes proporções.

    Depois não

     Como a criança tem limitada a atividade no hemisfério esquerdo do cérebro, que cuida da percepção de tempo, não vai adiantar prometer para depois.

    Ah, o outro…!

    O melhor nesse momento é atrair a atenção da criança para outra coisa, como para aquele ursinho que você trouxe na bolsa e que ela já não via há algum tempo.

    Ponha a birra para correr 

    A atividade física evita que o mecanismo da birra seja ativado 

    Sob estresse, o cérebro da criança bloqueia as conexões da parte inferior com a superior. Isso impede a criança de recorrer ao neocórtex para controlar suas emoções quando é contrariada. É aí que começa a explosão de raiva. 

    Ao perceber que uma dessas crises se aproxima, coloque a criança para se movimentar. Vale brincar com um balão ou apostar corrida no jardim. A atividade física dispara a produção de neurotransmissores associados ao bem-estar, que evitam que os hormônios do estresse assumam o comando.

    Para acabar com a crise

    Ajude o bebê a ser mais racional

    Seja carinhoso

     Abaixe-se à altura da criança e, com tom de voz carinhoso, tente traduzir em palavras os sentimentos que a própria criança não consegue descrever.

     Imponha limites

     Só então ajude-a pensar na situação, explicando o que está errado e mostrando limites. “Você ficou chateado, mas não pode morder os amigos. Dói.”

    Para saber mais 

    The Whole Brain Child 
    Daniel J. Siegel, The Random House, 2011″

     

  15. Embora Boçalnaro mereça ser estuprado (talvez por um jumento)…

    Embora esse Boçalnaro mereça ser estuprado (talvez até por um jumento) não queremos que o seja. Queremos apenas a sua cassação!

    Embora essa patética figura defenda a pena de morte e a tortura, não desejamos isso a ele. Desejamos apenas a aplicação das leis e das regras de decoro no parlamento.

    Se ele não tem dignidade para ser um representante do povo no Congresso, que se procure um ambiente condizente com sua capacitação moral e intelectual, onde ele possa praticar sua atividade de bufão. Talvez num presídio ele possa discutir questões sobre de estupro, tortura, pena de morte etc. com pessoas igualmente capazes de argumentar, contra-argumentar e até concordar com suas posições… e até de pô-las em prática.

  16. É muita hipocrisia

    É muita hipocrisia junta.

    Está mais que óbvio que a maioria quer a cassação do imbecil do Bolsonaro pelo que ele representa, por defender idéias que eles abominam, e não por este caso específico, onde, de maneira alguma houve incitação ao estupro.

    Se esse pessoal que infesta agora as redes sociais chamando o imbecil de estuprador estivesse mesmo preocupado com estupros, estariam pressionando a justiça ou a sua polícia local a agir contra estupradores. Estariam denunciando diariamente em suas redes sociais a prostituição infantil qe acontece na praia que frequentam ou nas esquinas de suas cidades.

    A questão aqui é calar o Bolsonaro aproveitando esse gancho, numa clara demonstração que são democratas de araque.

    Imagina o que esse povo iria querer fazer com o governador da Louisiana, que vai dar o pontapé inicial de sua campanha presidencial com um comício-oração em Janeiro para combater o gaysismo e o aborto, segundo ele, a causa da ira de Deus manifesta em catástrofes como o Katrina. O cara é um completo imbecil, mas foi reeleito governador com maioria absoluta e nem por falar e fazer asneiras como essas deve se cogitar sua cassação. 

    Pessoal por aqui tem que remar muito ainda prá se achar democrata.

     

    1. Não se faça de desentendido:

      Não se faça de desentendido: há uma diferença enorme entre ser democrata e convalidar cretinismos. 

      O que Bolsonaro representa mesmo além da boçalidade, da truculência, do destempero, do desprezo ao regime democrático e do deboche às vítimas de uma ditadura cruel?

      A democracia, se não sabes, ou fazes de conta, não aceita tudo. Esse sistema que tu apregoas tem outro nome: anomia.

      Teus argumentos te descredencializa para querer dar lições de democracia. 

       

      1. É só o Deputado mais votado

        É só o Deputado mais votado em um dos maiores estados da união, portanto, representa alguma coisa, ou alguém.

        E com um dos menores orçamentos, porque os votos dele são ideológico, diferente da maioria dos deputados.

        Se prá você é pouco cassar os votos desse eleitores…

        Ah, você gostaria que fossem elegíveis apenas aqueles que lhe agradam, democrata de araque.

        1. Com um pouco mais de esforço

          Com um pouco mais de esforço com certeza irás entender o que está em discussão.

          Quem questiona a legitimidade desse parlamentar? Isso está fora de questão. Como é do teu feitio, à falta de argumentos recorres à falácias. 

          Sou péssimo desenhista, por isso vou me ater mesmo ao literal. Para o exercício pleno do seu papel de representante da população o eleito necessita de certas prerrogativas e estas são listadas na Constituição. Uma delas é a imunidade parlamentar(deixo para ti o papel de saber que “diabéisso”). 

          Mas como tudo na vida, essa prerrogativa tem seus limites, ou seja, não é absoluta. Se fosse, transformaria congressistas em semi-deuses. Tanto é assim que os parlamentos nos seus regulamentos internos prevém e disponibilizam medidas para indiciar, processar e punir todos aqueles ultrapassam os limites do aceitável e razoável. Estamos nos referindo ao código de ética. 

          Seja sempre do contra; isso é um direito teu. Mas, por favor, com argumentos, tá? 

  17. Simples assim

    Como sou descrente do ser humano, para mim, existir um SER da espécie bolsonariana é plenamente aceitável.

    O que jamais entenderei é existir 400 mil votos para ele.. Ai sim minha perplexidade.

    Simples assim.

  18. Não é o Bolsonaro que clama por atuação enérgica e implacável…

    Não é o Bolsonaro que clama por atuação enérgica e implacável contra criminosos. Então agora eu quero ver ele defender a atuação do judiciário contra criminosos que cometem injúria, calúnia e incitação ao crime como ele praticou.

    Dispor dos direitos dos outros é fácil. Agora ele corre para se proteger com as mesmas leis que tanto despreza ao pregar a ditadura militar.

    Agora o criminoso é você Bolsonaro. O que você tem a dizer? Vai continuar a desprezar o Estado Democrático de Direito que lhe assegura o direito de defesa que você tanto necessita nessas horas?

    1. desculpas

      Se ele pedisse desculpas, seria a cereja do bolo pois significaria pisar na bendeira que ele sustenta: fascismo. Mas ele não pedira pois seria pisar em seus próprios medos e, pisar sobre os próprios medos, quem fez analise sabe o que significa.

  19. Mas o menino pobre que foi

    Mas o menino pobre que foi algemado no poste? Não estava ele apenas “refletindo” a agressão da sociedade? Já disse, mandem o Bolsonaro para Pedrinhas, vai voltar com outra cabeça…com sorte.

  20. bolsonaro

    Luiz Nassif, somente você não viu e ouviu ela dizer” sim ” quando bolsonaro perguntou eu sou estuprador e ela respondeu novamente “sim”.

  21. Defesa de Bolsonaro

    Para mim e para milhões de brasileiros o deputado Jair Bolsonaro agiu corretamente na defesa por sua resposta, afinal de contas não se acusa ninguém de estuprador, mas ela fez isso apenas para desonrá-lo e tirá-lo do sério.  O Parlamentar em nenhum momento disse que ela merecia ser estuprada, pelo contrário, ele disse que ela: NÃO MERECIA SER ESTUPRADA. Usou-se nessa frase, o termo de negação, pois ninguém do mundo merece isso. Todos da Câmara são cientes que o Deputado Jair Bolsonaro fez um projeto de “castração química”, e esse foi arquivado por Maria do Rosário juntamente com a grande maioria da Câmara, que consideraram o estupro ser algo totalmente natural para sociedade e que não havia necessidade de aprovação do tal projeto. Significa dizer que tanto Maria do Rosário quanto a maioria dos parlamentares estão “pouco se lixando” para questão do estupro.  Será que ela foi rejeitada por algum estuprador e como não conseguiu ninguém, aí escolheu Jair Bolsonaro, um homem: digno, íntegro, honrado, competente, atuante, corajoso, muito família e temente a Deus, para prejudicá-lo, perante opinião pública.  Sem sombra de dúvida que o tiro saiu pela culatra mais uma vez, os Bolsonaros estão crescendo nas pesquisas cada vez mais, porque os cidadãos brasileiros sabem que eles são o que tem de melhor na política brasileira para governabilidade desse País.

     

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