A desinformação no coração dos atos de terrorismo
por Eliara Santana
O acompanhamento reiterado e cuidadoso que fizemos no âmbito do Observatório das Eleições ao longo deste ano eleitoral de 2022 mostrou a potência desse ecossistema de desinformação que se consolidou no Brasil com Jair Bolsonaro. Essa potência se tornou mais que evidente ontem, 8 de janeiro, nos atos bárbaros e terroristas em Brasília, que foram protagonizados por bolsonaristas insatisfeitos com o resultado das eleições que deram a vitória a Lula.
Apesar das medidas importantes tomadas pelo TSE ao longo do ano – de suspender contas, pedir fim da monetização de sites e portais, determinar a retirada de conteúdos desinformativos, entre outras ações – aquilo que compõe e é a essência desse ecossistema se manteve bem íntegro, funcionando. Os grupos estavam articulados e mobilizados nas redes (inclusive utilizando codinomes para chamarem aos atos golpistas), havia financiamento e células de alguns líderes principais fora do Brasil.
O ecossistema brasileiro de desinformação deve ser compreendido como um sistema complexo de produção e disseminação de conteúdo falso e falseado (ressignificado, com novos sentidos) que envolve vários atores e várias etapas: produção, circulação, consumo, reprodução, criação de agendas de agendas. E, sobretudo no Brasil, é um sistema que se estrutura em suporte a determinado projeto político e que se construiu discursivamente para isso.
O problema do país, portanto, não é “apenas” a disseminação em larga escala de boatos ou notícias falsas. É um problema sistêmico de ressignificação da realidade no cenário de um país complexo. Porque não estamos falando somente de boatos. Estamos falando de um processo bem estruturado de produção e disseminação de conteúdo intencionalmente falso. Uma produção sistemática de notícias e fatos que recriam o dado real com um viés propositadamente mentiroso. Ou seja, a distorção é deliberada e cria sim uma realidade paralela.
Portanto, como venho reiterando há bastante tempo, a desinformação precisa ser entendida em sua dimensão ampla, estruturada, que envolve diversos escopos – das redes sociais, às plataformas, ao sistema de mídia tradicional –, sendo parte muito significativa, vital, de uma estratégia política da extrema direita. E que encontrou um terreno muito fértil no Brasil, a partir de várias configurações, com aporte financeiro do poder público e da iniciativa privada, com uma pauta moral muito bem definida, com a ascensão das religiões neopentecostais e o uso que fazem das mídias. Como fenômeno, é uma estrutura sustentada pela articulação de momentos distintos: produção, circulação, consumo, reprodução. E para fazer frente a esse ecossistema, é extremamente importante que as ações se deem nos vários campos – em relação ao ambiente digital, mas também considerando-se o sistema tradicional de mídia. E, sobretudo, é fundamental articular essas ações a programas bem construídos e consolidados de letramento midiático, educação para a mídia.
Nesse cenário, as ações imediatas da AGU no que toca ao combate à articulação da barbárie via ecossistema de desinformação, em relação aos atos terroristas ocorridos em Brasília, foram extremamente acertadas e merecem aplausos. Destaco aqui duas medidas: 1) Determinação imediata às plataformas de mídias e de redes sociais que identifiquem e removam os conteúdos que promovam incitação de atos de invasão e depredação de prédios públicos federais em todo o território nacional; 2) Determinação imediata às plataformas de mídias e de redes sociais para a interrupção de monetização de perfis e transmissão das mídias sociais que possam promover, de qualquer forma, os atos de invasão e depredação de prédios públicos em todos o território nacional.
Os ataques aos Três Poderes da República – materializados nos ataques aos prédios dessas instituições, Congresso Nacional, STF e Palácio do Planalto – não são obras da espontaneidade, de manifestantes aleatórios que se juntaram. Eles estavam sendo articulados desde o resultado das eleições no segundo turno – porque o ecossistema, com todos aqueles gominhos, está vivo e pulsante. Nesse sentido, as plataformas não podem existir como se estivessem desconectadas da vida democrática – elas devem entender que garantir liberdade de expressão não é garantir espaço para a promoção da barbárie pela extrema direita. Garantir liberdade de expressão e de manifestação não é garantir um covil para abrigar o terrorismo da extrema direita.
Eliara Santana é uma jornalista brasileira e doutora em Linguística e Língua Portuguesa, com foco em Análise do Discurso. Ela é pesquisadora do Observatório das eleições (INCT IDDC UFMG) e pesquisadora colaboradora do IEL/Unicamp. Desenvolve pesquisa sobre desinformação, desinfodemia e letramento midiático no Brasil.
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Regulamentação das plataformas em âmbitos nacionais não é solução de nada. Menos ainda criar leis punitivistas, q alimentam o Leviatã e vão descambar para censuras a partir do subjetivismo ativista de juízes. O problema não são os conteúdos, são a forma que os algoritmos invisíveis os trata. Não é à toa que a China e Rússia criaram suas próprias plataformas nacionais.
* A China está desenvolvendo um novo protocolo de internet, afim de substituir o protocolo TCP/IP sob controle dos EUA. Eles irão isolar suas redes internas, uma espécie de intranet no país. As redes sociais são um novo meio de comunicação de massas, e assim como ocorreu com o cinema, rádio e tv, a população irá se adaptar a elas! Ou alguém ainda vê pessoas em pânico com radionovelas de Guerra dos Mundos (Orson Welles) ?
* Querem para realmente com isso? Hajam no mundo material, militares e financiadores. Caçar Bolsonaro e lemmings bucha de canhão não resolverá. Vão é transformar Bolsonaro em um mártir.
GGN – Vocês não poderiam mudar a formatação deste chat e colocar a possibilidade de PARÁGRAFOS? É horrível escrever e principalmente ler os comentários, virão um paredão de letras e palavras. Talvez por isso haja muito menos comentários e discussões entre os leitores como era antigamente
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uai, eu consegui fazer parágrafo.
vou pedir ajuda ao TI para analisar se é um bug alguns não conseguirem.