As pedras preciosas no sapato do bolsonarismo, por Luis Felipe Miguel

O caso chega bem na hora que o PL estava pondo em marcha o plano de projetar Michelle Bolsonaro como liderança política nacional.

As pedras preciosas no sapato do bolsonarismo

por Luis Felipe Miguel

O escândalo das joias sauditas atingiu em cheio o bolsonarismo. A sucessão de desculpas furadas e as revelações cada vez mais cabeludas já deixaram claro que não existe explicação possível. Propina ou apropriação indébita, as joias só poderiam ficar com os Bolsonaro ferindo a lei.

É um escândalo que, por sua natureza, tende a produzir grande estrago político. É visível, é palpável – não são cifras abstratas, intangíveis, mas objetos de ouro e pedras preciosas. Fácil de ser entendido pelo público, saboroso como fofoca.

O caso chega bem na hora que o PL estava pondo em marcha o plano de projetar Michelle Bolsonaro como liderança política nacional. A inelegibilidade de Jair é quase inevitável e ela parece uma boa aposta.

Há muitos rumores sobre a história passada de Michelle. Nenhum deles tem grande importância. O fato é que ela é mais esperta, mais articulada que o marido, sabe expressar a agenda extremista de maneira mais “suave”, veste com mais credibilidade a fantasia de cristã e encontra maior receptividade entre as mulheres, público majoritariamente avesso ao bolsonarismo.

As joias sauditas têm botado água nessa fervura. A primeira-dama gananciosa, envolvida em manobras ilegais, que o caso desenha, não combina nada com a serva do Senhor que se apresenta nos cultos evangélicos.

Para a base bolsonarista radical, o caso não terá importância. Ela é invulnerável aos fatos. Mas Michelle era a esperança de expandir essa base. Aí a coisa pega.

Se a máscara de Michelle realmente cair, a extrema-direita sofre um duro revés. Ainda mais que o caso respinga diretamente nos outros possíveis sucessores de Jair – seus filhos Flávio e Eduardo.

E não custa lembrar: todo o caso é uma eloquente exaltação ao serviço público brasileiro.

Só o funcionalismo público concursado, estável, pode resistir à pressão dos poderosos e garantir a moralidade pública.

Defender o serviço público é defender a república, a democracia e a sociedade.

Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de O colapso da democracia no Brasil (Expressão Popular).

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

1 Comentário

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  1. Vou repetir comentário de outro post.

    O melhor é assistir o Alexandre Garcia defendendo o Jair (sim eu vejo e não vomito). Não sei se é cômico ou trágico

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