Temer tentará abafar crise, mas é convencido a fazer pronunciamento

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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O encontro grampeado do dono da JBS com Temer ocorreu logo após a ida de Temer ao aniversário de 50 anos de carreira do jornalista Ricardo Noblat, onde se reuniu com outros políticos e figuras públicas – Montagem: Pragmatismo Político
 
Jornal GGN – Na maior crise que atingiu o governo de Michel Temer, com a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pelo mandatário grampeada, o peemedebista entendeu que a tentativa de “abafar” os fatos não dará certo desta vez, antecipa como uma das primeiras respostas que não irá renunciar e planeja um pronunciamento oficial nesta quinta-feira (18).
 
A repercussão da que se tornou a mais drástica delação premiada até hoje da Operação Lava Jato, pelas mãos do dono do frigorífico JBS, Joesley Batista, mostrou a Temer que suas anteriores tentativas de ignorar as polêmicas que atingem seu governo, seus aliados e sua equipe ministerial não surtirão efeitos.
 
No dia seguinte à divulgação da acusação de que o atual presidente deu aval e concordou com a compra do silêncio de nada menos do que Eduardo Cunha (PMDB), deputado cassado e preso na Operação Lava Jato, Temer cancelou sua agenda oficial e marcou uma reunião de urgência com ministros e aliadosentre eles Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-geral da Presidência).
 
Ainda no primeiro dos encontros realizado na noite desta quarta (17), um dos ministros da equipe do peemedebista que participou da reunião disse que a palavra de ordem era “ir à luta”, “renúncia nem pensar” e que o mandatário “quer ver a fita da sua conversa com Joesley”. 
 
A informação do ministro não identificado foi divulgada pela coluna de Jorge Bastos Moreno, no Globo. A referência do ministro era ao dono do frigorífico, que levou um gravador, sob mediação de autoridades policiais, a um encontro no Palácio do Jaburu com o mandatário, no dia 7 de março deste ano.
 
A conversa ocorreu logo após a passagem de Temer no aniversário de 50 anos de carreira do jornalista Ricardo Noblat, com diversos políticos e Gilmar Mendes. Cerca de 40 minutos de conversa foram registrados pelo gravador de Joesley Batista.
 
Em determinado momento, segundo a reportagem de O Globo que foi o primeiro a trazer a notícia, o dono da JBS disse que estava dando uma mesada a Eduardo Cunha e a Lúcio Funaro, ambos presos na Lava Jato e que guardam os mais explosivos segredos dos bastidores políticos da corrupção.
 
O dinheiro, narrou Joesley, era para a compra de silêncio. A reação do presidente da República foi de satisfação. Diminuiu o tom, mas marcado pela motivação disse: “Tem que manter isso, viu?”. O empresário explicou aos investigadores que a decisão sobre a mesada não partiu inicialmente do mandatário, mas que Michel Temer “tinha pleno conhecimento da operação cala-boca”, assim noticiou o jornal.
 
Em nota de resposta, o peemedebista afirma que “jamais” pediu pagamentos para compra do silêncio de Cunha, negou ter “autorizado” qualquer tipo de remessa para evitar a delação do antigo aliado de Temer, relação que findou após ser preso na Lava Jato. 
 
Na conversa, Joesley ainda pediu a ajuda de Temer para resolver uma pendência do grupo que integra o frigorífico, o J&F, e o presidente recomendou conversar com Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), deputado de confiança do mandatário. “Posso falar tudo com ele?”, perguntou o empresário. “Tudo”, confirmou Temer. 
 
O tema da conversa era que o Cade terminasse com uma disputa entre a Petrobras e o preço do gás fornecido à termelétrica EPE, que revendia a preços exorbitantes. Gilvandro Araújo, presidente em exercício do Cade, teria resolvido a questão para Joesley, a pedido de Rodrigo Loures, por uma propina de 5% ao deputado, que seriam pagos por R$ 500 mil semanais durante 20 anos, o tempo de contrato da EPE. Rodrigo Loures disse que a proposta do pagamento seria levado ao “presidente”, no caso Temer. Ele foi outro dos principais alvos dos mandados da Polícia Federal na manhã desta quinta. 
 
Já na manhã deste dia 18, Temer cancelou toda a agenda presidencial que ocupava 18 audiências, e teve outros encontros com seu núcleo político para discutir as estratégias de posicionamento. Até o momento, o mandatário insiste que irá esperar a íntegra dos áudios, antes de um pronunciamento, mas sua equipe pressiona que a fala seja imediata.
 
Por isso, o clima que rodeia o Palácio do Planalto é de um pronunciamento, ainda nesta quinta-feira, sem definições ou expectativas ainda de horário e formato. O mandatário deve manter a tentativa de desvincular seu nome das acusações, ainda que a medida já seja vista como fracassada por seus próprios assessores. 
 
Segundo informações recentes, Michel Temer deverá pedir cautela em seu pronunciamento e defender que o país não pode ser paralisado pelas acusações, das quais negará sua responsabilidade. Mas com a expectativa da divulgação de novos diálogos gravados por Joesley, o presidente poderá adiar a fala oficial.
 
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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Quando todo mundo pensa que

    Quando todo mundo pensa que Pallocci está esperando moro para “cantar”, o stf já está com a letra da música na mão. Está agora só colocando a música. Lembranças ao sistema financeiro, lembanças ao pig, lembranças ao poder judiciário. A delação da JBS vai ser conversa de menino

    Dessa vez, a REPÚBLICA DOS VARA MOLE vai abaixo. É o fim da SURUBACRACIA.

     

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