Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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Relembrar é existir (a vanguarda do atraso), por Izaias Almada

Em todos esses momentos de crises e definições como agora com as eleições presidenciais, São Paulo colocou-se ao lado do mais nefasto reacionarismo

Relembrar é existir (a vanguarda do atraso)

por Izaias Almada

A reeleição do governador Geraldo Alckmin, a eleição do senador José Serra, a expressiva votação de Aécio Neves e Marina Silva no último domingo, o número de votos obtidos pelos deputados Russomano e Feliciano (a lista desse apagão anti-humanista é extensa e enfadonha), embora confirmem o ‘exercício da democracia’, confirmam também que o estado de São Paulo se torna de fato o representante legítimo da vanguarda do atraso brasileiro.

Uma espécie de ‘volume morto’ do conservadorismo onde, na falta de ideias progressistas na superfície, o país pode se abastecer no subsolo da mediocridade. No esgoto da intolerância e do preconceito. As declarações do imortal sociólogo carioca FHC, após a apuração de votos, apontam nesta triste direção.

Paira sobre São Paulo o ectoplasma de 1932 quando, naquele ano, se tentou resistir ao avanço industrializante da Revolução de 1930 sob as bombachas de Getúlio Vargas. Personagem que deveria ser esquecido pelos brasileiros na opinião do mesmo imortal sociólogo acima lembrado.

Ectoplasma que sempre se manifesta, aliás, quando o país toma rumos que desagradam àquilo que se convencionou chamar de elite brasileira: homens, mulheres e instituições que vivem sob o guarda chuva de um capitalismo também ele atrasado em muitos de seus aspectos, quando ainda se pode – invocando perverso exemplo – encontrar o trabalho escravo em fazendas ou empresas espalhadas pelo país.

Ou quando se manifestam aqui e ali algumas idéias econômicas e suas contrapartidas sociais eivadas de um rançoso dejà vu, cuja insistência na prática de seus fundamentos tem deixado várias das principais economias mundiais em apuros significativos.

Há que insistir e alertar as novas gerações, ao pessoal do “é muito mais que vinte centavos”, à desorganizada “voz das ruas que é contra tudo o que está aí” que sem consciência política e conhecimento histórico, a direita come o mingau pela beirada. Ou tenta fazê-lo… Dentro ou fora da lei, é bom que não se esqueça desse importante pormenor, nessa caminhada para o segundo turno. Pior ainda quando a extrema direita arreganha os dentes…

A manipulação e as mentiras da imprensa foram de tal ordem nos últimos anos que até a esquerda, ou parte dela pelo menos, encheu-se de dúvidas sobre si mesma não sabendo se apoiava ou criticava o governo.

Muitos, inclusive, caíram na rede do “mensalão” e aderiram ao coro cotidiano da direita insuflado pela mídia e de um judiciário irresponsável, que criou um cordão de isolamento entre os desmandos, a impunidade e a verdadeira corrupção praticada há quinhentos anos em nosso país, sobretudo nos recentes governos tucanos, hipocrisia essa que ajudou a difundir a mística de que a política está dividida entre os honestos e os desonestos. Qualquer coisa minimamente semelhante a céu e inferno… Cinismo, má fé e pobreza intelectual a um só tempo.

Foi assim com Getúlio Vargas, com Juscelino em 1955 (ocasião em que um general de exército nacionalista deu um basta nos golpistas de direita que tentaram impedir a posse de Juscelino), com João Goulart. E tem sido assim com Lula e Dilma há doze anos.

Em todos esses momentos de crises e definições como agora com as eleições presidenciais, São Paulo colocou-se ao lado do mais nefasto reacionarismo, contribuindo com seu peso econômico para comprar, por conta própria ou com ajuda internacional, a lei e a ordem.

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Estão aí as gordas verbas publicitárias, sobretudo de empresas transnacionais e dos governos federal, estadual e municipal, a fazer a alegria de jornalões, revistões e televisões para mais uma vez comprovar a tese. Sem contar com a presença de algumas ONGs espalhadas pelo país que não se sabe muito bem o que fazem e de onde recebem dinheiro para atuar em solo brasileiro. E contra os brasileiros.

Contudo, a obsessão costuma ser inimiga do discernimento e a mentira costuma se transformar em mãe de crises políticas e sociais profundas. A História está repleta de exemplos nesse sentido. E de surpresas também, é bom que se diga como a do general nacionalista Lott em 1955.

A comemoração pela votação obtida por Aécio Neves no primeiro turno abriu a boca de um dragão cujo hálito recende a fascismo, a intolerância, a vingança e ao ódio contra as camadas mais pobres da população. Contra a soberania e o progresso brasileiros.

A direita e sua nova geração de militantes digitais, apoiados e insuflados por velhas raposas da política nacional agitam bandeiras perigosas para um Brasil pós-monárquico que, até esse início de século XXI, jamais dormiu vinte e cinco anos seguidos no berço esplendido da democracia. Repito: vinte e cinco anos seguidos.

A quem interessa o ódio e o preconceito? O que fariam no governo aqueles que já quebraram o país três vezes, cuja noção de soberania e independência não cabe numa caixa de fósforos, arautos subservientes da dependência e do servilismo, dilapidadores do patrimônio nacional, sucateadores das Forças Armadas, cáftens da brasilidade e da alma nacional?

No próximo dia 26 o Brasil escolhe se avança mais um passo na direção de se tornar uma grande nação, soberana e desenvolvida, ou se escolhe alinhar-se com a vanguarda do atraso.       

Escrito em Outubro de 2014, quando Aécio Neves tentou negar o resultado das urnas, por acaso, eletrônicas. Depois disso, o golpe de 2016, Temer e o “ele não”: o Brasil começou a descer o patamar da civilização que, no momento atual, asfixia dentro de carros policiais, chacinas são executadas e elogiadas pelo atual presidente e a Amazônia é posta à venda despudoradamente.

Relembrar é existir!

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro. Nascido em BH, em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

1 Comentário

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  1. Insinuar que José Serra, Alckmin e Marina Silva são ‘reacionários’ ou mesmo ‘conservadores’ e que pertencem a ‘extrema direita’ -simplesmente por serem críticos a corrupção dos governos Lulla e a incompetência dos governos Dilma – é desonestidade intelectual que encontra respaldo na bolha Lulo-Petista. Quase 10 anos depois e Vocês ainda estão nessa? Tem eleição em 2 meses e Lulla começa a perder terreno pro verdadeiro ‘fascista’ de ‘extrema direita’, Jair Bolsonaro. Quando é que vcs vão descer do salto alto? Pra que reeditam isso se defendem uma chapa com Alckmin como vice? A eleição não está ganha e certamente vai ao segundo turno, graças a PEC Kamikaze eleitoreira, contra a qual congressistas do PT nada fizeram. Essa PEC eleitoreira de 600 reais é o que está ajudando Bolsonaro a crescer nas pesquisas entre os mais pobres, apesar de todos os desmandos autoritários, corrupção e da criminosa resposta do governo `a Pandemia. Vale lembrar que o senador José Serra foi o único que votou contra a PEC eleitoreira de Bolsonaro. Deixem de arrogância e revanchismo vazio, é por bastardizarem o termo ‘fascista’, dispensando-o a gente de bem como Marina, Serra e Alckmin e todo e qualquer opositor que ‘ousa’ discordar do PT, que chafurdaram na lama em 2018 -e com isso levaram o Brasil todo pro horror de hoje. Acordem. Se não querem fazer auto-crítica, ao menos parem com essa ridícula ‘luta política’ vazia e olhem de frente pros verdadeiros fascistas que teremos que enfrentar no segundo turno de 2022. E que mesmo com a vitória de Lulla/Alckmin, não vão ir embora, pois são uma parcela infelizmente expressiva da população. Ainda é tempo de conciliar com as pessoas de bem que defendem a Democracia. Se conseguirem vencer a eleição, vão precisar de todo o apoio desses em quem jogam lama agora, pois os ‘verdadeiros fascistas’ não vão a lugar algum, eles moram ao lado..

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