Adílio, o príncipe negro da Gávea
por Eduardo Ramos
Em 1974 a torcida do Flamengo conheceu um verdadeiro gênio do futebol, um craque elegante que jogava de cabeça erguida, dava dribles e passes desconcertantes, pensem num Arrascaeta com um “algo a mais” na técnica refinada – sim, isso existia há 50 anos – para terem a dimensão do que estou tentando descrever. E não, ainda não é de Adílio que estou falando, mas de seu antecessor no meio campo do Flamengo, Geraldo, morto precocemente aos 22 anos em 1976, depois de virar um dos ídolos daquele Flamengo de Zico, Júnior, Leandro e cia.
É importante lembrarmos desse monstro sagrado, Geraldo, para termos noção de como Adílio surgiu no Flamengo, quem ele teve que substituir e para que saibamos, que “o tamanho” de um, era o “tamanho” do outro.
Ainda de luto pela morte de Geraldo, entristecida, o futebol perdendo um pouco de sua graça aos domingos no Maracanã, a torcida do Flamengo começou a ver/ouvir um zum zum zum na mídia: que “um tal de Adílio”, também cria da Gávea, era um extra-classe, se não tão portentoso quanto o falecido Geraldo, “quase tão craque quanto, quem sabe mais???” – algumas manchetes e opiniões vistos e ouvidos à época.
Frequentador do Maracanã daqueles de ir ver o Flamengo em jogos contra os times chamados “pequenos”, em jogos noturnos com chuva, tamanha a paixão, se não peguei o primeiro jogo de Adílio, peguei o segundo ou o terceiro, na condição de titular.
Nunca esqueci as primeiras impressões que aquele jovem negro, magro, elegante como Geraldo, uma técnica daquelas raras, que faz a gente rir extasiado só de vê-lo controlar a bola, dar um drible ou um passe mágico, como os do Ganso hoje no Fluminense, lembro de ter chorado e rido ao mesmo tempo, a saudade ainda latejante de Geraldo, que jamais saberemos onde poderia ter chegado, e assistindo o que – peculiaridades de cada um à parte – parecia ser a reencarnação do meu ídolo. Porque em algumas coisas, eles eram muito semelhantes!
A elegância, por exemplo, usando o velho chavão, que aqui cai à perfeição, Geraldo e Adílio foram aquele tipo de jogadores que pareciam “jogar vestidos de smoking”. A bola, tratada com carinho, sem pontapés, bicos, furadas, matadas de mal jeito em qualquer parte do corpo, ao contrário, extensões naturais de seus corpos, grudadas no peito, no pé, ou lançadas com precisão absurda ao companheiro mais bem colocado. Ambos reis do campo de batalha esportiva, admirados pelos companheiros, temidos pelos adversários, amados pela maior e mais apaixonada torcida do planeta.
Tive esse prazer e privilégio, de ver “Flamengos” no tempo de Zico, que nunca se resumiam ao ídolo-mor do clube. Um Flamengo de junto a Zico viu Mozer e Marinho, Leandro e Júnior, Tita e Lico, Nunes e Andrade, Carpegiane e Cláudio Adão, meu Deus, quantos craques naquelas gerações vencedoras do maior do mundo…? E entre esses, Geraldo e Adílio, como se o destino não quisesse deixar órfã a maior nação do universo futebol clube.
Mas hoje, meu tributo é todo a eles, só para ser justo: a Geraldo, o antecessor magnífico, e a Adílio, que conseguiu o que parecia impossível: fazer a gente, mesmo sentindo saudades de Geraldo, reconhecer que ali, nos gramados da vida, um príncipe negro vestido de vermelho e preto era o rei do meio campo rubro-negro – Adílio!
Vai com Deus, craque sagrado. E Se houver um campo de futebol aí do outro lado, dá um abraço fraterno no Geraldo, e vão encantar com sua magia os espectadores dessas terras do Nunca.
Obrigado, Adílio, por nos ter feito sorrir, maravilhados, por tantas e tantas vezes…
(eduardo ramos)
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Adílio, o negrinho bom de molejo.
Adílio eterno.
Obrigado Adílio!