Imbróglio econômico brasileiro, por Rodrigo Medeiros

Seria politicamente viável desindexar o salário mínimo, como desejam os neoliberais? Não seria melhor elevar a produtividade da economia?

Imbróglio econômico brasileiro

por Rodrigo Medeiros

Em artigo publicado na revista Conjuntura Econômica, de setembro, o professor Nelson Marconi, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), trouxe informações e reflexões sobre o nosso imbróglio econômico. Afinal, seria desejável provocar uma recessão para forçar a diminuição da inflação?

Marconi levantou outras questões interessantes. Seria politicamente viável desindexar o salário mínimo, como desejam os neoliberais? Não seria melhor elevar a produtividade da economia, algo que passaria pelo crescimento dos investimentos públicos, restritos pela regra do arcabouço fiscal, e dos investimentos privados, desestimulados pela elevada taxa de juros?

Segundo o acadêmico, “apenas os chamados serviços não essenciais e não intensivos em mão de obra parecem ter respondido mais intensamente à variação da taxa de juros”. O ajuste fiscal que corta gastos públicos com serviços essenciais desloca demanda para os serviços privados. Ademais, a influência da taxa de juros sobre os preços administrados e não comercializáveis é baixa.

Desde a implantação do regime de metas de inflação, em 1999, poucos períodos registraram inflação acumulada em 12 meses em patamares inferiores a 3%, ou 4%. Conforme mostrou Marconi, a inflação superou esses números inclusive nos períodos em que foram gerados superávits fiscais primários. Para o acadêmico, “não são apenas fatores associados à demanda que pressionam os preços, principalmente em relação aos bens e serviços não comercializáveis e monitorados”.

Indexações ainda persistem após trinta anos do Plano Real (1994). Os preços administrados refletem tal questão de forma persistente, sem que muitos serviços públicos “privatizados”, sob contratos de concessão, tenham evoluído positivamente em termos da qualidade dos serviços prestados à população.

O Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) de agosto de 2024, do Ministério do Trabalho e Emprego, revelou que, para o conjunto do território nacional, o salário médio de admissão foi de R$ 2.156,86. Em síntese, o emprego celetista no Brasil apresentou expansão, registrando saldo positivo de 232.513 postos de trabalho no mês.

No acumulado do ano, entre janeiro e agosto, o saldo positivo foi de 1.726.489 empregos. Os grandes grupos de atividades registraram saldos positivos. O Sudeste liderou o saldo positivo de empregos, com 96.241 postos em agosto. No Espírito Santo, o saldo positivo foi de 2.515 postos, ou seja, um saldo positivo de apenas 0,28% em relação ao mês anterior.

O salário médio de admissão foi de R$ 1.994,45 no Espírito Santo, abaixo das médias salariais de admissão do Sudeste e do Brasil. Em relação ao saldo geral de empregos em agosto, apenas 10% demandaram o ensino superior completo. Em paralelo, o IBGE vem revelando que a informalidade é crônica para 39% dos trabalhadores ocupados.    

A desindustrialização, o empobrecimento da estrutura produtiva, a reforma trabalhista e o enfraquecimento dos sindicatos contribuíram para as perdas dos trabalhadores brasileiros. Enquanto a economia brasileira não for alavancada por setores mais dinâmicos, a geração de empregos continuará concentrada em atividades com menores remunerações, com alta ou baixa inflação.

Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)

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