Augusto Cesar Barreto Rocha
Augusto César Barreto Rocha é Professor Associado da UFAM. Possui Doutorado em Engenharia de Transportes pela UFRJ (2009), mestrado em Engenharia de Produção pela UFSC (2002), especialização em Gestão da Inovação pela Universidade de Santiago de Compostela-Espanha (2000) e graduação em Processamento de Dados pela UFAM (1998).
[email protected]

Navegação na Amazônia: desafios da Seca de 2024, por Augusto Rocha

Estamos em 2024 e insistimos em lidar com a Amazônia ignorando os que nela moram e as instituições locais, mesmo sendo federal ou estadual.

Rio Madeira – Defesa Civil AM

Navegação na Amazônia: desafios da Seca de 2024

por Augusto Cesar Barreto Rocha

A aproximação da seca de 2024 na Amazônia traz desafios para a navegação em seus rios. A água fica mais baixa e menos volumosa, comprometendo a segurança das embarcações. Em alguns lugares, as embarcações maiores não conseguem passar. Dois dos locais mais problemáticos de 2023 foram a Foz do Rio Madeira e a região do Tabocal, onde os navios maiores, com contêineres, que seguiriam para Manaus, ficaram retidos. Uma obra de dragagem emergencial custou cerca de R$ 80 milhões e falhou em desobstruir a “hidrovia” – só a chuva resolveu o problema.

Mesmo não tendo dado certo, vamos fazer de novo. Há um plano para a dragagem da região por mais cinco anos. Será que isso é a melhor solução? O Plano de Dragagem de Manutenção Aquaviária (PADMA) e o Plano de Sinalização Náutica visam garantir a manutenção contínua da navegabilidade nos trechos estratégicos dos rios, incluindo do Rio Amazonas (de Manaus a Itacoatiara) e do Rio Solimões (de Coari a Codajás, Tabatinga a Benjamin Constant, e Benjamin Constant a São Paulo de Olivença). Tudo isso por R$ 100 milhões ao ano, por cinco anos. Em vez de nos preocuparmos se pagamos demais no ano passado ou se este projeto está barato, por que vamos repetir o que não funcionou?

Teria sido mais conveniente um estudo detido para avaliar qual a melhor solução de engenharia para manter uma faixa operacional acima de 12 metros de calado nas regiões mencionadas. Teria sido mais apropriado um grupo de estudo envolvendo o Serviço Geológico do Brasil (SGB), universidades, como a Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), liderados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), pois estas instituições possuem o conhecimento dos rios, do clima e das possíveis alternativas.

O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) possui especialistas em aquecimento global. Se a causa da seca foi o aquecimento global, teremos muito mais o que investigar nestes rios amazônicos. Acontece que a solução que está projetada, aparentemente, é repetir a dragagem ineficaz. Tomara que chova e que o rio não fique tão seco quanto no ano passado, pois poderemos ter o mesmo padrão de insucesso repetido e contratado por cinco anos. Ou será que ficaremos com a falsa impressão de que a dragagem foi útil?

Precisamos de soluções de longo prazo para os sistemas de transportes da Amazônia. Estamos em 2024 e insistimos em lidar com a Amazônia ignorando os que nela moram e as instituições locais, mesmo que sejam de estrutura federal ou estadual. Para ilustrar, no Laboratório de Meteorologia da UEA existe um estudo muito preciso sobre o Rio Madeira que poderia ser expandido para todos os rios da Amazônia. Com seus modelos, em conjunto com o SGB, poderíamos ter a construção de previsões muito assertivas.

A região Amazônica precisa de um Plano Sistêmico de Logística e Transportes, já que o Plano Nacional de Logística e Transportes não tem atendido satisfatoriamente à região. Enquanto isto não for feito, gastaremos recursos a esmo, como se sanassem os problemas estruturais. Está na hora de mudarmos a forma de lidar com a natureza, as instituições e as pessoas da Amazônia.

Augusto Cesar Barreto Rocha – Professor da UFAM.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

“Democracia é coisa frágil. Defendê-la requer um jornalismo corajoso e contundente. Junte-se a nós: www.catarse.me/jornalggn

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador