Silvio Almeida, o intelectual da era pós-Bolsonaro

Agora, a bandeira do desenvolvimento social ganhou sua melhor expressão nos estudos e análises de Silvio, que completam os diagnósticos que estão sendo produzidos por uma nova geração de economistas espalhados por vários institutos de economia do país.

  tempos não via  clareza de raciocínio e  acuidade intelectual como a de Silvio Almeida. Sua visão sistêmica sobre racismo é um corte radical nas discussões sobre  desenvolvimentismo e sobre inclusão.

Ele consolida a ideia de que não há desenvolvimento sem inclusão. E expõe com uma clareza insuperável a condição brasileira, de periferia do capitalismo, de atraso Ou seja, a inclusão não é essencial apenas do ponto de vista civilizatório, político e social mas como pré-condição para o próprio desenvolvimento.

Silvio não é um mero intelectual que a mídia descobre de tempos em tempos e torna moda. É um pensador do nível dos maiores e será um essencial para o período pós-Bolsonaro, que começa a ser construído.

Ele retoma a linha de pensamento de Celso Furtado – do desenvolvimento como um processo integrado, econômico, político e cultural.

Em meados dos anos 2.000 escrevi uma série de colunas na Folha – que consolidei, depois, em meu livro “Os Cabeças de Planilha” – dentro dessa concepção, juntando os diversos setores que compunham uma visão sistêmica de desenvolvimento. O economista Carlos Lessa publicou a série no site do BNDES e analistas da embaixada da China me procuraram, curiosos sobre o centro que estaria elaborando tais políticas.

Não havia centro alguma. Era apenas uma consolidação de experiências em curso, mas desenvolvidas de forma fragmentada por sucessivos governos. As observações eram fruto da observação empírica: uma Nação só seria plena se aproveitasse o potencial de todos seus membros, dos cidadãos, através de políticas de igualdade, e das empresas, através do estímulo às pequenas e micro empresas.

Mas, repito, eram conclusões em cima de observações empíricas sobre o mundo real da economia.

O que Silvio faz vai muito além: é a sistematização de conceitos econômicos, sociais, históricos, mas colocando como centro a questão da inclusão racial – como símbolo de todas as inclusões necessárias para se construir uma Nação plena.

Há tempos, o Instituto de Economia da Unicamp já tinha enveredado pelo conceito do desenvolvimento social – em contraposição ao desenvolvimentismo estritamente econômico da escola da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), que defendia a industrialização como centro de todo desenvolvimento. De fato, a industrialização é um passo essencial. Mas, no aparato teórico dos desenvolvimentistas, não havia espaço para a questão da desigualdade e da pobreza.

O Programa de Desenvolvimento Produtivo (PDP) da Fiocruz, foi o que melhor sintetizou os novos tempos. Por ele, todo gasto do governo com saúde seria tratado como investimento, usando o poder da compra pública para transferência de tecnologia e desenvolvimento da produção interna. Criava-se, ali, o conceito das indústrias de bem estar, que poderia ser o grande ponto de inserção econômica do Brasil no mundo. Mas a experiência ficou solta, sem uma sistematização que a transformasse em bandeira, extensiva a outros setores, como educação.

Agora, a bandeira do desenvolvimento social ganhou sua melhor expressão nos estudos e análises de Silvio, que completam os diagnósticos que estão sendo produzidos por uma nova geração de economistas espalhados por vários institutos de economia do país.

Luis Nassif

7 Comentários

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  1. Papa Francisco reuniu dois mil jovens de 120 Países, economistas, empreendedores e premio Nobel em Assisi na Itália para discutir alternativas um novo modelo econômico pós covid.
    O summit “Economy of Francesco” inspirado ao Santo Francisco de Assis invoca modelos de desenvolvimento sustentáveis onde os jovens e os excluídos sejam protagonistas.
    O painel das doze propostas e deliberações são disponibilizadas no “Qsservatore Romano” entre outros:
    lavoro e cura;
    management e dono;
    finanza e umanità
    agricoltura e giustizia;
    energia e povertà;
    profitto e vocazione;
    policies for happiness;
    Co2 della disuguaglianza;
    business e pace;
    economia è donna;
    imprese in transizione;
    vita e stili di vita

  2. Ugo, ótima informação . A gente sabe que nada fica parado, mas nem sempre temos a informação de onde e como as coisas estão caminhando. Admiro demais o papa Francisco e sua atuação. Estamos tão imersos neste horror atual que é muito importante termos noticias como esse artigo do Nassif e indicações como a sua.

  3. Eita 20 de novembro.
    GGN seguindo a pauta-culpa White Middle Class.
    O pré keneysianismo do moço é tão anacrônico quanto desenvolvimentismo que ignora que as relações centro periferia nunca permitiriam em welfare state tropical, senhores e senhoras.
    É a história e a escala minha gente.
    Agora, com o capitalismo industrial agonizante, sufocado por montanhas de antivalor, os “gênios” da Unicamp querem rodar a roda ao contrário?
    Nenhuma forma de capitalismo pode ser “social” (arf), porque a sociabilidade capitalista só existe para confirmar sua natureza excludente, hierarquizante e…anti-social!!!!!!!!
    Valha-nos Maria da Conceição Tavares.
    De onde vêm estes idiotas?

  4. É só no meu note e celular?
    Letrinhas do tamanho de contrato de seguro, mas eu li o artigo todo seu oftalmo.
    Nos comentários as letras estão melhores.
    É alguam tática para expulsar leitores?

  5. O grande merito dos intelectuais negros e que so eles podem nos explicar o que e escravismo e, portanto, colonialismo e racismo, que sao duas faces da mesma moeda.

    Nao e a toa que eles emergiram com forca apos a ascensao vertical do colonialismo. Bolsonaro e os bolsonaristas sao colonos estrangeiros como os boers na Africa do Sul, os belgas no Congo, os espanhois no Mexico e nos Andes e os portugueses, italianos, alemaes, japoneses, ingleses, franceses e americanos no Brasil.

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