As críticas americanas à elevação das tarifas de importação

Do Estadão

Para Itamaraty, carta dos EUA é ‘inaceitável’

Porta-voz do ministério critica ‘o conteúdo e a forma’ do documento no qual o representante de Comércio americano ataca a elevação de tarifas

Lisandra Paraguassu, da Agência Estado

BRASÍLIA – O governo brasileiro reagiu duramente à carta em que o representante de Comércio dos Estados Unidos, Ron Kirk, criticou a política do País de elevação de tarifas de importação. “Injustificável” e “inaceitável” foram alguns dos adjetivos usados pelo Itamaraty para classificar o documento, recebido ontem à tarde pelo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota.

“Não gostamos nem do conteúdo nem da forma. Consideramos injustificadas as críticas, não têm fundamento”, afirmou o porta-voz do Itamaraty, embaixador Tovar Nunes. “Temos um relacionamento muito bom com os Estados Unidos e essa forma de comunicação não é aceitável, não ajuda e não reflete esse bom relacionamento.”

O tom do texto de Kirk, que tem o posto equivalente a um ministro do Comércio Exterior, incomodou o governo brasileiro. Há uma semana, o embaixador americano na Organização Mundial do Comércio, Michael Punke, também havia reclamado da decisão brasileira de aumentar as tarifas de importação de 100 produtos e a reação de Patriota não foi tão dura.

Em entrevista ao Estado, o ministro afirmou que considerava naturais as críticas feitas na organização, um fórum onde os países podem levantar suas “preocupações comerciais”. Ainda assim, lembrou que o Brasil é um dos quatro países que mais importam produtos americanos e que também medidas dos EUA benéficas às suas empresas, como o chamado afrouxamento quantitativo realizado há uma semana, prejudicam economias emergentes.

“O Brasil tem levantado na OMC um debate sobre câmbio e comércio e vê com muita preocupação essas medidas de afrouxamento quantitativo, que têm um impacto extremamente deletério sobre economias em desenvolvimento. Economias que inclusive estão ajudando o mundo desenvolvido com o seu dinamismo econômico e com a absorção de produtos exportados pelos EUA e por europeus”, disse.

“Além da retórica temos de olhar para realidade, e há questões que precisam ser legitimamente debatidas. O Brasil as têm levado para a OMC e esperamos que também sejam tratadas com seriedade.”

Tom da carta. A diferença agora é, especialmente, o tom da carta do representante americano. No texto, Kirk não só começa dizendo que escreve para declarar “em termos fortes e claros” a preocupação dos EUA com a política brasileira, como acusa o governo brasileiro de tomar medidas protecionistas e de mirar especificamente as importações americanas. Além disso, o tom de ameaça – Kirk diz que medidas como essa podem levar a respostas à altura e podem prejudicar as relações dos dois países – foi considerado desrespeitoso.

O Brasil teve, em 2011, um déficit comercial de US$ 8,2 bilhões com os EUA. Este ano, entre janeiro e agosto, a diferença na balança comercial já alcança US$ 2,7 bilhões contra o Brasil. Além disso, as ações americanas para proteger seu comércio também não costumam levar em conta os problemas que causam nos outros países.

A recente decisão do Fed de comprar US$ 40 bilhões em títulos públicos para injetar dinheiro na economia foi classificada pela presidente Dilma Rousseff como um “tsunami monetário”, que fortalece artificialmente as moedas dos demais países e prejudica o comércio. No quesito subsídios, o Congresso americano negocia uma nova lei agrícola, a “Farm Bill”, que pode ser ainda mais danosa para os produtos agrícolas que a atual, apesar de o país já ter perdido contenciosos na OMC por subsídios.

Luis Nassif

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