Adélio Bispo fala pela primeira vez com a família após a facada contra Bolsonaro

Quatro anos depois, Adélio conseguiu, enfim, ter contato com a irmã

do Brasil 247

Adélio fala pela 1a. vez com a família depois da facada em Juiz de Fora e reclama de injustiça: “Levei pé na b…”

Por Joaquim de Carvalho*

Quatro anos e três meses depois de ser preso sob acusação de desferir uma facada em Jair Bolsonaro, Adélio Bispo de Oliveira recebeu nesta sexta-feira (9/12) a primeira visita de um parente e reclamou que não teve defesa no processo em que foi considerado inimputável e, em consequência, cumpre medida de segurança no presídio federal de Campo Grande, considerado de segurança máxima.

“Ele disse que o advogado pegou o caso e depois deu um pé na bunda dele”, afirmou Maria das Graças, pouco depois da visita realizada na sede da Defensoria Pública da União em Montes Claros, onde mora.

A visita foi realizada depois de uma luta que durou muito tempo e só foi autorizada na semana passada, três meses depois de Jair Bolsonaro perder a eleição.

Maria das Graças tenta visitar o irmão desde 2019, quando pediu ao advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior para viabilizar o contato.

Segundo ela, Zanone disse que providenciaria a visita “em tempo oportuno” e não retornou mais.

No início deste ano, Maria das Graças procurou a Defensoria Pública Pública da União em Campo Grande. 

Chegou a participar de uma audiência virtual com o defensor Sílvio Rogério Grotto de Oliveira, enviou documentos solicitados, mas o cadastro dela como visitante no presídio não foi deferido.

Quatro meses depois, a Defensoria informou que os documentos já estavam expirados e era necessário começar um novo processo de cadastramento.

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Sílvio deixou o setor que cuidava de casos desse tipo, e a Defensoria Pública enviou a seguinte mensagem em setembro:

“Lembramos que a própria MARIA DAS GRAÇAS RAMOS DE OLIVEIRA poderá tratar sobre seu cadastro de visitante com a Divisão de Reabilitação da Penitenciária Federal”.

O cadastro de Maria das Graças só foi efetivado depois que uma advogada do Ceará, Edna Teixeira, insistiu para falar comigo num programa ao vivo pelo Space Twitter, em que eu era entrevistado.

O tema era outro, mas Edna afirmou que acompanha minhas reportagens sobre o caso Adélio-Bolsonaro e entendia que era necessário buscar justiça.

Aceitei falar com ela e, dois meses depois, o caso Adélio começou a tomar outro rumo. Além da visita, Edna, juntamente com o experiente advogado Alfredo Marques, entrou com ação no fórum de Montes Claros para que Maria das Graças Oliveira obtenha a curatela do irmão.

O juiz Marcos Antonio Ferreira, da 2a. Vara de Família e Sucessões, decidiu remeter o processo para Campo Grande, onde Adélio reside como interno do presídio federal.

Com a curatela, os advogados terão condições de verificar o processo na Justiça Federal de Juiz de Fora, que é mantido sob sigilo.

“Nós queremos conhecer a verdade, porque há muitas perguntas sem resposta neste caso”, disse o advogado Alfredo.

Edna, por sua vez, considera um dever cívico buscar essas respostas e, ao mesmo, garantir direitos humanos para Adélio.

“Se ele é doente mental, como diz o laudo que nunca foi tornado público, ele precisa ser tratado em hospital, e não permanecer em cela isolada num presídio de segurança máxima”, declara.

Não há nenhuma implicação ética no movimento dos advogados, já que, desde 2020, Zanone deixou de ser advogado no processo, depois que Adélio, em carta de próprio punho, comunicou à Justiça Federal em Juiz de Fora e à Defensoria Pública da União em Campo Grande que não queria mais a banca de Zanone em sua defesa.

O advogado que procurou Adélio horas depois do evento da facada (ou suposta facada) em Juiz de Fora acabou acabou nomeado pelo juiz federal Bruno Savino curador processual, depois da carta em que Adélio renunciava à sua defesa.

A Defensoria Pública acabou assumindo a defesa no processo. Porém já era tarde, pois a sentença já havia transitado em julgado. À Defensoria, cabia acompanhar o cumprimento da medida de segurança.

A família de Adélio nunca foi procurada para manifestar se tinha interesse de assumir a curatela processual, que independe da curatela civil. Se obtiver essa decisão da Justiça estadual em Campo Grande, Maria das Graças falará por ele em todas as esferas.

Zanone, no entanto, continua a ser equivocadamente apresentado pela imprensa como advogado de Adélio, embora não tenha mais poderes para tanto.

Maria das Graças chorou depois de falar com o irmão na manhã desta sexta. Respirou fundo e disse: “Nós somos pobres, mas somos uma família e temos condições de cuidar um do outro. E eu vou cuidar do meu irmão”.

A visita virtual durou apenas vinte minutos, mas Maria das Graças disse que teve oportunidade de perguntar ao irmão o que aconteceu naquele 6 de setembro de 2018.

O irmão, que insistia em falar da injustiça de que considera estar sendo vítima, respondeu que foi tudo muito confuso. “Ele disse que tinha uma multidão e decidiu entrar no meio dela. Logo depois, foi levado para outra sala”, comentou.

Segundo Maria das Graças, Adélio não respondeu se está tomando remédios. Um defensor público que conversou com Adélio antes da reunião começar disse que se impressionou com ele.

“O que nós sempre ouvimos é que Adélio não falava coisa com coisa. Ele tem plena consciência de sua situação processual”, afirmou.

Tanto com o defensor quanto com a irmã, Adélio, entretanto, acabou levando a conversa para uma situação em que vê conspiração por todo o lado.

Isso faz dele inimputável? Não seria o caso de dar a ele oportunidade de falar com outros especialistas em psiquiatria e buscar ouvir sua versão com mais profundidade, tendo a seu lado profissionais do Direito que querem, efetivamente, promover a Justiça?

Com a visita de Maria das Graças nesta sexta-feira, resultado da luta de advogados, talvez uma nova página comece a ser escrita nesse caso ainda obscuro. 

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Procurei o advogado Zanone para falar a respeito da declaração de Adélio. Recebi dele a seguinte mensagem:

A defesa foi feita dentro de todos os parâmetros legais, médicos e científicos. Mas se ele tiver uma cura, mesmo que parcial, poderá fazer tratamento ambulatório.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem um ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

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