Abertura comercial e armadilha da renda média: Os entraves para a retomada da industrialização no Brasil

Ex-ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira constatou que não há desenvolvimento econômico sem industrialização e que países devem investir também em serviços sofisticados

Renato Araújo – Agência Brasil

O Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF) e a Editora Blucher lançaram, na última quarta-feira (22), o livro Neoindustrialização Brasileira, em que economistas, acadêmicos e funcionários públicos apontam caminhos para que o país retome o crescimento industrial e, consequentemente, o desenvolvimento econômico.

O evento de abertura contou com a participação de um dos autores do livro, o professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda.

Para iniciar o debate, Bresser-Pereira constatou que na teoria econômica desenvolvimentista está claro que a industrialização é um elemento absolutamente central do processo de desenvolvimento econômico.

“Há uma razão histórica evidente para isso. Todos os países que se desenvolveram se industrializaram, sem nenhuma exceção. Então, a gente pode simplesmente, por isso, afirmar que a industrialização é necessária”, adiantou.

Ao longo de sua fala, o ex-ministro resgatou a história econômica do país, que teve grande crescimento industrial até a década de 1980. Desde então, além da queda da atividade industrial, o Brasil enfrenta o que ele chama de estagnação econômica, em que o próprio crescimento do país se deu de forma lenta.

Para o também economista, dois fatores explicam a economia brasileira a partir de 1990 e o processo de desindustrialização do país. O primeiro deles foi a abertura econômica.

“Quando chegou em 1990, o Brasil abriu [a economia], o que significou que você zerou os subsídios criados pelo Delfim [Netto, economista e ex-ministro]. As exportações caíram violentamente, e as tarifas que estavam em 45%, baixaram para 12%. Foi um desastre para a indústria. Deixou-se de neutralizar a doença holandesa”, comenta o professor.

Outros fatores que explicam a queda da atividade mundial foi a armadilha da renda média, criada pelo Banco Mundial, que constatou que países de renda média em todo o mundo estavam entrando em situação de estagnação.

“Em vez disso, defendeu a armadilha de liberalização, pois quando essa foi feita, deixou-se de neutralizar a doença holandesa e os países passaram a ter uma desvantagem competitiva absolutamente insuportável, o que resultou numa onda de desindustrialização muito grande”, acrescenta Bresser-Pereira.

Doença holandesa é um termo econômico que descreve a relação entre commodities e indústria. Quando há alta demanda por commodities, a taxa de câmbio aumenta, tornando-se inviável para a atividade industrial.

A fim de compensar tal desequilíbrio, os governos tendem a adotar estratégias, como aumentar tarifas de importação ou desvalorizar a moeda. “É o que o Trump está fazendo. Ele não pode desvalorizar o dólar, não tem meios para fazer isso, mas ele pode criar tarifas e com isso ele está desvalorizando o dólar de maneira irregular, caótica”, acrescenta o ex-ministro.

Como forma de reaquecer o setor industrial, o professor aposta no conceito de sofisticação produtiva. “Por que eu propus essa expressão como uma substituição em parte do conceito de industrialização? Porque há muitos países hoje em que a atividade mais sofisticada tecnologicamente não é a indústria, mas são serviços. Serviços sofisticados. O que interessa é que, seja a indústria, sejam os serviços, eles tenham um valor de salário per capita alto, o que significa que eles podem pagar salários relativamente altos. Isso implica em desenvolvimento econômico.”

Assista ao debate completo de lançamento do livro Neoindustrialização Brasileira neste link.

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1 Comentário

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  1. Uau.

    É isso mesmo?

    Esse moço foi ministro, é acadêmico, escreve livro e diz:

    Sem industrialização não há desenvolvimento…

    Risos.

    É isso mesmo?

    Opa, vê um pós doc para mim, e dois Big Macs, recheio de coxinha do Insper, e molho dos cretinos da FGV.

    É o capitalismo estúpidos.

    Acumulação primária, investimento, bens de capital, produção, expropriação, mais valia, venda, concentra de renda amortização de capital investido e reinvestimento.

    Mas isso depende de uma coisinha importante.

    Contingente histórico.

    Ou seja, sabe qual a chance de repetir esse processo no atual estágio de desenvolvimento dos países ricos e suas “indústrias”?

    Zero, ou 0.2, considerando que a gente sobreviva a uma guerra nuclear sino-russo-estadunidense, o que não é muito provável.

    Caraca…

    Vou te contar, quanta perda de tempo com obviedade, mad embalada como a última moda.

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