Inflação para os mais pobres dispara na pandemia

Variação de preços chega a 40%; 13% da população vive com menos de R$ 261 ao mês, a maior taxa de miseráveis em mais de uma década

Jornal GGN – A inflação oficial acima de 10% no período de 12 meses esconde um dado importante: os alimentos subiram cerca de 20% no mesmo período e, desde o início da pandemia de covid-19, a alta se aproxima dos 40%.

Esse forte aumento acabou piorando o cenário de desemprego da camada mais carente do país: entre 2014 e 2019, o avanço da desocupação entre os mais pobres chegou a 21%, e subiu mais 8,5 pontos na pandemia.

Desemprego mais alto e alimentos mais caros representam queda do poder aquisitivo entre os mais pobres, e consequente aumento da fome.

Clique aqui e colabore para que o GGN siga com seu jornalismo independente

O aumento da desocupação comprometeu a renda do trabalho: dados da FGV Social, obtidos pelo jornal Folha de São Paulo, mostram que o rendimento da metade mais pobre do país caiu 26,2% em um período de dez anos até 2021.

Apenas nos últimos 12 meses, a renda familiar per capita dessa parte da população ficou 18% menor, passando de R$ 210 mensais para R$ 172, o menor patamar para a renda familiar do trabalho em mais de uma década.

Segundo a FGV Social, 13% da população brasileira (cerca de 27,4 milhões de pessoas) vivem com menos de R$ 261 ao mês, a maior taxa de miseráveis em mais de uma década.

Leia Também

Decreto do governo Bolsonaro extingue Bolsa Família

IPP mostra que inflação continuará em alta, por Luis Nassif

Raio X mostra fraqueza estrutural do emprego, por Luis Nassif

Redação

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Inflação para os mais pobres.
    O que significa, na prática, que existe uma inflação para os mais ricos.
    Para os pobres, que vivem de vender sua força de trabalho – enquanto ainda existir quem a compre – é sempre um horror. Os preços sobem, os salários continuam os mesmos. Ora, se os preços das mercadorias sobem, e os salários permanecem os mesmos, quem ganha com isso?
    Por que, em nome de Deus, ou do diabo, isso fica ao gosto de quem estiver lendo isso, não se diz, claramente, que a inflação é benéfica para alguns, durante um certo tempo? E é mantida, deliberadamente, apenas e tão somente para beneficiar esses alguns? Por que não se diz, claramente, que a inflação só é combatida quando, vis-à-vis o dólar, os ativos em reais começam a se desvalorizar, e os mais ricos começam a sentir os efeitos disso? E que os juros são jogados para cima para atrair moeda estrangeira (dólar) e assim, com a retirada de moeda nacional de circulação, pelo crédito mais caro, os ativos – em moeda nacional – voltam a se equilibrar em relação à moeda estrangeira?
    Vejam, sou leigo em economia, mas, pela simples leitura, aqui e ali, de matérias sobre esse assunto, essa é a conclusão a que cheguei. Estou dizendo algum absurdo? Talvez, mas sinto que essas coisas não podem ser ditas claramente, ou certas relações de causa e efeito não podem ser explicadas em linguagem simples, como a desse post, para que ninguém, como eu, leigo, possa perceber que a política monetária de um país como o nosso é totalmente direcionada para manter os ganhos da elite, numa ponta ou na outra. Com inflação, sem inflação, com pleno emprego, com desemprego, somente um lado ganha, e sempre. Pleno emprego, salário valorizado? Quem ganha? A indústria, o comércio. O que o trabalhador ganha? A felicidade de consumir, seja um carro ou uma universidade para o filho, seja um espelho ou uma miçanga, uma viagem para a Disney. Seriam esses os tais vôos de galinha? Então, deixem-me dizer uma coisa, as galinhas trabalham para os patrões, e não apenas nós, assalariados. Por que as pessoas tem salários, e portanto demandam mercadorias e serviços, e isso gera…inflação.
    Vivemos debaixo de uma fraude, uma fraude ímpia, em que o símbolo do valor – a moeda – e a representação do valor – os títulos, os ativos – só dependem do valor real, ou seja, o trabalho, os serviços, para serem paridos nesse mundo, e a partir daí, ganham vida própria e se reproduzem como baratas, vermes, qualquer coisa nesse mundo que se reproduza em proporções inimagináveis e sem termo de comparação com a realidade.
    E o nome dessa fraude é MERCADO.
    E vai chegar o tempo em que o MERCADO não mais necessitará de força de trabalho, nem de produção de valor, nem de trabalho socialmente realizado. O Capital terá derrotado Marx, graças a nós mesmos, os que fornecemos as bases para essa fraude.
    Alguém já disse que o fascismo – a última linha de defesa do Capitalismo – faz um apelo à natureza real do homem, enquanto o socialismo apela à natureza ideal do homem.
    A realidade se impõe à idéia. Porque nós abandonamos essa última pensando em alcançar a primeira. Onde, supomos, há luxo, vinhos caros e iates, para todos. Mas essa realidade existe para poucos, porque nós a tornamos possível a eles.
    E eles não querem convivas nessa festa, que não eles mesmos.

  2. Na verdade, j.marcelo, desde que fiquei desempregado, senti na pele que o salário – e, portanto, o consumo – é, de fato, uma espécie de anestesia, que nos mantém calmos e entorpecidos.
    Sem o salário, e sem o consumo, a realidade perde os contornos suaves e se mostra, abrupta como ela é.
    E nos tornamos desalentados.
    Talvez amargos.

  3. Realmente o salário e o consumo garantidos, a certeza do pão na mesa e de poder pagar uma conta de luz, uma de água e um aluguel (ainda que com preocupação), pode ser para alguns de nós que somos pobres (eu sou um dos milhões entre os pobres desse país) motivo de certa ilusão sobre a situação trágica que estamos vivendo nesse país, pode ser motivo de certa tentativa de satisfação, principalmente para quem gosta de ficar em Facebook e WhatsApp ou vendo televisão (ótimas distrações da realidade, para os pobres). Para grande parte da mídia e imprensa parece que essa carestia absurda só teve início esse ano, mas ano passado eu já ia para o mercado com tristeza, para comprar somente o que precisava para comer no dia ou algum item de limpeza (como faço ainda hoje), e ficava matutando como tinha gente comprando carne sem preocupação e inclusive fazendo churrasco quando em minha casa a gente só comia frango (passei a pensar que ou tinha muita gente ganhando muito bem, mesmo na pandemia, e acho que isso é possível porque quem é de classe média acredito que não esteja sofrendo o que nós estamos; ou que muita gente também estava pegando o auxílio emergencial sem estar em uma situação emergencial). Achava muito estranho porque não via muita reclamação, reclamação generalizada, mesmo entre os pobres, sobre os preços nos supermercados, tinha algumas reclamações sobre determinados produtos assim como reportagens sobre a alta de determinados produtos, mas não tinha uma reclamação geral (acredito que o auxílio emergencial foi uma salvação para muitos, mas teve também um efeito anestesiador sobre muitos, assim como ter a segurança de um emprego, cada vez mais inseguro). Vivemos uma guerra nesse país e os pobres como sempre são a carne de canhão.

  4. Sim Antonio vivemos em um País selvagem lutando p n sermos comidos ,inclusive por nós mesmos(nossos sentimentos)FORÇA,siga em frente,eu COVID vc a sair mais de casa(jaula)e espaireça a mente.

  5. Um grande abraço, j.marcelo.
    Sinto falta dessa interação entre os leitores do GGN.
    Vamos sair dessa, sem dúvida.
    Lula vem aí, espero, e agora com a experiência de quem já passou por aquela cadeira.
    E o que ele não fez, naquela ocasião, ou seja, chamar a mobilização popular na hora certa, dessa vez ele fará.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador