
O lançamento do programa Nova Indústria Brasil (NIB) foi muito comemorado pela indústria e pelos economistas, mas existem alguns pontos que exigem uma análise mais específica.
“Depois de quase 10 anos, voltamos a discutir seriamente desenvolvimento produtivo no país e a tentar atualizar nossa política C&T para o mundo pós-pandemia, diz Marco Rocha, professor do Instituto de Economia da Unicamp.
Em postagem na rede social X, Rocha destaca que o mundo pós-pandemia “definitivamente não são os anos 1990”, e que o plano anunciado pelo governo Lula “está alinhado com os desenhos modernos de política industrial”.
De acordo com Rocha, o plano brasileiro “se preocupa menos com recorte setorial e apresenta objetivos práticos e dotados de externalidades positivas, com contrapartidas e metas diretas e respaldados pela sociedade civil, incorporados na ideia das “Missões”’.
O plano federal “é centrado em inovação, entende que a ampliação das exportações é um crivo importante e possui uma estrutura de governança centrada no vínculo direto com alto escalão do governo e com participação da sociedade civil”.
Além disso, Rocha ressalta que “o plano entende que a nova onda de digitalização e a transição ecológica remodelarão os setores industriais e as tecs atreladas a esses processos irão ditar a trajetória do progresso técnico na indústria pelos próximos anos – o que demandará o desenvolvimento do setor de serviços”.
Caso o plano funcione de forma efetiva, o professor da Unicamp diz que o NIB “pode ser um alento, dado o esvaziamento da estrutura empresarial local”.
Pontos negativos
Entretanto, Rocha lembra que a NIB pode ficar sujeita aos antigos problemas vistos na política industrial brasileira.
A começar pelas “Missões” propostas pelo plano: segundo o professor, as missões propostas “são amplas e envolvem em suas metas alvos bem distintos e complexos econômicos desiguais em sua capacidade de pleitear recursos”.
“Isso vai demandar um bom alinhamento de outras políticas (como, por exemplo, o PAA) com as ações relacionadas a NIB – com recursos que contemplem não só as ações diretas, mas também as ações transversais envolvidas nas Missões e com alinhamento dos instrumentos direcionados”, aponta o professor.
Segundo Rocha, as Missões “demandam investimento físico significativo para expansão da demanda o que, em última instância, moverá o desenvolvimento dos complexos relacionados a cada Missão” – há, nesse sentido, a necessidade de se expandir e desconcentrar as compras governamentais”.
Diante disso, o professor da Unicamp lembra que todos esses planos esbarram no Novo Arcabouço Fiscal, que “impossibilita capitalizações das instituições públicas, dificultando também a criação de novas”.
Como o sistema de fomento “possui estruturas moldadas em outro padrão de industrialização e sua estrutura estará congelada”, Rocha acredita que “funcionamento da NIB vai depender muito dos recursos proveniente também do PAC e do alinhamento desses investimentos com a política industrial e de inovação ditadas pelas Missões”.
Veja abaixo a íntegra do fio elaborado pelo professor Marcos Rocha a respeito do Nova Indústria Brasil.
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