
O Globo ataca universidade pública e gratuita e volta a defender mensalidade
por Fátima Lima, Elisa Guaraná e Olavo Brandão Carneiro
Nesta terça-feira, 04/06, editorial do jornal O Globo volta à velha cantilena neoliberal de cobrar mensalidade nas universidades e de financiar as mesmas por empresas privadas. Para disfarçar a sua proposta privatista, defende gratuidade para estudantes carentes. O editorial também recupera a antiga e equivocada oposição entre ensino superior e ensino fundamental, outra tese clássica da cartilha pró-mercado.
“Esquece” de mencionar que o orçamento público foi capturado por Lira e seu Centrão, e que a taxa absurda de juros, se baixada em apenas 1%, liberaria recursos para a educação pública e demais serviços públicos fundamentais para reduzir a desigualdade no Brasil.
O jornal, que já apoiou os golpes de 1964 e 2016 e flertou com Bolsonaro em 2018, usa a greve da educação para retomar essa pauta neoliberal dos anos 1990, para atacar a organização sindical, para tentar desmoralizar a universidade pública e gratuita e para provocar um governo de esquerda eleito com programa de esquerda a ser repressor com o movimento grevista. É a organização Globo sendo organização Globo, unindo novamente a agenda do Estado mínimo e ação autoritária, típicos dos governos FHC. E ainda diz defender a ciência. Pois as instituições públicas federais concentram a maior parte da produção científica do país. E em que condições?
Os dados sobre o impacto orçamentário das reivindicações são hiperdimensionados e misturam dois temas. Fala-se em 2,5 bilhões e 6 bilhões. Para recompor as condições básicas de funcionamento das universidades, a Andifes (Associação Nacional de Dirigentes Federais do Ensino Superior) aponta 2,5 bilhões para retornarmos ao orçamento de 2017, que nao recupera o desmonte do Temer e Bolsonaro de falta absoluta de investimento.
A reivindicação dos professores, conforme estudo do Andes, custa para 2024 pouco menos de 600 milhões. Sobre a recomposição salarial até 2026, a proposta do Andes utiliza o valor proposto pelo governo, mas com outra distribuição, para garantir que não haja perda inflacionária, em especial, para os aposentados.
Lembremos que a educação enfrentou o corte do Bolsonaro com o “tsunami da educação” em abril de 2019. A educação pública, gratuita e laica, em todos os seus níveis, tem sido um dos grandes locais de enfrentamentos ideológicos no Brasil contra a extrema-direita.
Sobre o ideário de financiamento das universidades por empresas privadas, é bom lembrar que nem nos EUA é bem assim. E no Brasil já se fez de quase tudo tentando esse caminho, e as poucas experiências demonstram perda de autonomia acadêmica e precarização da produção e formação acadêmica.
O editorial, sutilmente, tenta incidir na representação sindical dos professores universitários ao equiparar o histórico Andes-Sindicato Nacional, forjado na luta contra a ditadura, com o chapa-branca Proifes, criado em 2004. O Andes representa 63 associações docentes de universidades federais, onde 13 são presididas por petistas. O Proifes representa 6 associações federais ( enfrentando ações judiciais contra seu papel de representação), dessas, 4 entraram em greve e rejeitaram a proposta do governo.
O editorial de O Globo é a expressão de que os defensores da educação pública e gratuita não podem negligenciar a luta ideológica, política e social com os neoliberais e seu programa, que também é o programa econômico da extrema-direita brasileira.
Professora Fátima Lima – aposentada da rede municipal do Rio, coordenadora do setorial de educação do PT-RJ e pré-candidata a vereadora na cidade do Rio.
Elisa Guaraná – presidente da Associação Docente da UFRRJ.
Olavo Brandão Carneiro – membro da Executiva Estadual do PT-RJ.
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