Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva
Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva é economista, estudou o mestrado na PUC, pós graduou-se em Economia Internacional na International Afairs da Columbia University e é doutor em História Econômica pela USP. Aposentou-se como professor universitário, e atua como coordenador do NAPP Economia da Fundação Perseu Abramo, como colaborador em diversas publicações, além de manter-se como consultor em agronegócios. Foi reconhecido como ativista pelos direitos da pessoa com deficiência ao participar do GT de Direitos Humanos no governo de transição.

Taxa de inflação x taxa de juros, o papel dos núcleos II, por Luiz Alberto Melchert

O primeiro economista a formular um índice de inflação foi Gustav Cassel, um dos principais nomes da Escola Sueca.

Gustav Cassel

Taxa de inflação x taxa de juros, o papel dos núcleos II

por Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva

O principal opositor do uso de núcleos de inflação para fins de política econômica, mais notadamente de política monetária foi Milton Friedman, o pai dos Chicago Boys. Ele dizia que desconsiderar itens pela sua volatilidade poderia tornar inconciliáveis dois conceitos, o de índice de inflação e o de custo de vida.

O primeiro economista a formular um índice de inflação foi Gustav Cassel, um dos principais nomes da Escola Sueca. Ele criou o que se chamou de Índice de Cassel, apresentado em 1913 no seu artigo “The Power of Money”. Era algo simples, juntando uma cesta de produtos que supunham ser consumidos por todos os seres humanos, desconsiderando fatores regionais ou culturais. Ele também não ponderava a média, como se todos os produtos tivessem o mesmo peso, ou seja, contrariava o que se discutiu no capítulo anterior. A ponderação da média veio somente nos anos 1920, quando o mesmo Gustav Cassel e Irvin Fisher começaram a discutir o poder de compra, o primeiro em economia Comparada, o segundo em seu livro “Purchase Power of Money”. Os pesos induziram a criação do índice de preços ao consumidor, que é usado até hoje pela maioria dos países. Acredita-se que a primeira pessoa a falar sobre índice de custo de vida foi o economista britânico William S, em seu Theory of Political Economy” de 1871. A proposta dele não diferia muito dado sueco, exceto porque aplicava unidades salariais à variação de preços. Enquanto Cassel estava preocupado com o poder de compra da moeda, Jevans e Fisher preocupavam-se com o que o consumidor podia comprar com seu salário.

A princípio, o Índice de Preços ao Consumidor e o índice de custo de vida deveriam ser parelhos, a ponderação levaria em consideração o peso dos ítens de referência em função dos salários o que, forçosamente, faria com que os estimadores considerassem a já discutida elasticidade dos bens constantes do portfólio. Ocorre que, se não houver variação no índice de preços ao consumidor ao mesmo tempo em que os salários caem, haverá aumento do custo de vida. O mesmo pode acontecer quando os preços sobem e os salários ficam estáticos. Isso aconteceu com efeitos próximos de insuportáveis nos anos 1980, durante a hiperinflação. Na verdade foi o entendimento da diferença de conceitos que levou a equipe econômica de Dilson Funaro a deflacionar os salários pela média do valor entre o último reajuste e a data do congelamento de preços no Plano Cruzado.

Essa relação entre índice de inflação e índice de custo de vida é efeito colateral, quando não alvo, de política econômica. Ao aumentar a taxa de juros para mitigar a inflação, o Banco Central atua, prioritariamente, na propensão do empresário em investir, ou seja, a lucratividade de seu empreendimento deverá ser maior que a taxa básica de juros acrescida da taxa de risco para ser atrativa. Quando se fala em empreendimento, considerem-se os investimentos futuros, seja em novos negócios, seja na ampliação dos já existentes, quando não põe em risco a permanência no ramo atual. O risco vem de que as empresas sempre contraem dívidas e o aumento da taxa básica de juros implica em que custos deverão ser reduzidos, provocando demissões e redução de gastos com a mão de obra.

O fato é que salários e nível de emprego são atingidos muito mais abruptamente do que os investimentos em si e isso implica em que o custo de vida mantenha-se alto, apesar de uma pretensa queda no índice de inflação.

Ao adotarem-se núcleos, como se tem feito no Brasil, dissocia-se ainda mais o índice de custo de vida do índice de inflação, dando veracidade ao pensamento de Friedman. É que a persistência  da alta nos núcleos em si pode prolongar o uso da elevada taxa de juros como lenitivo à inflação até de uma forma contraditória. Aparentemente, a política pode ser bem sucedida, porém, escondendo efeitos perversos na vida dos indivíduos, mais notadamente nos de renda mais baixa porque são os bens menos elásticos que compõem sua cesta de consumo.

Luiz Alberto Melchert de Carvalho e Silva é economista, estudou mestrado na PUC-SP, é pós-graduado em Economia Internacional pela Columbia University (NY) e doutor em História Econômica pela USP. No terceiro setor, sendo o mais antigo usuário vivo de cão-guia, foi o autor da primeira lei de livre acesso do Brasil (lei municipal de São Paulo 12492/1997), tem grande protagonismo na defesa dos direitos da pessoa com deficiência, sendo o presidente do Instituto Meus Olhos Têm Quatro Patas (MO4P). Nos esportes, foi, por mais de 20 anos, o único cavaleiro cego federado no mundo, o que o levou a representar o Brasil nos Emirados Árabes Unidos, a convite de seu presidente Khalifa bin Zayed al Nahyan, por 2 vezes.

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