Por que os Estados Unidos entram em guerras?, por Saulo Barbosa

Desde 1916, com a Comissão Creel, os EUA incutem na sociedade supostos inimigos que querem destruir a democracia e a liberdade

Pânico moral e virtudes marciais: por que os Estados Unidos entram em guerras?

por Saulo Barbosa Santiago dos Santos[1]

Depois da segunda guerra mundial (1940 – 1944), os Estados Unidos sempre tiveram inimigos a combater com o discurso de defesa à democracia: URSS, Cuba, Coréia, Vietnã, Afeganistão, entre outros que se somaram a mais de 75 países. A nova empreitada norte-americana bélica é a guerra genocida entre Israel e Palestina. Será mesmo que os norte-americanos se preocupam tanto com a democracia a ponto de sacrificar a vida do seu povo em guerras?

Um país entra em guerra por diversos motivos, alguns óbvios quando, por exemplo, um ou mais países tentam invadi-lo ou quando seus cidadãos estão em perigo no exterior. No entanto, há outros motivos, estes menos óbvios, que faz um país se aventurar em conflitos bélicos externos, um deles é manter o pânico social e criar virtudes marciais para desviar as atenções da sociedade quando o país está numa situação catastrófica.

Desde 1916, com a Comissão Creel, os Estados Unidos incutem na sociedade supostos inimigos que querem destruir a democracia e a liberdade, consequentemente, o país. Criou inimigos de época em época tais como a URSS, Cuba, Coreia, Árabes, etc. Se voltássemos 60 anos no tempo e quiséssemos amedrontar uma pessoa, bastava dizer que ela deveria se preocupar mais com os comunistas porque tomariam suas roupas, casa, carro, comida e até sua esposa, do que com os problemas internos do país. Isso é o pânico moral.

Pânico moral é uma preocupação exagerada e irracional em relação a determinadas ações culturais que são vistas como uma ameaça à ordem social vigente, desta forma ouvimos coisas do tipo: ateus são desonestos e imorais porque sem deus tudo é permitido, socialistas estupram crianças, gays é antinatural, e assim vai. Claro, tudo “fake news”, mas, uma vez que as “fake news” fazem parte de um projeto de governo, é questão de tempo que tais coisas sejam taxadas como verdade, o resto já sabemos: homofobia, racismo, anti socialismo, etc.

O pânico moral por si só não faz tanto efeito, ele vem sempre ao lado das “virtudes marciais”. Virtude marcial refere-se às qualidades ou características consideradas virtuosas, ou nobres em um contexto militar. Essas virtudes geralmente estão associadas ao comportamento ético, moral e à conduta exemplar dos indivíduos que servem nas forças armadas.

Virtude marcial e Pânico moral andam juntas, uma precisa da outra para lograr êxito, primeiro, inventam um inimigo: comunismo, vietnamitas, petistas, LGBTQI+P, MST, etc. Depois elevam os militares como o poder que salvará o país das garras monstruosas. O povo não consegue pensar com medo do inimigo e passa a apoiar incondicionalmente as forças armadas. O caldeirão do inferno começa a cozer, políticos e empresários podem fazer o que quiser com o país, pois o povo estará focado no pânico moral e nos militares como heróis da pátria, em outras palavras, abre-se as porteiras para a boiada passar.

Os Estados Unidos não perderam a oportunidade de se meter na guerra entre Ucrânia e Rússia enviando armas, dinheiro e apoio político. No genocídio israelense também não perdeu a oportunidade, desta vez, participando diretamente bombardeando alvos no Iêmen. Por que eles estão entrando em guerras alheias? Porque o governo americano não tem como esconder e explicar sua falência, afinal, como que há 40 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, 20 milhões de viciadas em drogas, que há 17 milhões de imóveis inabitados e 2,5 milhões de pessoas sem teto? O que esperar de uma população onde, em tese, tem renda média por pessoa de US$48 mil por ano e está passando fome, sem casa e cheia de viciados?

Não explica, a melhor estratégia dos Estados Unidos é desorientar a sociedade para que não pensem criticamente sobre tais contradições, caso contrário, haverá uma revolução onde derrubará políticos e empresários, por isso, eles entram em guerras, desta forma,

é preciso desviar a atenção do rebanho desorientado, porque se ele começar a perceber o que está acontecendo pode não gostar, já que é ele que sofre com a situação. Assistir ao futebol americano e às séries de TV pode não ser suficiente. É preciso incutir nele o medo dos inimigos[2]

Se não existir uma, não há problemas, eles inventam alguma. Alguém lembra o porquê de Bush filho ter iniciado uma guerra contra o Iraque? Bem, a desculpa esfarrapada de que os iraquianos produziam armas biológicas porque encontraram máscaras de gás não colou.

Diante da análise crítica sobre o histórico de envolvimento militar dos Estados Unidos em diversos conflitos internacionais, é possível concluir que a postura belicista muitas vezes serve como uma cortina de fumaça para encobrir questões internas urgentes e desafios sociais prementes. O fenômeno do pânico moral, aliado à exaltação das virtudes marciais, cria um ambiente propício para desviar a atenção da população de problemas internos significativos, como a desigualdade social, a pobreza extrema e a falta de moradia.

A conclusão é que a máquina de guerra muitas vezes serve como um instrumento para mascarar as fragilidades e crises enfrentadas pelo país, evitando questionamentos profundos sobre as políticas internas e a atuação de seus líderes. O ciclo de inventar inimigos externos, associado à exaltação das forças armadas, perpetua um estado de distração social que permite que questões fundamentais fiquem em segundo plano. Nesse contexto, a reflexão crítica da população torna-se crucial para evitar que o pânico moral e a virtude marcial se sobreponham aos reais desafios internos que necessitam de soluções urgentes.


[1]Filósofo, Guarda Civil e Autista

[2]CHOMSKY, N. Mídia: Propaganda política e manipulação. São Paulo: Martins Fontes, 2014 pos. 285 (livro digital)

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