Imigração: problema e solução
por Gunter Zibell
2019 foi afetado pelo sucesso do EM (Macron) e UKIP (Reino Unido). Mais interessante pode ser comparar 2024 com 2009 (o pico anterior das direitas, com 55% ante os atuais 58%). (Os dados ainda não são definitivos.)
Nesse período a Centro-Esquerda caiu de 26,4% para 24% (est.). Verdes+Liberais (3ª via) foram de 18,5% para 18,0% (est.). Democratas-cristãos (e outros conservadores democráticos), que governaram quase toda a Europa Ocidental do pós-guerra até os anos 70, de 35,8% para 26% (est.).
E os populistas de direita de 19,3% para os atuais 32% (est.)
De onde os populistas tiram mais votos, portanto? Dos conservadores convencionais. Porque os partidos inclusivos ou humanistas caíram de 44,9 para 42,0 (est.), menos que 7% entre 2009 e 2024. Já os partidos ligados ao EPP (Republicanos, CDU, PP, etc) foram no período de 15 anos de quase 36 para cerca de 26, uma queda relativa de 28%. Dos 13 pp que a ED cresceu, 10 vieram da CD, portanto.
Pois bem, agora lemos que esses partidos pretendem manter relevância se aliando ou fazendo concessões à extrema-direita. Isso não deve dar certo, o ambientalismo sofrerá muito e é mais provável serem depois absorvidos. Mais ou menos como quase todos os deputados e eleitores da antiga Democracia-Cristã da Itália foram redistribuídos nos atuais partidos da coligação de Meloni (antes de Berlusconi).
Mais sensato seria conversarem mais com os liberais e social-democratas, fazer concessões a estes pólos (não em economia) e organizar um parlamento europeu de consenso.
Um outro ponto importante é a mudança demográfica do eleitorado. Nas quatro primeiras eleições do PE (1979 a 1994) o bloco de centro-esquerda conseguia sempre de 40% a 45%. No que teve a ajuda da entrada de países mediterrâneos no período.
A partir de 1999 (países que eram da EFTA), mas principalmente a partir de 2004, houve um grande aumento de cadeiras para países mais conservadores, notadamente quase toda antiga Europa Oriental (apenas alguns países menores dos Balcãs, Cáucaso e Ucrânia não foram aceitos na UE). Partidos populistas têm ainda maior apoio na Hungria e Polônia que na França e Itália.
Mas a Europa Oriental não é tão populosa. Tem hoje 208 das 720 cadeiras (29%). Isso tem algum peso, pois nesse grupo CE é em torno de 20%, na parte ocidental é quase 30%. A diferença explica 3% do total.
A grande mudança mesmo, e isso é algo ainda não abordado devidamente pelos partidos democráticos, é a ausência de direitos de voto para a maior parte dos imigrantes, que nos países ocidentais foram de algo como 5% para cerca de 20% dos trabalhadores. 15% de eleitores potenciais em países com 71% dos deputados explicam de 6 pp a 10 pp da redução de deputados trabalhistas ou social-democratas. (Imagina-se que a maioria desses imigrantes preferiria de CD a CE, mas não ED.)
Então não é só que muitos trabalhadores e jovens da Europa Ocidental “endireitaram” (quando não radicalizaram). Ou que o Reino Unido saiu, e com ele os cerca de 30 deputados que Labour e LibDem faziam. É que nos anos 80 todos os adultos votavam, agora de 10 a 15% não podem votar. E o grande objetivo dos Populistas é justamente que nunca votem, nem para vereadores em grandes metrópoles.
Praticamente não há imigração para os países da Europa Oriental. Mas em 15 ou 20 anos os filhos do grande boom de imigração (1990-2019) da Europa Ocidental votarão. E isso reduzirá o peso alcançado pela ED.
[De um modo bem simplificado (é claro que pessoas morrem e tal, que o Reino Unido saiu, etc) teríamos algo mais ou menos assim na UE: Em 1989 (antes da entrada dos eleitores da Al. Or, muitos da AfD) teríamos 12 eleitores (digamos 6 de CE e 6 de CD), todos da Europa Ocidental em torno do antigo Mercado Comum. Em 2024 esses 12 viraram 10 (porque 2 foram substituídos por imigrantes), 5 (ou seus filhos) votam ainda na CE e 5 em “direitas”, só que agora não apenas CD (digamos 3), mas também ED (digamos 2, sendo que em eleições nacionais a ED sempre cresce às custas da CD, muito mais que da CE). Aí se somaram 4 eleitores da Europa Oriental, sendo que 2 são de ED, 1 é de CD e 1 é de CE. O total é 6 CE (incluindo aí liberais e verde), 4 CD e 4 ED. Pode-se notar que para essa queda (no exemplo) da CE no PE ninguém da CE precisou mudar para CD nem ED. Mas a CE + liberais cai de 50% para 40%.]
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