Em 2015, EUA já apostavam em uma guerra na Ucrânia

Artigo do pesquisador Robson Coelho Cardoch Valdez, escrito há 7 anos, já falava na possibilidade de um conflito entre o país e a Rússia, e o risco de que este pudesse levar a um colapso da União Europeia

Foto: reprodução

Um artigo publicado em 2015, de autoria de Robson Coelho Cardoch Valdez, pesquisador de Relações e Assuntos Internacionais da FEE (Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul) e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), já adiantava alguns cenários que vemos atualmente no conflito entre Ucrânia e Rússia, com forte participação também dos Estados Unidos como parte interessada.

Naquele então, Cardoch dizia que “o conflito entre as forças regulares ucranianas e rebeldes separatistas pró-Rússia no leste do país já dura um ano. O envolvimento da Rússia no conflito é evidente. Por conta disso, o país vem sofrendo efeitos de sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia. No entanto, apesar de todo o desgaste econômico, o Kremlin parece não ter intenção de retroceder em seu posicionamento em relação a este conflito”.

“Na medida em que o conflito se prolonga, tem-se percebido a divergência dos interesses norte-americanos e europeus. O desejo messiânico de desbaratar a secular influência russa na região euroasiática se contrapõe ao temor legitimo dos europeus em relação à ampliação do conflito para além das fronteiras ucranianas. Nesse sentido, o visível racha entre Europa e Estados Unidos pode ser considerado uma batalha vencida por Vladmir Putin”, escreveu Cardoch em 2015.

No texto, intitulado “A vietnãmização do conflito na Ucrânia e o risco de colapso do bloco europeu”, publicado pela Revista Mundorama, o pesquisador também considerou que “a expansão militar da OTAN para o leste da Europa, na tentativa de conter a alegada expansão russa na região, é cada vez mais evidente. O mesmo argumento utilizado para armar os ucranianos no sentido de aumentar os custos do conflito para o Presidente Putin pode é uma variável latente na recente queda do preço do barril de petróleo no mercado internacional. Isto posto, a diminuição da receita do petróleo comprometeria cada vez mais a capacidade financeira do Kremlin manter-se em um dispendioso e longo conflito na Europa”.

“Adicionalmente, a desvalorização do preço do petróleo comprometeria, financeiramente, a influência do Irã no Oriente Médio, o que beneficiaria a Arábia Saudita e Israel – principais aliados dos Estados Unidos na Região. Ainda que seja de amplo conhecimento, vale lembrar que Arábia Saudita e Irã rivalizam-se por maior influência política na região. No caso de Israel, Irã é o maior apoiador de Bashar Al-Assad na Síria e do Hezbolá no Líbano. Percebe-se, então, que o conflito na Ucrânia tem reflexo em várias agendas da política externa norte-americana e na de seus aliados mais próximos. Assim, o maior desafio para entender os conflitos nos quais os Estados Unidos estão envolvidos, é enxergar a interdependência e os interesses das agendas da política externa norte-americana”, acrescentou Cardoch.

Outro elementou do artigo que mostra similaridade entre os cenários de 2015 e o atual é quando ele fala na “coesão entre Europa e Washington, que vem perdendo força. Nesse sentido, argumenta-se que o conflito na Ucrânia é arriscado demais, principalmente para os europeus que, no intuito de evitar outra guerra total, apostaram todas as suas fichas na integração, possível e não ideal, do velho continente. Tem-se a impressão de que a transformação do conflito ucraniano em um ícone da velha disputa entre ocidente e oriente, como foi o Vietnã no período da Guerra Fria, é algo que não está nos planos dos líderes europeus”.

A partir desse argumento, Cardoch fala em “vietnamização” do conflito: “antes que a Ucrânia se transforme numa espécie de novo Vietnã para americanos e europeus, sustenta-se que a solução possível para a questão ucraniana passaria pelo fim do expansionismo da OTAN em direção à Rússia; pelo reconhecimento internacional da Criméia como território russo; pelo reconhecimento da autonomia política das regiões pró-Rússia do leste do país por parte do governo de Kiev; e por uma postura de neutralidade do país em relação aos interesses da Rússia e do Ocidente”.

Para finalizar, o pesquisador indaga que “vale a pena embarcar numa dispendiosa, longa e arriscada empreitada belicista para ter a Ucrânia como membro da União Europeia e da OTAN? O que de fato a Ucrânia tem a oferecer à Europa? Não seria menos custoso, política e economicamente, reconhecer a influência russa na região em troca da estabilização das relações comerciais com seu principal parceiro estratégico no setor de energia, óleo e gás natural?”.

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Redação

1 Comentário

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  1. Quando a pessoa inicia uma análise dizendo que um dos lados do conflito são “as forças regulares ucranianas” ignorando e escondendo completamente que esse lado é financiado diretamente pelos Estados Unidos e seus sócios e que do outro lado temos “”rebeldes” separatistas pró-Rússia no leste”
    ignorando que tratam-se de ucranianos que não aceitaram os resultados do golpe de 2014 patrocinado justamente pelos mesmos estados unidos e que ao fim e ao cabo transformaram aquele país num pais governado diretamente pelos estados unidos tendo inclusive o próprio Biden como, na prática, interventor local, só tenho uma coisa a declarar: é desonesto. Não fosse os 50 queimados vivos em Odessa; nos massacres de Mariupol; no consequente controle violento que se sucedeu nestas duas regiões e em Kharkiv; e no genocídio sistemático que as forças neonazistas implementaram no Donbass hoje esse comentarista estaria chamando de rebeldes separatistas toda a população de Odessa à Kharkiv passando pelo Donbass. É uma retórica imoral chamar de ucranianos apenas os que se reconhecem como herdeiros do império austro-hungaro, poloneses e outros como “ucranianos puros” e que se dão o direito de exterminar a enorme população que não se submete a isso, “escravizando” milhões e matando dezenas ou quiça centenas de milhares deles (o que certamente teria acontecido caso os planos e preparativos militares de retomada da Criméia e conquista completa do Donbass se efetivasse, plano esse cujos treinamentos militares se realizaram em 2021 com o suporte de tropas da Otan, e que são evidenciados pelo enorme acumulo de poderio militar nas linhas de contato)

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