Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Como os EUA financiaram a Segunda Guerra sem inflação, por André Araújo

Os Estados Unidos ainda não tinham saído integralmente da Grande Depressão de 1929 quando se iniciou a Segunda Guerra em 3 de setembro de 1939.

Oficialmente neutros até 7 de dezembro de 1941, os EUA iniciaram entretanto a preparação para entrar no conflito bem antes do ataque japonês à Pearl Harbour.  Esse gigantesco esforço de mobilização, encomendas de material bélico, conversão das indústrias existentes para fabricação de armamentos, construção de 3.000 novas fabricas e estaleiros para armar suas forças e fornecer material aos aliados, foi um grande programa executado dentro da economia americana sem provocar inflação de importância, exceto no primeiro ano de entrada na guerra, 1942. A inflação nos EUA teve este registro:

1940 – Menos 0,7%

1941 – 1,44%

1942 – 11,35%

1943 – 7,64%

1944 – 2,96%

1945 – 2,30%

Os valores monetários injetados na economia americana durante a Guerra foram impressionantes, US$950 bilhões equivalentes em dólares de 2012 a US$6,6 trilhões. Os anos de pico foram 1943 com US$85 bilhões, equivalentes a dólares de 2012 a US$ 913 bilhões e 1944 equivalentes em 2012 a US$1,2 trilhão.

O esforço industrial de guerra significou a construção de novas fabricas, para o que o Governo dava 100% de financiamento a juros de 0,75% ao ano. Para financiamento até 100 mil dólares o dinheiro saia em 15 dias.

O Federal Reserve System, Banco Central americano,  organizou-se para controlar a moeda e o financiamento da guerra. Seus doze bancos regionais foram encarregados cada de um conjunto de tarefas e para executa-los o pessoal aumentou de 11.000 para 24.000. A taxa básica de juros pelos quais o FED financiava o Tesouro  manteve-se durante o conflito em 0,5% ao ano, o que se compara com taxas muito maiores antes da guerra, de 2 a 4% ao ano.

A taxa de redesconto, pela qual o FED emprestava a bancos privados foi de 1% ao ano durante toda a guerra.

O Federal Reserve Bank of New York foi encarregado, como é até hoje, das relações internacionais da economia americana. Mantinha contas para bancos centrais de 51 países e tinha a complicada tarefa de pagar o soldo de 8 milhões de soldados americanos espalhados pelo mundo bem como suas despesas locais.

O esforço de guerra americano também tinha em larga escala a tarefa de abastecer a Grã-Bretanha de armas e matérias primas, de fornecer material bélico para a União Soviética, foram 16 milhões de toneladas durante a guerra, de fornecer navios, artilharia, tanques e munição a países aliados como o Brasil.

O “arsenal da democracia” como se falava sobre a indústria americana, estava a todo vapor em 1945. Finda a guerra, as sobras de material eram impressionantes. De aviões de transporte foram 11.000 C-47, convertidos no civil DC-3, vendidos em liquidação, o que possibilitou o surgimento de 380 novas linhas aéreas pelo mundo. Sobraram também 1.400 navios de transporte, milhares de tanques, caminhões, máquinas ferramentas, tudo vendido em leilões que abasteceram o mundo nos anos de secura no imediato pós-guerra.

Sempre intrigou o fato de todo o financiamento da guerra não ter desvalorizado expressivamente o dólar. Os arranjos operacionais para manter o Pais com baixa inflação foram extraordinários e a historia é contada no site do Federal Reserve. Foi uma obra de engenharia econômica que consistiu na COMBINAÇÃO de vários instrumentos manejados pelo banco central americano, a grosso modo foram:

1. Um sistema abrangente de controle de preços

2. Campanhas de captação de liquidez pelos bônus de guerra, vendidos em títulos de baixo valor, que a população comprou em larga escala.

3. Aumento da capacidade industrial até em excesso, pela construção de novas fábricas, com o que a oferta acompanhou a demanda.

Com todo o imenso esforço de guerra a economia civil não sofreu muito, como foi o caso da Inglaterra. Havia abundância de alimentos, combustível, roupas e itens de conforto, só foi interrompida a produção civil de automóveis durante a guerra.

Mas o grande fator que segurou a inflação foi a existência de capacidade ociosa nas matérias primas, como aço, alumínio, cobre, petróleo. Desde a crise de 29 o consumo caiu tanto que sobrava capacidade por toda a cadeia básica da indústria. Quando veio a guerra havia sobra de capacidade e a grande demanda de material bélico já encontrou, no inicio, a indústria pronta para atender.

A inundação de liquidez na economia domestica não provocou maior inflação pela expertise de arranjos combinados que controlaram essa liquidez, considerando que milhões de mulheres entraram na categoria de operarias, visto os homens terem sido convocados para as forças armadas.

Tampouco o excesso de liquidez foi enxugado com juros altos, ao contrario, durante toda a guerra os juros básicos não passaram de 1% ao ano e não faltou dinheiro para financiar a construção de novas fabricas. Houve inclusive criticas a posteriori sobre o excesso de capacidade industrial construída, representada em 6.300 galpões industriais que foram construídos e sobraram no pós-guerra.

Uma das principais lições da economia de guerra é que não é necessário JURO ALTO para controlar inflação, desde que haja capacidade ociosa na indústria, o que é exatamente a situação do Brasil de hoje.

 

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

17 Comentários

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  1. Apenas lembrando :
     
    A

    Apenas lembrando :

     

    A Segunda Guerra Mundial teve seu inicio na madrugada do dia 01 de Setembro de 1939 , quando Tropas Nazistas invadiram a Polônia .

    No dia 03 de Setembro o Reino Unido e a França declaram guerra á Alemanha oficialmente.

    Para a historia , vale a data do inicio do conflito belico e não a declaraçao de guerra de terceiros á Alemanha e ao Eixo.

     

     

     

     

  2. No Brasil só temos

    No Brasil só temos monetaristas vindos do sistema financeiro, que advogam a multiplicação do dinheiro através do mercado de capitais e não do trabalho. Somos um país de aproveitadores, e pelo jeito, permaneceremos assim.

    1. Parece

        A linha de montagem da Skoda – Pilsen, na Tchecoslovaquia ocupada pelos alemães, alem do SdKfz 251- Hanomag, tambem da para identificar alguns PzKpfw III e II.

         Quase ia esquecendo: A empresa que projetou e construiu originalemente estes 38(t), a CKD-BMM é hoje a TATRA, que fornece para a AVIBRÀS os veiculos do sistema Astros.

    1. Ele condenou o poder desse

      Ele condenou o poder desse complexo em influenciar o Congresso, isso foi durante suas duas Presidencias

      1952-1958. Durante a Segunda Guerra não havia esse poder e Eisenhower era um simples general de divisão

      que subiu por causa da guerra e não dava palpite na politica interna americana.

  3. Inflação é a expansão

    Inflação é a expansão monetária, como o estado detem o monopólio da moeda ele pode inventar riqueza do nada.

    Pegue um litro de leite ou vinho adicione mais um litro de água, pergunto quanto de leite existe ainda dentro da garrafa?

    Continua existindo apenas 1 litro de leite não importa quanto você adicionar de água não vai aumentar a quantidade de leite dentro da garrafa.

    O pior da inflação é não neutralidade da moeda, os pobres que são os ultimos a receber a nova moeda transferem para os mais ricos grande parte da renda por meio do imposto inflacionário.

    Fraudar a moeda sempre teve consequencias nefastas, sempre foi assim e não mudou, pode ser uma Hungria, uma Alemanha, pode ser os EUA, alguém vai ser passado pra trás e perder renda..

    1. Definir o que é a febre no

      Definir o que é a febre no ser humano uma criança pode fazer, tratar da febre é outra coisa.  Nada é tão simples, como vc explica que paises que QUEREM fazer inflação não conseguem, como o Japão nos ultimos 30 anos?

      O que é TAMBEM certo é que inflação pode ser resolvida em seus meses, é possivel criar uma NOVA MOEDA com relativa facilidade, foi feito na Alemanha em 1924 e em 1949, na França em 1925, no Brasil em 1994, o que ainda não se descobriu foi a COMO TIRAR UM PAIS DA RECESSÃO, um problema muito mais grave do que a  inflação.

  4. O esforço de guerra americano

    O esforço de guerra americano é uma dos projetos mais interessantes que conheço. Um país foi capaz de mobilizar toda sua estrutura produtiva para vencer uma guerra não só com seu exército, mas com o de seus aliados, através do programa de empréstimos e arrendamentos (lend-lease ou LL). Não só os britânicos, mas sobretudo os soviéticos foram os principais beneficiários. Uma das grandes ironias era que uma das principais rotas passava pela costa japonesa, mas os navios não eram atacados por estar sob bandeira soviética (que não estava em guerra com os japoneses).

    Deixando ironias, esse é mais um exemplo de financiamento de exportações que nossa mídia tanto demoniza, desde que feito pelo PT. Desse modo, os Estados Unidos criaram vínculos de dependência não só financeira, mas sobretudo política. E o processo foi feito sem que o dinheiro saísse da América.

    Um dos pontos esquecidos foi que além do controle de preços, você tinha um racionamento rigoroso. E através dos bônus de guerra, você conseguia esterilizar aquela liquidez liberada e direcioná-la para o esforço de guerra, enquanto já tinha recursos para preparar a retomada e a reorganização da base produtiva pós-guerra. A partir daí, você já tinha máquinas e equipamentos para manter uma indústria aerospacial, automotiva, dentre outras, com uma capacidade de gerar economias de escala tão grandes que ela se manteria competitiva e o investimento se pagaria, enquanto o governo poderia recuperar em tributos e pagar seu déficit.

    No entanto, eu tenho dúvidas de que tal engenharia seja viável no caso brasileiro por uma causa simples. A ausência de uma causa mobilizadora. Nosso país está sendo atingido pelo ódio, pelo descompromisso e pela estupidez. A chances de sabotagem são enormes. O risco é muito grande. No entanto, o governo deve sair dessa estupidez de manter juros altos diante de uma recessão pesada.

    Obs: Num próximo post, André poderia falar sobre a formação das reservas brasileiras com as exportações de matérias-primas para o esforço de guerra (borracha, café), bem como da dilapidação delas pela incompetência do governo Dutra.

  5. Gde. André, mas….

    …mas esqueceu que houve um recessãozinha em 46 e os impostos cobrados naquela epoca eram de cortar o osso (dos mais abastados logico…)

  6. BC aqui deveria baixar a

    BC aqui deveria baixar a SELIC em 2% ou mais antes do final do ano.Aqui não houve excesso de liquidez nem de demanda,o que presionou foi energia elétrica por conta do acionamento das térmicas para evitar racionamento de energia devido aos baixos níveis das usinas.

  7. Muito interessante, como

    Muito interessante, como sempre, o artigo do Andre.

    A questão é que os EUA tanto antes, na guerra, como agora, exporta sua inflação para todo o mundo e esta fica como que diluida e ninguem acaba sentindo muito. Creio que a o principal seja isso.

    O Brasil não tem como fazer isso. É impossível. Nos teríamos que fazer um discurso sério, com outras alternativas, que também foram desmoralizadas pelas desonerações desastrosas do Mantega.

    Nossa economia ainda é muito indexada e muitos preços sofrem com a variação do dólar.

    Pela força política do plano real o nosso país ficou como que refêm de não ter mais uma inflação de dois dígitos, acima de 10% ao ano. Dai todo esse esforço de aumento de juros para a inflação baixar…

     

  8. Se a economia recupera-se pelo câmbio, o governo pode ser menor

     

    Andre Araujo,

    Não lembro de ver nos seus livros o acento que apareceu no título deste post “Como os EUA financiaram a Segunda Guerra sem inflação, por André Araújo” de quinta-feira, 17/09/2015 às 17:25, aqui no blog de Luis Nassif e de sua autoria. E por ser de sua autoria não custava nada vir também o seu nome antes do texto. Se é assim com todo mundo por que seria diferente com você?

    Antes de comentar este seu post eu vou transcrever uma parte de um comentário que enviei ontem, quinta-feira, 17/09/2015 às 02:55, para Luis Nassif junto ao post “O perigo não é Cunha: é Tombini” de quarta-feira, 16/09/2015 às 19:46, e de autoria dele e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/o-perigo-nao-e-cunha-e-tombini

    O trecho que vou transcrever é relevante aqui e eu disse o seguinte:

    – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

    “Este post “O perigo não é Cunha: é Tombini” de quarta-feira, 16/09/2015 às 19:46, só pode ser lido com o intuito de diversão porque em caso contrário seria imaginar que você está mais por fora do que seus comentaristas e alguns deles estão muito por fora como se pode ver no post “Os trabalhistas e a austeridade no Reino Unido, por Paul Krugman” de terça-feira, 15/09/2015 às 14:00, aqui no seu blog em que foi transcrito o artigo de Paul Krugman “Os trabalhistas em ponto morto” publicado na Folha de S. Paulo. O endereço do post “Os trabalhistas e a austeridade no Reino Unido, por Paul Krugman” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/os-trabalhistas-e-a-austeridade-no-reino-unido-por-paul-krugman

    Eu disse que alguns dos seus comentaristas estão por fora porque lá no post com o artigo de Paul Krugman eles ficaram a dizer que o artigo de Paul Krugman serviria para ser aplicado no Brasil e funciona como uma crítica à política econômica que está sendo executada no Brasil. Ora a realidade é bem diferente. A Inglaterra sofre com a possibilidade de deflação enquanto o Brasil não sofre desse mal.

    Aliás não custava nada que os comentaristas que queriam que se aplicasse no Brasil a receita de Paul Krugman para a Inglaterra tivessem lido o post “Keynesianism Explained” de terça-feira, 15/09/2015 às 09:18 am, de autoria de Paul Krugman e que pode ser visto no blog dele no seguinte endereço:

    http://krugman.blogs.nytimes.com/2015/09/15/keynesianism-explained/

    Lendo o post de Paul Krugman eles iriam perceber que para realidades diferentes as políticas preconizadas por John Maynard Keynes são diferentes. E a sensação de que só resta mesmo rir cresce, quando se observa que comentaristas de alto coturno como o Andre Araujo dizem o oposto dos comentaristas que estão por fora, mas querendo dizer a mesma coisa. É assim que se entende o comentário que ele enviou quarta-feira, 16/09/2015 às 10:22, aqui para este post “O perigo não é Cunha: é Tombini”.

    Segundo Andre Araujo, no comentário que já deve ir para a segunda página, pessoas como Alexandre Tombini:

    “São os “economistas de cartilha” incapazes de ver contextos e nuances, aplicam sempre o mesmo diagnostico para problemas diferentes, a mesma receita velha . . ..”

    Seria como dizer que como o problema do Brasil é diferente do problema da Inglaterra não faz sentido aplicar a mesma receita, esquecendo que foi na Inglaterra que foi aplicada a receita errada”.

    – – – – – – – – – – – – – – – – – – –

    Eu creio que já comentei na maioria dos seus posts mais recentes sobre a política econômica do segundo governo da presidenta Dilma Rousseff em tom crítico as suas propostas para a economia brasileira.

    Você, Luis Nassif e muitos outros podem ser acusados de praticar a mesma falha de argumentação que vocês acusam nos cabeças de planilhas ou nos “economistas de cartilha”, isto é, diante de problemas diferentes aplicam a mesma receita.

    Você conta o conto americano mas conta faltando muito conto. Observe o gráfico que há no Wikipédia para o tópico “National Debt of the United States”. Lá há a evolução da dívida pública federal como percentagem do GDP (O cálculo do GDP é um pouco diferente do cálculo do PIB e assim é preferível deixar a expressão como no original). No final da segunda-guerra a dívida era superior a 100% do GDP. No final da década de 70, muito por causa do crescimento do GDP, mas muito também por causa do crescimento da inflação, a dívida pública federal americana era de cerca de 30% do PIB. Depois que os Estados Unidos acabaram com a inflação a dívida pública voltou a crescer tendo ligeira redução com os superávits primários de Bill Clinton em um momento de esplendor americano, mas desde então ela não para de crescer. E a inflação e o juro americano estão cada vez mais baixos. O endereço do tópico “National Debt of the United States” na Wikipédia é:

    https://en.wikipedia.org/wiki/National_debt_of_the_United_States

    A minha crítica a você é você não atentar para a particularidade do Brasil. Primeiro deixo o conselho para que você de modo bem rápido lembre-se do Brasil no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. Em seguida e de modo mais atento lembre-se do que aconteceu com os Estados Unidos no final do segundo governo de Ronald Reagan. Ali começou uma crise na economia americana com os fundos de pensão. Dizem que os Estados Unidos teriam feito uma QE ali de algo em torno de 1 trilhão de dólares. Depois o governo recuperou muito do que gastou e a idéia é que o prejuízo teria ficado em torno de 250 bilhões de dólares. Já li algo sobre isso, mas não dá para achar a fonte dessa informação.

    A crise que começou com Reagan não foi suficiente para que os democratas conseguissem derrotar o George Herbert Walker Bush que sempre me pareceu alguém sem carisma, ao contrário do filho George Walker Bush que tem bastante empatia com o povão. George Herbert Walker Bush ganhou às custas do carisma de Ronald Reagan e do modo como se contava a história econômica americana após Ronald Reagan. O filho dele George Walker Bush ganhou às custas do carisma próprio dele, da falta de carisma do adversário e de outras cositas mais.

    Pois bem, durante o governo de George Herbert Walker Bush a crise da economia americana se arrastou o que levou Alan Greenspan a reduzir juro ao máximo possível naquela época, só retomando o aumento do juro em 1994. A evolução da prime rate pode ser vista no site FedPrimeRate.com o título “Prime Interest Rate” no seguinte endereço:

    http://www.fedprimerate.com/wall_street_journal_prime_rate_history.htm

    Lá se pode ver que a prime rate que veio caindo desde 24/02/1989, do valor de 11,50 até chegar ao ponto mais baixo de 6,00 em 02/07/1992, e nesse patamar permanecer até 24/03/1994, iniciou ai o período de elevação indo para o patamar de 6,25. Dai em diante com altos e baixos o prime rate adquiriu uma tendência crescente até 17/05/2001 quando chegou a 9,50. Daí porque a partir de 1994, o mundo da periferia, ou seja, os países em desenvolvimento conviveram com crise de moedas até o ano 2001, considerando a crise Argentina a última.

    O México foi o primeiro a soçobrar quando os Estados Unidos iniciarem o aumento de juros em 24/03/1994. Desde então era para o Brasil desvalorizar a moeda. Quanto mais cedo se desvaloriza mais rápido se sai da crise. Parece que a Rússia está desmentindo essa minha frase, pois pelas minhas previsões após a desvalorização do ano passado já era para a Rússia ter saído da crise e, no entanto, o PIB daquele país caiu no segundo trimestre de 2015.

    Voltando então ao governo de Fernando Henrique Cardoso e agora com mais vagar, lembro que ele passou todo o primeiro governo dele adiando a desvalorização que seria natural, e que ocorreria sem esforço. Só a foi fazer quatro anos depois, em 1999, e assim mesmo com temor de perda de controle, ele permitiu que se elevasse o juro para 45%, como já fizera antes em 1995, diante da crise mexicana e em 1998 quando da crise russa e também em 1997 diante da crise dos Tigres Asiáticos. Os dados da taxa de juros, a partir da 1ª reunião do COPOM, em 26/06/1996, podem ser vistos no site do Banco Central do Brasil no tópico “Histórico das taxas de juros” no seguinte endereço:

    http://www.bcb.gov.br/?COPOMJUROS

    Uma vez feita a desvalorização em 1999, que para sorte nossa foi feita de uma vez, ao contrário da desse ano que está ocorrendo ao longo do ano, e mesmo havendo no ano anterior, 1998, um brutal aumento da carga tributária, o país voltou a crescer. Assim, o país cresceu 4% em 2000 e provavelmente cresceria mais nos anos seguintes se não fosse a barbeiragem do apagão, muito em razão da falta de planejamento do ministro do planejamento no primeiro mandado do príncipe da sociologia brasileira.

    Pois bem. Guido Mantega passou todo o primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff tentando desvalorizar o real, mas não conseguia. Já agora, como já era previsível para quem acompanha a economia mundial de longa data, há que fazer esforço para que o real não desvalorize mais. E com a desvalorização da moeda a economia volta a crescer como cresceu em 1984, após a desvalorização de fevereiro de 1983, como cresceu em 2000, após a desvalorização de janeiro de 1999 e como cresceu em 2004, após a desvalorização que ocorreu ao longo de 2002, mas que só se efetivou realmente no final do ano e início de 2003, com a vitória de Lula. E como vai começar a crescer em 2016. Não é por outra que bons analistas da realidade brasileira não estão querendo brigar com os fatos apenas para ganhar audiência.

    Sobre a previsibilidade da crise da moeda que está ocorrendo atualmente com o real, eu faço menção ao post “Um problema de lógica” de domingo, 20/02/2011, no blog de Alon Feuerwerkr e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://www.blogdoalon.com.br/2011/02/um-problema-logico-2002.html

    Em comentário meu enviado quinta-feira, 24/02/2011 às 14:29:00 BRT para Alon Feuerwerker, eu disse o seguinte:

    “Alon Feuerwerker,

    Dentre os vários fatores que podem interferir para dar condições ao governante para em um ano seguinte mesmo com um crescimento menor se tenham melhores condições de gastos públicos do que no ano em curso, eu mencionei uma provável desvalorização do real que contrabalancearia a perda da competitividade internacional que o aumento do salário mínimo provoca. É só a possibilidade. Se tudo repetir a crise de 1988, quando os Estados Unidos tiveram que conviver por um longo período com juros de quase zero, só a partir de 2012 (A torcer que Barack Obama tenha melhor sorte que George Herbert Walker Bush, o pai, que perdeu a eleição para Bill Clinton não só porque o crescimento econômico só deslanchou em 1992, ano da reeleição, como também teve a concorrência de Ross Perot) haverá retomada do crescimento americano e em 2014 haverá o aumento do juro nos Estados Unidos que produzirá a fuga de dólares das economias em desenvolvimento, provocando crises semelhantes ao do México no início de 1995, a dos Tigres Asiáticos em 1997, a russa em 1998, a do Brasil nas crises anteriores e em 1999 e depois na crise da Argentina em final de 2000 (Eis uma crise interessante essa que ocorreu na Argentina governada por Fernando de la Rua e porque não questionar se o levante no mundo árabe não é, mais do que um levante por democracia, um levante contra a crise econômica, afinal, os árabes estão muito próximos da Europa com a qual mantêm forte relação mercantil e a Europa está em forte crise econômica) depois na crise do Brasil da eleição de 2002 (Brasil que também sofrera na crise da Argentina em 2000 e voltara a sofrer no ano seguinte com a crise do racionamento de energia também chamada de crise do apagão e que alguns confundem ou querem confundir com as atuais deficiências brasileiras no setor energético).

    É esperar para ver, até porque se poderá verificar também se a repetição virá como uma farsa”

    Posso ter errado a data, mas se procurar em posts mais antigos pode ser que eu tinha feito a previsão da elevação do juro americano há mais de cinco anos. E como previsão de amador ela não ficou assim tão distante. Já faz mais de um ano que os analistas não conseguem dizer se a elevação vai se dar na próxima reunião do FED. De todo modo é uma previsão que os técnicos do Banco Central do Brasil podiam fazer com muito mais informação há alguns anos e evidente em 2013 quando eles começaram a subir o juro eles já devem ter pensado na possibilidade de ter que enfrentar um aumento do juro americano e que nessa situação seria preferível ter uma taxa de juro em um patamar elevado. Talvez embora tenha agido com rigo o erro de timing da subida do juro americano tenha piorado a nossa situação. É, entretanto, uma análise difícil de ser feita.

    Mais recente tivemos o artigo de Luiz Carlos Mendonça de Barros publicado no jornal Valor Econômico de segunda-feira, 14/09/2015, e intitulado “Os primeiros sinais do ajuste da economia” em que ele mostra que o Brasil voltou a adquirir vantagens competitivas após a desvalorização do real. O artigo intitulado “Os primeiros sinais do ajuste da economia” pode ser visto no seguinte endereço:

    http://www.valor.com.br/opiniao/4221840/os-primeiros-sinais-do-ajuste-da-economia

    E antes também no Valor Econômico, no artigo “Câmbio e o ajuste externo” de quinta-feira, 27/08/2015, de autoria do economista da equipe econômica do Itau, Caio Mengale, também manifestou a expectativa de retomada ainda que lenta da economia. Segundo Caio Mengale, já se pode perceber a reação de setores específicos da economia. O endereço do artigo “Câmbio e o ajuste externo” é:

    http://www.valor.com.br/opiniao/4197846/cambio-e-o-ajuste-externo

    Infelizmente os textos do Valor Econômico salvo quando aparecem em outro blog são disponíveis apenas para assinantes. Felizmente, Luis Nassif houve por bem transcrever o artigo do Luis Carlos Mendonça de Barros “Os primeiros sinais do ajuste da economia” e originando o post “Economia dá primeiros sinais de correções positivas, por Luiz Carlos Mendonça de Barros” de segunda-feira, 14/09/2015 às 19:18. Post importante e ao qual eu havia passado batido e o encontrei por sorte na tentativa de deixar a indicação do artigo de Luiz Carlos Mendonça de Barros aqui para você. O endereço do post “Economia dá primeiros sinais de correções positivas, por Luiz Carlos Mendonça de Barros” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/economia-da-primeiros-sinais-de-correcoes-positivas-por-luiz-carlos-mendonca-de-barros

    Houve um bom número de comentários e praticamente só concordo com o comentário de Vini enviado segunda-feira, 14/09/2015 às 17:21, e o comentário de Saulogeo enviado segunda-feira, 14/09/2015 às 16:54. E o artigo de Caio Mengale “Câmbio e o ajuste externo” pode ser visto no site do Itau em pdf no seguinte endereço:

    https://www.itau.com.br/_arquivosestaticos/itauBBA/contents/common/docs/Cambio_e_o_ajuste_externo_CMegale_Ago15.pdf

    Queria ainda aproveitar a oportunidade para fazer uma referência ao problema da inflação que é o assunto mais importante do que o ajuste fiscal, pois é em razão da inflação que se tem o juro elevado e é em razão do juro elevado que se tem queda do PIB e é em razão da queda do PIB que o ajuste fiscal se desajusta pelo lado da receita e até pelo lado da despesa como é o caso das despesas com seguro desemprego.

    Talvez no entendimento da inflação esteja toda a dificuldade para a análise econômica apresentar racionalidade na argumentação. A inflação é vista como um mal. E a forma de combater a inflação é conhecida, se o país tem uma boa base de arrecadação: é só aumentar o juro. Com o regime de metas de inflação, então, parece que já não há mais inflação que um Banco Central não possa alcançar e derrubar. E então surge a primeira pergunta, sendo a inflação um mal e um Banco Central podendo alcançar qualquer meta, por que não se estabelece a meta zero?

    De certo modo, o seu texto que originou este post “Como os EUA financiaram a Segunda Guerra sem inflação, por André Araújo” faz referência a inflação, não destacando, entretanto, o mais importante: os Estados Unidos tiveram em 1940, deflação de menos 0,7%. Se a inflação é um mal a deflação é um bem poderia dizer alguém. Só que o que se tem de concreto é que todo mundo quer fugir da deflação. E então a política posta em prática em 1940 estava correta, para um país em deflação. Depois, à medida que a inflação voltou muito provavelmente o Banco Central Americano, o Federal Reserve, teve que aumentar os juro e daí nós vimos o que aconteceu com o setor público americano: a dívida pública chegou no final da Segunda Grande Guerra em mais de 100% do PIB.

    Não quero, entretanto, prender-me aqui à questão do endividamento. Até porque nesse assunto talvez tenha razão Paul Krugman quando deu o seguinte título a post dele de sexta-feira, 06/02/2015 às 7:32 am: “Debt Is Money We Owe To Ourselves” e que pode ser visto no seguinte endereço;

    http://krugman.blogs.nytimes.com/2015/02/06/debt-is-money-we-owe-to-ourselves/?_r=0

    Aliás mencionei de modo favorável recentemente esse post de Paul Krugman em comentário que enviei sábado, 12/09/2015 às 12:16, para Luis Nassif junto ao post dele “Para entender a lógica da S&P” de sexta-feira, 11/09/2015 às 17:55, e que pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/noticia/para-entender-a-logica-da-sp

    O que é mais interessante relativamente ao discurso sobre a inflação é pequena importância que se dá em distinguir os efeitos econômicos da inflação e os efeitos políticos. Os estudos sobre os efeitos da inflação no plano econômico são muitos incipientes. Não, não se os pode acusar de recentes. Talvez pudesse dizer que são insipientes no sentido de não sabem bem o que diz e nesse sentido são insubsistentes. A crítica que se faz é apresentada de modo muito genérico e que se mostra falha diante do primeiro contra argumento. Dizem, por exemplo, que com inflação não é possível fazer planejamento nas empresas. Ora, não haver inflação não significa estabilidade dos preços. Sem inflação o que se tem é a estabilidade do índice de preços. Só quem compra e vende o índice de preços é o mercado financeiro. Talvez daí até haja razão nos que dizem que a inflação baixa é necessária para que se tenha um mercado financeiro forte.

    Há um texto que depois de muito tempo sem o acessar só ontem consegui encontrar um link para ele. Trata-se do artigo “Nonlinear Effects of Inflation on Economic Growth” de Michael Sarel e publicado no IMF Staff Papers Vol. 43, No. I (March 1996). O link que permitiu acessá-lo foi o seguinte:

    http://www.palgrave-journals.com/imfsp/journal/v43/n1/pdf/imfsp19967a.pdf

    O importante no texto de Michael Sarel é que ele estabelece uma região de inflexão a partir da qual o efeito nocivo da inflação no crescimento seria muito grande. Esta zona de inflexão seria inflação de 8%. A pesquisa para o artigo do Michael Sarel permitiu que eu encontrasse um outro texto dentro de área de estudo semelhante foi “The Effects of Inflation on Economic Growth: Lessons form Latin America” de José De Gregorio, e apresentado como IMF Working Paper Nº 91/95 e de outubro de 1991, portanto, ainda mais antigo do que o artigo de Michael Sarel. Interessante que ontem eu consegui acessar o artigo de José De Gregorio, mas hoje já não foi mais possível. Parece que teria que fazer a inscrição no site da Social Science Research Network onde se mostra a possibilidade de acesso aos dois artigos.

    De todo modo, na quinta página do artigo de José De Gregorio há um quadro intitulado “Inflation and Growth in Latin America” em que no eixo dos yy, eixo das ordenadas, há, em escala natural, o crescimento per capita do GDP e no eixo dos xx, eixo das abscissas, em escala logarítimica tem-se a Inflação. Os dados são para os períodos de 1975 a 1985, 1963 a 1974 e 1951 a 1962. A regressão mostra uma relação negativa entre inflação e crescimento. No entanto parece muito nítido no quadro que a regressão negativa é mais fruto das inflações muito alta. Se se olha somente para a parte do quadro com inflação superior a 14% ao ano é que se observa que a regressão seria extremamente negativa. Muito provavelmente, foi a partir do quadro do artigo de José De Gregorio, que é citado noartigo de Michael Sarel, que este último teve a percepção do ponto de inflexão. Deixo o endereço onde ontem foi possível acessar o artigo de José De Gregorio “The Effects of Inflation on Economic Growth: Lessons from Latin America”:

    http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=885073&rec=1&srcabs=883204&alg=1&pos=1

    O José Luis Oreiro e Rodrigo Ayres Padilha em artigo intitulado “Inflação e Crescimento no Longo Prazo” publicado na revista Economia & Tecnologia” – Ano 02, Vol. 07 – Out. / Dez. de 2006, desenvolvem a tese de que em países em desenvolvimento o ponto de inflexão seria 3% maior do que a de países desenvolvidos, o que significaria aumentar o ponto de inflexão de Michael Sarel em cerca de 2,5%. Os autores, entretanto, sugerem que, como o artigo de Michael Sarel foi feito com dados antigos e levando em conta que se observou que a partir da década de 90 houve uma redução acentuada da inflação no mundo, ao se ter os dados mais recentes chega-se à conclusão de que para a realidade atual o ponto de inflexão seria de 2,1% para países desenvolvidos e de 5,1% para o Brasil. O endereço do artigo “Inflação e Crescimento no Longo Prazo” é:

    http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/ret/article/download/29518/19213

    Sobre a preponderância da política monetária nos efeitos sobre a economia, eu deixo aqui o link para o post “O Banco Central e a confraria dos “juristas”” de sexta-feira, 02/09/2011 às 18:39. O post “O Banco Central e a confraria dos “juristas”” pode ser visto no seguinte endereço:

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/o-banco-central-e-a-confraria-dos-juristas

    Este post “O Banco Central e a confraria dos “juristas”” é muito pertinente aqui, mas o trago porque lá eu encontrei alguns comentários com muitas referências a outros posts ou artigos em que se discute a política monetária que eu acredito ser mais importante para justificar a atual realidade econômica brasileira.

    Falta ainda considerar a repercussão da inflação na política. Sobre isso diria que, não só porque as pessoas se sentem massacradas pela inflação e culpam o governante de plantão por esse massacre, mas também porque as pessoas veem uma espécie de conluio do governo com os grandes empresários para aumentar o preço dos produtos, ela é vista como resultado de corrupção do governante. Assim, se um governante quer ter apoio político é preciso acabar com a inflação. Não é por outra que eu sempre fui contra o instituto da reeleição. Em minha avaliação o governante para se reeleger ia fazer todo esforço para manter a inflação baixa e isso poderia fazer mal ao país.

    Então não há como conciliar o seu desejo de mais crescimento no curto prazo e o desejo da presidenta Dilma Rousseff ficar bem com o povo no final do mandato dela. Vai haver esforço para reduzir ao máximo a inflação. E é por isso que o Brasil sofre essa recessão. Não tem nenhuma relação com os cortes de gastos de Joaquim Levy. No longo prazo a situação vai ficar como você gosta: a inflação não vai subir, o câmbio não vai voltar a época de Lula e de Fernando Henrique Cardoso e a economia vai crescer.

    E ainda sobre a inflação eu gostaria de lembrar que em meu comentário que mencionei acima e do qual transcrevi um trecho e que fora enviado ontem, quinta-feira, 17/09/2015 às 02:55, para Luis Nassif junto ao post “O perigo não é Cunha: é Tombini” de quarta-feira, 16/09/2015 às 19:46, eu deixei dois links que valem serem deixados aqui também.

    Primeiro para o artigo “Understanding Inflation and Controlling It” de autoria de Kaushiuk Basu, que era chefe do conselho econômico do Ministério das Finanças do governo da Índia, e de C Marks. O endereço do artigo “Understanding Inflation and Controlling It” é:

    http://finmin.nic.in/workingpaper/understanding_inflation_controlling.pdf

    E o outro artigo é recente e é uma reportagem de Shefaliu Anand e que saiu publicada no The Wall Street Journal na segunda-feira, 24/08/2015, intitulada “Raghuram Rajan’s Common Man Theory on Inflation” e que pode ser vista no seguinte endereço:

    http://blogs.wsj.com/indiarealtime/2015/08/24/raghuram-rajans-common-man-theory-on-inflation/

    Lá no meu comentário junto ao post “O prerigo não Cunha: é Tombini”, eu comento rapidamente os dois artigos.

    E há ainda um post no blog de Alexandre Schwartsman “A mão visível” que vale ser mencionado aqui. Trata-se do post “Por quê?” de quarta-feira, 29/02/2012, e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://maovisivel.blogspot.com.br/2012/02/por-que.html

    Menciono o post de Alexandre Schwartsman porque é a defesa de um economista por uma inflação de 3%, mas menciono principalmente porque lá eu deixei uma série de links sobre o que eu já tinha visto e lido sobre a inflação até então. Deixei de comentar junto ao post, mas devo voltar principalmente para fazer referências a posts mais recentes onde eu tenha discorrido sobre a questão da inflação e a artigos que tratam do assunto e que eu vim a conhecer mais recentemente. Um post onde que devo mencionar aqui é “A crise de 2008: como Wasghington salvou Wall Street, por Motta Araújo” de quarta-feira, 25/02/2015 às 18:30, de sua autoria e aqui no blog de Luis Nassif. O endereço do post “A crise de 2008: como Washington salvou Wall Street, por Motta Araújo” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/a-crise-de-2008-como-washington-salvou-wall-street-por-motta-araujo

    Fiz dois comentários para você, um enviado quarta-feira, 25/02/2015 às 14:15, e outro enviado também na quarta-feira, 22/02/2015, mas às 21:19, e neles eu discordo de você querer aplicar a política americana que foi correta para os Estados Unidos no Brasil e no momento atual. Ao mesmo tempo eu enviei sexta-feira, 27/02/2015 às 20:39, um comentário crítico a Waldyr Kopezky, junto ao comentário dele de quinta-feira, 26/02/2015 às 19:08, em que ele dizia que a política econômica americana para enfrentar a crise de 2008 não fora acertada.

    Há ainda dois artigos que eu devo deixar indicado lá no post “Por quê?” no blog de Alexandre Schwartsman e que cabe bem aqui também os indicar. Um é o artigo “The case for fou percent inflation” de Laurence M. Ball que apareceu em maio de 2013 no Central Bank Review Vol. 13 (May 2013), pp 17-31. A intenção de Laurence M Ball era solicitar um aumento da meta de inflação que atualmente é de 2% para 4%. E o artigo “The case for four percent inflation” pode ser visto no seguinte endereço:

    http://www.econ2.jhu.edu/People/Ball/four%20percent%20inflation%20cbank.pdf

    E o outro artigo é de Paul Krugman e intitula-se “Inflation Targets Reconsidered” foi apresentado na Conferência de de Bancos Centrais Europeus realizada em Sintra, Portugal, pelo Banco Central Europeu em maio de 2014. E há o link para o artigo “Inflation Targets Reconsidered” no post “Inflation Targets Reconsidered” de terça-feira, 13/05/2014, no blog de Paul Krugman e que pode ser visto no seguinte endereço:

    http://krugman.blogs.nytimes.com/2014/05/13/inflation-targets-reconsidered/?_r=0

    No artigo pede que se aumente um pouco a meta da inflação, mas um pouco mais além da sugestão de Laurence M. Ball. Para Paul Krugman o índice ideal seria 6%.

    Então é isso que eu queria dizer, a crítica que você faz a atual política econômica do segundo governo da presidenta Dilma Rousseff deveria estar centrada na política monetária do Banco Central do Brasil. Sim, não se deveria priorizar o combate à inflação em busca de uma meta de 4,5% de inflação em 2016. No entanto, você não encontra argumentos muito forte para dizer que a meta de 4,5% é equivocada, porque a maioria dos analistas se deixaram convencer que uma inflação baixa é melhor para a economia e vão fornecer argumentos e provas apenas em favor da inflação mais baixa.

    A minha justificativa para essa postura dos analistas econômicos contra inflação mais alta decorre do fato de que, em geral, são prestadores de serviços bem remunerados que consideram que não é adequado para pessoas assim de alta representação na sociedade ficarem fazendo greve para melhorar salário e assim quanto menor a inflação melhor.

    E o outro problema é o efeito nocivo da inflação mais alta na popularidade do governante. O governante que quer se manter no poder e que ver a sua popularidade aumentar deve fazer todo o possível para a inflação cair. E ele vai usar todo o poder de que dispõe para atingir esse fim. E o poder que o governo dispõe é incomensurável e está lá no Banco Central.

    E a vontade da presidente Dilma Rousseff de acabar com a inflação é incomensurável. Ainda mais que ela sabe que com o poder que o Banco Central dispõe ela pode vingar o que Paulo Skaf fez com ela durante a campanha dele para o governo de S. Paulo. E ainda pode alegar que faz isso pensando no bem do povo brasileiro, pois qualquer comentarista chinfrim fundamenta sua crítica ao governante que deixa a inflação alta com base no efeito nocivo que a inflação causaria no povo.

    Não adianta mostrar que o combate à inflação causa desemprego, afinal o desemprego só atinge a alguns enquanto a inflação atinge a todo mundo e o ser humano é essencialmente egoísta e pensa mais em si mesmo do que nos outros.

    Não custa lembrar aqui como situações semelhantes em países diferentes clamam por soluções diferentes ou mesmo que as soluções sejam iguais elas alcançam resultados diferentes. Quando a inflação atingiu 12% nos Estados Unidos em 1979, Paul Volcker que havia assumido o Banco Central Americano, o Federal Reserve, em agosto de 1979, e já vinha aumentando o juro desde a posse continuou nesse caminho de elevação da taxa com poucas pausas, às vezes ocorrendo mesmo redução da taxa até que ela alcançasse o mais alto valor 21,50, na sexta-feira, 19/12/1980, ainda no governo de James Carter.

    E com altos e baixos, a taxa de juro permaneceu em patamar elevado até 08/07/1981, quando subiu de 20,00 para 20,50, já no início do governo de Ronald Reagan e daquela data em diante a taxa de juro americana começou a cair. Vale lembrar que em 1981, embora no primeiro mandato de Ronald Reagan, ainda se cumpria o orçamento de James Carter, mas a partir daí teve-se o aumento do déficit público americano. E assim com juro em queda, mas alto, e com isso reduzindo a inflação e ao mesmo tempo forçando a desvalorização das moedas de periferia, reduzindo assim o preço das commodities, pois o banco Central Americano estava recolhendo todo dólar ao redor do mundo, e com déficit público crescente a economia americana só podia mesmo se deslanchar.

    Dai também ter surgido a expressão “The Two huge déficits”. Com a economia americana crescendo, com o juro alto valorizando a moeda americana e com gastos astronômicos de Ronald Reagan ao mesmo tempo que havia redução das alíquotas do Imposto de Renda, surgiram o déficit monstruoso do setor público e o déficit gigantesco da Balança Comercial.

    No Brasil só podemos copiar o juro alto de Paul Volcker. Infelizmente não haverá como recolher reais espalhados pelo resto do mundo. Nem vamos conseguir ter déficit público elevado e é ainda mais temerário ter déficit na Balança Comercial. Enquanto o juro alto valorizou a moeda americana, o nosso juro alto é mais para impedir que o real se desvalorize. E lá na frente não vamos poder ter o déficit público que os Estados Unidos mantiveram durante tão longo tempo, pois os Estados Unidos só voltaram a ter superávit após o aumento de impostos no início do governo de Bill Clinton (O George Herbert Walker Bush que era mais responsável do que o Ronald Reagan pois foi ele que cunhou a expressão economia voodoo para caracterizar as ideias de Ronald Reagan, também aumentou os impostos, sendo aliás essa uma forma que Bill Clinton usou para atacar George Werbert Walker Bush, soletrando em silêncio apenas com os lábios a frase “Read my lips, no more tax” que George Herbert Bush usou para atacar a candidatura de Dukakis , pois os democratas insistiam que era preciso aumentar os impostos para combater a herança do déficit público deixado por Ronald Reagan).

    Quando a economia retoma pelo comércio exterior é contraproducente que o governo faça esforço próprio para atiçar a economia. Daqui dois anos se a recuperação se mostra lenta, o governo, sem deixar que a moeda volte a valorizar, pode também entrar com políticas públicas mais ativas.

    Não sou economista e assim as minhas críticas podem ser apenas críticas de leigo sem fundamento e não se constituírem em nenhum demérito para você. Eu, entretanto, se fosse você ficava um pouco ressabiado. Vá lá que eu acerte, e suas assertivas fiquem assim como que não valendo nada.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 17/09/2015

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