Barroso, Fux e Raquel: os deuses são cruéis – 2, por Luis Nassif

Bastou a visão dos raios, para os homens bons fraquejarem e passarem a obedecer aos desígnios de Vulcano.

Os homens bons chegaram, se aboletaram na Suprema Corte e se proclamaram homens bons. Mas, das profundezas, os filhos de Vulcano lançaram raio de fogo em direção aos homens bons.

Bastou a visão dos raios, para os homens bons fraquejarem e passarem a obedecer aos desígnios de Vulcano. E os homens bons se tornaram cruéis, usando as chaves da crueldade para abrir, uma a uma, as jaulas que mantinham prisioneiros os filhos das profundezas. E, das jaulas, saíram serpentes, polvos, espécies marinhas que se julgavam extintas.

E o pais passou a conviver com o ódio em todos os níveis, com uma guerra intestina, pertinaz e feroz, da qual não sobreviveu sequer um indulto presidencial.
Michel Temer assinou o indulto de Natal de 2017. O clima persecutório vigente, a falta de humanidade e de coragem fez com que a Procuradora Geral da República Raquel Dodge questionasse a constitucionalidade do decreto. Temia-se que pudesse reduzir a culpa de meia dúzia de condenados da Lava Jato e eles, os deuses, ficassem à mercê dos raios das profundezas.

Carmen Lúcia, a inacreditável frasista, acolheu a representação.

A Constituição de vários países – inclusive a brasileira – prevê como um dos poderes centrais do Presidente a concessão do indulto. Como, há muito tempo, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu reescrever a Constituição, Ministros defenderam a tese de que, ao definir a pena, o Executivo estaria avançando sobre as prerrogativas do Judiciário.

No ano passado, quando havia maioria pela constitucionalidade do decreto, Luiz Fux pediu vistas e segurou a votação.

Luis Roberto Barroso, o Ministro que abriu as portas do país para o estado de selvageria vigente, defendeu a tese de que caberia ao STF tutelar o Executivo. Enquanto se discutia se crimes de colarinho branco deveriam ou não ser contemplados, milhares de pequenos delitos ficavam sem os benefícios do indulto.

Quatro Ministros expostos às chantagens das redes sociais – Barroso, Fachin, Carmen e Fux – votaram contra o decreto.

Foram derrotados. Hoje, o STF decidiu pela constitucionalidade do decreto. Os milhares de prejudicados não terão a quem pedir reparação.

Luis Nassif

19 Comentários

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  1. Nassif, a leitura eh boa, mas eu acho que a chantagem contra os ministros vai alem das redes sociais. Lembre-se do grampo no gabinete do Barroso – historia grave que foi praticamente ignorada e varrida pra baixo do tapete rapidinho. Colocar gente com rabo preso em cargo importante da nisso…

  2. De vez enquanto a fogueira do inferno aumenta sete vezes mais, e os diabos ficam ourissados. O STF tem sido esse inferno desproporcionalmente quente. Alguma hora, o teto vai desabar. Não vejo a hora da Justiça julgar principalmente os políticos, com imparcialidade e com justiça.

  3. Deveriam sim acionar os ministros que lhe causaram prejuízos, por que não?

    O direito só anda quando alguém toma atitude, senão estaríamos em plena escravatura, que era.legalizada……..

  4. Minha rústica mente não consegue compreender teu ódio ao Barroso. Para falar a verdade desconfio de todos os membros do STF. Não são repúblicanos, interesses pessoais, pecuniários prevalecem entre os togados da monarquia. Confesso que ando cético com a política brasileira há anos. Bolsonaro é um pesadelo e a esquerda corporativa não sai de sua gaiola de Faraday, absorvida por uma conjuntura tacanha, é apenas a outra face do bolsonarismo. Sem ideias, projetos, teorias e filosofias, uma lástima. Não existe hoje uma práxis capaz de mobilizar forças sociais para romper as desigualdades deste país, que a política só acentua.

  5. essa gente já tá queimando nesse inferno
    fascista que domina a cena política direitista
    brasileira – encenação criada por muitos deles
    e que agora não tem onde enfiar a cabeça…….

  6. O que estamos assistindo de forma reinteirada é consequência da destruição dos alicerces da democracia ocorrida lá atrás, “com o supremo com tudo”. É o resultado da “pausa democrática” alardeada como solução para todos os males. Aceitou-se alegremente, com esse discurso, até o grampo ilegal na presidenta da República.
    Nada do que ainda virá pode surpreender.

  7. É o pior tipo de covarde, o mais indigno: aquele que, tendo o conhecimento necessário a uma ação justa e um cargo com a atribuição e o poder para efetuá-la, não o faz, por falta de coragem e de caráter.

  8. O destino foi cruel com o Brasil em ter permitido que pessoas como essas chegassem a um cargo de tal relevância. Eles são minúsculos para a função suprema, principalmente nesse momento histórico conturbado que vivemos. Que o destino tenha piedade de nós.

  9. A constituição Federal vale menos que a anotação do jogo do bicho, isso porque no jogo do bicho vale o que está escrito(!!) entendedores entenderão….

  10. A maioria dos comentários refletem o ‘apequenamento’ do STF, pelos ministros fracos de caráter e vontade de assumirem a importância e o poder que aquela corte confere. A independência é para fazer a diferença no exercício pleno do direito e atos do estabelecimento da democracia, do direito e da justiça a todos q recorrem como derradeiro socorro do seu direito aviltado,
    pelos pequenos poderes e perseguições q já não fazem sentido numa sociedade minimamente civilizada.

  11. “Quatro Ministros expostos às chantagens das redes sociais – Barroso, Fachin, Carmen e Fux – votaram contra o decreto.”

    O que eles tem em comum ?

  12. Espero o dia em que o provimento ao supremo, deixe de ser por indicação de chefes do executivo e seja por membros do judiciário. Como exigir serem eles mais probos do que aqueles que o indicaram a corte suprema? Vide os anteriores presidentes e quantos foram denunciados por crimes. Como um criminoso pode indicar alguém é esse alguém não ser da mesma sarjeta ?

  13. A suprema corte de justiça no Brasil, deste que foi criada, sempre esteve ao lado da elite dominante. É só procurar e ler as decisões. Alguns exemplos: a manutenção da escravidão, a extradição de Olga Benario, a anistia aos militares torturadores, a prisão de Lula.

  14. Sem querer parecer pretensioso, mas permita aplainar a “rústica mente” de Luiz Cezare Vieira, acerca das razões pelas quais, qualquer cidadão sério, deve se acautelar com o Ministro Barroso. Uma destas é a mudança ideológica que se operou no ministro. De liberal que em pro bono, se oferece para defender Cesare Battisti, ao Savonarola que acende a fogueira das variedades. Salvo tenha se convertido a caminho de Damasco, é inaudito que alguém mude de opinião de modo tão radical. A não ser que esteja escondendo a real opinião e, neste caso, qual delas? Outro aspecto é recorrer ao Vox populi, vox Dei, como garantia de justiça. Fala em clamor das ruas, fala em corrupção. Como combater, em sua opinião? Atendendo ao anseio de “justiça” (não sabe a diferença entre justiçamento e justiça, evidente). Curioso que ele não atua, nem cobra, a celeridade para outras figuras nacionais em casos análogos ao do PT. Faz lembrar a cínica afirmação do Joaquim Barbosa: quero ver quando julgarão os outros. Para piorar, compactua com barbaridades, com o barbarismo dos Torquemadas de Curitiba, que acham que tortura (prisão não é tortura, visite uma, sr. Vieira. Melhor ainda se “experienciar” por um mês. Depois publique um livro sobre o paraíso que é lá. Perdão, não esqueça de requerer o auxílio reclusão. Mas retornando, compactua com o desrespeito à lei, com a tortura, com a obtenção de confissões, com acordos denunciatórios sem elementos de prova, bastando apenas indícios. Por indícios o senhor Vieira deve ser rico e portanto sujeito à investigação pela Receita Federal. Não gostou disto? é porque o senhor como eu, defende a presunção de inocência, a necessidade de gerar provas antes de acusar, manter a expectativa de um julgamento justo, com direito ao contraditório. Tudo isto, que o preboste Barroso, ameaça

  15. Há pessoas que têm por natureza, um fino senso de equidade.
    Há pessoas outras que têm, por natureza e conveniência, um natural senso de iniquidade.
    Tais pessoas, após trilharem o aprendizado do direito, ter-se-ão por incompatíveis aquelas que, sendo advogadas, comunguem um fino senso de equidade. Estas, sofrerão a cada injustiça, a cada processo perdido, a cada direito violado, a cada luta inglória. Alçadas ao poder essas fazem carreira na magistratura um sacerdócio, tentando estabelecer o equilibrio na distribuição da justiça.
    Aquelas que, iníquas optarem pela advocacia poderão exercer seu mister com liberdade, lucratividade, arrogância e sucesso. Tanto lhes fará o destino de sua clientela se disso resultar lucro e pouco lhes importará o mal feito de seus defendidos.
    Essas, NÃO TÊM compatibilidade com a justiça e exultam em defender os fortes.
    Sucede que ambas, por força de nossa legislação e de interesses políticos chegam às supremas cortes do país.
    Esse colegiado será composto, antes de tudo, por aqueles cuja visão prática do interesse do momento se exige. Por isso mesmo temos barrosos diversos, moros diversos, moraes, rosinhas, e “queijandas de minas” entre os muitos outros, não vocacionados, a “distribuir justiça”.

  16. A que serve democracia aos banqueiros se teem o poder do dinheiro, adorado pela maioria dos brasileiros, ávidos por consumo e ostentação. A que serve democracia aos militares com todo o poder das armas e opressão. A que serve democracia ao judiciário se a interpretação das leis é um mero ponto de vista. Conclusão: democracia só interessa aos utópicos de esquerda que sonham com o socialismo na esperança de que o poder emana do povo e só ao povo servirá pelo poder dos interesses da maioria.

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