Caso Marielle: miliciano diz que delegado recebeu R$ 400 mil para obstruir investigações

Declaração aconteceu em ligação interceptada pela PF que recomendou, em relatório, investigação de delegado civil Rivaldo Barbosa

Jornal GGN – O delegado da Polícia Civil Rivaldo Barbosa está sendo investigado suspeito de ter recebido propina para atrapalhar as investigações sobre o duplo homicídio da vereadora Marielle Franco (PSL) e do motorista Anderson Gomes. As informações são do UOL que teve acesso a um relatório da Polícia Federal enviado ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), no dia 2 de maio, sobre a questão.

Em uma conversa interceptada pela PF em fevereiro deste ano, o miliciano Jorge Alberto Moreth, conhecido como Beto Bomba, disse ao vereador Marcello Sicilliano que o delegado Barbosa havia recebido dois pagamentos de R$ 200 mil cada, por meio de um agente da Delegacia de Homicídios (DH). Veja os trechos da conversa a seguir:

Sicilliano: Mas a DH tá junto na sacanagem, né irmão? 

Beto Bomba: Tá junto porque levaram duzentos cruzeiros na primeira e depois levaram mais duzentos porque viu que ia babar. Então o malandragem lá, o delegado, botou tudo em você junto com aquele rapaz lá que tá preso [referência ao miliciano Orlando Curicica, também falsamente acusado de ser o mandante].

E não perderam pouco [dinheiro] não, perderam duas vezes, perderam uma de duzentos e mais outra de duzentos, foram quatrocentos cruzeiros. Para desvirtuar para outro canto, entendeu? Ô, chefe, quem rodar em bagulho de Marielle, porra, meu irmão, tá fodido, chefe.

Sicilliano: Mas quem estava na sacanagem era o Rivaldo, né? Ou era o Giniton? 

Beto Bomba: Isso aí, é o Rivaldo Barbosa, é ele que levou quatrocentos cruzeiros, chefe. Foi quatrocentos cruzeiro, pô, tô te falando! Na hora que eles viram que ia babar, que o bagulho deu muita repercussão, o troço falhou, o troço ficou cara para caralho! Porque, chefe, quem rodar neste bagulho de Marielle vai para Catanduvas [presídio federal no Paraná] e vai ser esquecido, meu irmão! Porra, tô te falando, papo reto. Entendeu?.

Giniton Lages foi o primeiro responsável pelo inquérito sobre o caso Marielle na DH da Capital, afastado no início do ano.

Beto Bomba: “Chefe, quem levou o dinheiro para eles, para esse delegado [Rivaldo Barbosa], foi um inspetor que trabalha com o delegado. Não foi nem o delegado que recebeu o dinheiro em mãos.” 

Sicilliano: “Foi o Marcos?” Beto Bomba: “Isso aí, foi o inspetor que levou para ele o dinheiro! Das duas vezes.

Ainda segundo reportagem do UOL, 21 dias depois de o MP-RJ receber o relatório da PF, no 23 de maio, Beto Bomba se entregou à polícia. O miliciano estava foragido por causa de um mandado de prisão expedido no âmbito da Operação Intocáveis, sobre milicianos de Rio das Pedras, na zona oeste do Rio, onde ele atuava.

Em conversas anteriores obtidas pela PF, Beto Bomba havia acusado o político Domingos Brazão de ser o mandante dos assassinatos de Marielle e Anderso, pagando pelos crimes o valor de R$ 500 mil ao Escritório do Crime, organizado por grupo de matadores de aluguel formado por milicianos.

O delegado Rivaldo Barbosa não chefia mais a DH da Capital. Atualmente, ele dirige a Coordenadoria de Comunicações e Operações Policiais. Ele nega seu envolvimento em qualquer tentativa de obstrução da justiça.

A matéria do UOL, porém, destaca que não é a primeira vez que ele é citado em casos para abafar investigações.

“Em depoimentos ao MPF (Ministério Público Federal) e PF, o miliciano Orlando Curicica afirmou que o delegado e outros agentes recebiam dinheiro da contravenção e de milicianos para arquivar inquéritos de homicídios cometidos pelo grupo de matadores de aluguel conhecido como Escritório do Crime”, escrevem Flávio Costa e Vinícius Konchinski, que assinam a matéria do UOL.

No relatório enviado ao MP-RJ, para investigar Barbosa, o delegado da PF, Leandro Almada, diz que “os fatos” sobre o envolvimento do delegado civil são “merecedores de escorreita investigação, especialmente por investigação de natureza patrimonial, que confirme ou afaste a hipótese de [policiais civis] terem se utilizado dos cargos e da lotação para ganhos ilícitos, haja vista as reiteradas acusações e indícios.”

Redação

5 Comentários

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  1. Cuidado com essas notícias que estão tentando denegrir a imagem da Polícia Civil do RJ quanto à condução do caso Marielle Franco. A intenção por trás disso é que o caso passe para a esfera federal e que a PF passe a investigar sob a batuta do Sejumoro. A dona Raquel Dodge, antes de deixar a PGR, defendeu que o caso Marielle fosse federalizado. Porém, a própria família da Marielle já disse que é contra a federalização e quer que Sejumoro não se envolva nas investigações. https://www.conjur.com.br/2019-nov-02/familia-marielle-federalizacao-investigacoes Se o caso for federalizado, é evidente que vão blindar o Bozzo e Sejumoro tudo fará para isso. Portanto, não vamos cair nessa artimanha da PF e do Sejumoro acreditando nessas notícias que visam denegrir as investigações da Polícia Civil do RJ.

  2. A verdade é que o caso Marielle/Anderson será elucidado apenas quando houver um ministro da Justiça digno. Todas as investigações contam com direcionamento e assessoramento de Moro, visando acobertar os verdadeiros mandantes do crime, os quais estão bem resguardados por Russo, o carrasco das leis.

  3. Realmente, enquanto o Ministério da Justiça estiver a cargo de Sérgio Moro com o apoio dessa Rede Globo, não haverá justiça social no Brasil.
    Não basta Lula Livre, o STF deve entender que as revelações do The Intercept Brasil sobre a Lava-Jato e o caso do assassinato de Marielle (crime/político), devem ser esclarecidos e punidos todos os envolvidos, a partir daí vamos ver que os verdadeiros criminosos são Sérgio Moro e sua equipe e a família Bolsonaro.

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