Estadão ataca Lava Jato por tentar atingir não petistas

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Jornal GGN – O editorial do Estadão desta quarta-feira (10) entrou na ordem de Gilmar Mendes e outros ministros do Supremo Tribunal Federal e decidiu colocar freios à Lava Jato, mas porque a operação já teria cumprido seu papel de derrubar o governo do PT e, agora, precisa se conter em relação a outras autoridades. O texto é motivado pela ação de Rodrigo Janot, chefe do Ministério Público Federal, contra a permanência de Gilmar Mendes na análise do caso Eike Batista.

No editorial, o Estadão diz que a Lava Jato não pode se achar mais importância do que a estabilidade política para tirar o Brasil da crise, tampouco deve tentar desestabilizar o Judiciário, ao custo de enfraquecer a instituição num momento que não é conveniente.

Contra Lula, porém, a Lava Jato tem sido pedagogicamente exemplar, diz o Estadão, que ainda reforçou que quando o assunto é o ex-presidente, a operação tem mesmo que provar que ninguém está acima da lei.

A importância relativa da Lava Jato

Do Estadão

O pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), seja declarado impedido de atuar no caso envolvendo Eike Batista é mais um exemplo de reação exagerada por parte do Ministério Público (MP). Janot alega que a esposa de Gilmar Mendes integra banca de advogados “que prestaria serviços” a Eike Batista, o que comprometeria a imparcialidade do ministro.

Mais do que manifestar zelo pelo cumprimento da lei, o pedido de Janot coaduna-se perfeitamente com a tentativa de parte do Ministério Público de utilizar a Operação Lava Jato para denunciar a generalizada podridão existente nas instituições nacionais. Tudo estaria podre no País. Trata-se de uma manobra insidiosa, pois se utiliza de uma coisa boa, como é a Lava Jato, para uma finalidade política no mínimo questionável e certamente estranha às competências institucionais do Ministério Público.

Não é tarefa da Lava Jato denunciar as instituições ou promover um movimento de repúdio aos poderes constituídos. Cabe-lhe investigar com diligência todas as suspeitas e denúncias levantadas, sem poupar nenhum criminoso nem incriminar nenhum inocente. É um trabalho sério, que exige extremo cuidado e pode trazer, como já trouxe, muitos benefícios ao País.

Por mais que impressione a extensão dos crimes revelados pela Lava Jato, eles não legitimam, no entanto, que membros do Ministério Público utilizem a operação para fins políticos, difundindo a ideia de que tudo está podre, exceto – é o que parece afirmarem – o Ministério Público, que seria, assim, o salvador da pátria.

A realidade não é bem essa. Nem tudo está podre nem o Ministério Público é o suprassumo da pureza e da inocência. Caso se lhe apliquem as lentes que alguns do MPF querem impor às outras instituições, perde também ele imediatamente seu odor de santidade. Como revelou o site Consultor Jurídico, a filha do indignado Janot é advogada e tem como clientes, em diferentes casos na Justiça Federal e no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Braskem, petroquímica controlada pela Odebrecht, a construtora OAS e a Petrobrás.

O caso mostra como é fácil avaliar distorcidamente as situações, no intuito de produzir escândalos. É mais que hora de agir com prudência e temperança. E isso, é preciso repetir, não é o mesmo que insinuar – e muito menos garantir – impunidade ao crime e a ilegalidades. Trata-se apenas de olhar as coisas com realismo.

A Lava Jato é muito importante e produziu – e deve continuar a produzir – efeitos moralizadores. A operação não é, porém, a salvação nacional. A prioridade é tirar o País da crise, assegurando a retomada do desenvolvimento econômico e social, num ambiente moralmente sadio. Reconhecer essa realidade não diminui a importância da operação. Afinal, ela é uma persecução criminal. E a vida nacional vai muito além da mera elucidação e punição de crimes cometidos por empreiteiras e políticos, por mais importantes que sejam.

A Lava Jato não pode se converter, como às vezes parece ocorrer, numa ideologia. Hoje Lula da Silva deverá ser ouvido em Curitiba. Muita gente tem tratado esse depoimento como se fosse o momento máximo de redenção nacional. Sem dúvida, o evento é importante para Lula da Silva, já que o processo penal pode lhe render algumas consequências que ele achava que jamais o atingiriam. A lei é para todos e, nesse sentido, a Lava Jato tem um sentido pedagógico exemplar. Mas cada etapa dos processos da Lava Jato não pode paralisar o País.

Sendo importantes, os atos da Lava Jato não podem substituir a verdadeira prioridade nacional. Há uma profunda crise econômica, social, política e moral, que precisa com urgência ser combatida. Reconhecer essa hierarquia de valores não é um apoio velado à impunidade. É simplesmente não fechar os olhos, por exemplo, aos 14 milhões de desempregados. É não ignorar que, sem a aprovação das reformas em curso no Congresso, o Tesouro estará exaurido em 2022 (ver abaixo o editorial Reforma ou desastre).

É perniciosa a tentativa de transformar a Lava Jato na grande panaceia nacional. Além de não tirar o País da crise, esse modo de conduzi-la, como se tudo estivesse podre – como se os poderes constituídos já não tivessem legitimidade para construir soluções –, inviabiliza a saída da crise.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

18 Comentários

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  1. Que desperdício de tempo…

    Que desperdício de tempo, seria muito mais conciso e honesto simplesmente dizer “A Lava jato tem como objetivos prioritários a destituição do PT do poder, sua desmoralização e a inviabilização de Lula como candidato 2018. Ultrapassar este limite não será admitido.”

  2. A Mulher do Gilmar Dantas e a Filha do Janot

    É um sujo apontando um mal lavado.

    Transformaram o Brasil inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro.

    A musa dos Golpistas expôs o seu fedorento na televisão, ao vivo. É a podridão geral.

  3. É possível uma outra forma de

    É possível uma outra forma de fazer Jornalismo. Não é porque essa empresa privada, a firma “OESP” tem dinheiro que tenha grandeza. Essa firma e todas as outras dos Instituto Millenium, Instituto Mises, MBL, Vem Prá Rua, Doria Jr. e que-tais. A chamada “direita” é de uma pobreza rara.

  4. O ódio e a cara de pau desse

    O ódio e a cara de pau desse Estadão é  impressionante..só faltou eles declararem: A Lava Jato só pode investigar Lula e o PT…os demais politicos e partidos, “está proibida de investigar”.

  5. O Janot está acima de qualquer suspeita

    O Janot pode até fazer uma denúncia inepta contra os clientes da sua filha a fim de forçar o seu arquivamento e beneficiar os referidos clientes da sua filha. Mas quem iria arguir a suspeição desse suíno?

  6. A colheita maldita.

    Criaram e alimentaram a fera. Enquanto ela devorava e estraçalhava adversários, nada de anormal….

    Agora, que ela cresceu e ameaça morder “amigos da família”, aí não pode não!

    Milagrosamente, baixou o santo da racionalidade tardia.

    Sorvam até a última gota.

  7. O efeito manada do imprensa corporativa

    Olha o que o Merval acaba de dizer:

    “Mas a explicação do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, acusado de participar de negociações com empresas para as quais sua filha advoga, é muito mais enrolada do que a de Gilmar Mendes. Ele não pode dizer que não se meteu em nada da OAS, pois até hoje ninguém sabe a razão de ter jogado no lixo a delação premiada do Leo Pinheiro”.

     

    Gilmar ainda não foi abandonado pelo PIG.

  8. Os cínicos de sempre

    Estão mais preocupados em aprovar reformas que tungam os trabalhadores, mantêm o rentismo e enriquecem ainda mais os ricos brasileiros. O resto é detalhe.

  9. Estadão virou a Globo. Perdeu a noção de Jornalismo

    A coisa é tão descarada que so falta o Estadão dizer aos seus leitores: A Lava Jato foi criada para prender Lula. Os nossos, não!

  10. Bom, o Estadão só corroborou

    Bom, o Estadão só corroborou a tese que afirma que a Lava Jato foi criada para atingir o PT e suas figuras.

    Todo o resto que eventualmente saia das investigações se trata meramente de efeito colateral indesejado. Reparem que tudo o que o triunvirato tucano da Lava Jato (Moro-MP-PF) faz é no sentido de blindar aqueles que não fazem parte dos alvos previamente escolhidos.

    E essa reação do Estadão, componente da imprensa manipuladora de direita e com rabo preso com o PSDB, é algo previsível e esperado, pois a Lava Jato entrou na sua fase final planejada, que é a inelegibilidade de Lula, e já não interessa mais àqueles hipócritas que afirmavam que a operação siginificava o fim da impunidade e todo aquele rol de besteiras unilaterais que a Globo e os demais veículos da imprensa de massa usavam para reafirmar a sua importância.

  11. Mas que editorial mais

    Mas que editorial mais folgado, esse ! O cinismo alcance níveis estratosféricos. 

    Notaram o “Lula da Silva”? Atentaram que isso nada mais é que demonstração de desprezo por aquele que jamais foi engolido pelo dito status quo? 

    Se formos traduzir o que está por detrás do deboche seria algo do tipo: “Quem pensa que é, esse desgarrado fugido da fome, egresso da miséria  e provindo de uma região que parasita o país? Um analfabeto petulante que furou a fila dos homens de bem e de bens e se tornou presidente da Nação? Maldito, retome a sua insiignificância! Vens do nada e ao nada voltarás, seu Lula da Silva!”

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