Ministro me chamou para ser laranja, diz ex-candidata do PSL

Reportagem da Folha de S.Paulo mostra entrevista com mais uma mulher envolvida no caso de candidaturas laranjas do PSL em Minas Gerais. Zuleide Oliveira conta que foi convidada para participar do esquema por Marcelo Álvaro Antônio; ministro nega.

Jornal GGN – Mais uma candidata na disputa a deputada estadual em Minas Gerais teria sido usada como “laranja” pelo PSL na eleição de 2018. Em entrevista à Folha de S.Paulo, publicada nesta quinta-feira (07), Zuleide Oliveira contou como foi convidada a concorrer no pleito, desta vez, implicando diretamente o atual ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio, que a teria chamado pessoalmente para se candidatar.

Antes de virar ministro, Álvaro Antônio foi deputado federal e presidente estadual em Minas Gerais do partido de Bolsonaro, o PSL. Desde o dia 4 de fevereiro, a Folha vem publicando uma série de reportagens sobre um esquema de candidaturas “laranjas” realizado pela sigla em alguns estados, mas a maioria das denúncias vem de Minas Gerais, onde Álvaro Antônio, como presidente local do partido, era responsável por direcionar as verbas públicas das campanhas.

Zuleide contou e disponibilizou documentos à Folha sobre o seu caso. Ela se encontrou pela primeira com Álvaro Antônio, para firmar sua candidatura, em 11 de setembro, acompanhada do marido e um amigo, no escritório do então deputado federal em Belo Horizonte.

A ex-candidata não sabe dizer se chegou a receber algum depósito, porque o controle das contas bancárias ficou com os dirigentes do partido que passaram a movimentá-las. Nos casos anteriores, divulgados pela Folha, as candidatas chegaram a receber depósitos e foram coagidas a repassar parte do valor para empresas ligadas aos assessores do ministro.

“Eu não entendia de nada, eles que fizeram tudo [para registrar a candidatura], eu não tirei uma certidão minha, eles tiraram por lá, eu só enviei meu documento e eles fizeram tudo. Acredito, sim, que fui mais uma candidata-laranja, porque assinei toda a documentação que era necessária e não tive conhecimento de nada que eu estava fazendo (…) Fui usada, a minha candidatura foi usada para fazer parte de uma lavagem de dinheiro do partido”, explicou Zueleide.

A ex-candidata se encontrou outras vezes com Álvaro Antônio e, em uma das ocasiões, assinou um requerimento de solicitação de verba endereçado ao então presidente nacional do PSL, Gustavo Bebianno.

“Marcelo ofereceu um monte de coisa”, disse a ex-candidata. O atual ministro teria oferecido uma vaga na Funai ou na secretaria de Saúde da região onde mora, em Santa Rita de Caldas, a 50 km de Poços de Caldas, ao sul de Minas Gerais.

Mais tarde, Zuleide teve o pedido de registro de candidatura indeferido pela Justiça Eleitoral como ficha suja, por ter sido condenada após se envolver em uma briga com outra mulher.

“Eles já sabiam que não ia dar em nada [a candidatura, por ser ficha suja]. Hoje eu sei que eles sabiam que não iam aparecer meus votos, que eu não ia conseguir concorrer às eleições porque eu estava com os direitos políticos suspensos. Eles sabiam de tudo isso. Ele quis falar para mim que não ia dar em nada [a condenação não seria problema] pra mim poder preencher a chapa”.

Depois de perceber que estava sendo usada em um esquema de candidaturas laranjas, Zuleide decidiu enviar um e-mail ao Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais falando da suspeita e anexando documentos. A mensagem foi encaminhada no dia 19 de setembro. No mesmo dia obteve uma resposta protocolar confirmando o recebimento e até hoje espera o resultado da denúncia.

A suspeita de candidaturas laranjas está sendo investigada pela Polícia Federal e Ministério Público do estado. Quando assinou o requerimento de solicitação de verba, Zuleide conta que o Álvaro Antônio lhe deu a seguinte explicação:

“Ele [ministro] disse pra mim assim: ‘Então a gente vai fazer o seguinte: você assina a documentação, que essa documentação é pra vir o fundo partidário pra você. (…) Para o repasse ser feito, você tem que assinar essa documentação. E eu repasso a você R$ 60 mil, e você tem que repassar pra gente R$ 45 mil. Você vai ficar com R$ 15 mil para sua campanha. E o material é tudo por nossa conta, é R$ 80 mil em materiais'”, contou.

Zuleide trocou mensagens de áudio e emails com um total de cinco dirigentes do PSL mineiro, incluindo Rodrigo Brito, então assessor parlamentar de Álvaro Antônio. Brito chegou a enviar a ela o telefone de Matheus Von Rondon, hoje assessor especial do ministro que também prestou serviços no seu gabinete até 2018, quando deputado federal.

Rondon está sendo investigado pelo Ministério Público de Minas como o principal elo entre o ministro e o esquema de laranjas. Outros dirigentes que aparecem nos emails e mensagens de texto de Zuleide são: Aguinaldo Mascarenhas, então chefe de gabinete de Álvaro Antônio em Minas e hoje presidente do partido no estado, Michelle Paim, tesoureira, Gustavo Graça, também da direção do PSL em Minas, e Leonardo Andrade, advogado da sigla.

Ainda, segundo a Folha, até hoje a ex-candidata não apresentou sua prestação de contas à Justiça por se recusar a atender aos pedidos de dirigentes do PSL. Ela diz ainda não ter ido ao banco ver os extratos bancários.

Em nota, o ministro Álvaro Antônio disse não se lembrar de ter realizado encontros específicos com Zuleide e nega as acusações da oferta de valores do fundo partidário e de que teria pedido a devolução de dinheiro para ela. Ele disse ainda que nunca indicou profissionais para qualquer candidatura e que o PSL forneceu material de campanha aos seus candidatos e as despesas do partido “foram devidamente declaradas”.

Na primeira reportagem sobre candidaturas laranjas, a Folha mostrou o caso de quatro candidatas do partido que receberam R$ 279 mil e tiveram votação irrisória. Cerca de R$ 80 mil do valor total foram depositados em contas de empresas ligadas a pessoas próximas ao ministro.

Mais tarde, a Folha mostrou o caso de uma quinta candidata exposta ao esquema. Em depoimento ao Ministério Público de Minas, realizado em dezembro, Cleuzenir Barbosa contou ter sido pressionada por dois assessores do ministro para devolver parte dos R$ 60 mil que recebeu de verba do PSL e afirmou que o Álvaro Antônio sabia de tudo. Hoje ela mora em Portugal por medo de retaliação.

Redação

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