Moro condena Mariano Marcondes e livra a Trafigura

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Reprodução/G1
 
Jornal GGN – O estranho caso da Lava Jato com a Trafigura, uma das gigantes do mercado de petróleo no mundo e principal concorrente do Brasil na África, acaba de ganhar mais um capítulo. Segundo a coluna Radar desta segunda (5), o juiz Sergio Moro condenou um lobista ligado à empresa, Mariano Marcondes Ferraz, mas passou longe de explicar porque a Trafigura saiu ilesa das mãos dos procuradores de Curitiba.
 
Segundo a nota assinada por Ernesto Neves, Mariano foi condenado a pouco mais de 10 anos de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção ativa. Moro concedeu a ele, contudo, o direito de recorrer da decisão em liberdade, além de ter cobrado uma multa singela de menos de R$ 3 milhões, para ressarcir a Petrobras. 
 
Além disso, a coluna destacou que o juiz da Lava Jato rejeição expressamente o pedido para que Mariano fosse considerado um delator da Lava Jato, sob o argumento de que ele não ajudou a elucidar nenhum crime além do que era tratado na ação penal.
 
No final de 2017, o GGN e o DCM juntos, numa parceria financiada pelos leitores dos dois blogs, expuseram as obscuridades do caso Trafigura.
 
Mariano apareceu como lobista que pagou propina a Paulo Roberto Costa, em nome da Trafigura e da Decal do Brasil, nas delações vazadas de Delcídio do Amaral e Nestor Cerveró – ex-diretores da Petrobras desde a era FHC. Os dois delatores apontaram à força-tarefa que apurar os negócios dessas empresas revelaria um esquema de corrupção muito maior do que o que estava sendo investigado até então: o da comercialização de combustíveis, que teria repercussão internacional.
 
No entanto, ao longo das investigações, a Lava Jato foi escanteando o envolvimento da Trafigura e acabou apresentando uma ação penal, aceita por Moro, por pagamento de propina de Mariano a Paulo Roberto Costa por negócios envolvendo apenas a Decal.
 
Esse movimento de abafar as informações sobre a Trafigura ficou nítido uma vez que, no pedido de prisão feito contra Mariano, em meados de 2016, a empresa era citada pelos procuradores, ao lado da Decal do Brasil, como responsável por pagar propina, por intermédio de Mariano, ao então diretor de Abastecimento da Petrobras. “Mariano Marcondes Ferraz, de nacionalidade brasileira, é um dos diretores executivos do Grupo Trafigura”, afirmaram.
 
Mariano, ao contrário de vários outros empresários atingidos pela Lava Jato, não ficou mais de duas semanas preso: foi liberado 10 dias após ter sido detido, em outubro de 2016, mediante o pagamento de fiança de $ 3 milhões. 
 
Desde então, o nome da Trafigura sumiu das investigações e do noticiário.
 
Quando o Ministério Público finalmente apresentou uma denúncia formal contra Mariano, em janeiro de 2017, a versão já era outra: a de que o lobista operara apenas para a Decal.
 
“Tendo à sua frente um dos grandes lobistas internacionais, homem capaz de desvendar os segredos da corrupção da Trafigura no mundo, e tendo à sua mão a arma da delação premiada, Sérgio Moro e os procuradores nada fizeram”, destacaram os blogs.
 
Segundo dados levantados pelo GGN e DCM, a Trafigura é uma empresa suíço-holandesa, uma das maiores comercializadoras de petróleo do planeta. Fatura mais de U$$ 120 bilhões, ou R$ 384 bilhões ano. É a 54º maior empresa na lista da Fortune. Nela, Mariano fazia parte do Conselho mundial, ajudando a consolidar as relações com a Petrobras e com o mercado africano.
 
“Como entender essa blindagem da Trafigura por parte da Lava Jato? Deslumbramento com um lobista internacional, frequentador do alto mundo, da mesma maneira que se deslumbraram com madames cariocas? Desinteresse pelo fato de não ter nada a declarar contra Lula? Displicência? Confirmação de que o único objetivo da Lava Jato era destruir as empresas brasileiras mais competitivas internacionalmente,  especialmente as que atuavam na África? Suborno, através da indústria da delação premiada?”, indagaram.
 
“Seja qual for o motivo, a Trafigura foi duplamente beneficiada pela Lava Jato. De um lado, através da destruição de suas maiores concorrentes naquelas bandas da África, a Petrobras e as empreiteiras brasileiras. De outro, pelo fato da Lava Jato tê-la livrado das denúncias de ter corrompido a própria Petrobras.”
 
Leia mais aqui.
 
Leia também: A conexão Angola, a condenação de Mariano Ferraz e a Trafigura, por Luis Nassif
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

9 Comentários

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  1. Alguem que faz parte do

    Alguem que faz parte do conselho mundial de uma empresa eh muito provavelmente socio dessa mesma empresa. A PB eh uma multinacional com varios negocios pelo mundo com outras empresas multinacionais, portanto, eh de se duvidar que relacoes questionaveis e ilegais tenham acontecido somente com outras empresas brasileiras. 

  2. Alguem que faz parte do

    Alguem que faz parte do conselho mundial de uma empresa eh muito provavelmente socio dessa mesma empresa. A PB eh uma multinacional com varios negocios pelo mundo com outras empresas multinacionais, portanto, eh de se duvidar que relacoes questionaveis e ilegais tenham acontecido somente com outras empresas brasileiras. 

  3. Pertence a casta ‘nobre’

    Pertence a casta ‘nobre’ carioca, filho da condessa Regina Marcondes Ferraz. Não dá pra dizer “teje preso”.

  4. A situação de moro é a

    A situação de moro é a seguinte: assim que LULA for preso, moro vai pra sarjeta, fazer companhia ao ex-juiz como é mesmo o nome dele? Não é que eu seja esquecido, é que o sujeito é insignificante, mesmo. Ah, lembrei: joaquim barbosa: Aquele que peneirou uma ação penal para condenar o ZÉ DIRCEU. Ambos viverão na cracolândia do judiciário. Aliás, o judiciário d”ESSA PORRA” já é, em sí, uma cracolândia.

  5. Depois da Mossack Fonseca, a Trafigura…

    Carolina Auada e Ademir Auada, representantes da Mossack Fonseca no Brasil, foram presos pela PF, no âmbito da operaçãp “lava jato”,  destruindo documentos. Mas foram soltos pelo juiz Sergio Moro, mediande o singelo argumento de que “Apesar do contexo de falsificação, ocultação e destruição de provas (…) no qual um dos investigados foi surpreendido, em cognição sumária, (…) a aparente mudança de comportamento dos investigados não autoriza juizo de que a investigação e a instrução remanescem em risco”. Assim, os inocentes pombinhos se livraram da gaiola. No caso da Trafigura, qual foi mesmo a justificativa?       

  6. Bandidos-de-toga

    Lava Jato,  na verdade, não é nome de uma operação policial, nas de quadrilha, pior que o PCC, porque age debaixo do manto da legalidade!!! 

  7. Bandidos-de-toga

    Lava Jato,  na verdade, não é nome de uma operação policial, nas de quadrilha, pior que o PCC, porque age debaixo do manto da legalidade!!! 

  8. Trafigura

    Olha só como mudou tudo hoje e pegaram a Trafigura. Acho que só não tinham elementos na época, e como mariano não os forneceu, não teve beneficio de delação. 

  9. Trafigura

    Olha só como mudou tudo hoje e pegaram a Trafigura. Acho que só não tinham elementos na época, e como mariano não os forneceu, não teve beneficio de delação. 

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