Serra agora diz que não lembra de encontro com delator do cartel dos trens

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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No Brasil, a formação de cartel é irregularidade administrativa, passível de pena de até cinco anos para quem abusar do poder econômico contra o consumidor.

Jornal GGN – José Serra agora disse que não lembra de ter se encontrado com Nelson Branco Marchetti, o executivo da Siemens que delatou às autoridades o esquema de corrupção nas licitações da CPTM e Metrô de São Paulo, divulgou o Estado de S. Paulo nesta segunda (10). Às principais perguntas da Polícia Federal, feitas ainda em outubro, o ex-governador e atual senador disse não saber ou se lembrar de reunião pessoal com Marchetti.

Na transcrição do depoimento consta que Serra “não se recorda de ter tido contato com ele (Marchetti), tampouco se lembra de ter conversado” com o executivo. À Folha, em agosto de 2013, o tucano negou veementemente qualquer contato para tratar das licitações.

A informação a que Serra tenta, mais uma vez, desmontar é do executivo da multinacional alemã Nelson Branco Marchetti, que em um email datado de 2008 e em declaração à Polícia Federal, em novembro de 2013, disse que o então governador de São Paulo (2007 a 2010) se reuniu com ele em uma feira na Holanda, em 2008, pressionando para que a empresa desistisse do recurso judicial que impediria a conclusão de uma licitação milionária da CPTM, na qual a CAF apresentou a melhor proposta para a aquisição de 40 novos trens.

A Siemens estava em segundo lugar na concorrência, e tentava tirar a CAF da licitação, alegando falta de requisitos técnicos. Mas, foi aí que, segundo o executivo, Serra afirmou que se a Siemens conseguisse na Justiça desclassificar a empresa espanhola CAF, o governo iria cancelar a concorrência porque o preço da multinacional alemã era 15% maior. A conversa do então governador e Marchetti ocorrera durante um congresso do setor ferroviário em Amsterdã, na Holanda, em 2008. 

Serra teria sugerido que a CAF dividisse a encomenda com a Siemens, subcontratando a empresa alemã para a exucução de 30% do contrato, ou que a CAF encomendasse à Siemens alguns componentes dos trens. Em outro e-mail, de setembro de 2007, Marchetti afirmou que o governo paulista “gostaria de ver a Siemens contemplada com pelo menos 1/3 do pacote” da CPTM, em “parceria” com as outras empresas.

Tornada pública a delação, a grande imprensa tratou de amenizar o impacto. 

Em reportagem de 8 de agosto do último ano, a Folha informou que “Serra sugeriu acordo em licitação da CPTM”. Como em uma negociação, o jornal vendia que o email de Marchetti mostrava o “esforço” de Serra para não prejudicar a licitação. E à própria Folha, Serra disse que não se encontrou com executivos das empresas interessadas no contrato e que a “licitação foi limpa”, com “vitória da empresa que ofereceu menor preço”. 

Em outra reportagem, a Folha de S. Paulo mostra que Serra negou apenas “encontros privados” com o diretor da Siemens e confirmou ter ido à conferência em Amsterdã “para assistir a algumas solenidades e palestras”. 

Na entrevista concedida ao jornal, o ex-governador e atual senador disse, ainda, que “os preços finais foram tão mais baixos que quebraram paradigmas nacionais e internacionais”. “Economizamos recursos públicos”, declarou Serra e divulgou a Folha.

O ex-governador rebateu a acusação afirmando que seu teor era “sem pé nem cabeça”“Jamais tive ou assisti essa conversa com ninguém, nem faria sentido. A licitação já estava feita. (…) Caberia à empresa vencedora [CAF] fornecer os equipamentos, os preços e os prazos estabelecidos”.

A versão de defesa da negociata feita por Serra publicizada pela imprensa em agosto de 2013 passou tão bem aos olhos do senador que a própria assessoria do tucano assumiu o discurso.

Um ano depois, com a intimação do tucano pela Polícia Federal, a assessoria informou em nota que o procurador-geral “reconheceu que Serra atuou de maneira a evitar qualquer cartel quando esteve no governo”, assumindo as tratativas do então governador. Ainda que sem citar a conversa com o executivo da Siemens, Serra disse que defendeu o interesse público ao se opor à medida judicial da Siemens, já que o preço da CAF era muito mais baixo.

Cartel é “super comum”

As divergências nas declarações de Serra não param na ocorrência ou não do encontro com Marchetti. Elas se estendem sobre o que o tucano pensa e fala a respeito da formação de cartel e sobre a possibilidade de ela ter ocorrido bem debaixo de seu nariz.

Um ano depois de ter negado a reunião na Holanda, o tucano, na saída de um evento em São Paulo, disse à imprensa que a formação de cartel é um “fenômeno super comum”, e que não pode ser vista do ponto vista moral, pois é de praxe que as empresas se articulem para negociar um preço.

“Você não me perguntou isso, mas posso dizer aqui para a mídia: cartel virou sinônimo de delito, mas cartel não é nada mais nada menos que monopólio. (…) Quando os jornais do interior combinam de aumentar e diminuir preço do jornal, há cartel aí. De repente em estação de metrô, em obra pública, diz que se formou um cartel e parece que foi roubo, mas é o mesmo que se dizer que se formou um monopólio, um oligopólio, um duopólio”, opinou, em agosto passado.

No Brasil, a formação de cartel é irregularidade administrativa, passível de pena de até cinco anos para quem abusar do poder econômico contra o consumidor. É ainda um dos crimes que impulsionou a criação do CADE, vinculado ao Ministério da Justiça.

Leia mais: Para Serra, formação de cartel é “super comum”, por Luis Nassif

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

28 Comentários

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  1. Se está com problemas de

    Se está com problemas de memória, José Serra não deve tomar posse no Senado. Falta-lhe um requisito essencial para exercer cargo público: saúde perfeita. Ha, ha, ha… 

    1. NORMALISSIMO???????

      Mário.

      ” Normalissimo “………

      Tão normal quanto a pf (polícia federal com minúsculo mesmo) esquecer meia tonelada de pasta básica de cocaína, ou o avião do acidente do candidato a presidente que morreu e até hoje ninguém sabe quem é o dono……

  2. Esquecimentos como esse

    Esquecimentos como esse seriam normais para quem levou forte pancada na cabeça com uma bolinha de papel. O que não é normal é ter que usar o “não se abandona um lider ferido à beira da estrada” para reavivar a memória de alguém. Parece que funciona. O drama das nossas instituições são os julgamentos e punições já realizados lá na Alemanha. E com provas. Nada de domínio do fato que lá, também, exige provas e juiz não dorme no tribunal. Um espinho atravessado nas nossas pouco republicanas, acostumadas a jogar para debaixo do tapete os delitos de alta plumagem.

  3. Como não sou tuCanalha,

    Como não sou tuCanalha, portanto não sou um apaixonado nem idiota, desta vez dou razão ao Serra. Se o tucano esta defendendo a empresa que menor preço ofertou, ele estava corretíssimo ao pressionar a empresa perdedora para não ingressar na justiça contra o resultado da licitação. 

    1. Então para que pressionar?

      Se a concorrência foi ganha pelo preço menor, o Serra não tinha obrigação nenhuma em pressionar a empresa perdedora. Neste angu tem mais caroço que sua inocência imagina.

  4.  
    TANTO ESQUECIMENTO!  SERIA

     

    TANTO ESQUECIMENTO!  SERIA SEQUELA DAQUELA FATÍDICA BOLINHA DE PAPEL ?

    Eng. Paulo Preto (obras do Rodoanel ), e arrecadador do PSDB paulista. Atropelado e ferido, foi abandonado pelo Zé Serra na beira da estrada.  Alegava o Serra não conhecer nenhum Paulo Preto.

    Agora. O José Serra, escorregadio que nem um bagre, repete que não lembra  de ter se encontrado com Nelson Branco Marchetti.

    Observe que desta feita, o cabra abandona um Nelson Branco. Mas, evita negar que o conhece.  Do jeito que o Serra anda com esse esquecimento seletivo, não tarda,  vai negar conhecer o FHC e o aeroporto do Aécio.

    Orlando

     

     

  5. Enquanto isso vai-se reduzindo propina a cartel …

    Ou seja, no mensalão a imprensa transformou a contravenção de caixa 2 (eleitoral, prescrito e praticado por todos) em tudo que é tipo de crime. Só do PT, naturalmente.

    Já aí no trensalão tucano, vão reduzindo os verdadeiros crimes à “ponderações filosóficas”…

    É só medir os valores e constatar onde o povo perdeu mais (além de trens reformados mais caros que os novos e quebram toda hora).

    Êita!

  6. A midia amiga continua

    A midia amiga continua aliviando para seus protegidos, roubalheira pura e simples é tranformada em “formação de cartel”, um termo neutro que nada diz sobre o superfaturamento e desvio de recursos que traz em seu bojo, tucano roubar? Jamais, tucano permite a formação de carteis. Mas os tucanistanos gostam, podem morrer secos mas continuam a eleger as aves de longo bico.

  7. nestas situações policiais

    nestas situações policiais positivo operante que envolvem políticos no poder há dois procedimentos típicos de uso exclusivo dos políticos sob suspeita ou investigação, a saber:

    ou: – deu branco!

    ou, entonces: – eu não sabia!

    [ é batata! não dá outra… ]

     

     

  8. é por isso que não são pegos…

    tucano só tem memória imediata

    minimizados e escondidos lá atrás, efeitos das falcatruas não têm futuro

     

    mesmo esquema adotado no mensalão e nas águas: PT primeiro

    1. A memória tucana é formada
      A memória tucana é formada pelos editorias da Veja,Globo, Folha e demais meios que repetem os conteúdos dos mencionados. Eles não têm memória assim como o povo que vota nesses. Aliás, quem volta neles não sabe o que é memória, pois, a usam para embrulhar frutas para amadurecer ou forrar fundo de gaiolas.

  9. Em termos de henriquecimento

    Em termos de henriquecimento própio, Serra é o Genoino do PSDB.—nemhum dos dois se beneficou.Era tudo pro partido.

               Só que as ambições de cargos públicos é diferente— e bota diferença nisso.

                 Genoino nunca teve paranoia pra ser Presidente da Republica.Sempre foi um soldado do partido.

                      Serra queria ser mais que General.Talvez ressuscitar ser Marechal .

                            Portanto, a diferença está no poder. Mas,de honestidade os 2 acertaram e eraram com meios diferentes.

                         Mas nenhum dos 2 ficou rico com política ou sem política.E nem pretenderam ficar.

                                Que isso fique ressaltado!

  10. Nelson Branco ou Paulo Preto

    Agora fiquei em dúvida sobre o nome do personagem que o serra não conhece nem nunca ouviu falar: é nelson branco ou paulo preto?

  11. Unicamp

    Nassif,

    O bom velhinho é incapaz de mentir, pode esquecer de uma coisa ou outra, deve ser.

    O malandro não prega prego sem estopa, teve o cuidado de não negar a ocorrência do tal encontro, disse apenas não se lembrar.

    A sociedade paulistana é muito egoísta, por querer os conhecimentos de  Zezinho da Mooca só prá ela, deveriam liberar o nobre político para que fizesse o que sabe de melhor, dar aulas de patifaria na Unicamp. O notável morrerá tentando ser aquilo para o qual ele se preparou durante a vida toda, o imperador do brasilsil.

  12. Falta de lembrança?
    Pobre José Serra, leso para sempre de suas faculdades mentais por uma bolinha de papel . Podem não acreditar, mas , aquela bolinha de papel foi traumática, pois tinha densidade maior que o cérebro dele.

  13. Cubatão e seus efeitos posteriores.
    Tanto Serra quanto os eleitores tucanos são produtos da poluição de Cubatão na população daquele estado. Julgava-se um problema local, mas,vemos que a nuvem foi muito além da região. Problemas de memória foram gerados pelos toxinas emitidas pelas chaminés sem filtros de então, fazendo-os perder a noção do normal ,além do poder de discernir o que presta ou não.

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