UFSC dispensa autor da denúncia que originou Ouvidos Moucos

Corregedor-Geral foi afastado por declarações públicas atacando Universidade e reitor morto, mesmo sem o término das investigações 
 
 
Jornal GGN – O responsável pela denúncia que deu origem a Operação Ouvidos Moucos da Polícia Federal para investigar supostos desvios nas fundações de apoio à pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Rodolfo Hickel do Prado, foi dispensado dos serviços de corregedor-geral da instituição. A informação foi confirmada nesta quarta-feira (07) pelo GGN.
 
Segundo o chefe de Gabinete da UFSC, professor Áureo Moraes, o reitor interino Ubaldo Balthazar já tinha tomado a decisão na segunda-feira (05) e encaminhou hoje para ser publicada no Diário Oficial. Como funcionário da Advocacia-Geral da União em Santa Catarina, Hickel do Prado continua na profissão, apenas foi dispensado dos quadros da Universidade. 
 
A decisão foi tomada em consequência de uma série de declarações públicas do corregedor-geral sobre dados não conclusivos das investigações da Ouvidos Moucos. Na mais recente delas, publicada em entrevista para o jornal O Globo, Hickel chega a atacar funcionários da universidade e até mesmo o reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo que cometeu suicídio, após ser detido e depois afastados das funções administrativas. 
 
“Pessoalmente fiquei indignado com a reportagem. Todos somos da equipe e todos estamos tocando a Universidade. O reitor nem está mais aqui pra se defender”, destaca o professor Áureo Moraes. 
 
Ao jornal O Globo, Hickel fez declarações como “a barbaridade é que as pessoas do Cancellier continuam na administração da UFSC e nas funções onde está todo o esquema” e, ainda: “Ele não enfrentou os fatos e fugiu das responsabilidades”, se referindo ao reitor morto. 
 
Hickel ganhou fama nos corredores da UFSC como uma “pessoa difícil de lidar”. Ele foi conduzido ao cargo pela ex-reitora Roselane Neckel. 
 
A vaga de corregedor-geral da Universidade foi criada no final de 2015, quando foi aberto um processo para a escolha dos três membros que deveriam compor os cargos abertos para o serviço na UFSC. Na ocasião, 14 pessoas de dentro e fora da universidade se inscreveram no edital respeitando, dentre as regras, serem servidores públicos e com formação em direito. Uma comissão constituída para fazer a escolha dos candidatos decidiu por três nomes: o de Rodolfo, Ronaldo Davi Barbosa e Marcelo Aldair de Souza. Desta lista tríplice, a então reitora determinou Rodolfo como corregedor-geral, os demais na função de subordinados na nova secretaria.
 
No entanto, em menos de um mês o corregedor Aldair de Souza pediu para sair do cargo e, dois meses depois, foi a vez de Ronaldo Davi Barbosa deixar os quadros da universidade. Os dois, dizem funcionários da UFSC, com o argumento de falta de condições para trabalhar ao lado de Hickel. 
 
O professor Áureo Moraes explica que a decisão do reitor pró-tempore, Ubaldo Balthazar, está dentro da legalidade. “Como a sua nomeação [de Hickel] foi da então reitora [Roselane Neckel], o ato dispensa qualquer outro processo administrativo, pode ser feito na discricionariedade do atual reitor”.
 
Quem irá ocupar agora o cargo de corregedor-geral na instituição será Ronaldo Davi Barbosa, servidor de carreira com trajetória em processos administrativos. Além dele, a reitoria também irá conduzir para compor a equipe Fabrício Guimarães, um dos 14 nomes inscritos em 2015. “Os dois nomes já foram apreciados pela comissão instituída pela Universidade”, reforça Moraes. 
 
Entenda
 
No ano passado, Hickel afirmou à PF e ao Ministério Público Federal que em dezembro de 2016 recebeu um telefonema anônimo alertando sobre os desvios e que, ao levar ao conhecimento de Cancellier teria ouvido que não deveria apurar. A denúncia levou a deflagração, em meados de setembro, da Operação Ouvidos Moucos realizada com grande estardalhaço pela delegada Erika Marena, comandando centenas de policiais que invadiram e apreenderam documentos e equipamentos administrativos da Universidade. Na ocasião, o reitor Cancellier de Olivo e outros seis professores foram detidos e, depois de liberados, impedidos de voltar aos trabalhos na UFSC.
 
No dia 2 de outubro, Cancellier comete suicídio com um bilhete no bolso: “A minha morte foi decretada quando fui banido da Universidade!”. Desde o princípio o reitor negou a acusação, mas foi acusado na Operação Ouvidos Moucos de obstruir a investigação interna da corregedoria da Universidade. Vale destacar que Hickel é considerado entre os funcionários da UFSC como um desafeto de Cancellier e amigo da ex-reitora Roselane Neckel, que o conduziu pela primeira vez ao cargo.
 
Nas primeiras informações divulgadas, a PF afirmou que as suspeitas são de desvios de R$ 80 milhões no pagamento de bolsas e verbas de custeio paras as despesas dos cursos de administração e física da Educação a Distância (EAD) do Programa Universidade Aberta na UFSC. Porém, aliados de Cancellier contestam os números e dizem que os valores reais sob suspeita não ultrapassam R$ 500 mil e que o reitor não sabia dos supostos desvios. 
 
Após o suícidio e Cancellier, o corregedor-geral Hickel se afastou durante três meses da UFSC, primeiro por licença médica de dois meses, depois em razão de férias. Seu retorno estava marcado para esta terça-feira. 
 
Além de Hickel, apenas mais uma funcionária acusa a existência do suposto esquema de desvio, a  coordenadora do EaD do curso de Administração, Taisa Dias, que disse que levou a denúncia à Corregedoria (comandada por Hickel), mas conta que primeiro teria avisado ao reitor, mas ele não tomou providência e passou pressioná-la para deixar o cargo. 
 
Já a delegada que iniciou o caso, Érika Marena, está sendo transferida para Sergipe e o inquérito que conta com mais de 3 mil páginas, boa parte acrescentadas após a morte do reitor, será tocado por uma equipe da PF com o auxílio de cinco funcionários da Corregedoria-Geral da União.
 
Além de duas pessoas que acusam o reitor morto – uma delas desafeto -, e de uma delegada que está sendo afastada do caso, a Operação Ouvidos Moucos completará em poucos dias 5 meses sem nenhuma pessoa indiciada até o momento. 
 
Redação

4 Comentários

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  1. Karina Sommagio da UFSC.

    Fica claro que tal senhor foi um quadro “plantado” na UFSC para destruí-la por dentro. Como Karina Sommagio no suposto “mensalão” (muitíssimo provavelmente ligada a empresa de espionagem Kroll, um dos muitos braços empresariais da CIA) e como Joaquim “Torquemada” Barbosa, encontrado por Frei Betto em um aeroporto e colocado no STF por Lula de forma amadora (suas ligações com os estadunidenses só foram descobertas depois que ele já mandara vários petistas para a masmorra). Fica a lição. O jogo é bruto e as teorias de conspiração geralmente estão certas quando existem grandes interesses envolvidos.

  2. E duas perguntas que continuam no ar…

    1) Por onde anda a ex-reitora Roselane Neckel? Vai continuar sendo ignorada em toda a história?

    2) Alguém podia puxar a “capivara” do ex-ouvidor, né?

  3. Hickel só teve ódio do mundo e em especial da Universidade.

    Um narciso, autoritário  jamais entendeu seu cargo, seu papel ou a instituição em que trabalhava. Mais um dos monstros que sairam da caixa de Pandora.  Em tempos de lava-jato estas mediocridades ( pois só um mediocre não entende o significado de universidade), saem do armário e cheios de poder, impulsionados por outras instituições, como a PF e MP,  não se importam em destruir vidas ou instituições, ou a história. 

    Em comunicado recente o TCU, (vejam só) querem liberar professores para retornar as suas funções. O que significa isto? Será que significa que não encontraram nada. Se não encontraram nada o que significou a Ouvidos Moucos. Mas ainda fico pasmo de ver que a notícia  que dá  ao TCU a autoridade para prender e  liberar professores. 

    Como veremos irão cozinhar o galo, até tudo sair dos noticiários, ou então procurarão um triplex, ou um sitio de atibaia, para justificar esta operação maldita.

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