ANÁLISE

ANALISTA

 

 

 Dormindo nu e sozinho bem às seis da manhã daquele domingo, a campainha, telefone e celular tocaram ao mesmo tempo para informarem da morte dos pais octogenários por intoxicação alimentar. Vestiu-se rápido que ao vestir a calça de malha não se preocupou em usar cueca já que era para se apressar. Chorou e várias lembranças vieram-lhe junto com as lágrimas. Parece que depois da missa de sétimo dia o dia-a-dia volta ao ritmo normal. Sepultar familiares é o ritual mais antigo da humanidade e será assim até o(a) penúltimo(a) falecer, talvez. A viajem ida e volta foi longa demais que aquele epilogo de um episódio de sua foi muito estressante que um mês de férias seguido por um fim de semana pouco ajudou. Mas, era necessário tocar o barco em frente pois a vida só segue em frente sem olhar para trás e pouco mostra o que está por vir, como a minissaia daquela gostosa lá. Qualquer folga à tarde, entro em qualquer igreja e faço meu salmo como o rei Salomão e sinto um vazio divino. Acho que tive a chamada experiência de quase morte e senti e vi este vazio divino em mim. É a melhor solidão que existe. Sem sonhar e sem despertar vejo o sempre e o nunca como sinônimos, faces da moeda eternidade que a morte lança ao ar e não deixa os vivos verem o resultado deste misterioso cara e coroa fatídico. Nada e ninguém é importante para ser imprescindível e eterno. Nem a direita é certa e a esquerda torta ou a esquerda ousada e a direita pragmática cem por cento. É preciso ser feliz naturalmente, transar por amor, trabalhar por vocação e acreditar racionalmente. Os governantes deveriam prestar mais atenção do que a oposição diz do que dizem seus pentelhos. Ser escritor é a melhor maneira de brincar de Deus e interpretar um(a) personagem a melhor maneira ser humano. Escrever um poema a melhor maneira de se entender e entender a vida. Compor uma musicar, cantar e dançar é a melhor maneira de se comunicar, ensinar e medicar a melhor maneira de ser útil. Pedir perdão e perdoar a melhor maneira de esquecer. Se eu pudesse escolher a minha vida e o meu viver, tal como num restaurante, eu olharia e menu e escolheria qualquer coisa displicentemente.

 

Ao ouvir tudo isto, psicólogo me disse:

 

– Você é normal, a vida e o viver que são neuróticos, vou te dar um calmamente para você passar a maior parte do tempo dormindo, não resolverá nada pois, não há nada para ser resolvido, se os sintomas persistirem critique os governos, xingue alguém e se masturbe, transe ou reze mas, entre em transe.

 

– Estou curado doutor.?

– Talvez.

 

Chegando em casa minha mulher me recebeu com um carinho e perguntou:

 

– O que o médico falou?

 

Respondi:

 

– Que a culpa é sua!

 

Ela concluiu:

 

– Bem que me disseram que ele é bom.

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