Karinthy Frigyes, um humorista húngaro


 

Karinthy Frigyes* (Budapeste, 24 de julho de 1887 – Siófok, 29 de agosto de 1938), foi o representante húngaro mais popular do humorismo que publicou durante muitos anos, em suas crônicas diárias, milhares de ideias engraçadas e engenhosas, um sem números de assuntos para dramas e comédias, romances e filmes, que não teve tempo de aproveitar em obras de maior fôlego. Em sua fascinante absurdez aparente, esses pequenos livros sempre contiveram um germe sério, um convite à meditação. Entre seus livros de maior repercussão figuram: Assim É Que Vocês Escrevem (sátiras literárias) e Com Licença, Sr. Professor (reminiscências do colégio).  



Fotos de bondes em Budapeste (cerca de 1930/40)

Enquanto vocês leem o conto vão curtindo “Sweet Georgia Brown”, com Diango Reinhardt & Coleman Hawkins All Stars Jam Band (um hábito meu de ler ou escrever ouvindo uma boa música que ‘casa’ com o texto)

https://www.youtube.com/watch?v=YZ0irlQhUn0 align:center
 

PSICOLOGIA DO MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO OU MATERIALISMO CAPITALISTA E CRISE DO PROLETARIADO

PSICOFÍSICA DOS CONFLITOS ENTRE AS CLASSES DIRIGENTES E A CONSCIÊNCIA DAS MASSAS  
(Exaustivo estudo teórico das origens das lutas sociais, baseado no materialismo histórico, de acordo com as obras principais de Marx e Engels, amplamente exemplificado, em dois tomos) – Karinthy Frigyes                                                     

TOMO I

DR. IDEM (agarrado com um das mãos ao balaústre do bonde e com um dos pés à tabuleta do letreiro LOTADO, a fronte especada contra os montões de cadáveres esmagados que atravancam a plataforma):

– Não tem mais lugar? Esta é boa! Tem até demais; basta que os senhores se encolham um pouquinho. É uma pouca vergonha não deixarem a gente subir! Tenho tanto direito de embarcar como qualquer um! Pisei na mão do senhor? Paciência, guerra é guerra. Se não obtivermos justiça às boas, recorreremos à violência. Que dirigentes são estes que deixam subir uns e recusam outros? Muito bem, nós mesmos é que vamos dar um jeito nesta joça. Então o senhor acha que os meus negócios são menos urgentes do que os seus? Como? Embarcou na parada anterior? E eu com isso? Quer dizer que já viajou o suficiente. Ora bolas! Se está incomodado, pode saltar. Não adianta vir com conversa mole para cima de mim: pouco importa quem embarcou há mais tempo, empurrado por não sei que pistolão indecente… o que interessa é saber quem tem talento e força para se manter no lugar. Com os diabos, saiam da minha frente! Abaixo o motorneiro! Morte aos gordos! Viva a revolução! Quem for húngaro, siga-me! (Num ímpeto irresistível, penetra na plataforma. O carro põe-se em movimento).

TOMO II

DR. IDEM (na parada seguinte, erguido à entrada da plataforma):

– Mas, senhores, meus senhores, pelo amor de Deus! Não estão vendo que não há mais lugar?… Assim vão rebentar a plataforma. Deixem de empurrar-se uns aos outros como animais irracionais. Cavalheiros, não se esqueçam da dignidade humana. Afinal de contas, somos homens! Nem sequer um irracional embarcaria num bonde abarrotado. Senhores, vamos manter a ordem, senão irá por águas abaixo tudo aquilo que a sabedoria do nosso governo já realizou em benefício da Hungria de amanhã, dentro dos limites legais da evolução constitucional orgânica! Paciência, meus senhores! Paciência! Aguardem o próximo carro. Uma espera paciente e compenetrada, executada metodicamente, não poderá deixar de produzir os seus frutos, um futuro melhor, dentro, naturalmente, dos limites previstos pela Lei. Pensem, cavalheiros, na civilização ocidental, meditem no grande exemplo da Alemanha, lembrem-se das garantias constitucionais! Em nome da Nação Soberana, convido-os a se retirarem recíproca e pacificamente uns da barriga dos outros e aguardarem o próximo bonde! Viva o sr. Condutor! Viva o nosso querido Motorneiro, que dirige o nosso carro com tão sábia clarividência através destes dias críticos! Viva o Governo!


Fotos da Exposição de Karinthy Frigyes e placa em sua homenagem, de 1948, localizada na rua em que viveu em Budapeste, entre os anos de 1920 a 1930, com a inscrição na parte superior: “Ele viveu nesta casa”.

Saiba mais sobre o conto e um pouco de Karinthy Frigyes AQUI

NOSSAS FONTES:

Karinthy Frigyes*: pequena introdução extraída das Notas Biográficas de Paulo Rónai do livro Contos Húngaros, Ed. Biblioteca Universal Popular (BUP), página 116. Assim como o conto aqui transcrito também foi extraído do mesmo livro (fotos acima), publicado em 1964, volume 38, págs. 93/95, com tradução de Paulo Rónai e revisão de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (edição esgotada). O mesmo conto foi publicado na Revista Usp (fotos abaixo), nº. 6, págs. 137/138, em 1990, conforme arquivo em PDF.

UM POUCO SOBRE PAULO RÓNAI


O acadêmico húngaro Paulo Rónai em sua biblioteca (1965) 

Paulo Rónai (Budapeste, 13 de abril de 1907 – Nova Friburgo, 1 de dezembro de 1992), foi tradutor, revisor, crítico, professor de francês e latim no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Nascido Rónai Pál, na capital da Hungria numa família judaica, fez seus estudos primários em seu país natal, mas estudou também na França e na Itália antes de se transferir para o Brasil devido à Segunda Guerra Mundial. Aqui, travou relações de amizade com Aurélio Buarque de Holanda Ferreira – com quem assinou diversos trabalhos -, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, dentre outros. De seus trabalhos destacam-se as traduções para o português das centenas de contos reunidas em Mar de Histórias: antologia do conto mundial, com Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1945), projeto que durou 44 anos, além do trabalho minucioso de revisão, anotação, introdução e comentários da Comédia Humana, de  Honoré de Balzac, um projeto da Editora Globo de Porto Alegre, visando a tradução dos 89 livros da Comédia Humana, com a participação de 14 tradutores, e Rónai os coordenou e escreveu os prefácios. O projeto, composto por 17 volumes, com a primeira publicação em 1945, levou dez anos para ser concluído. Casado com Nora Tausz, teve duas filhas, Cora Rónai, jornalista e escritora e Laura Rónai, flautista barroca e professora da UNIRIO. Traduziu, entre outros, vários autores húngaros para o português: Os Meninos da Rua Paulo, de Ferenc Molnár, A Tragédia do Homem, de Imre Madách, e Antologia do Conto Húngaro, publicado em 1957, com prefácio de seu amigo João Guimarães Rosa (foto abaixo, publicação da Ed. TopBooks, 1998).
 
Fontes: Wikipédia / Revista Usp
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Jota Botelho

4 Comentários

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  1. Essa barra à esquerda atrapalha…

    Pessoal do Jornal GGN,

    essa barra vertical do facebook, twitter, g+ etc fica sobre parte do texto, atrapalhando a sua leitura.

    Dava pra levar essa barra para a coluna da direita?

    Fica melhor.

     

    Grato.

  2. Karinthy Frigyes em imagens raras

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=Fqw4oGokKCs align:center]


     

    No Site MaNDA Arquivos Digitais, aparece imagens de Karinthy Frigyes em alguns filmes raramente vistos. O escritor sobreviveu em gravações de algumas cenas cujos clipes são de propriedade do Museu da Literatura Magiar:
    – Bábjátékos prológus (o boneco contador de histórias cujo modelo é Karinthy), do filme Barátságos arcot kérek, de 1935, dirigido por Kardos László, com roteiros de Karinthy e Mihály István. 
    – A chegada do Zeppelin no aeroporto com a presença de Karinthy como repórter, março de 1931.
    – O novo centro de uma loja em Budapeste (Kristóf) com o escritor na cerimônia de inauguração, outubro de 1933. 
    – Fatos da história húngara, filme mudo de 1964, dirigido por Bálint.
    – Filme amador de 1931, com Karinthy Frigyes brincando na neve com seu filho Karinthy Ferenc e outras crianças.
    – Utazás a koponyám körül (Viagem em torno de meu crânio, 1937), filme de 1970, dirigido por Révész György, baseado no livro de Karinthy Frigyes.
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