Os fatores que levaram o Pantanal a ter temporada recorde de incêndios

Professor da UFMS ressalta a necessidade da criação de políticas de manejo do fogo, a fim de minimizar cenários que favorecem os incêndios no bioma

Queimadas são uma forma de desmatamento elevada a ação coordenada pelo Agronegócio. Foto: Ivan Canabrava/Illuminati Filmes/IPAM

Uma região forjada e dependente do fogo. É assim que o professor Geraldo Alves Damasceno Junior, do  Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), descreve o Pantanal, que apesar de ser úmido, tem o fogo como peça fundamental para a manutenção de suas características.

Isso porque o Pantanal tem fatores que favorecem as queimadas, porém também é vulnerável a situações em que pequenos incidentes se transformam em grandes incêndios. A faísca do escapamento de um caminhão, por exemplo, pode dar início ao fogo com potencial de se espalhar rapidamente a ponto de fazer o caminhão explodir.

Mas, este ano, o número recorde de queimadas pode ser explicado pelo que Damasceno chama de Regra dos 30: 30 dias sem chover, umidade abaixo de 30%, temperatura acima de 30°C e ventos acima de 30 km/h.

Outro fator importante que favoreceu o triste recorde é o fato de que o Pantanal também apresenta inundações, que geram uma quantidade expressiva de matéria orgânica. Os capins, por exemplo, se adaptam facilmente ao fogo. 

Vale lembrar ainda que, após um período de extrema seca, que começou em 2019, 2023 foi um ano em que a região registrou cheias, que produziram muita biomassa para combustão. 

Novas políticas

Assim, o docente explica que as queimadas deste ano são a somatória da regra dos 30, da quantidade de biomassa produzida pelas inundações de 2023 e pelas mudanças climáticas. 

Existe, ainda, um fator importante: a adaptação da flora local. No Pantanal, a vegetação leva cerca de 20 anos para se recuperar. Em áreas de matas ciliares, o fogo acaba moldando como a vegetação vai crescer. 

Em relação aos campos inundáveis, as gramíneas crescem junto com as inundações, posteriormente transformando-se em biomassa. Por isso, a ação das queimadas tende a criar campos mais abertos, em que em vez de árvores, sejam dominados por gramíneas.

A solução para evitar queimadas de tamanha proporção, segundo Damasceno, é o manejo do fogo, em que além de um trabalho educativo, os governos estadual e federal possam reduzir a quantidade de biomassa disponível na região. 

A UFMS, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estava auxiliando o Executivo estadual na criação de um programa de manejo do fogo. A ideia era queimar, preventivamente, a biomassa produzida pelas cheias do ano passado, a fim de evitar que servissem de combustível para os incêndios em um período mais seco. 

Porém, quando o governo estava prestes a implementar o programa, os incêndios começaram e a medida de prevenção passou para o segundo plano. 

*Com informações do The Conversation Brasil. 

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1 Comentário

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  1. Quantas vezes nos últimos 500 anos o Brasil teve secas na maior bacia hidrográfica do planeta? Ou incêndios na maior planície apagável do planeta?
    Um país farto de águas e florestas queimando meia Europa? Tipo toda a Alemanha, França, Espanha, Itália, etc. INTEIRAMENTE?
    Aí vem um “comerdarista” num jornal de TV dizer que em vez de reunião, o “governo” (federal, estadual e municipal não?) tem é que “ir apagar o fogo”. Talvez ele pense que é mais fácil que uma fagulha de escapamento. Ou um fósforo num rolo de papel embebido em álcool solto numa trilha qualquer sem câmera alguma.
    O fato é que quanto mais queimada e desmatamento, mais seca e menos chuva, num ciclo “virtuoso” … para a tragédia … e para ruralistas criminosos que não estão nem aí para quando faltar água e energia e sobrar inflação e pobreza para o “resto”.

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