Em meio a crise diplomática, protestos e provocações, Estados Unidos e Irã decidem vaga

Johnny Negreiros
Estudante de Jornalismo na ESPM. Estagiário desde abril de 2022.
[email protected]

Confronto decisivo da última rodada da Copa do Mundo põe dois rivais geopolíticos cara a cara

Foto: Reprodução/Twitter/US Men Soccer

O futebol já foi e continua sendo palco de confrontos políticos locais e internacionais. Nesta Copa do Mundo do Catar, que pela escolha do país-sede tem levantado críticas talvez nunca antes vista em um mundial de seleções, guardou para esta terça-feira (29) um duelo histórico.

Às 16h, Estados Unidos e Irã se enfrentam pela última rodada da fase de grupos, em duelo válido pelo Grupo B. Se houver empate, País de Gales pode se classificar junto da Inglaterra, mas esse cenário é mais improvável (ver a classificação abaixo). No final das contas, americanos e iranianos fazem o jogo decisivo da chave: quem ganhar, avança às oitavas de final.

Foto: Reprodução/Google

Pedido de exclusão do torneio

Nesta segunda-feira (28), o Irã pediu que a seleção estadunidense fosse excluída da competição após o adversário postar foto nas redes sociais com a bandeira do país do Oriente Médio desconfigurada, sem o emblema da República Islâmica. Ainda, a Federação Iraniana de Futebol pretende prestar queixa ao Comitê de Ética da FIFA.

Foto: Reprodução

A publicação norte-americana ocorreu em forma de apoio aos protestos que acontecem no Irã. Há dois meses, manifestantes pedem igualidade de direitos e liberdade às mulheres.

Em entrevista coletiva, tensas horas depois do incidente, repórteres iranianos questionaram o técnico dos EUA, Gregg Berhalter, sobre o ocorrido.

Já ao capitão da equipe Tyler Adams, os jornalistas persas questionaram como ele se sente ao representar um país com tanta desigualdade entre negros e brancos, a exemplo dos protestos do movimento Black Lives Matter.

Ainda antes da pergunta, o profissional árabe informou que a pronúncia “Iran” (Irã, em inglês) utilizada pelos americanos estava errada.

João Castelo Branco é repórter brasileiro e correspondente internacional da ESPN

Repressão local e no Catar

Segundo a ONG Iran Human Rights Watch, 380 pessoas, sendo 47 crianças, já morreram na repressão aos protestos. O estopim para a revolta foi a morte de uma jovem de 22 anos.

Mahsa Amini apareceu sem vida após ser presa pela polícia “dos bons costumes”. Ela foi detida por utilizar de forma inadequada o véu islâmico. A hijabi é obrigatória a mulheres no Irã. Assim, os protestantes pedem igualidade de direitos à população feminina.

No confronto diante de Gales, uma torcedora iraniana foi abordada por seguranças do estádio Ahmad Bin Ali. Ela estava exibindo camisa da seleção árabe com o nome Masha Amini.

Foto: Reprodução/Twitter

A torcedora estava acompanhada de um rapaz que empunhava bandeira do país com a mensagem: “Liberdade para as vidas femininas”. Saiba mais aqui.

Origem da inimizade

Em 1953, a Operação Ajax, realizada pela CIA com apoio dos britânicos, viabilizou um golpe de Estado no Irã. A virada de mesa derrubou o primeiro-ministro Mohamed Mossadeq e colocou no lugar um homem de confiança do Ocidente.

Em seguida, esse episódio alimentou sentimento antiamericano no território árabe, que atingiu ápice na Revolção Iraniana, em 1979. Desde então, a nação vive sob um regime teocrático com base em interpretação radical do islamismo. Por causa desse processo político, os Estados Unidos romperam com o governo persa.

Enriquecimento de urânio e Trump

Entre 2019 e 2020, articulações do então presidente estadunidense, Donald Trump, isolaram ainda mais o Irã do Ocidente e do Golfo Pérsico.

Naquele momento, a Casa Branca acusou a teocracia islâmica de descumprir o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), ao realizar procedimento de enriquecimento de urânio.

Trump e Ali Khamenei, o aiatolá (líder) iraniano à época, chegaram a trocar ataques publicamente, aumentando a tensão geopolítica global. Saiba mais aqui.

Além disso, operação aérea estadunidense no início de 2020 resultou em morte de general iraniano, o que agravou o problema existente entre os dois países.

Atletas do Irã também estão com os protestantes

Não é só a seleção dos EUA que demonstrou apoio à revolta que toma conta do Irã nos últimos 60 dias. Na estreia da Copa contra a Inglaterra, os jogadores e grande parte da comissão técnica do Irã não cantaram o hino nacional, como forma de oposição ao regime.

Durante o ato, a TV estatal iraniana censurou a imagem dos atletas em silêncio, no momento que estavam alinhados durante a execução do hino. Nas arquibancadas, torcedores persas não ficaram em silêncio. Saiba mais aqui.

Segundo uma fonte que cuida da segurança das partidas, os atletas foram ameaçados pelas autoridades de Teerã. Após ficarem calados, eles foram convocados para reunião com Corpo da Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC) e foram informados que seus familiares sofreriam “violência e tortura” se continuassem com a postura. No jogo seguinte, os futebolistas cantaram o hino.

Segundo jogo entre os times

O duelo desta terça-feira será o segundo da história entre Estados Unidos e Irã. Em 1998, as equipes se enfrentaram.

Porém, a partida teve tom de reconciliação. Era um momento diferente do atual, em que o Irã tentava restabelecer a relação com o Ocidente.

Torcedor que invadiu o campo

Na vitória de Portugal sobre o o Uruguai por 2 x 0, um torcedor invadiu o campo. Mario Ferri Falco protestava pela liberdade feminina no Irã, a favor da Ucrânia, que está em guerra após ser invadida pela Rússia, entre outras pautas.

Foto: Reprodução/Instagram

LEIA:

Johnny Negreiros

Estudante de Jornalismo na ESPM. Estagiário desde abril de 2022.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador