Impeachment não está na minha contabilidade, diz Arlindo Chinaglia

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Jornal GGN – A disputa presidencial acirrada entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) terminou em clima de golpismo, segundo políticos de situação. A atmosfera deu uma dimensão maior à eleição da presidência da Câmara Federal, marcada para o dia 1º de fevereiro de 2015. Um presidente de oposição poderia fazer mais do que simplesmente retardar a votação de projetos que interessam ao segundo mandato de Dilma: eventual pedido de impeachment da presidente reeleita, por exemplo, passaria obrigatoriamente pelas mãos do novo detentor do principal cargo na Casa.

É nesse cenário que o PT escolheu Arlindo Chinaglia para disputar a cadeira de presidente da Câmara. Os concorrentes, até o momento, são Júlio Delgado, candidato do PSB com apoio dos tucanos, e Eduardo Cunha (PMDB), que afirma já ter o voto de ao menos um terço dos parlamentares.

A candidatura do peemedebista, tida como favorita na grande mídia, desagrada ao Planalto, pois Cunha sustenta a bandeira de “chapa independente” no discurso mas, na prática, não hesita em comportar-se como opositor a Dilma – inclusive ameaçando engavetar, como presidente eleito, projetos que interessam à presidente, como a regulação econômica da mídia. 

Em rápida conversa com a reportagem do GGN no dia 19 de dezembro de 2013, Chinaglia amenizou a tensão em torno de uma possível vitória de Cunha. Além disso, afastou a possibilidade de pedido de impeachment via Congresso. “Não está na minha contabilidade”, resumiu. 

 

Abaixo, os principais trechos da entrevista concedida no dia 19 de dezembro.

Jornal GGN – Pouco se falou sobre isso oficialmente, mas ventilou-se que o PT tentaria negociar uma aliança com o PMDB de Eduardo Cunha com vistas à eleição da presidência da Câmara. Essa negociação de fato existiu? 

Chinaglia: Na verdade, o que aconteceu foi que o PT atrasou sua definição sobre quem seria o candidato à presiência da Câmara por dois motivos. Primeiro porque havia uma séria de matérias importantes para serem votadas no Congresso, e nós temos a responsabilidade de bancada de governo e precisamos de tempo para estabelecer relações com todas as bancadas. O vice-presidente Michel Temer, inclusive, foi quem, no exercício da presidência da República, se reuniu com todos os partidos da base para tratar, por exemplo, do PL 36 [que permite o reajuste da meta fiscal]. Mas uma candidatura do PT depois que o líder do PMDB [Eduardo Cunha] disse que não poderia ter presidência do PT [na Câmara]… Nós evitamos, naquele momento, qualquer tipo de situação que levasse a, digamos, uma atitude de não colaboração de todos os partidos da base [na votação do pacote de projetos que interessava ao Planalto]. 

GGN – Como o PT vê, hoje, a candidatura de Eduardo Cunha?

Chinaglia: Isso de discurso de independência depende da interpretação de cada um. Até porque o presidente da Câmara não tem o direito regimental e menos ainda constitucional de ser um presidente a serviço do governo ou da oposição. Portanto, o presidente daquela instituição pode muito, mas não tudo. Seu dever é ser imparcial. Quando não for, há mecanismos que o plenário lançará mão para fazer correções de rumo.

Agora, na minha opinião, existe uma omissão calculada quando o assunto é independência.  Acho que a Câmara tem que ter independência e harmonia com outros poderes. Mas também tem que ter independência frente a poderosos grupos econômicos, para fiscalizar e combater tudo aquilo que democraticamente os representantes decidirem fazer. A independência vai além do formalidade que a Constituição obriga, e isso não é favor nenhum.

Se qualquer um quiser conhecer a independência de cada candidato a presidente da Câmara, no meu caso é fácil. Já fui presidente, você pode pesquisar e ver se qualquer líder de oposição de minha época fez alguma análise de que eu descumpri o regimento e a Constituição. Seguramente, não encontrará nada. Me sinto honrado com as relações políticas e pessoas que estabeleci na Câmara. Não me sinto em desvantagem nessa disputa, ao contrário. Quanto a independência de outros candidatos, é só ver os pronunciamentos de cada um, como votamos em cada matéria, ou as emendas que apresentamos ou não apresentamos a projetos de lei e medidas provisórias. O termo independência é um termo caro, mas muito mais amplo do que calculadamente vem sendo usado. 

Quando algum candidato faz da independência sua bandeira, sempre me causa duas reações: a primeira é pensar que é ótimo, porque é cumprir a disposição; a segunda é imaginar que ninguém consegueria fazer diferente e se quiser fazer, não suportará a condução do plenário. E uma outra reação é pensar: será que essa pessoa quer dizer que outros presidentes não foram independentes?

GGN – A disputa presidencial acirrada gerou uma atmosfera de golpe após a vitória de Dilma. Nesse cenário, a eleição da presidência da Câmara ganhou outra dimensão, já que um pedido de impedimento político passará obrigatoriamente pelas mãos do futuro presidente da Casa. Isso aumenta a preocupação do PT?

Chinaglia: O presidente do TSE [Tribunal Superior Eleitoral], ao diplomar a presidente e o vice-presidente, disse que para o Tribunal não há terceiro turno e, portanto, a eleição é uma página virada. Acredito que é um recado a ser mais uma vez lido pela sociedade e especialmente por atores políticos. Não se faz impeachment sem fato determinante e, por consequência, sem apoio popular. Não há nem uma coisa nem outra. Impeachment não está na minha contabilidade. Acho que a eleição foi polarizada – e esse também foi um dos motivos de ter atrasado o lançamento da nossa candidatura à presidência da Câmara, exatamente para dar conta da reflexões -, mas uma coisa é a disputa da presidência da República e outra, da Câmara. Qualquer deputado vai escolher alguém que vai conduzir bem talvez o único espaço que quase a totalidade dos parlamentares tem para exercer sua função e se credenciar junto a a queles que o elegeram.

E também porque, veja, Dilma tem apoio popular, que inclusive cresceu nas últimas pesquisas. Se em um ou outro maluco que vai para a rua defender impeachment, isso é problema dele. Mas a sociedade fez uma escolha nas urnas.

GGN – Havia a expectativa de que o PSDB declarasse apoio a Eduardo Cunha, mas no final o partido optou por endossar a campanha de Julio Delgado, que concorre pelo PSB. Como o PT enxerga essa aliança?

Chinaglia: Eu interpreto o seguinte: a oposição não identificou no Eduardo Cunha o seu representante. Vejo a candidatura do Julio Delgado como a de oposição. Ele, Julio, foi da oposição na disputa presidencial [o PSB lançou Marina Silva, e no segundo turno da eleição apoiou o tucano Aécio Neves]. O Eduardo Cunha elegeu o vice-presidente da República. Não acho que há contradição no PSDB apoiar o Julio. Nem vejo no Julio, que conheço há muitos anos, essa atitude – não estou dizendo que o PSDB vai fazer esse tipo de tentativa – de colocar em risco a constitucionalidade. Vejo nele uma pessoa que tenta exercer bem o mandato com as condições que tem. 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

13 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Que post e tema sem pé e nem

    Que post e tema sem pé e nem cabeça.

      Quem quer o impedimento de Dilma?

      Eu não gosto dela e tampouco de suas mentiras,principalmente no horário eleitoral– convenhamos que está fazendo o avesso do que prometeu.E pior ainda: adotando o que condenava.

         Mesmo assim,nesse vale tudo da política, ela é uma pessoa honesta.

             Desde que ”honesta” significa não roubar.

              Mas mentir descaradamente na campanha não é ser honesta.Mas esse tipo de desonestidade está longe do impedimento de governar,

              Apenas ,sua reeleição, não foi algo comemorado nem por seus asseclas.

             Foi uma grande tragédia que temos que engolir por mais 4 anos,

                    Só isso. 

  2. Eduardo Cunha, NÃO!!!

    Os congressistas que optarem por esse deputado, bem sabem de seu histórico político. Portanto serão marcados para sempre como chantagistas e não  éticos!   Eduardo Cunha, NÃO !!!  Precisamos de um Congresso razoavelmente sério. Não podem macular ainda mais essa Casa! Que tenham hombridade!  Eduardo Cunha, NÃO!

  3. Impeachment a soldo

    Muito foi dito que E. Cunha financiou dezenas de deputados país afora.

    Cadê a polícia do Zé??? De onde veio o dinheiro???

    Ou melhor, para quê tanto dinheiro??? Para quê tanto deputado comprado???

    É pra votar o impeachment??? Quem está financiando o impeachment???

    Depois reclamam dizendo que somos fãs das teorias da conspiração. Alguém poderia pesquisar de onde veio o $$$$$$ dos congressistas do golpe paraguaio???

    A reeleição do “aposentado vagabundo” FHC também foi comprada…

    Em tempo: Cunha será eleito, não se iludam.

  4. Sem pé nem cabeça !! Um

    Sem pé nem cabeça !! Um eventual pedido de impedimento, que diga-se, mais de 50 foram apresentados no último mandato, segue o rito regimental e não a vontade do detentor do mandato de presidente do legislativo !! 

  5. “‘Impeachment não está na

    ‘Impeachment não está na minha contabilidade’, diz Arlindo Chinaglia

    lulopetismo mais dilma estão perdidos, desatentos, sem orientações programáticas para seres falantes formais no mesmo ensaiado discurso marqueteiro e, o pior de tudo, estão sem um manual interno de estilo e léxico para comunicação isperta com o público e a mídia:

    onde já se viu uma liderança petista no congresso e no governo utilizar em letras garrafais a palavra contabilidade… ?!!?  palavra que lembra, no imaginário popular, o modo operacional econômico-administrativo tão caro aos brasileiros e à política econômica lulopetista que é essa tal de contabilidade criativa quando no governo estiver um governo petista-dilmista da gema socialista…

    sem chance!

    #só jesus na causa!

  6. A vitória de Arlindo Chinaglia é fundamental…

    … para trazer tranquilidade ao governo Dilma e esfriar a cabeça dos golpistas do PiG/psdb. Os golpistas ainda estão inconformados por levar de 4 do PT. 

  7. “Impeachment se faz com fato

    “Impeachment se faz com fato determinante e apoio popular. Não há nenhum nem outro”

    Simples assim.

    O resto é chifre em cabeça de cavalo, pêlo em ovo, inteligência em cérebro de tucano, dente de galinha, etc.

  8. Os deputados que têm bom

    Os deputados que têm bom senso vão votar no Chinaglia.

    Ele já foi presidente da Câmara e todos já sabem como ele é.

    No resultado desta eleição vamos ficar sabendo quantos deputados aprovam os métodos de Cunha e quantos preferem o método do Chinaglia.

    Vai ser uma excelente fotografia da nossa Câmara dos Deputados.

     

     

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador