Lavajatista, mídia usa até estratégia de Alckmin para atacar Lula

Mesmo diante dos escândalos revelados pelo Intercept, jornal segue supervalorizando delações enquanto alfineta o direito à ampla defesa dos réus

Jornal GGN – Mesmo ciente de desvios e abusos praticados pela força-tarefa da Lava Jato, revelados pelo Intercept Brasil desde 2019, o jornal Folha de S. Paulo continua produzindo reportagens em que acusações feitas pelos procuradores, com base em delações premiadas e provas unilaterais, são supervalorizadas, enquanto o direito à ampla defesa dos réus é alfinetado.

Quem ousa questionar o que é apresentado como prova pela Lava Jato acaba tratado, no veículo de massa, como alguém que está tentando, a todo custo, “travar” as investigações e adiar ao máximo o julgamento. É o que se depreende da leitura de “Alckmin repete Lula, questiona provas da Odebrecht e pode travar ação em que é réu”, publicada nesta terça (15).

Na reportagem, o diário afirma que a defesa de Alckmin “repete estratégia” usada pelos advogados de Lula ao pleitear acesso integral às provas produzidas a partir do suposto sistema de pagamento de propinas da Odebrecht. Ou, ao menos, a tudo que estiver relacionado com os fatos narrados pelo Ministério Público.

Para a Folha, “solicitações similares travam” a última ação penal pendente de julgamento contra Lula em Curitiba, e o Supremo Tribunal Federal seria uma espécie de cúmplice dessa lentidão, pois tem dado “respaldo” à estratégia do ex-presidente.

AS PROVAS QUESTIONADAS

O sistema de pagamentos de propinas da Odebrecht, em xeque, é o mesmo que o advogado Rodrigo Tacla Duran indicou que pode ter sido manipulado durante os processos da Lava Jato justamente para forjar provas de corroboração para as delações premiadas da Odebrecht – que foram literalmente compradas. Esta informação, Folha omite em sua reportagem.

Assim como ocorreu com Lula, Alckmin é acusado pelo Ministério Público de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Lula teria recebido vantagens indevidas já fora do cargo de presidente – um triplex no Guarujá que nunca usou, reformas em um sítio que não lhe pertence, e um terreno que jamais foi utilizado na construção do Instituto Lula. Alckmin teria recebido caixa 2 eleitoral em 2010 e 2014 e, por isso, responde na Justiça Eleitoral, não na Justiça Federal em Curitiba.

A suposta prova de que o grupo Odebrecht usou dinheiro da própria empresa para agradar os dois políticos foram retiradas dos sistemas Drousys e My Web Day. O Ministério Público em São Paulo alega que o material já foi periciado pela turma de Curitiba. Mas a defesa de Alckmin não teve acesso aos sistemas, portanto, não pode saber se o quão seletivo o MP foi na escolha das provas, e tampouco atestar se não há outras irregularidades na cadeia de custódia.

Mas Folha trata a tentativa de Alckmin em acessar a integralidade das provas como uma insistência descabida quando publica que “mesmo com o Ministério Público apontando que as provas passaram por perícia forense, a equipe de advogados do ex-governador tem questionado a sua integridade.”

O advogado de Alckmin, Márcio Elias Rosa, foi certeiro: o que a imprensa conveniou chamar de “sistema de pagamento de propina”, como se fosse algo rebuscado e inviolável, na verdade, não passa de “planilha Excel”. “Qual é a confiabilidade disso?”, questionou.​ Qualquer um poderia entrar e inserir dados durante a operação, como apontou Tacla Duran?

A Lava Jato tem episódios emblemáticos sobre provas produzidas por delatores, que a grande mídia jamais questionou. Por exemplo, Pedro Barusco, para provar suas afirmações contra o PT e implicar Lula na Lava Jato, fez uma tabela “de cabeça”, com o que conseguia lembrar de dados de contratos da Petrobras e percentuais de propina dividida entre ex-diretores da estatal, como quem anota uma receita de bolo em papel, e entregou tudo como evidência. A famosa “planilha italiano” também saiu das anotações de Marcelo Odebrecht.

Para a defesa de Alckmin, se a Lava Jato em São Paulo copiar a de Curitiba e relutar em dar acesso integral e não tutelado ao sistema da Odebrecht, então o material não deveria “ser utilizado na ação”. A Justiça deveria declará-lo nulo.

A Lava Jato, por sua vez, sustenta que a defesa de Alckmin faz um pedido “genérico”, que “coloca em dúvida a sua própria admissibilidade, dado o fundado receio de que possa implicar a indesejável e irrazoável demora injustificada do processo.” Não suficiente, o MP ainda disse que é “ônus” da defesa de Alckmin produzir contraprovas sobre as provas que eles não querem entregar para perícia independente.

LULA E ODEBRECHT

Parte da reportagem da Folha é dedicada a alfinetar a defesa de Lula pelo fato da terceira ação penal em Curitiba se arrastar desde 2016 sem julgamento.

Lula já foi condenado outras duas vezes na 13ª Vara Federal em Curitiba, nos casos do triplex e do sítio de Atibaia.

O que ocorreu na terceira ação penal foi que a turma de Curitiba impediu o acesso às provas apresentadas pela Odebrecht, agora solicitadas por Alckmin. A defesa de Lula recorreu até chegar ao Supremo Tribunal Federal.

O ministro Ricardo Lewandowski atendeu ao pedido da defesa e apontou que há indícios de “inidoneidade desse material”. Somente o acordo de leniência da Odebrecht, já franqueado pelo STF à defesa de Lula, pode elucidar as condições em que o “acervo eletrônico foi obtido pela Odebrecht”. ​

Quando pediu à primeira instância, a defesa de Lula teve acesso tutelado às provas. A força-tarefa da Lava Jato limitou o que poderia ser copiado do sistema.

O STF também mandou a Lava Jato dar acesso “às correspondências entre os procuradores da Lava Jato e autoridades dos Estados Unidos e da Suíça, que também firmaram acordo com a Odebrecht.” A demora da força-tarefa em colaborar com a verificação dessa cooperação internacional não é questionada pelos jornais.

Pela ordem de Lewandowski, não há prazo para a entrega das alegações finais no caso de Lula, sem que o “cumprimento cabal” de sua decisão. Uma clara derrota para a Lava Jato.

Folha encerra dizendo que, para os procuradores do Paraná, “os pedidos têm o propósito de retardar a tramitação do processo.”

 

Redação

6 Comentários

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  1. esperar o que de uma mídia que é uma das maiores responsáveis pelos brasileiros terem hoje o pior governo do mundo de todos os tempos. um imenso ignorante, inescrupuloso, irresponsável e bandido no palácio do planalto.

  2. O desespero terminal da folha talvez seja uma tentativa de agradar a Jair Messias e (quem sabe?) ganhar umas ligalhas das publicidades previstas pelo governo.

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